Depois da Ruína - O Fim escrita por Bzllan


Capítulo 4
Passos na Escuridão


Notas iniciais do capítulo

atualizando



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O som da mata à noite não parece mais tão pavoroso. Inclusive, para Levi e Naomi transformara-se em uma sinfonia bonita e acolhedora. Deitados lado a lado, Naomi cedera ao sono, adormecida sobre o braço bom do garoto. Esse, por mais que esteja com os olhos pesados, se força a mantê-los abertos. Prometera acordá-la para trocarem de turno, mas ela necessita mais daquele sono do que ele.

Levi se põe em alerta ao ouvir passos distantes quebrando os galhos. Seus olhos não alcançam nada em meio à escuridão da floresta. Por precaução, alcança o rifle deixado ao seu lado. Ele aguça sua audição. Age despreocupado. Qualquer um que tenha problemas para dormir em uma floresta à noite cercado de animais é um bom suspeito para dar uma caminhada às cegas. Mas um grito o tira de seu estado descontraído.

Naomi acorda instantaneamente, e os dois se encaram por um segundo.

Não há tempo para debates. Ambos, armados, mergulham de cabeça na escuridão.

 

x

 

Alex não consegue dormir.

Só de pensar na quantidade de animais que vêm para importuná-la durante a noite já sente calafrios. Ao seu lado, Diego dorme tranquilamente. Do outro, Rafael. Ficar próximo a eles ajuda a se sentir mais segura. Sentada e abraçada às pernas, permite-se pensar em tudo.

Uma pontada de orgulho insiste em surgir em seu peito - está viva. Está com os arquivos da mãe. A foto da família ainda guardada no peito a deixa mais forte.

Se banhara no riacho gelado horas atrás. As roupas já secas no corpo, o cabelo finalmente limpo.

Não vê a hora de voltar ao abrigo.

Ela boceja. O sono a persegue. Seu corpo pede que descanse, além de algo mais. Sua bexiga está cheia.

Tomando coragem, se levanta. A madrugada é a melhor hora para fazer suas necessidades. Está escuro, e estão todos dormindo.

Com cuidado, pisa nas folhas mortas e galhos secos, fazendo mais barulho do que gostaria. 

Distancia-se do acampamento, o suficiente para conseguir tirar a água do joelho em paz.

 

Necessidades feitas, não tarda a voltar para a companhia dos outros, torcendo para se encontrar no escuro, mas os sons da mata a chamam. Ela pensa ter ouvido passos próximos. Talvez um animal.

Torna a ouvi-los, um pouco mais perto. Se são de algum animal, é um grande. Sem hesitar, tira a faca da bainha da calça, agradecendo mentalmente por tê-la trazido.

Seus instintos a mandam recuar, mas sua curiosidade a puxa para o sentido oposto.

Caminhando devagar mata adentro, seu coração bate forte. Ela tenta ritmar a respiração.

O som dos passos cessam, e ela percebe que a ideia de engalfinhar-se sozinha em território desconhecido durante a madrugada não fora das melhores. 

Dá meia volta para retornar, mas uma silhueta preta está ao lado dela, mais próxima do que poderia esperar. Uma silhueta humana. 

Alex solta um grito de desespero, recuando para trás. A faca empunhada em mãos.

Infinidades de possibilidades passam em sua cabeça antes de a sombra falar, com uma voz familiar.

— Você não ia me matar com essa faquinha, ia, princesa?

Os olhos de Alex se arregalam, e ela deixa o pânico ir embora. À luz da lua, seus olhos se acostumam, e ela o vê parado bem em frente a ela.

— Nic?

 

x

 

As mãos trêmulas de Alex deixam a faca cair no chão. Nicolas a recebe com o mais acolhedor dos sorrisos, e ela se joga nos braços dele, as lágrimas retornando aos seus olhos.

O abraço apertado entre os dois demora segundos em silêncio, apenas sentindo a companhia um do outro. Ela se afasta para colocar as mãos em seu rosto, mas seu sorriso desaparece.

