Girl Crush escrita por suenacomoyo


Capítulo 4
Ludmila Ferro




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Finalmente o dia de retornarmos ao Studio 21. Além do friozinho na barriga igual ao da época de volta as aulas no colégio, também morria de curiosidade pra saber afinal quais as grandes novidades que León tinha para compartilhar com a gente, que precisava esse mistério todo. Ele marcou com a banda de nos encontrarmos em frente ao Studio meia hora antes. Quando cheguei, Napo e André já estavam sentados em um dos banquinhos de cimento da praça conversando. Fui até lá e me sentei com eles.

Cada minuto parecia uma eternidade pra mim. O garoto já estava atrasado. Se demorasse mais um pouco teríamos que entrar. Ele que marca e ele mesmo se atrasa, pode? Eu já estava cansada de tanto esperar pelo León, os meninos já estavam sugerindo ligar pra ele. Foi então que ele finalmente apareceu. Do outro lado da rua. Porém com uma garota. Ela era alta e bem branquinha. Tinha longos e volumosos cabelos loiros que balançavam com o vento como em cenas de filmes. Era bem magra, mas ainda assim com lindas curvas. Ela usava um terninho preto e por baixo uma blusa social rosa bem clarinho. Usava também uma mini saia preta bem justinha e calçava um all star cano medio rosa chiclete. Achei ela muito estilosa e talvez nunca tenha visto ao vivo uma mulher tão linda na minha vida. Deu tempo de observar tudo isso antes deles chegarem onde estávamos e eu perceber que eles estavam de mãos dadas. Meu coração gelou. León comprimentou a todos normalmente e com um sorriso no rosto. Ah, como eu amava aquele sorriso. Mas no momento só conseguia me preocupar com o monumento de mulher que estava de mãos dadas com o cara que eu gosto.

— Então gente... - León falou ainda de pé. — Já vou direto ao ponto. - ele colocou um braço em volta dos ombros da garota. Eu já quase não podia respirar. Ele prosseguiu:

— As duas coisas importantes que eu tinha pra falar pra vocês envolvem essa garota aqui. Lembram da nossa conversa sobre acrescentar um vocal feminino na banda? Então. Essa aqui é a Ludmila, nossa nova vocalista e minha nova namorada.

Eu senti um nó na narganta. Eu não consegui dizer uma única palavra. Não só pelo fato do garoto que eu amo estar namorando mas também porque caralhos ele colocou ela na banda sem contar pra gente?

— Agora eu posso gritar. Primaaaa! - Napo se levantou e deu um abraço na garota. Então ele já sabia?

— Prima? - André se chocou.

— Sim! Ela que vai morar comigo! Eu já sabia do namoro... mas na parte dela entrar pra banda eu fui pego de surpresa.

— Eu sabia que vocês tavam tendo uns rolos aí, mas agora é oficial então né? Parabéns cara! - André deu um abraço no novo casal. — Quanto a segunda novidade... é, acho que todos nós fomos pegos de surpresa. Olha a cara da Natália! - o mesmo me apontou. Eu realmente não conseguia esconder minha insatisfação.

— Olha León, me desculpa mas... nós somos uma banda... que direito você tinha de tomar essa decisão SOZINHO? - dei ênfase na palavra.

— Ah não, eu não acredito que você vai implicar com isso, Natália! - ele respondeu com raiva. Sua nova namorada que até então sorria agora parecia sem graça.

— Sim eu vou! Nós decidimos juntos que queriamos um vocal feminino e tinhamos que ter decidido juntos quem seria esse vocal! Não é nada contra você não, tá menina? É que teu namorado as vezes parece que não tem meio neurônio funcionando! - eu falei tentando não gritar pra não parecer ignorante com a coitada que não tinha culpa de nada.

— Ah vai a merda Natália! Não gostou sai da banda! - ele gritou comigo. Ele estava com muita raiva. Essas palavras foram como um tapa. Napo e André soltaram juntos um "León!" como se estivessem repreendendo sua fala. Eu não consegui dizer nada. Infelizmente é assim. Eu fico nervosa e não sei como agir. Saí correndo dalí sem olhar pra trás e entrei no Studio.

O diretor Pablo já estava chamando os alunos para entrar. Ele reuniu todos no salão principal para dar as boas vindas aos alunos que tinham ingressado este ano. Eu fiquei bem lá no fundo, quietinha, segurando o choro. Mal conseguia prestar atenção no que Pablo falava. Do meio da multidão surgiu Napo, com carinha de preocupado.

