10 segredos que eu preciso compartilhar com você escrita por Line


Capítulo 2
Dez meses para o fim...


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, para quem não está habituado com o meu tipo de escrita, vai um aviso: eu gosto de ir apresentando os personagens aos poucos. Eu faço uma ou outra descrição no primeiro capítulo, e depois aprofundo... Isso vale tanto para descrição física, quanto para descrição interior também.

Eu gosto de ir revelando as coisas aos poucos, então, às vezes pode aparecer alguma fala não explicada, mas, lá na frente tudo é amarrado: eu não deixo pontas soltas.



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Os raios de sol preenchem totalmente o ambiente do meu quarto espaçoso. Concomitantemente, o despertador toca a sua melodia programada alertando-me que já é a hora de levantar. São seis horas da manhã de uma segunda-feira, da primeira semana de aula do ano. O que me faz constatar algumas datas.

Primeiro: dez meses! Em dez meses eu me formo no ensino médio e então estarei livre das pessoas inúteis daquela escola.

Segundo: dois meses. Em dois meses faço dezoito anos e ganharei o meu lindo – e tão sonhado carro – como recompensa pelos anos de trabalho árduo como filha obediente, e esmerada nos estudos.

E, terceiro: um ano. Em pouco mais de um ano espero estar cursando a faculdade dos meus sonhos, e aproveitando a vida de universitária independente.

Céus! É o meu último ano de adolescente irresponsável, em alguns meses o meu status vai passar de “estudante do ensino médio” para “garota sem profissão definida”, ou: “recém-formada desempregada”. Será que os boletos já vêm automaticamente com a vida adulta, ou a gente ainda tem um período de carência antes das contas começarem a chegar? Pensando bem, tanto faz, é meu pai quem paga as minhas contas mesmo! Ele não me deixaria desamparada, né... Ou deixaria?!

— Olíviaaaaaaaaa Maria de Castro! Se você não descer em dez minutos eu mesma vou aí em cima te arrancar desta cama! Você está me ouvindo?— É a minha mãe que avisa (leia-se, grita) do andar de baixo. Quando ela utiliza apenas o sobrenome de meu pai para me chamar, quer dizer que sua paciência está no limite. — Até estava ouvindo, mas, depois deste último grito, acho que fiquei surda de um dos ouvidos. —respondo de mau humor.

— Dez minutos garota e, sem gracinhas!— ela decreta por fim.

Há poucas coisas nesta vida que me põem medo, diria que quase nada, se contarmos que palhaços e cobras são os exemplos mais óbvios.  Agora, nada se compara ao temor que uma ordem da minha mãe provoca em meu ser. A minha digníssima e santa mãezinha costuma ser um amor de pessoa, exceto quando alguém de casa resolve a contrariar, porque aí ela liga o modo Super Saiyajin Deus, e a gente é que se vire para escapar de sua fúria! Por isso, mais do que depressa eu a obedeço, levanto-me da cama.

Em seguida, tomo um banho rápido e coloco o uniforme da escola que já estava previamente separado no canto do meu guarda-roupas. O uniforme básico da minha escola consiste em uma blusa branca com o brasão da instituição bordado no lado esquerdo, e uma saia pregueada de estampa xadrez nas cores azul-marinho e preto. Eu digo básico, porque cada aluno pode fazer a sua customização, claro, desde que mantenha as características principais e, no caso das saias, que elas tenham um comprimento “decente”. Algumas meninas, por exemplo, preferem usar calças, pois dizem ser mais confortáveis.  De minha parte, prefiro a vestimenta tradicional, embora, tenha feito questão de acrescentar apenas umas mangas fofinhas na camisa branca, uma vez que, combinam mais com o meu jeito de ser.

Desço as escadas num átimo de tempo e chego à cozinha no momento exato em que a minha mãe retira a fornada de pães de queijo do forno. Dou um beijo molhado nas bochechas fofas da minha irmã mais nova, e falo:

Humm.! Pão de queijo caseiro em plena segunda-feira? A senhora se superou hoje, dona Marissa!

— Agradeço o elogio, agora tome logo o seu café, senão quiser ir a pé para a escola. Sairemos as seis e quarenta, em ponto.

— Certo general! — provoco. Ao que minha mãe revira os olhos de forma impaciente, para logo depois abrir um sorriso de canto em sinal de rendição. — Eu tô vendo esse sorrisinho escondido aí, tá!—digo.

— Olíviaaa!— ela exclama.

— Tá, já entendi.

