Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 6
O Cão Infernal


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, meu dia de postar é geralmente na Sexta-feira, mas esta semana me atrasei em algumas coisas pessoais, e isso acabou refletindo na minha história também. Um outro motivo para a demora foi, que tentei ser o máximo detalhista possível neste capítulo, espero que gostem.



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            Éden estava congelado, por mais que tentasse mover suas pernas, era inútil, o vento gelado da noite passava pela sua espinha e a adrenalina corria em suas veias. Era uma totalmente além do que jamais imaginou.

— Um lobi... – Tentou balbuciar, mas a única coisa que saiu da sua boca foi o ar da sua respiração gelada, naquela noite assombrosa. De repente, a primeira gota de chuva caiu sobre a testa de Éden e para ele foi como um tiro de largada, e imediatamente como um reflexo de sobrevivência, disparou-se em direção ao caminho contrário que a fera estava. Em meio a sua fuga, Éden teve a sensação de estar naquelas corridas em que cachorros perseguem um coelho, e era assim como ele se sentia, um coelho emboscado, toda sua experiência o dizia que não importava o quanto corresse, ele seria pego. No meio de sua corrida desesperada, acabou tropeçando “que patético eu sou” chegou a pensar. Então notou que não estava mais segurando a coleira de seu cão, tomado por culpa e um instinto protetor maior que seu medo, Éden se virou, mas o que viu foi uma mulher em pé parada de costas para ele. Ela estava cercada por chamas azuis que também estavam sobre seu corpo nu, que era desenhado por cabelos negros excessivamente longos cobriam cada parte que poderia ficar exposta. A chuva continuava a cair sobre ela, mas o fogo não se apagava, nem a mulher parecia sentir alguma dor devido ao fogo, por outro lado o lobisomem estava no chão se contorcendo. Ele havia perdido uma porção de carne do seu braço que agora chamuscava um pouco com a misteriosa chama azul. Apesar do medo, Éden arriscou-se aproximar mais um pouco, e pôde ver que a mulher estava mastigando um pedaço de carne.

— Você viu minha cadela? Se chama Eva – Éden achou que seria engraçado dar esse nome a seu cão, visto que ele se chamava Éden. Costumava pensar em adotar um outro animal e pôr o nome de Adão, e a piada estaria pronta. No entanto, mulher o olhou brevemente com seus olhos cor de safira, cuspiu a carne, limpou a boca e voltou-se novamente para o lobisomem.

— Vocês lobos...sempre tão desprezíveis. Não importa quantos séculos se passem continuam extremamente pifeis. – A mulher deu alguns passos desajeitados em direção ao lobisomem. – Faz tanto tempo que não ando em duas pernas que já tinha me esquecido como é desconfortável. – Disse ela. Enquanto isso, o monstro olhava para seu braço chamuscado como se esperasse algo. – Não adianta, não vai regenerar. Foi queimado com o fogo infernal.

Conforme a mulher andava, Éden percebeu a havia uma parte do cabelo dela que lembrava muito uma calda. Parte dele queria fugir, a outra parte queria encontrar Eva, e outra parte maior ainda queria ver o desenrolar da história. Então enquanto gritava pelo nome de sua cadela e olhava todos os lugares, Éden observava a ação de longe.

Com um bravo uivo o lobisomem se levantou e avançou sobre a mulher disparando-lhe um golpe com suas garras enormes. No entanto ela apenas inclinou-se para trás e deu-lhe um socão na barriga que fez o lobisomem ser atirado a uns três metros de distância, arrastando alguns troncos de árvores consigo. Começava a chover cada vez mais forte, e o fogo ao redor dela não cessava, na verdade parecia mais intenso conforme sua feição se moldava em raiva e desprezo.

— Escória. – Disse ela olhando o lobisomem de uma certa distância. Enquanto o monstro estava incapaz de se levantar, a mulher pegou um resto de uma coleira chamuscada que estava no chão, andou na direção de Éden que estava curvado tentando chamar por seu animal. Apesar do sotaque um pouco puxado da mulher, provavelmente por não falar por muito tempo, conseguia se fazer entendida. – Sempre odiei usar isto. Tome. – Entregou os restos da coleira na mão de Éden.

— Eva? – Perguntou ele, estarrecido.

Quando a mulher abriu a boca para explicar, uma mão enorme de lobisomem cobriu o belo seu rosto, e a segurou como se fosse uma bola de handball. O monstro chocou a cabeça dela contra o chão, uma, duas, três vezes, e depois cravou seus caninos na barriga dela afundando-os até sentir perfurar os órgãos.

Do outro lado Éden mantinha os olhos arregalados, enquanto segurava a pobre coleira chamuscada. Lágrimas começaram a surgir incontavelmente em seus olhos, sentia que parte dele estava prestes a ir. O único ser vivo que tinha o tirado de uma vida depressiva, aquela que era carinhosa durante as noites mais frias, aquela que sempre estava em casa para acolhe-lo, agora estava ali sendo devorada, à beira da morte e ele era impotente, um reles humano, fraco demais para fazer alguma coisa. Um escritor que passou a vida toda se isolado socialmente, e evitava constantemente exercícios físicos.

