Coisas que Amo escrita por Laura Fernandes


Capítulo 6
Capítulo 5 - Seu Desprezo Doí


Notas iniciais do capítulo

"O verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais um momento quando tudo parece perdido."

W. F. Grenfel



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Nos dias que prosseguiram até o fim de semana, Simon não compareceu na escola. Conseguiu um atestado comprovando o resfriado forte, e voltaria apenas na segunda-feira. Para ele, foi aliviador ficar em casa, mas para Catarina, foi preocupante. A prova de gramática estava se aproximando, e os dois não tiveram oportunidade de revisarem a matéria.

Se Simon fosse mal na prova, o projeto de Catarina poderia ficar por um fio. Olga havia sido clara: era preciso que todos que participassem fossem bem nas provas.

Mas, na melhor das hipóteses, Catarina gostava de imaginar que Simon tem lido suas anotações, além de ter experimentado os biscoitos que deixava todos os dias em sua porta.

Ela tinha dedicado um tempo primordial para resumir toda a matéria dada na semana, assim montava todas as anotações necessárias para Simon, e a noite, preparava a massa dos biscoitos e assava pela manhã.

Enquanto Apollo e Maria se sobressaíam com as aulas, Simon ainda estava em defasagem.

— Ei! Pare de pensar naquele ingrato, amanhã é o nosso dia de comemorar. – Maria estralou os dedos em frente ao rosto de Catarina. – Prometo estudar no domingo, mas sábado, merecemos apreciar e beber...

Catarina sorriu. Maria estava muito empolgada com o festival de música.

— Ok, prometo que irei me divertir também.

— Promessa é dívida. – Apollo comentou.

— Apollo tem razão. Cat, onde o Simon mora?

Catarina franziu o cenho, não entendendo bem o porquê daquela pergunta.

— Ele é o meu vizinho. – respondeu curiosa.

Maria arregalou os olhos e sorriu.

— Certo, então você pode chamá-lo para ir conosco.

Catarina até podia fazer um esforço de chamá-lo, mas sabia que ele negaria. Primeiro, porque é um antissocial; e ainda tem o episódio, no qual ele a expulsou de seu quarto com muito vigor. Estava disposta a evitar um segunda - e possível - expulsão.

— Vou tentar chamá-lo, mas ele não vai... – ela sussurrou desanimada. Esperava ao menos vê-lo em um lugar diferente, que não fosse o colégio ou a rua de sua casa.

Apollo estreitou os olhos e encarou Catarina. A muito tempo ele desconfiava sobre os sentimentos que Catarina tem por Simon.

— Você gosta dele! – Apollo concluiu, batendo palmas.

— Apollo! – Maria gritou. – Isso não é dá nossa conta.

Apollo a ignorou, e continuou:

— Vocês seriam um belo casal... Pena que ele é estranho, mais até do que eu.

Catarina sorriu. Apollo não podia ser o cara mais genioso que havia conhecido, mas com certeza era o mais sensível. Ela o olhou com pesar.

Se ela e Simon eram um belo casal? Talvez...

Se Simon é estranho? Com certeza...

Se os dois ficarão juntos? Ela sabia que não.

Catarina caminhou cabisbaixa pela sua rua. Quando desceu do ônibus, estabeleceu um objetivo: chamaria Simon para o festival de música, mesmo que ele recusasse, ela faria um esforço para convencê-lo.

Ela seguiu até a porta dele, e bateu três vezes, até que o avô de Simon atendeu:

— Catarina! – ele exclamou logo que a viu. – Entre, Simon e eu estamos cozinhando.

Sua intenção não era entrar, porém, a insistência do velho homem a fez seguir para dentro da casa. O velho a puxou pelo braço, com certa dificuldade, considerando que ele não tinha força e nem equilíbrio. Mas de alguma forma, a levou até a cozinha, onde Simon descascava algumas batatas.

Assim que ele a viu, seus olhos castanhos ficaram confusos: o que ela fazia ali? Depois de ter a expulsado, e ignorado todas as anotações que ela havia mandado, ele não via motivos para ela insistir em ser sua amiga.

— O que faz aqui? – perguntou, deixando as batatas de lado.