— O que está fazendo aqui? O que aconteceu com você?

Atrás de Nic, duas figuras aparecem. Alex vê Levi e Naomi com as armas em mãos. Maia se junta a eles em segundos. Lídia segue atrás, desarmada, mas curiosa.

— Alex? - Maia pergunta, vendo que não há perigo.

A garota não têm tempo de responder. Uma voz responde por ela.

— Cacete, não acredito que estão vivos. - A voz familiar sai da escuridão atrás de Alex. 

Naomi é a primeira a reconhecê-la, e corre em direção à Júlia como uma criança que não vê a irmã há séculos, saltitando de alegria. O abraço das duas é carregado de felicidade e emoção.

Curiosos, os outros se juntam a eles. Cauã, Gael, Lucas e logo Diego e Rafa, percebendo do que se trata o transtorno que lhes tirara do sono.

Gael acende uma lanterna, que mais parece a luz no fim do túnel em meio à escuridão. Todos conseguem se ver claramente.

Alex solta Nicolas apenas por um segundo para olhar quem segue atrás de Júlia. 

Ivan sorri para ela com um sorriso orgulhoso. Os dois se abraçam. Nenhum deles verbalizara, mas o medo de não se reencontrarem era torturante. Atrás deles, à luz da lanterna, outros se aproximam, saindo de trás das árvores como fantasmas. Todos os que sobraram.

O povo de Eduardo segue atrás dele, curiosos. Miguel se prostra ao lado de Lídia. O reencontro dos grupos é de tirar o fôlego. Têm muitas cartas a serem colocadas à mesa.

 

x

 

O choque de se reencontrarem é extasiante. Não sabem por onde começar a falar.

Alex desesperadamente deseja saber tudo sobre Nic e como ele fora parar nessa assim como ela. Mas ao mesmo tempo, vê o abalo no rosto do irmão e de Júlia, e a necessidade de saber o que ocorrera é mais forte.

Em uma conversa não verbalizada, Júlia e Naomi reúnem os grupos que as seguem incessantemente. A noite ainda não acabara - eles têm tempo para poupar as energias. Mas os amigos se recusam a descansar.

Júlia e Ivan recebem Lucas de volta com os peitos abertos. A loira parece que irá batê-lo por fazê-los sofrer sem ele. 

A poeira abaixa aos poucos, o silêncio retorna. Em círculo, se encaram.

Maia é a primeira a sentar, convidando os outros como se fosse uma reunião. Não deixa de ser. A primeira pergunta já está respondida. Levi, com os olhos marejando, controla-se a perguntar.

— Gabe?

Júlia balança a cabeça em resposta, o semblante triste. Levi sempre fora apegado ao tio. Ele não se senta. Apenas se afasta para ter um momento de luto em paz, mas mantém-se próximo o suficiente para ouvir os relatos da loira.

Ela conta resumidamente como encontraram Nicolas na floresta, e que este estava beirando à morte. Conta sobre a história do garoto, o rastreador em seu pescoço, e em como o abrigo em que cresceram está mergulhado em escombros. Gabe e metade das pessoas não resistiram. Estão andando até então, procurando abrigo.

Alex aperta forte a mão de Nic. Vê-lo naquele estado é como tomar um soco no estômago.

— Quem são essas pessoas? - Ivan pergunta, tentando reorganizar os pensamentos.

— Permita-me explicar. - Eduardo pronuncia-se. Conta exatamente a mesma história à Júlia, Ivan e Nicolas, que escutam atentamente. Por algum motivo, não estão surpresos. Júlia sorri ao ver que Naomi reencontrara Cauã.

— E… O que aconteceu quando estavam lá? - Ela pergunta.

Os outros mantém o silêncio. Ninguém quer iniciar a conversa, então Alex a resume em um gesto - joga a pasta no meio da roda, em direção ao irmão. O nome Sara Annemberg estampado nela.

Os dois finalmente respiram, aliviados. Júlia está à beira das lágrimas.

— Murilo?

Rafael finalmente consegue encará-los. Seu rosto já responde tudo.

