Depois da Ruína - O Fim escrita por Bzllan


Capítulo 7
Bambuzal


Notas iniciais do capítulo

atualizando por motivos de o 8 e o 9 tão de fude e eu quero postar logo rs



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Bambuzal - Ilustração Lídia

Lídia leva as mãos ao coração ouvindo o relato do menino Vítor.

— Miguel? - Ela precisa confirmar.

Ivan nem esperara o garoto entrar para dobrar o mais rápido possível a planta do bunker. Levi o ajuda do outro lado.

Do lado de fora, começam a escutar o caos crescente.

— Temos que dar o fora daqui. - Ivan coloca a mochila com os arquivos da mãe nas costas e pega a mão de Júlia, a puxando para a saída, esperando que os outros os sigam.

Júlia está pasma. Toda a esperança dela estava em descansarem naquele pacífico lugar antes de terem que enfrentar a morte, mas ela viera atrás deles. Não estão prontos para lidar com os soldados agora. Corre atrás de Ivan pelo extenso corredor. Espera que as crianças tenham ganhado minutos valiosos para eles.

 

Lídia não move um dedo. A afeição que criara por Miguel é como a de uma mãe, uma irmã. Maia a tira do estado de transe pegando em sua mão, o desespero em seus olhos. Não podem ficar ali.

— Vamos atrás de Miguel, eu prometo, mas temos que sair daqui! - Ela confirma com a cabeça e deixa a garota toma-la em direção à saída.  Eduardo segue a sobrinha.

 

Naomi toma uma atitude. Engatilha o rifle e o joga para Rafa, que a escuta com atenção.

— Tire todos daqui. Não importa pra onde. Alex e Nicolas também. Deixem o walk talk em mãos. Vamos logo atrás.

— O que vai fazer?

Ela puxa a própria arma.

— Atrasá-los.

— Ficou louca?!

— Vai! - Ela grita com Rafa, que não hesita um segundo a mais. Suas ordens estão dadas. Alex e Nicolas o seguem sem questionar, ambos mantendo-se sempre lado a lado.

Os que sobram na sala se entreolham, as próprias armas em mãos.

— Como vamos fazer isso? - Lucas pergunta. Eles estão em óbvia desvantagem em relação ao território. A luz do dia não os protegerá e não sabem quantos são os que vem por aí.

— Ainda não faço ideia. - Ela engatilha o próprio rifle. O som da arma a causa um bom arrepio, uma necessidade de puxar o gatilho. - Só precisamos tirar todos daqui antes de dar merda.

— Eles vão vir direto pra sede, vamos dar o fora e dar um jeito de cercá-los. - Levi propõe, já saindo da saleta. O familiar som de tiros e gritos ao longe inicia-se. O tempo está correndo.

 

x

 

Rafael sai do casarão da sede observando com a respiração ofegante as pessoas subirem o morro, do lago até o restante do sítio. As árvores os abrigarão logo.

O som dos tiros aproxima-se deles, e tudo o que precisa fazer é seguir na direção oposta com todos os que conseguir em seu encalço, mas os gritos de súplica pela vida o faz querer correr diretamente na direção do perigo, vingando todo o seu povo.

Alex e Nicolas seguem logo atrás. Alex saca a arma da bainha da calça - já lhe fora útil antes, mesmo que por sorte. Ela vê o estado de Rafael e entende seus pensamentos. Agarra seu antebraço e o puxa na direção contrária, passando a mensagem que gostaria - precisam sair dali. Os amigos os atrasariam, mas sem Rafael eles afundariam naquela imensidão da floresta perdidos até o pior os encontrar.

Rafael se mostra forte. A feição em seu rosto é de determinação e fúria. Ele fará o que for preciso. Seguido pelo povo, adentra a mata sem olhar para trás, correndo como um foguete para tomar a liderança.

