Depois da Ruína - O Fim escrita por Bzllan


Capítulo 8
Casarão


Notas iniciais do capítulo

ta aí o 8
socorro
o 9 sai hoje ainda



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Casarão - Ilustração Maia

Aos prantos, Lídia ampara o amigo ferido. Miguel, cobrindo o sangue que insiste em jorrar de seu pescoço, olha desesperadamente para a ruiva que não tem reação a não ser apertar suas mãos contra as dele, tentando estancar o sangue.

Maia já está com a arma nas mãos de volta, enquanto Nicolas e Alex só permanecem parados, forçando a vista à procura do atirador.

Ivan aparece um segundo depois, ofegante.

Maia abaixa a guarda e puxa o amigo para um abraço, agradecendo-o. O sangue do homem escorrendo por entre os pés de ambos.

Alex se abaixa ao lado de Lídia e Miguel.

— O que eu faço? – A voz da ruiva tenta se manter controlada, mas denota ansiedade e medo.

Alex retira as mãos de Lídia do pescoço do garoto, depois as dele, devagar.

Observa a situação do ferimento. No canto esquerdo de seu pescoço a faca penetrara o suficiente para provocar um sangramento excessivo, mas o corte não será fatal se conseguirem estancá-lo.

Nicolas coloca a garotinha no chão, que protesta. Lídia está lá para ela, um rosto conhecido.

Nic rasga a manga da blusa, deixando o braço exposto, e estende o retalho para Alex. A garota nem o olha quando o pega entre as mãos, concentrada no garoto. Amarra o trapo no pescoço de Miguel, somente apertado o suficiente para estancar o sangue provisoriamente.

— Merda. – Ela diz.

— O que foi? – Nic pergunta.

— Deixei a mochila com os primeiros socorros na casa. – Ela cerra as sobrancelhas, frustrada. – Se eu não cuidar disso, vai infeccionar.

— Não dá pra voltar. – Ivan diz, com pesar. – Agora não dá. Vamos limpar de outro jeito, ainda temos água.

— Isso vai infeccionar. Não temos uma gaze limpa, um soro pra desinfetar...

Lídia está com o coração na mão, pensativa.

— Eu vou.

— Sem chance. – Maia a repreende.

— Não vou deixar ele morrer se eu posso fazer alguma coisa pra ajudar.

— Ele não vai morrer. Não é, Alex?

A garota olha de uma para outra. Não pode prometer nada.

— Não precisamos ir até lá. – Ivan pronuncia-se na conversa. – Se tudo der certo, vamos pegar tudo o que precisamos do bunker. Eles vão ter os melhores medicamentos.

Alex se lembra do hospital onde trabalhava com Ava. Com certeza o garoto teria os melhores cuidados lá.

— Têm razão. – Ela tranquiliza a ruiva.

Miguel se comunica com ela, fazendo os sinais com as mãos. Abre um sorriso fraco.

Vou ficar bem”.

Lídia respira fundo e tenta sorrir de volta.

— Ok, vamos dar o fora daqui.

 

X

 

Como uma batalha por território, os cinco – Diego, Levi, Naomi, Cauã e Gael – escondem-se estrategicamente pelo campo, como uma barreira contra os inimigos. A munição não é contida. Raiva sai de cada um dos canos das armas.

Naomi, estratégica como sempre, olha por entre as janelas do casarão, parando de alçar fogo. Não estão mais lá. Eram poucos, talvez pouco mais que os cinco ali, mas ela sabe que mais virão. Pega o walk talk e chama incessantemente pela outra linha.

Naomi? Onde estão?.— A voz é de Ivan.

— Eles se dispersaram. Estou no casarão. Vamos dar o fora daqui antes que mais voltem com força total. Onde vocês estão?

— Estou no bambuzal com um pessoal. Rafael levou todos que conseguiu pra floresta, saindo do limite do sítio.

— Perfeito. Saiam daí, olhos atentos.

Um som do lado de fora da saleta chama sua atenção. Ivan também escuta pelo aparelho.

— Cale a boca. – Ela pede, baixinho. Do outro lado da linha, apenas sua respiração ansiosa pode ser ouvida.

Naomi se levanta, ficando longe do alcance das janelas por precaução. Com o rifle nas mãos, pisa como penas no chão de madeira até alcançar a porta, pronta para o que quer que possa vir a acontecer. Em um gesto rápido, abre a porta e engatilha o rifle para o que esperava ser um corredor vazio, mas se apavora ao ver um rosto conhecido.

Ela e Júlia soltam um grito quase mudo e se xingam.

— Cacete, Júlia, eu podia ter te matado! O que está fazendo aqui?

Júlia?— A voz de Ivan chama do aparelho deixado no chão. Ela faz uma careta de quem foi pega com a boca na botija.

— Não começa, não ia deixar vocês sozinhos.

Naomi não se importa com a briga do casal agora. Volta atrás para pegar o walk talk que deixara no canto da sala e parte corredor afora. Júlia a segue sem questionar. As duas sabem que precisam sair de lá o quanto antes, aproveitando que ainda têm a vantagem.

Enquanto rumam o extenso corredor em direção às escadas para finalmente saírem dali, passos rápidos subindo a mesma em direção à elas as faz tremerem na base. Em um gesto rápido, Júlia empurra Naomi para o recinto à esquerda dela, um banheiro enorme e mofado. A garota vê a amiga fechar a porta do outro lado do corredor – a de um quarto, e faz o mesmo, trancando-a com a fechadura velha. Estão provisoriamente escondidas. Não durará muito.