— Não vamos deixar ser em vão, vamos? - Ela pergunta, tomada pela raiva, deixando as lágrimas escorrerem, a voz entrecortada. - Gabe, Murilo, todo o nosso povo que morreu por causa disso... O que é isso?

— É a nossa entrada. - Diego diz, sem se estender.

— Ainda pretendem lutar? - Gael pergunta. - Com metade dos seus mortos?

— É claro que sim! - A cabeça de Júlia ameaça explodir. Ivan segura sua mão. Ela solta o ar, respirando fundo. - Não vão com a gente?

— É claro que vamos. - Lídia responde.

— Você não toma essa decisão por nós. - Gael a interrompe.

— Cuidado como fala comigo. - Lídia parece furiosa pela primeira vez. - Se quiser ficar e morrer aqui, o problema é seu. Eu vou com eles. E quem quiser também.

As coisas dali para a frente estarão completamente mudadas. Ninguém ao menos sabe quem dá a última palavra. A pequena reunião que eles geralmente tinham entre si agora está com catorze pessoas, todas - quase - mais que dispostas a fazer tudo aquilo acabar.

— Temos um plano? - Ivan pergunta.

— Vamos ter. - Júlia responde, enxugando as lágrimas teimosas. - Precisamos primeiro de um lugar pra ficar. Não dá pra passarmos o tempo todo aqui, estamos completamente expostos a qualquer coisa.

— Eu pensei… - Rafael decide dar sua opinião pela primeira vez na conversa. - Se seguirmos a noroeste, têm um sítio abandonado.

— É o que estávamos procurando antes de encontrar vocês, mas eu não lembro onde fica, nunca estive lá… Vocês encontraram em uma das caçadas. - Ivan cerra as sobrancelhas, se lembrando.

— Sim. É meio exposto, mas… a sede é grande, tem umas casas menores ao redor. Se pudermos passar o dia amanhã, vamos ter tempo de pôr a cabeça no lugar, montar um plano… tudo isso. Vocês que mandam.

Júlia e Naomi se encaram, comunicando-se.

— Parece uma boa. Precisamos de estrutura só por um dia pra podermos pensar. - Júlia dá o ponto final. - Partimos amanhã cedo?

— Quer dizer logo, logo? É claro. - Rafael brinca e se levanta. - Eu vou voltar a dormir então.

O restante se levanta atrás dele. A lanterna está prestes a ser apagada quando Ivan decide quebrar o clima de fim do mundo.

— E vocês tem alguma coisa pra comer? Eu comi bem, mas a Júlia tá comendo por dois agora, então…

Júlia leva as mãos ao rosto.

— Não acredito que disse isso.

Os queixos dos colegas estão no chão. Maia pula no lugar como se esperasse uma confirmação, mas os lábios de Naomi tremem de emoção. 

— Eu vou ser tia?

Júlia concorda com a cabeça, colocando a mão sobre a barriga que mal existe. Espera que a criança esteja bem.

Alex é a primeira a dar um grito de comemoração, puxando os outros. Eles se juntam em um abraço, conversando animadamente, e se parabenizando. Ela quase derruba Ivan no chão com o abraço que dá no irmão.

— Ai meu Deus, eu vou ser tia! - A alegria dela é contagiante.

— E é dele? - Levi pergunta, descontraído, apontando para Ivan. Finalmente cumprimenta decentemente o amigo.

Júlia revira os olhos.

Levi tenta esquecer da perda enquanto comemora com os amigos.

— Obrigada por cuidar dela. - Ivan agradece olhando Alex, que conversa animadamente com Nicolas, como uma criança.

— Eu diria que não há de quê, mas na real que a sua irmã é foda. Cuidou dela sozinha. E da gente também, na verdade. Pergunta pro Diego. A gente tem muito o que conversar.

 


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Notas finais do capítulo

vou postar o quanto der pra postar porque eu meio que quero acabar logo
to com dor no peito já de ter que terminar mas eu quero que a dor chegue logo pra acabar logo, entendeu? hahahah



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