Oli, você deixou as minhas bochechas manchadas de batom. — A minha irmãzinha reclama.

— Ô meu bem, foi sem querer. Aqui... — levo a mão ao seu rosto, e esfrego as suas bochechas de maneira suave — prontinho, limpou. Você me desculpa?

— Desculpo, mas eu quero um batom igual ao seu quando eu crescer!

— Então, tá: quando você crescer, eu prometo que te darei um batom cor cereja mate de presente. Só que você também vai ter que me prometer uma coisa...

— O quê?— pergunta empolgada.

— Que você vai demorar muito ainda para crescer! Tipo,muito tempo mesmo...

— Tá bom, combinado. — E então selamos o acordo com um cumprimento de mãos, só nosso. Pena que a gente não pode controlar o tempo, eu queria que Amábile fosse para sempre a minha menininha (apenas minha, e que o restante do mundo jamais a afetasse!

Mamãe nos observa sentada em sua cadeira próximo a porta da cozinha. Minha irmã e eu possuímos uma relação de reciprocidade tão pura, que nem mesmo a nossa mãe é capaz de adentrar em nossa bolha particular. É só nós duas, e pronto. Amábile tem sete anos e nasceu de uma família diferente da nossa, ela foi adotada quando tinha apenas dias de nascida e, desde então, tornou-se o meu bem mais precioso.  O status de filha adotiva da família é um fato notório para todos aqueles que nos conhecem, ou que por ventura venham a frequentar o mesmo nicho social que nós. Mesmo que meus pais sejam pessoas discretas a cerca dos assuntos familiares, o contraste entre o nosso tom de pele, e o de Amábile, é o atestado absoluto de que ela carrega outra herança genética. Mabi, como carinhosamente a chamamos, tem a pele escura e os cabelos crespos, os quais a nossa mãe sempre arruma com os mais variados penteados, e acessórios fofos. Ela é a minha princesinha, a qual eu protejo de qualquer perigo e, isto inclui as pessoas maldosas, que porventura tentem magoá-la.

— Oli, você gostou da minha trança de hoje? Mamãe aprendeu a fazer vendo um tutorial do Youtube.

— Está linda Mabi. Ah, depois temos que ir ao shopping para comprar aqueles prendedores de borboletas que nós vimos da última vez. Vai ser ótimo pra gente fazer novos penteados!

— Verdade. Podemos ir mamãe?

— Depois da escola, quem sabe... Agora terminem o café, por favor.

— Ok. — respondemos em uníssono.                            

Uma vez que concluímos o ritual diário do café da manhã, entramos no carro de mamãe exatamente às seis e quarenta. A primeira parada do trajeto é a escolinha de Amábile. A pequena desce do carro toda saltitante e, se despede de mim com um abraço rápido. Mamãe a acompanha até o interior do prédio, e eu fico no carro esperando-a retornar. Como é o primeiro dia de aula, de certo que ela quer conversar com a professora deste ano letivo.

Minutos depois ela retorna ao veículo e, às sete horas da manhã, pontualmente, ela me deixa na porta da minha escola. Despeço-me dela mandando um beijo suave no ar, ao que ela retribui com um de seus clássicos comentários de mãe babona:

— Tchau bebê! Tenha um bom dia na escola. — Ela diz em auto e bom som, chamando a atenção dos outros alunos que também chegam para o primeiro dia escolar. A minha face adquiri a tonalidade vermelha instantaneamente, mamãe sabe que eu detesto esse apelido, mas, ela adora contrariar-me.

— Oi bebê! Tudo bom?— uma voz familiar, grita-me ao longe. Reviro os olhos, e puxo um pouco de ar em busca de paciência; enquanto ouço os passos desta pessoa se aproximando de onde estou:

— Jasmim! Tinha quer... — anuo com irritação.

— Oi Olívia, bebê da mamãe!

— Dá um tempo você também, criatura chata!— rebato.

Jasmim é a uma das minhas melhores amigas e, a mais irritante entre elas – diga-se de passagem. Ela é uma garota alta de pele morena, olhos de cor verde-clara, e lindos cabelos negros volumosos, e lisos.  Jasmim tem um biótipo bem brasileiro, tanto pelo corpo curvilíneo, quanto pelas características exteriores que são fruto da miscigenação inter-racial de nosso povo. Seu tipo faz sucesso com os garotos do colégio, e ela adora receber a atenção deles.

