Coisas que Amo escrita por Laura Fernandes


Capítulo 10
Capítulo 9 - Desaparecer em Você


Notas iniciais do capítulo

" Eu olho para você e não vejo nada
Eu olho para você, para ver a verdade
Você vive sua vida, você vai nas sombras"

Mazzy Star- Fade Into You



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Catarina chegou em casa determinada a apagar tudo o que havia visto naquela tarde.

Ela provavelmente levaria uma chamada de atenção, depois de ter deixado o projeto de inverno no meio. Mas quem se importava se ela estaria lá ou não?

Tirou as roupas sujas, e preparou um banho na banheira, mergulhando fundo na água e permitindo que as lágrimas rolassem por sua bochecha.

Se já não bastasse ter um amor não correspondido, ainda teve que assistir o garoto que amava beijando a boca de outra garota, e para piorar o seu humor, a garota era Cássia.

Se aquilo fosse o carma por ter ignorado Cássia e lhe mostrado o dedo do meio, estava profundamente arrependida.

Apenas uma vez que não fora legal em sua vida, e ela está colhendo os frutos podres de sua plantação não digna.

— Catarina! – ela ouviu a chamarem. – Catarina!

Ela se levantou da banheira e olhou pela janela. Seus pais ainda não haviam chegado, quem estaria a chamando àquela hora da tarde?

Se enrolou em sua toalha e decidiu esperar. Talvez estivesse tão absorta em sua própria frustração que passará a ouvir vozes.

— Catarina! – gritaram novamente. Mas dessa vez, ela teve certeza de que era do lado de fora de sua casa.

Vestiu o roupão por cima da toalha, e caminhou até a porta da frente. Esperou novamente que a chamassem, até que ela reconheceu a voz:

— Catarina! – era Simon que gritava por ela.

Como se já não bastasse a decepção que havia passado, teria que encarar falsas desculpas vindo dele. Ela abriu a porta, dando de frente com Simon, que estava completamente encharcado pelo suor e pela tinta grudada no uniforme de Santa Brígida.

Ele a encarou e suspirou. Depois do ocorrido com Cássia, decidiu que não deixaria Catarina ir, não, ele estava disposto a deixar todas as coisas claras, e se possível, evitar toda a situação constrangedora que ambos tem passado a dias.

— Oi... – ele sussurrou. – Precisava te explicar que o beijo foi algo armado por Cássia... eu não ia beijá-la, ainda mais na sua frente.

Catarina observou que pela primeira vez, Simon estava preocupado, e melhor, estava preocupado com ela:

— Simon, eu estava no banho...

— Reparei. – ele apontou para o roupão que cobria o corpo dela. – Aliás, belo roupão.

— Eu, é, hum. – enquanto Catarina buscava pelas palavras certas, Simon permaneceu estático, a observando, como se ela fosse a última garota do mundo com um coração partido. – Não sei o que dizer Simon. Você não me deve explicações, se quiser ficar com Cássia, fica..., Mas ela não é uma boa pessoa, e tenho a impressão de que ela só queria te usar.

Simon suspirou.

— Ela queria me usar para te afetar, e ela conseguiu.

— Conseguiu...

Ambos se calaram, e ficaram rodeados por um silêncio constrangedor.

— Catarina... – Simon murmurou, quebrando o silêncio. – Você gostaria de se vingar de Cássia?

Ela o olhou como se ele fosse louco, ou como se ele tivesse lhe falado uma piada, mas a expressão no rosto de Simon era séria, realmente havia lhe proposto que se vingasse de Cássia. E para piorar a situação, ela estava quase concordando.

— Ah, não. Deixa quieto, estou exausta demais para pensar nisso.

— Certo... Você está com raiva de mim? Ainda?

Catarina sorriu. Por mais que detestasse admitir, ela não tinha mais nenhum rancor quanto a Simon. Queria ter seu ódio para sempre, mas a raiva é algo passageiro, e a decepção que sentiu mais cedo logo cessou, assim que percebeu o quanto ele correu do colégio até a casa dela, apenas para deixar as coisas claras.

— Não mais...

— Certeza? – ele precisava se certificar, não queria mais ser atingido por um livro.

— Absoluta.

— Catarina Caputo, obrigado por não desistir de mim.

Catarina notou que as palavras dele eram sinceras, sem ironias, sem incriminações.

— Eu nunca desisto, principalmente de alguém. E caso você esteja querendo beijar Cássia de novo, saiba que não me importarei... Sei que foi armação, fiquei chocada, mas se quiser ficar com quem quiser, não tenho o direito de te impedir. – ela suspirou. – Irei lidar sozinha com esse sentimento que não é recíproco... Eu tenho que voltar para o banho, se me puder me dar licença.