Alex não se move. Não têm pessoas idosas no grupo, mas têm crianças. Nicolas a puxa pelo antebraço para que corra, mas Alex se mantém com os dois pés cravados no chão, contradizendo a si mesma, observando com agilidade o mar de pessoas que passa por eles. Em meio ao caos de gritos e tiros que se aproximam, um choro destoa-se. Com olhos de águia, ela encontra a garota que Lucas carregava nos braços ontem, Carolina. Carolina chora à procura da mãe, mas não consegue mover um dedo. É impossível culpá-la. As pessoas em desespero não irão parar para ajudar, mas Alex não consegue deixá-la para trás - ela não deveria lutar essa guerra.

Ao som dos protestos de Nic, ela segue em direção contrária à maré, costurando as pessoas até chegar à pobre garota, a qual toma nos braços sem protesto, encontrando um porto seguro. Alex faz menção de voltar, mas há poucos metros dela as figuras que a assombram aparecem. Armados, apontam as armas em direção à eles como máquinas prontas para matar qualquer coisa que se mova. Ela não reage por um segundo, mas um zumbido vindo de trás acerta um dos homens bem no meio do peito. Estão contra atacando.  

Não há tempo de voltar, o campo à deixaria muito exposta. Pensa rápido e corre incansavelmente em direção ao bambuzal à sua direita com a garota a tiracolo. Ela vê Nic segui-las pela mata escura e espessa. Estão seguros, por enquanto.

 

x

 

Estão distantes quando Ivan e Júlia param. As pessoas passam por eles como flechas, Rafael às lidera. O fim do limite do sítio está logo à frente deles, e logo estariam novamente encobertos pela imensidão verde da floresta.

Ivan toma Júlia pelas mãos.

— Eu tenho que voltar. - Ele diz.

— Se voltar, eu vou com você. - Ela debate, determinada. 

Ivan tira a mochila das costas.

— Não, Júlia, por favor. Isso aqui precisa ficar em segurança. - Ele entrega a mochila nas mãos da garota. A mochila é apenas uma desculpa para deixar a namorada ali. Não se importa com a segurança da mochila, se importa com a dela. E a da irmã, que ainda não voltara.

Júlia pensa em contrariá-lo, mas conhece Ivan o suficiente para saber o quanto ele é cabeça dura. Ela dá um demorado beijo em seus lábios.

— Volte logo.

— Vou voltar.

E, seguindo na direção contrária, desaparece mato adentro.

 

x

 

Com Carolina nos braços, agarrada ao seu pescoço, Alex escorrega por entre as folhas mortas e caídas do bambuzal. A garotinha chora abafando a voz nos ombros da salvadora.

Nic as segue.

Não sabem para onde estão indo, mas não param até se sentirem seguros.

Os dois se entreolham no terreno íngreme, segurando nos fortes troncos de bambus, pensando a mesma coisa - foram seguidos?

— Cacete, Alex, podia ter morrido. - Ele diz, baixo. Está desarmado, se sentindo incapaz.

Alex não responde, apenas o olha com os olhos irritados. Fez o que teve que fazer, e está viva.

— Temos que achar os outros. - Ela diz, sacando o walk talk da mochila, mas se lembra que o outro que ainda funciona está em posse de Naomi. Ela está ocupada. - Ou nos esconder até isso passar. - As palavras soam como as de uma covarde, mas ela não se sente capaz de ajudar de maneira alguma. 

Nicolas cogita as duas ideias.

Deseja ter aprendido a usar uma arma, ou no mínimo ter uma para se sentir mais seguro. Seu corpo ainda dói, mas está inteiro o suficiente para aguentar a situação. Quer se esconder e esperar tudo passar, mas sabe qual é a decisão certa. Ele vê nos olhos de Alex que ela também sabe.

— Vamos achar os outros.

Antes mesmo que termine a sentença, um som de passos muito próximo a eles os alerta. A vegetação do bambuzal é alarmante. Ambos pensam em retornar a corrida, adentrando ainda mais o apertado matagal, mas ao se virarem para seguir caminho, uma figura se prostra parada a frente deles. Duas. Um homem forte e alto, o cabelo escuro praticamente raspado. Segura uma faca ao redor do pescoço de um garoto. Miguel.

Alex e Nicolas estão estáticos. Só se escuta o choro da garotinha. Alex a passa para o colo de Nic, impedindo-a que veja a cena ao redor, e segura a arma com mais força entre os dedos.

O homem apenas ri.