A luz do walk talk pisca na mão de Naomi.

Ela se afasta da porta para falar baixo.

— Estão aqui.

A respiração de Ivan sai como um chiado.

Precisam sair daí agora, Naomi.

Ela olha para a janela ao seu lado. São baixas, árvores ao redor.

A garota desliga o aparelho. Escuta com atenção os passos do lado de fora. Pode ser de algum amigo, mas não irá arriscar.

A maçaneta da porta gira. Uma, duas vezes, depois insistentemente. As pancadas contra a porta começam.

Ela guarda o aparelho na mochila rapidamente e coloca o rifle nas costas. Com força, abre a janela do banheiro, emperrada e desgastada. Abre o suficiente para que seu corpo passe.

Espreme-se pela abertura da janela e se pendura para fora. O machucado em seu braço queima como se estivesse sendo rasgado pela faca de novo. Ela faz uma careta e solta a mãos, tentando cair de pé na grama. O joelhos dobram e vai ao chão, com um grito que não consegue conter. Toda a dor do corpo sofrida nos dias anteriores retornando a ela.

Em um segundo está de pé, correndo para longe da janela o mais rápido que pode. Suas pernas quase falham enquanto se afasta pela lateral da casa. Ela olha para trás por um segundo para conferir se já conseguiram abrir a porta do banheiro, quando tromba desajeitadamente com algo. Alguém. Os dois caem, a garota se contorce com o corpo machucado batendo contra o chão. Está prestes a alcançar a arma quando o outro segura seus punhos, apenas para mostrar que está tudo bem. É Ivan, os olhos arregalados. Se levanta e puxa a menina do chão, que aperta o ferimento dolorido com força. Voltara a sangrar.

— Onde ela está?

— Do outro lado. – Ela consegue responder, recuperando o ar. – Vou com você.

— Sem chance. – Ele olha para alguém além dela. – Tire ela daqui.

Naomi olha para trás a tempo de ver Levi se aproximando, ofegante. Ele hesita. Nenhum dos dois quer deixá-los sozinhos.

— Pelo amor de Deus, saiam daqui!

Naomi sabe que não será útil ali, e Levi não a deixará sozinha de novo. Ela alcança o walk talk na mochila e o joga para ele, que o pega no ar e agradece com um aceno de cabeça.

Levi puxa Naomi para longe do casarão, que não discute. Os dois torcendo para que os amigos se juntem a eles logo.

 

X

 

Júlia escuta o som das investidas na porta no corredor, exatamente para onde empurrara Naomi. Sabe que têm que sair dali agora. Os xingos dos homens do outro lado aumentam, evidenciando que não é nenhum de seus amigos. O som da porta estilhaçando do outro lado a assola. Espera que Naomi esteja bem, e ao ver a maçaneta da própria porta sendo girada, sabe que logo será ela. Ela olha para o lado de fora da janela. Não pensa duas vezes em escancará-la. Para sua sorte, abre com certa facilidade e sem fazer barulho. O salto do andar de cima até o jardim lá embaixo é grande o suficiente para seus tornozelos e joelhos gritarem, mas ela se abstém. Olha para cima. Ainda não conseguiram entrar no quarto.

Ela ruma o mais rápido que consegue pela lateral do casarão, torcendo para ser mais rápida que os perseguidores. No entanto, seu plano fora descoberto cedo demais. Duas mãos a puxam de uma das portas da casa para dentro, a arremessando no chão. Ela vê a arma apontada para ela, mal conseguindo ver o rosto de seu agressor. Com um chute rápido, tira a arma de suas mãos, que volta com um tiro para o teto. O homem não esperava. Tenta novamente alcançar a arma, mas Júlia o puxa pela perna. No chão, os dois se engalfinham, as mãos tentando incansavelmente pegar a arma no chão.

Em cima dela, o homem passa um dos braços ao redor de seu pescoço, apertando com força. Júlia não desiste. A arma está há centímetros de sua mão, mas seu ar está se esvaindo. Ela recolhe as duas mãos para tentar puxá-lo para longe dela, mas o homem é forte. Quando sente que o corpo está fraco demais para reagir, o peso inteiro do corpo do agressor sai de cima dela.

Júlia se vira para cima bem a tempo de ver Ivan e o homem trocarem incansáveis socos. A garota pega a arma e aponta em direção ao homem, esperando para que ele saia de perto do namorado. Ivan a observa de canto de olho e entende a deixa. Com um chute no peito, derruba o homem no chão, e Júlia não pensa duas vezes antes de usar a própria arma contra ele, puxando o gatilho duas vezes. Está morto.

Ivan e ela se encaram por um segundo, um breve sorriso de alívio. Ele estende a mão para a garota e a ajuda a se levantar do chão.

Os dois abaixam a guarda por um segundo, felizes em se ver. Quando Júlia vê por cima do ombro do rapaz, é tarde demais. O soldado atira nas costas de Ivan duas vezes. Ele não tem nem tempo de reagir – cai para frente, sobre os braços da namorada, que despedaça-se.

 


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Notas finais do capítulo

nao me xinguem tá
ainda nao



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