Coisas que Amo escrita por Laura Fernandes


Capítulo 16
Capítulo 15 - Ninguém Jamais Amou Como Eu


Notas iniciais do capítulo

“Você é o diamante na sarjeta
Você é o buraco em meu coração
Você é aquele de quem lembrarei todas as noites
Antes que o amanhecer brilhe em luz
E isso me mata todas as vezes”

Lykke Li - No One Ever Loved"



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Catarina não sabia bem o que aquele sentimento significava. Mas sabia que era bom, e único. Suspeitava que jamais poderia voltar a se sentir assim por outra pessoa. Amar alguém lhe recuperava os sentidos, lhe fazia desejar levantar ao lado da pessoa amada todos os dias, a fazia andar pelas nuvens.

Sentia-se infinitamente bem por ter alguém como Simon ao seu lado.

Foi um começo atordoado, mas se tivesse que escolher por passar tudo aquilo de novo, ela passaria, apenas para o final ser tão bom quanto estava sendo naquele momento.

Perdi as contas...— sussurrou para Maria.

As duas escolhiam os vestidos para a formatura. Ao mesmo tempo que olhavam as lojas e os manequins, Catarina discorria sobre as noites que se sucederam dormindo ao lado de Simon. Passava boa parte da noite ao lado dele, e na madrugada, voltava para o seu quarto furtivamente e feliz. Havia certa aventura ao ficar com Simon, e ela estava gostando do sabor que a aventura provocava.

— Perdeu as contas do que Catarina? – Maria indagou confusa. Separou um vestido azul comprido, e o entregou para Catarina. – Esse vai ficar perfeito em você!

Catarina pegou o vestido e o admirou pelo espelho da loja. Combinaria com o tom de seu cabelo, não podia negar... Além de que precisava estar bela em sua formatura, e no jantar pós formatura. Afinal, iria oficializar aos seus pais seu relacionamento, tinha que estar intrigantemente linda.

— Perdi as contas de quantas vezes eu transei com Simon... – ela respondeu eloquente, mas baixo o suficiente para apenas Maria ouvir.

Maria arregalou os olhos surpresa. Não esperava esse tipo de linguajar vindo de Catarina... Se jogou no puff próximo ao espelho e encarou o reflexo da amiga:

— Você é uma comédia Catarina... Fico feliz que os dois finalmente estejam se entendendo. Ah, esse vestido é demais, vai ficar lindo!

— Então vou comprá-lo! – Catarina anunciou.

Catarina! Maria!— Apollo chamou as duas, assim que viu ambas atravessarem a rua cheia de sacolas.

Depois de passar a tarde fazendo compras, o grupo resolveu se encontrar em um bar próximo a orla da praia para comerem camarão.

A noite já caíra como uma luva no céu estrelado, transitando tons de azul e roxo.

Catarina caminhou até Apollo, não sentindo a presença de Simon. Aquela hora já era para ele ter encerrado ao trabalho... Onde ele havia se metido? Se perguntava se aproximando de Apollo.

— Simon não apareceu ainda? – perguntou, assim que terminou de cumprimentar Apollo.

— Ainda não. – Apollo respondeu. – Bom, em breve ele chega. Vamos pedir algo para beber? Já pedi a porção de camarão.

— Sim, acho que quero uma coca, e você Catarina? – Maria indagou.

— Uma coca também.

Os três seguiram para uma mesa afastada do bar, mas perto o bastante para fazerem os pedidos. Enquanto se distraíam pela música ao vivo, e pelas conversas alheias, Catarina se perguntava onde estaria Simon... Se ao menos Simon tivesse um telefone, ela poderia tentar encontrá-lo... Mas ele odiava tecnologia, e desprezava fielmente qualquer meio de comunicação que fosse por e-mail ou sms. Entretanto, naqueles momentos, telefones eram necessários, e Catarina tinha a convicção que quando estivesse em Dion, o faria mudar de ideia.

Ninguém consegue manter um relacionamento a distância apenas por cartas.

— Catarina! – ouviu alguém gritar por ela. Assim que se virou para observar quem a chamava, encontrou a figura de sua mãe desnorteada.