— Amiga, você tá certa! - ele falou baixinho pegando na minha mão. — Eu fiquei feliz pela minha prima, mas você tem razão no que falou pro León. Ele deveria ter falado com a banda primeiro. Ele foi um escroto de ter te mandado sair da banda.

— Obrigada por ficar do meu lado. Eu sei que eu to certa. - falei também baixinho ainda me esforçando pra segurar o choro.

— Eu entendo a sua preocupação. Você e o André nem tem como saber se ela canta bem. O León foi muito irresponsável de tomar essa decisão sozinho... mas olha, fica tranquila, que a Ludmila canta como um anjo. - ele falava enquanto passava a mão em meus cabelos. De alguma forma aquilo me deixou mais calma.

— Mesmo assim Napo... eu tenho certeza que se fosse eu que chegasse do nada com uma pessoa que ele não conhece e falasse "oi essa é a nova vocalista, eu que decidi" ele estaria puto do mesmo jeito que eu estou agora. Somos uma banda Napo, as decisões tem que ser tomadas em acordo com todos nós! Ele já chegou tornando a garota uma membro da On Beat assim por ele. Não é como se ele tivesse apresentado ela pra gente e falado "olha aqui, eu tenho uma candidata, vamos ver oque ela sabe fazer". Ele fez tudo errado, Napo. E na cabeça dele a errada sou eu. -  comecei a ficar nervosa de novo e junto com isso meus olhos começaram a se encher de lágrimas. — Ele nunca admite que tá errado. Ele só sabe pisar em mim. A vida toda foi isso, Napo... - eu não aguentei e deixei as lágrimas caírem. E foi um choro forte, doído.

Napo me abraçou enquanto pedia "por favor, não chora". Eu sabia que isso ia atrair a atenção das pessoas naquela sala. Eu precisava sair dalí. Eu e Napo passamos pela multidão e Angie, a professora de canto do Studio, me viu com minha cara de choro quando estávamos prestes a passar pela porta. Ela me perguntou oque houve. Meu amigo apenas respondeu que tivemos um problema com a banda e pediu por favor pra ela me deixar lavar o rosto no banheiro. Angie sempre muito compressiva, viu que eu estava mal e não implicou que saissemos no meio da fala do diretor. Angeles era realmente um anjo.

Meu amigo me levou até a porta do banheiro. Antes de entrar eu o abracei mais uma vez pra tentar me acalmar. Ficamos um tempo assim.

— Saiba que o André também não gostou dessa resposta do León tá? - Napo falou desfazendo o abraço. — No intervalo nós vamos nos reunir, sem a presença da Ludmila, pra conversar sobre isso. O León ouve mais o André do que a gente não é mesmo? Apesar do André ser um bobão, ele botou a mão na consciência, ele sacou que você estava certa no que falou, sobre o León tomar decisões sozinho em nome da banda. E disse que vai falar pro amigo dele se acalmar e te escutar.

— É foda né amigo. Ele ouvir o André mas quando eu falei, já dizer na mesma hora que posso sair da banda. Eu não tenho valor nenhum pra ele. Precisa mesmo todo mundo repetir algo que eu já falei, pra ele entender? Porque ele sempre quer me botar como errada? - falei limpando as lágrimas.

— É Naty... realmente não precisa... mas um pedido de desculpas é o mínimo que ele te deve por isso e pra nós por achar que manda em tudo. E pra isso rolar a gente precisa conversar.

— Difícil é o pedido de desculpas acontecer e mais ainda, ser genuíno. - falei entrando no banheiro e logo procurando a pia. Liguei a torneira e comecei a jogar água no rosto várias vezes até eu não sentir mais aquela sensação de lágrima que secou na pele. Meus olhos ainda doíam.

Na hora do intervalo fui ao encontro dos meus colegas de banda do lado de fora. Agora já estava mais calma e disposta a ter uma conversa civilizada. Antes que eu pudesse começar a procura-los senti alguém pegar no meu braço. Era uma mão macia. Eu me virei e era a mão da nova namorada de León.

— Eu sei que os meninos querem conversar com você, sem minha presença, mas antes eu que queria muito me desculpar. - a garota me olhou nos olhos de uma forma serena.