— Tá bom bebezinho da mamãe. — Primeiro ela me aborrece novamente. Depois, passa a encarar-me com um olhar mortal... Prevejo o surto em 3, 2,1... — Ei, você cortou uma franja no cabelo e nem me avisou?! — exclama. — Olívia! Pensei que tivéssemos um acordo sobre mudanças capilares, o que houve com o “é necessário ter a opinião, e aprovação de todas, para qualquer novo corte de cabelo”?! — ela diz fazendo aspas com as mãos.

Ok. Eu sabia que isto aconteceria. Desde que ocorreram alguns incidentes no ensino fundamental, as meninas e eu estabelecemos como regra primária, a de que qualquer mudança de visual envolvendo corte, pintura, ou descoloração capilar; deveria ter uma autorização prévia de todas as três integrantes do grupo. E, eu quebrei esta regra quando resolvi cortar uma franja durante as férias de fim-de-ano, sem falar com nenhuma delas antes.

— Olívia... Estou esperando a sua explicação.

— Então, é que foi ideia do cabeleireiro de mamãe — minto. — Eu já te falei o quanto ele é insistente com essas coisas, né... Daí que fui cortar as pontas e, ele veio com isso de fazer uma franjinha também...  Por quê? Ficou muito ruim? 

— Bom, você sabe o que penso de franjas né... Para mim isso é uma coisa que só crianças deveriam usar. E com esse seu cabelão grande... Amiga, você ficou parecendo àquelas personagens dos desenhos japoneses, que a gente assistia quando era mais nova! Se bem que, com essa cara de princesinha que você tem nada fica exatamente ruim mesmo...

— Então... Isso quer dizer que você aprovou? —inquiro.

— Isto quer dizer que você passou na média. Bebezinho da mamãe... — ela dá de ombros.

—Ai, Jasmim... Você não existe! Vem... Melhor a gente entrar, não tô a fim de levar advertência logo no primeiro dia. — Puxo a minha amiga antes que ela comece com mais uma de suas gracinhas e adentramos juntas, pelo grande portão azul da escola.

O instituto Weber de Educação Básica é a instituição de educação mais conceituada da região. Sendo administrada por uma parceria formada entre a iniciativa pública, e instituições beneméritas privadas, qualquer pessoa pode estudar aqui, porém; o processo seletivo para tal é extremamente difícil. Assim, os alunos podem ser divididos basicamente em dois grupos: os que vieram de alguma escola particular, e que passaram sem problemas pela prova de seleção e, os “estudiosos” que são egressos de alguma escola pública comum e, que por isso, tiveram que se esforçar muito mais do que os do primeiro grupo; para serem aprovados no exame daqui. Há ainda uma minoria que fica fora dessas duas divisões, são os estudantes que, por algum motivo reconhecido foram convidados para estudar na instituição, sem precisar passar pelo processo regular.

Eu pertenço aos alunos do primeiro grupo, uma vez que sempre estudei em escolas privadas. Estudar no “Weber”, como costumamos falar, é o meu objetivo desde criança. Todos os membros de minha família estudaram aqui, é praticamente uma tradição familiar. Além disso, se eu quero mesmo ser uma médica conceituada, assim como a minha mãe é, preciso estudar com os melhores professores, e alunos.

Enfim, chegamos à porta da sala de número 11, a sala do terceiro ano A: a minha turma.

— Olívia, você vai entrar, ou vai ficar aí encarando a porta?

— Jasmim, você já parou para pensar que este é o nosso último ano aqui neste colégio? Quer dizer, é o nosso último ano como adolescentes, depois do ensino médio, só teremos a vida adulta...

— Nossa Olívia! Tá cedo para as suas reflexões existenciais, relaxa minha filha...

Eu sabia que ela não iria entender. Jasmim é o clássico caso da menina rica alienada. Verdade seja dita, eu também me incluo nesta categoria, mas, digamos que eu sou um pouco menos alienada do que ela.

— Ei meninas, vocês demoraram. — Maya, a minha outra melhor amiga, é quem reclama. Ao contrário de Jasmim, Maya é menos exigente com relação a nossa dinâmica de amizade. Todavia, ela tem um jeito meio hippie e despretensioso de levar a vida que, às vezes, me tira do sério. Ela também é muito bonita e, seus cabelos dourados e os olhos escuros de formato felino, fazem realmente uma grande figura.

— É culpa de Olívia e suas reflexões matinais,Maya.

— Reflexões matinais? Como é isso?

— Nem queira saber, Maya. Daqui a pouco Olívia começa com suas “palestrinhas filosóficas”.