Antes que pudesse raciocinar direito, correu até a mulher, que estava paralisada na porta do bar:

— O que foi mãe? – perguntou nervosa.

— É sobre Simon querida... – a mulher olhou ao redor, e puxou Catarina pelo braço. – Venha para fora!

Enquanto sua mãe a puxava para fora do estabelecimento, o coração de Catarina entrava em intenso descompasso. Para que sua mãe fosse até ela, algo tinha acontecido, e não era nada bom.

— Mãe, o que aconteceu? – perguntou ainda mais nervosa e exaltada.

— Oh meu bem, Simon se envolveu em um acidente com um ônibus, enquanto entregava os jornais, e acabou falecendo. O avô dele nos avisou, e pediu para ir atrás de você... Querida eu sinto muito mesmo, eu jamais imaginava que isso pudesse acontecer...

Ninguém nunca jamais sentiu a sensação do mundo desabar perante os seus pés.

A dor que se alastrava no peito de Catarina ardia, doía como uma facada, um tiro.

Se pudesse descrever aquilo em uma só palavra, não conseguiria. O mundo para ela acabou, e a única coisa que podia fazer naquele momento, era desabar.

— Catarina... – sua mãe murmurou.

Ela se segurou nos braços da mulher, antes de atingir ao chão e desmaiar. A dor era tanta, que não conseguia se manter viva.

Catarina acordou se sentindo dopada. Precisou tomar pelo menos três remédios para se acalmar, antes que entrasse em total colapso. Não conseguia compreender como tudo aconteceu. Simon estava tão bem de manhã, feliz pelo novo emprego, feliz pelas boas notas no colégio, superando aos poucos os seus traumas, e agora estava morto, sem ao menos ter dado a chance para que ela se despedisse dele.

Ele estava morto, e ela não conseguia lidar bem com aquilo.

Se levantou da cama furiosa, com Deus e o mundo, por tirarem de sua vida a pessoa mais especial que havia conhecido.

Chorou todas as lágrimas reservadas, enquanto tentava procurar uma roupa fúnebre.

Vestiu um vestido preto e sapatos pretos. Olhou o próprio reflexo no espelho e chorou.

Cat...— ouviu sua mãe chamar. – Posso entrar?

Ela assentiu, assistindo sua mãe adentrar no quarto. Se sentou na beirada da cama, atrás de Catarina, e observou as roupas escolhidas pela filha.

— Sinto muito meu bem...

— Por quê? Por que isso tinha que acontecer? – Catarina se questionava, ainda encarando o próprio reflexo no espelho.

— Tentar entender o porquê coisas como estas ocorrem é perda de tempo querida... São tragédias, a única coisa que podemos fazer é tentar seguir em frente.

Catarina balançou a cabeça inconformada.

— Eu jamais vou entender o que aconteceu com Simon, não foi justo.

— Quem somos nós para dizer o que é justo ou não? Tragédias acontecem o tempo todo Catarina, isso não ameniza a sua dor, eu sei que não. – a mulher suspirou fundo, segurando a lágrima. – Mas o único modo é seguir em frente e firme. Tenho certeza de que Simon iria querer que você fizesse isso.

Sabia que sua mãe tinha razão, por mais que quisesse se recusar a aceitar o ocorrido, a mulher tinha razão. O que poderia fazer com as tragédias que afloram pelo mundo a fora? Foi injusto com Simon, pode até ser que tenha sido, mas o que podia fazer?

Sempre irá tê-lo guardado em seu coração, e jamais irá se esquecer do garoto que salvou por alguns dias, do garoto que a fez a pessoa mais feliz do mundo.

Catarina suspeita que jamais irá amar alguém do mesmo modo que amou a Simon.

Duas semanas depois...

A formatura havia sido adiada pela morte de um dos alunos de Santa Brígida. Agora, após duas semanas do ocorrido, resolveram que era hora de continuar com as comemorações.

Catarina vestiu o vestido que havia escolhido no dia fatídico. Não odiava o vestido, pois sabia que Simon iria adorar vê-la naqueles trajes, por isso, o vestiu sem cerimônia.