— M-mas... você não...

— Eu me sinto sim um pouco culpada. Quando León me fez esse convite eu fiquei realmente muito feliz e não pensei duas vezes. Eu cheguei a dizer pra ele que eu deveria conhecer a banda antes, mas ele me jurou que vocês não iam se importar. Mas agora sinto que eu não deveria ter aceitado sem saber a opinião de todos. Você está certa. E o León foi muito rude com você. Nunca o vi assim. - ela falava com um olhar preocupado. Eu senti sinceridade em suas palavras. Ao mesmo tempo ficava pensando "uau, ela é tão bonita".

— É... é Ludmila né? - perguntei.

— Sim, Ludmila Ferro. Prazer. E espero que possa me desculpar. - ela abriu um sorriso sem jeito.

— Então, Ludmila. Você nunca o viu assim mas eu já. Muitas vezes. Mas eu não vou fazer a caveira do teu namorado agora. Só... queria dizer que, é, realmente você poderia ter evitado isso mas poxa, você já está aqui compreendendo a situação e se desculpando comigo e a gente nem se conhece. Enquanto teu namorado, que me convive comigo a anos, prefere simplesmente me mandar sair da banda por não concordar com um ERRO que ele cometeu. O maior problema aqui é ele. Eu já suportei mais do que eu posso aguentar do León. - eu fechei os olhos e respirei fundo. Tinha certas coisas que eu não deveria falar pra ela. — Obrigada por vir falar comigo. Não se preocupa, eu não tenho nenhum problema com você. - eu falava isso ao mesmo tempo que pensava "o único problema é você namorar o garoto que eu gosto".

— Que bom então... eu acho que eu não causei uma boa primeira impressão. - a garota falava ainda com um sorriso sem graça e mexendo nos cabelos.

— Agora eu preciso ir me encontrar com os meninos... o León falou alguma coisa com você?

— Não vou mentir, ele tentou falar mal de você, mas eu não deixei. Eu e o André tentamos colocar um pouco de juízo na cabeça dele. - ela riu. — Ele deve estar mais calmo agora.

— O André, que é o André, tendo que colocar juízo na cabeça dos outros. Ô meu Deus, em que mundo estamos? - falei colocando as mãos na cabeça como se fosse arrancar os cabelos. — Bom, vou indo. - falei apenas dando um tchauzinho com a mão.

Encontrei os meninos sentados no mesmo banco de hoje mais cedo. Parecia até que o tempo tinha fechado só de chegar perto de León. Napo e André se levantaram e me mandaram sentar ao lado do maldito. Eu obedeci mesmo que bem desconfortável.

— León não gostaria de dizer algo para Natália? - Napo falou de braços cruzados encarando León com cara de bravo. Ele todo pequenininho com aquela carinha, ficava extremamente adorável.

— Não. - León desviou o olhar de Napo e fez uma pose de criança birrenta.

— León Vargas! - André chamou sua atenção. Eles realmente pareciam dar bronca numa criança. León bufou.

— Tá... ham... foi mal aí, eu exagerei... no modo que te respondi. - ele falou olhando para os próprios pés.

— E? - eu respondi esperando por um pedido de desculpas completo.

— E... eu deveria ter consultado a banda antes, sobre a Ludmila.

— E como sei que esse pedido de desculpas é verdadeiro mesmo?

— Ai Natália claro que é, oque mais você quer que eu fale? - ele já ia começar a se irritar de novo.

— "Me perdoe Natália eu fui irresponsável e também não quero que você saia da banda". Se você não quiser mesmo, claro. - respondi oque eu queria ouvir. Ele bufou mais uma vez enquanto os outros dois de pé olhavam e tentavam não rir. Nunca vi alguém com tanta dificuldade pra pedir perdão.

— Ok, ok... - ele respirou fundo. — Me perdoe Natália, eu fui sim irresponsável! Eu só... - ele parou e finalmente olhou na minha cara. — Eu gosto muito dela. Eu fiquei empolgado com a ideia de te-la na On Beat. Eu realmente não achei que fosse ser um problema. Eu admito, eu errei. E não, eu não quero que você saia da banda. É que a sua reação foi um balde de água fria em mim. Pela minha expectativa. Então... deu no que deu. Me desculpa.