— É claro...

Catarina fechou a porta e voltou para o banheiro. A água da banheira já estava gelada, mas não se importava, precisava mergulhar fundo no seu campo de tristeza. Nada como um banho para curar suas feridas, mesmo que suas feridas fossem internas.

O resto da semana se sucedeu bem, apesar de Catarina evitar todo contato com Simon. Estava ríspida, e passou a explicar os conteúdos como se seguisse um roteiro já preparado por ela mesma.

No dia da prova de Biologia, Simon se sentou atrás de Maria e Apollo. Tinha certeza pela primeira vez em anos, que iria bem na prova, prestou atenção em todos os pontos relevantes passados na biblioteca, além de ter lido com empolgação suas anotações da aula.

Entre as fases da mitose e até mesmo assuntos como genética, ele conseguiu resolver todas as questões, não deixando nenhuma em branco. Enquanto tecia seus argumentos nas perguntas discursivas, notou que Catarina estava dispersa, ela escrevia e relia suas anotações, sem ter certeza de que o que fazia era coerente.

Simon torceu para que ela pudesse conseguir fazer a prova, e voltou-se para a sua. O sinal logo tocaria, e todos teriam que deixar a sala.

— Pessoal, o tempo acabou, por favor, entreguem as provas. – a professora anunciou, assim que o sinal terminou de tocar.

Todos entregaram a prova e seguiram para os corredores, menos Catarina, que permaneceu na mesa tentando resolver sua última questão.

Simon notou que ela não se mexia, e resolveu esperá-la ao lado de fora, enquanto os demais alunos seguiam para seus armários.

Catarina saiu da sala cabisbaixa, derrotada. Não por não saber as respostas, mas pela primeira vez, em todo o seu ano escolar, estava distraída, divagando sobre seus pensamentos e sentimentos. Ficou surpresa quando notou o empenho de Simon com a prova, e ficou mais surpresa ainda, ao notar que ele a esperava próximo de seu armário.

Deslizou os pés até a direção dele e o encarou:

— Oi... – sussurrou, esperando que ele lhe dissesse algo.

Ao invés de cumprimentá-la, Simon sorriu, desestabilizando ainda mais o coração de Catarina.

— Como foi na prova? – ele perguntou, se encostando no armário ao lado do dela.

— Bem... me distraí no começo, mas consegui responder tudo. E você?

— Fui bem também.  – ele pegou uma mexa de cabelo rebelde, que insistia em cair do coque de Catarina. O coque dela não estava tão perfeito como costumava ficar, o que para ele, foi um sinal de que havia uma certa inquietude no ar. – Você está bem? Essa mexa de cabelo fora do seu coque não é normal.

— Eu estou bem, só um pouco ansiosa.

— Ansiosa?

— Sim... – Catarina murmurou, mais para si mesma do que para Simon. – Ando ansiosa, pois em alguns meses chegam as entrevistas para a universidade... e...

Simon notou que ela não conseguia dizer mais nada do que lhe afligisse.

— E? – insistiu.

— E quando acabarmos com todas as provas, vou preferir me afastar, principalmente de você.

Por alguns minutos, a respiração de Catarina ficou mais pesada, concentrada, até sentir seu coração acelerar. Estava prestes a ter um colapso.

— E se eu pedir para que você não se afaste, você ficaria, ao meu lado? – Simon indagou, observando os olhos de Catarina se perderem em seu rosto.

Não sabia aonde queria chegar com aquele pedido, mas sentia uma enorme necessidade de tê-la ao seu lado, mesmo como amiga. Ele não podia amá-la, seria injusto, especialmente por tudo o que fez e passou. No entanto, precisava que Catarina permanecesse ao seu lado, até que chegue o dia em que seu plano terá que ser realizado.

— Mas você não gosta de mim...

— Gostar é relativo. – ele passou as mãos pela testa, que já brotava algumas gotas de suor, devido ao nervosismo e ao rumo que aquela conversa estaria tomando. – Não gosto de você da forma mais romântica possível, sou incapaz disso. Mas gosto de você como amiga, que fica fazendo biscoitos e insistindo para que eu estude.

Ela sorriu.

— Por que se acha incapaz de gostar de alguém? De forma romântica?

Simon balançou a cabeça confuso. Não entendia por que ela insistia tanto naquilo.

— Catarina, – ele começou a dizer, mas foi interrompido subitamente pelo sinal, anunciando o fim do intervalo. – Quer ir para um lugar mais privado?

Ela quase se engasgou com a própria saliva quando ele propôs sair dali.

— Ok, vamos.


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Notas finais do capítulo

Olá! Espero que tenham gostado da capítulo, em breve, mais atualização!



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