— Oh, o seu avô pediu que eu entrasse... – Catarina murmurou timidamente.

— Simon, como você é grosso! – seu avô o repreendeu. – Ela deixa biscoitos e anotações todos os dias para você, seja menos ingrato.

Simon balançou a cabeça. Desconfiava das boas intenções de Catarina, mas já estava farto. Quanto mais ele a distanciava, mas ela insistia.

— Não vou demorar muito... – Catarina logo disse, percebendo o quão incomodo a sua presença era. – Só vim te convidar para o festival de música que vai ocorrer no centro da cidade... Se tiver interesse em ir, estaremos lá... Maria e Apollo também irão.

Ele a encarou e assentiu.

— Verei se poderei ir.

— Tudo bem, eu já vou. Até mais. – ela se despediu, voltando para a porta de entrada.

O velho a acompanhou decepcionado. Não entendia muito bem o porquê do seu neto ignorar com tanta veracidade uma moça bonita, educada e boa, como Catarina.

— Meu neto é um caso perdido, mas não desista dele. – ele pediu, assim que abriu a porta para ela.

— Prometo que não irei. – ela respondeu, seguindo para sua casa.

O velho homem voltou para a cozinha, encontrando Simon descascando as batatas. Ele bufou. Acreditava que estava lidando com um rapaz patético.

— Por que você a destrata? – ele perguntou, se sentando à mesa.

Simon o olhou de relance e suspirou.

— Porque eu não gosto dela, do jeito dela... Vô, ela só é boa comigo porque precisa se sentir bem... Entre nós, por que uma garota daquela quer ajudar alguém como eu?

Seu avô o olhou com pesar.

— Ah Simon, você não enxerga um palmo a sua frente.

Depois do jantar, Simon se sentiu verdadeiramente culpado. Talvez seu avô tivesse razão, e Catarina só era boa com ele, porque é uma boa pessoa, e não por um suposto alto ego. Mas ele não conseguia enxergar tal bondade. Estava tão preso em suas próprias concepções, que não podia aceitar que alguém, além de Larissa, pudesse amá-lo.

Larissa foi o seu primeiro amor. Ele a conheceu em meio ao caos.

Depois que seu agressor o surpreendeu no coletivo, Simon ficou três dias perdido pela cidade, dormindo em praças e caindo nas calçadas dos bares.

Foi então que Larissa o encontrou, totalmente desacordado e embriagado. Ela cuidou dele, assim como ninguém havia feito antes, e o levou de volta para casa.

Ele não sabia se era amor, mas sentia que devia sua pequena e miserável vida a ela.

Mas o destino gosta de brincar, e da mesma forma que ela veio inesperadamente, ela se foi.

Matá-la foi umas das piores coisas que Simon poderia ter feito em sua vida.

Ele fechou os olhos com a lembrança repentina dela e se jogou na cama. Precisava dormir, ou se não, a angústia iria invadi-lo mais uma vez.

— Catarina, de novo na casa do vizinho? – sua mãe perguntou, assim que Catarina cruzou a sala.

Antes de seguir para o seu quarto, ela encarou sua mãe:

— Sim... Qual o problema?

A mulher a encarou retraída.

— Acho o menino muito disperso, uma péssima pessoa... Não perca tempo com ele, não é bom para o seu futuro.

Catarina bufou.

— Mãe, ele é uma das pessoas que estou ajudando no projeto, é claro que perco tempo com ele.

Sua mãe revirou os olhos.

— Não seja ridícula Catarina. Se ele não quer participar, avise a coordenadora, ela será compreensível. Agora, o que não consigo entender, é porque insiste em um caso perdido. Ele é ordinário, despreza a vida e a todos, inclusive, despreza você.

Por mais duras que aquelas palavras foram, Catarina sabia que sua mãe tinha razão, mas por algum motivo, ela ainda queria ter esperança em Simon.

— Quer saber, que se dane, farei o que tiver que fazer. – ela disse, seguindo para o seu quarto e se trancando dentro dele.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Preparadas para futuras emoções? O próximo capítulo vai ser melhor, prometo que será bem romântico. Mas os capítulos não românticos são importantes para a construção da história!

Beijos, e até o próximo.



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