Sabe aquele meme do "em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece"? Eu tava me sentindo exatamente assim. O León nunca tinha feito um pedido de desculpas assim, que passasse sinceridade e real arrependimento. Ele nunca tinha feito um pedido de desculpas, ponto. Era sempre algo como "mals aí mas foda-se".

— Tá tudo bem. Eu acredito no teu arrependimento. - eu falei olhando pra ele sorrindo sem jeito. Ao mesmo tempo pensando "pois é, mais uma vez que não deixo de ser trouxa". Mas é pelo bem da banda também.

— Mas quanta dificuldade hein! - Napo falou alto. Nós rimos.

— Agora pra selar a paz... abraço coletivo! - André falou de braços abertos.

— Ah não, chega, tá de bom tamanho. - León respondeu se levantando do banco.

— Vai ter abraço sim! - Napo também abriu os braços. Depois de um pouco de resistência, Vargas sedeu, eu me levantei e nós demos um forte abraço coletivo.

Não vou mentir. Ainda dói. Pois eu sei que coisas assim vão continuar acontecendo. Sempre foi assim né. Pois eu não tomo vergonha na cara. E dói também, ve-lo falar que gosta muito dessa garota. De um jeito que ele nunca vai gostar de mim.

— Mas e agora, oque faremos com a Ludmila? - André perguntou.

— Faremos oque deveria ter sido feito antes. Ela tem que cantar e tocar pra gente! Você acha que ela se importa, León? - eu falei apesar da tristeza de talvez ter que conviver com esse casal. Não seria justo despachar a garota.

— De modo algum! E você vai ver como ela tem a voz de um anjo! - Vargas respondeu.

— Todos de acordo? - Napo perguntou. E todos respondemos "sim" em unissono.

— Que dia estaremos todos livres? - perguntou o baterista.

— O melhor seria no final de semana, mas a Ludmila precisa voltar pra cidade dela na sexta pra pegar algumas coisas pra se mudar pra minha casa. - o tecladista respondeu.

— Pois é. Essa semana ela tá na minha casa. Eu não queria esperar muito pra ela cantar pra vocês. - León respondeu fazendo beicinho. Tão adorável. Quase me esqueci que ele quase me expulsou da nossa banda.

— Ué gente, podemos fazer isso aqui mesmo no Studio, no intervalo. É só conseguirmos uma sala vazia. E perguntar pra ela, qual dia acha melhor. - eu dei a ideia.

Todos aceitaram e assim ficou combinado. León e André foram em encontro a Ludmila enquanto eu e Napo ficamos alí mesmo. Apesar de mais calma porque foi tudo resolvido, eu ainda me sentia abalada pelo namoro dos dois. Esse era o primeiro relacionamento sério de León. Eu ainda não tinha conseguido me livrar da cara de tristeza.

— Ei Naty, você ainda tá triste? - Napo perguntou botando a mão em meu ombro.

— Ai Napo... - suspirei e tentei pensar numa desculpa. Afinal, eu nunca contei meu sentimento por León para ninguém além de Francesca. O baixinho sabe da nossa relação difícil e do nosso passado cheio de indas e vindas. Porém no sentido de amizade mesmo. — Você sabe que essa não foi a primeira e nem vai ser a última vez que o León me faz chorar. Você sabe o quanto nossa amizade é problemática. Talvez eu deveria mesmo sair da banda.

— Não fala isso nem brincando, garota! - ele me deu um empurrão. Eu sorri meio cabisbaixa.

— Eu não acho que eu teria coragem. Relaxa.

— Tem certeza que não tem mais nada te incomodando?

— E oque mais seria? A maioria dos meus problemas vem do León.

— Exatamente.

— Hã? Oque quer dizer com isso? - eu olhei confusa para meu amigo.

— Eu acho que você gosta do León, não só como amigo.

— Ah não Napo, que isso? - falei alterada me levantando do banco. Ele riu. — Ai olha, preciso ficar um pouco sozinha tá? Já já o intervalo acaba e eu preciso organizar minha mente.

— Eu só acho que você se machucou ainda mais com a situação de hoje porque além de tudo ele está namorando.

— Aff... tô indo, tá tampinha? - falei tentando ignorar oque ele disse.

— Ok, vai lá, não tá mais aqui quem falou. - ele continuava rindo.

É mole? Última coisa que eu precisava agora era do Napo, que é primo da namorada do León, saber que eu gosto do León. Cancela gente, cancela.


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