 Eu até pensei em tentar rebater a afirmação de Jasmim, mas, quando abri a boca para fazê-lo o nosso professor de Português, um senhor mais velho de nome Ivan, adentrou a classe para a primeira aula do dia.

— Ei gente, fala sério! O primeiro horário tinha que ser com esse velhote chato...

— Eu ouvi isso dona Jasmim! — disse o professor. — Eu posso estar velho, porém não estou surdo.

E toda a turma desabou em risadas para desespero da minha amiga. Aliás, falando em turma, está faltando alguém aqui neste meio. Vasculho a classe com os olhos para confirmar a minhas suspeitas: Augusto ainda não chegara, e isto justifica o sentimento de ausência que começo a sentir no peito. Eu não o vejo pessoalmente desde o natal, quando ele ceara em minha casa. De lá para cá, nós nos falamos apenas pela internet, durante as noites quentes dos meses de férias.

— Olívia, senta! Daqui a pouco o homem também te chama à atenção. — Jasmim me repreende.

E então, eu me sento. A minha carteira é a primeira da fileira do canto, ficando próxima à mesa do professor. As meninas sentam-se logo atrás de mim e, o terceiro lugar da fila ao lado, é ocupado pelo meu amigo que está atrasado.

— Alunos, atenção para a chamada.  Número 1: Alice Silva Santos — diz o professor.

— Presente. —A tal Alice responde de forma tímida. Suponho que seja aluna nova, pois, nunca a vi nesta turma antes.

Número 2: Alicia Aparecida Pinto de Jesus Santos Pereira. — O professor chama em seguida, para delírio dos gozadores de plantão. — Silêncio turma, ainda com essa piadinha? Vocês já estão no terceiro ano!

— Professor, o senhor também não precisava falar o meu nome completo, afinal, eu sou a única Alicia da turma. — reclama.

Essa garota eu conheço bem, trata-se de uma pessoa ignorante, e cafona. Quase um purgante, de tão intragável que sua presença é! Às vezes, me dá até pena das gracinhas que ela ouve de nossos colegas, por causa do sentido ambíguo de seu sobrenome, entretanto, depois me lembro de que ela é farinha do mesmo saco que eles, e daí a pena passa.

— Continuando... Número 3: Augusto...

— Presente! — Num rompante a porta é aberta e um Augusto vermelho, e esbaforido, adentra a sala de aula: — Estou aqui, professor. — diz num fio de voz. 

— Salvo pelo gongo Augusto, já ia colocar falta para ti. — O meu amigo dá um sorrisinho sem graça, e meneia a cabeça em sinal de desculpas. — Vá, sente-se em seu lugar. — Ivan lhe indica.

— Pensei que nerds não chegassem atrasados à escola. Aliás, quando a gente se atrasa, só podemos entrar no segundo tempo, de certo que te deixaram entrar agora, por puro puxa-saquismo! — Alicia comenta de forma desnecessária.

— Se eu fosse você ficava quietinha no seu canto, viu “dona Pinto”. Tua ficha nesta escola é tão suja, que é capaz de seus bisnetos, se estudarem aqui, terem que pagar as advertências que você deixou! — provoco em resposta, arrancando aplausos do restante da turma.

— E você precisa o defender sempre, né, Santa Olívia Maria?! Até parece que o garoto é mudo.

— Ei, meninas... Está cedo para picuinhas, por favor!

— Desculpa professor. É que eu não gosto de injustiças. — pontuo.

— “Eu não gosto de injustiças.” — Alicia repete em tom jocoso.

— Senhorita Alicia, preciso lembrá-la que eu ainda estou na sala de aula, ou você já quer começar o ano com uma advertência? — Alicia bufa em sinal de descontentamento, mas a ameaça parece surtir o efeito necessário, uma vez que ela se cala.

O restante da chamada é feito de forma mais calma. Augusto sentara-se em seu lugar e, de lá não exprimira nenhum comentário, nem mesmo em sua defesa. Em se tratando dele, é um comportamento clássico e, por isso, eu o defendendo tanto. O meu amigo é educado demais para ter que ouvir esses comentários desnecessários de quem só tem inveja no coração.

As primeiras aulas foram tranquilas, os professores aplicaram apenas dinâmicas para “quebrar o gelo”, o que sempre acontece no início de todo ano letivo, ou seja, nada novo sob o sol.

Na hora do recreio, depois de comer o meu lanche junto às meninas, procuro Augusto pelo vasto pátio escolar. Ele saíra muito rápido da sala, de modo que, mal chegamos a trocar uma palavra.