Ela deixou os cabelos soltos, e passou uma maquiagem simples, mas que ainda enaltecia seus olhos, a parte favorita dela que Simon mais admirava, junto com o cabelo.

Caminhou lentamente até a sala de estar, e encontrou seus pais e sua irmã a sua espera.

Valentina Caputo era a sua irmã mais velha. Também frequentava Dion, e assim que soube da tragédia, deixou tudo em Dion para dar apoio a família:

— Você está linda Cat... – seu pai sussurrou.

— É mesmo, está tão linda! – sua mãe disse. – Tem alguém te esperando do lado de fora, lá no jardim, queria falar com você Cat.

Catarina franziu o cenho, e seguiu para o jardim da casa. Quem podia ser?

Assim que aterrissou os pés no gramado, observou o avô de Simon seguir em sua direção.

Havia trocado apenas algumas palavras com o velho no dia do funeral. Depois disso, passou os dias isolada em casa, evitando o mundo exterior. Não pensou que ele podia estar sofrendo do mesmo modo como ela estava. Admitia, fora egoísta ignorando os sentimentos do avô de Simon. E agora, o homem queria falar com ela.

— Sr. Reis... – ela sussurrou, se aproximando do homem.

— Catarina! – ele observou os trajes dela, e piscou. – Está linda.

— Obrigada... O que o senhor faz aqui?

O velho levantou as mãos, e retirou do bolso da calça uma carta.

— Sei que não nos falamos desde o ocorrido, confesso que me isolei do mundo. Fiquei triste, e um dos tios de Simon veio me buscar, como estou sozinho, eles querem me mandar para uma casa de repouso.

Catarina piscou. A morte de Simon havia afetado as coisas bem mais do que ela imaginava.

— Sinto muito... – murmurou.

— Oh não sinta querida. – o velho lhe lançou um sorriso amarelo. – Estou velho mesmo, não vejo problema em ficar na casa de repouso. Enfim, enquanto fazia minhas malas, encontrei uma carta, direcionada a você. Acho que Simon iria lhe entregar na formatura.

O velho estendeu a carta para ela. Catarina pegou o papel e o apertou contra o seu peito.

Leria as últimas palavras de Simon...

— Obrigada! – ela agradeceu, porque realmente estava grata.

— Seja feliz Catarina. – o velho sussurrou, antes de voltar para a própria casa.

Ela pegou a carta e se sentou no velho balanço para lê-la:

“Catarina,

Confesso que não sei como escrever uma carta de amor, mesmo sabendo que terei que me acostumar com essa possibilidade, já que namoro a menina mais clichê que já conheci na vida. E não sou o melhor rapaz com tecnologia, acho desprezível o uso de celulares e e-mails, mesmo você afirmando fielmente que é a melhor opção para quando estiver em Dion. Enfim, só quero dizer o quanto sou grato por tê-la em minha vida. Mesmo em pouco tempo, você foi capaz de me decifrar, e me fazer querer viver uma vida plena e feliz, sabe que nunca me achei digno disso, e ainda acho que não sou, mas sou grato por tê-la. Você é a garota mais linda que conheci. O seu cabelo loiro, os olhos tímidos, tudo em você se encaixa perfeitamente. Sem contar sua personalidade. Ao mesmo tempo que é uma Lady saída de um livro do século XIX, é uma estrela do rock em ascensão. Quem diria que seria capaz de jogar um livro em alguém? Um livro de capa duro, não podemos esquecer deste detalhe. Parabéns pela pessoa incrível que é. Obrigado por fazer parte da minha conturbada vida.

Você é uma das Coisas que Amo! E como amo.

Com amor, Simon.”


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Notas finais do capítulo

Genteeee! Sei que foi um capítulo triste, mas espero de verdade que possam ter desfrutado da história, no próximo capítulo postarei o Epílogo da história! Vejo vcs nos comentários com os lencinhos, e me xingando hehehe, talvez eu mereça! Obrigada por essa aventura, espero que gostem deste capítulo! Um grande beijo!



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