— Ah, pára com isso… Alex, né? - Ele sorri maldosamente. Os olhos claros de Miguel estão arregalados, ele treme o corpo inteiro.

Alex não responde.

— Acertei? É, eu sabia que era você.

Ela também o reconhece. É um dos mal encarados guardas dos setores.

— Amélia ficou tão preocupada quando você saiu. Colocou todo mundo atrás de você. E esse aí eu conheço bem também. - Ele indica Nic com o queixo.

Nicolas se lembra do homem. Fora ele quem o interrogara sem piedade, o deixando no chão frio amarrado a uma cadeira quebrada para morrer.

— Que coincidência! - Ele ri, sarcasticamente. Alex e Nic estão com os pés cravados no chão como árvores. - Mas eu não tive o prazer ainda de conhecer as duas bonitinhas que estão me seguindo.

Dito isso, Alex olha ao redor. A mata espessa encobre tudo, mas duas figuras juntam-se calmamente a eles. 

— Vamos, não sejam tímidas. - Ele dá uma volta no lugar, levando Miguel consigo.

Maia e Lídia aparecem da escuridão. Lídia deixa as lágrimas preocupadas escorrerem, mas Maia se mantém forte. Fará o que for necessário para tirar o garoto das mãos dele, ela prometera.

— Armas no chão, o garoto fica com vocês e eu dou o fora. Vamos fazer isso? - Ele estala o pescoço. Pela primeira vez, Miguel chora. Alex não deixará o menino morrer. Ele já a salvara antes, e agora é a vez dela retribuir.

— Vai ganhar o que com isso? - Maia fala, a arma apontada para a cabeça do homem.

— Ah, qual é? Não sejam estúpidos. O que eu ganho matando o moleque? Já conseguimos o que queríamos. Estamos no território das baratas e têm mais gente vindo. Se quiserem salvar o garoto, é todo de vocês. Armas no chão, eu solto ele e dou o fora.

Maia e Alex se encaram.

Se o que ele diz for verdade, não há tempo a perder.

Há muitos furos na história, mas Lídia aperta o punho de Maia com força.

Nicolas mantém-se um passo atrás, segurando a cabeça da garotinha contra seu ombro, impedindo-a de ver o cenário caótico.

Devagar, Maia abaixa a arma. Alex a acompanha, confiando na decisão.

— Isso, inteligente. Armas no chão, andem.

— Primeiro o garoto. - Alex pede, estendendo a mão.

— Armas no chão, porra! - O homem pressiona a faca contra o pescoço de Miguel, que permite-se chorar com o pânico. Deseja desesperadamente abraçar Lídia.

— Ok, ok. Como quiser. - Maia abaixa o rifle devagar e o coloca aos seus pés, levantando as mãos. Alex a copia, desconfiada.

— Chutem pra cá.

As duas hesitam e se entreolham. Não tem escolha a não ser confiar.

— Como sabemos se podemos confiar em você?

— Eu estou em minoria, com uma faquinha nas mãos, um garotinho de refém… Eu estou claramente em desvantagem, vamos lá. Chutem as armas.

Maia respira pesado, pensando em todos os cenários possíveis. 

Ela chuta a arma a meio caminho entre seus pés e os do raptor de Miguel. Alex faz o mesmo.

— O garoto. - Diz, cerrando os dentes.

De repente, Alex vê. A pequena arma na bainha da calça do homem. Ele a alcança devagar e discretamente. Ao perceber que a garota entendera onde dará a situação, solta uma risada maldosa.

— Imbecis! 

Como em um filme em câmera lenta, o homem pressiona a afiada faca na lateral do pescoço de Miguel.

Lídia solta o mais desesperado grito de pavor, enquanto Maia mergulha para pegar a arma do chão antes que seja tarde demais para pelo menos se defenderem.

Antes mesmo que Miguel parta para a morte iminente, um tiro desestabiliza os presentes na cena. O homem cai para o lado, um buraco de bala na cabeça. A faca cai de suas mãos ao chão, assim como Miguel, as mãos no pescoço.











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Notas finais do capítulo

e ai?? to ansiosa pra postar os outros mas me aguento ate amanha
se preparem



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