Encontro-o sentado num banco mais afastado, próximo ao muro que divide a área do ensino médio, da área reservada aos alunos do fundamental II. Aproximo-me de maneira gatuna no intuito de pregar-lhe um susto:

Buuu! — exclamo de repente. Contudo, a minha ação não parece provocar-lhe nenhuma emoção. E por isso reclamo: — Ei, seu chato. Eu trouxe um pedaço de bolo de cenoura a mais, era para você, só que você nem me deu confiança hoje!

— Estávamos em horário de aula Olívia, tu bem sabes que evito conversar durante as lições. E, nem venha me cobrar por ter saído sem ti, eu continuo não simpatizando com aquelas suas amigas.

— Ora seu Augusto, é nosso último ano juntos, você devia relevar... As meninas até gostam de ti, sabia?

Hunrum...Vou fingir que acredito nisso —ironiza.

Reviro os olhos perante a atitude teimosa de meu amigo. Depois, sento-me ao seu lado no tal banco e ofereço-lhe o bolo novamente:

— Pega, este pedaço é realmente seu.

— Obrigada. É o da sua mãe, ou foi você quem fez desta vez?

— É o de mamãe mesmo. Hoje eu fiz hora na cama até tarde e só desci a tempo de tomar café. Falando nisso, o que te aconteceu hoje?  É a primeira vez que vejo você chegando atrasado e...

— Dormi demais! Algum problema nisso?— ele me interrompe de supetão.

— Calma, Guto. Foi só um comentário... É que eu fiquei preocupada.

— Ficou é?

— Sim. Fiquei.

— O quanto você se preocupou?

— Bastante. Você é importante para mim, e sua ausência é sempre sentida... nunca duvide disso!

Em algum momento no meio de nossa conversa, nós acabamos ficando terrivelmente próximos demais. Tão próximos, que quando termino de proferir a minha última fala, sinto a sua respiração tocar suavemente a pele de minha bochecha. Inclino o meu rosto em direção ao seu, com o intuito observá-lo de forma melhor. Guto tem praticamente a mesma altura que eu, de maneira que, todos os detalhes de sua face podem ser facilmente admirados por mim.

— Ei, Olívia...

— Sim? — aquiesço.

— Você já parou para pensar que este é o nosso último ano juntos?

— É só o que penso ultimamente, Guto. Mal vejo a hora de sair daqui e me livrar das pessoas inúteis desta escola. Mas, ao mesmo tempo, também me dá um frio na barriga quando penso no que pode estar me esperando lá fora... Tenho medo de como será a vida adulta, Augusto.

— Acho que é uma preocupação comum a todos os adolescentes de nossa idade, Olívia. O desconhecido provoca medo mesmo.

— Verdade. Ainda bem que terei você sempre comigo, né?!  O medo é menor quando a gente tem alguém a quem confiar — digo empolgada. Só que, para minha estranheza, Augusto afasta-se de modo sutil, num indicativo de que a minha empolgação é solitária. — Guto... O que foi?

Hãn? Não é nada, não. Olha... Acho melhor irmos, daqui a pouco o sinal bate e...

— Augusto, não se atreva a me ignorar! — interrompo-o de forma imperativa. Eu detesto quando tentam me fazer de burra e, claramente, há algo que o meu amigo não quer me contar. — Anda, estou esperando: o que você está escondendo de mim?

Augusto bufa se levantando do banco e ficando de costas para mim. Um silêncio desconfortável se instala entre nós e, irritada pela ausência de resposta, ergo-me de meu lugar na intenção de deixá-lo sozinho com os seus pensamentos. No entanto, quando passo perto de ti, eis que ele me segura pelo pulso e diz:

— Nós não estaremos juntos no ano que vem Olívia.  Sinto muito, mas nossos caminhos serão diferentes.

— Como? — reajo incrédula. — E o nossos planos, Guto... Íamos cursar a mesma faculdade, lembra-se? Você não quer mais fazer medicina, é isso? Porque se for esse o problema, a gente dá um jeito, você escolhe outro curso no processo seriado, ou tenta pelo Enem... A gente ainda pode estudar na mesma universidade, mesmo que em cursos separados.

— Olívia... Aconteceram algumas coisas que me fizeram chegar à conclusão de que tanto cursar medicina, quanto ficar no Brasil, já não é mais o meu objetivo de vida. Eu vou embora do país Oli... Assim que nos formarmos no final do ano!

— O quê?! Você não pode, e a nossa promessa? Íamos ficar juntos, um sempre ajudando o outro... Você não pode me abandonar assim Augusto.


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