— Eva! – Soltou um grito de desespero.

O lobisomem lançou um olhar de jubilo como se dissesse “você é próximo”, mas para a surpresa da fera, de repente, ele não conseguia mais afundar seus dentes. E no meio da rua vazia e noite fria e chuvosa, ouviu-se risadas, a mulher não estava morta, e ainda ria de desprezo do monstro.

— Pífio!

O sangue que percorria a boca do monstro se tornou combustível para as chamas azuis que seguiram seu caminho até o interior dele, despejando a destruição por onde passava. Pegando fogo e em desespero, o lobisomem tentou correr desorientadamente, quebrando tudo por onde passava. Assustado, Éden tentou recuar de forma que ficasse seguro, mas antes que pudesse perceber a mulher tomou sua frente.

— Não se preocupe, não deixarei que ele te machuque. – Disse ela. Éden balançou a cabeça como forma de agradecimento, mas tentou evitar contato visual para não acabar vendo um de seus seios que agora estavam a amostra por entre os fios de cabelos negros. Lentamente ela foi andando até o lobisomem, agora já podia caminhar perfeitamente.

— Olha, vejo que tem seus truquezinhos. – Disse ela.

Éden viu que o monstro parecia dar à luz a outro lobisomem inicialmente pequeno, que em questão de segundos se tornou tão grande quanto o original.

— Ele deu à luz a outro monstro! – Gritou Éden.

— Que nojento, você defecou a si mesmo. – Disse a mulher. – Nunca vi uma habilidade tão ridícula. É oficial, você é o lobisomem mais nojento que já vi.

Em um surto de raiva, enlouquecido o monstro tentou desferir um soco nela, que simultaneamente revidou com um soco na mesma direção. Os punhos se chocaram inúmeras vezes, e por um instante foi tão rápido que Éden não conseguia acompanhar com seus olhos. Quando acabou, ele viu que a mulher estava ilesa de pé e o lobisomem ajoelhado com os dois braços quebrados, impossibilitados de qualquer regeneração. Com nojo de tocar o monstro, apenas o fulminou ali mesmo, com suas chamas azuis. Inesperadamente voa por ela um pedaço de um uniforme.

— Garra de lobo. - Eva leu com dificuldade.

— O que você disse? – Éden se aproximou e olhou mais de perto. – Este é o uniforme do professor de Educação física!

A mulher olhou para Éden.

— Educação Física? – Perguntou ela.

Éden não podia deixar de notar que ela tinha um olhar intenso de superioridade, mal conseguia estar no mesmo lugar que ela sem sentir a pressão que o fazia pensar que deveria se ajoelhar.

— Sim é uma das matérias que damos no colégio...- Mas antes que pudesse terminar a sentença, outra pergunta lhe veio à mente. – Então você é a Eva?

A mulher o olhou como se tivesse olhando para uma criança de cinco anos que não conseguia entender uma simples multiplicação de matemática.

— Pode se dizer que sim. – Ela se dispôs a fazer alongamento no meio da chuva. – Pode se dizer que não.

— Me desculpe, não entendi. – Éden imediatamente tirou o seu casaco e tentou cobri-la. – Mas vamos sair dessa chuva antes, você está ensopada.

No reflexo, a mulher se afastou um pouco, mas quando entendeu o intuito deixou que se aproximasse.

— Minha espécie não fica doente. – Disse ela. Então fez uma pausa e prosseguiu na conversa. – Eu sou um cão divino, naquela época você me viu em dificuldades, me ajudou, e por isso sou grata. Mas nunca fui um cão de verdade, a Eva nunca existiu de fato.

— Não importa o que você me diga, a Eva foi real para mim. – Por instante todo o medo de Éden foi tomado por afeto e um pouco de indignação por ouvir falarem assim de seu querido animal de estimação. Essa atitude de certa forma comoveu um pouco a mulher, que ficou sem reação.

— E qual é o seu nome? – Éden perguntou.

— Já tive tantos...mas pode me chamar de. – Antes que pudesse terminar, Éden a interrompeu.

— Tudo bem se eu continuar te chamando de Eva? – Perguntou ele.

— Fique à vontade. – Eva respondeu revirando os olhos e deixando escapar um singelo sorriso.

Ao chegarem na casa de Éden, Eva se sentiu estranha, pois era a primeira vez que pisava lá em sua forma humana. Mesmo quando Éden saía de para dar aula, ela ainda continuava presa a sua forma de cachorro, devido a um acontecimento de anos atrás quando ele a encontrou. Agora, Eva comtemplava suas próprias mãos, pensando no milagre de ter conseguido se transformar em humana novamente justamente naquela noite. Seria o seu ódio pelos lobisomens que a fez recuperar seus poderes? Ou teria sido outra coisa? Nesse momento reflexivo, ela encarou Éden que não parava de andar de um lado para o outro da casa arrumando as coisas, enxugando o chão molhado e procurando roupas que pudessem caber nela.

— Caramba! Eu tinha certeza que tinham umas roupas da minha ex em algum lugar por aqui. – Disse Éden com as mãos na fina cintura que ele tinha.

— Ah, eu rasguei. – Disse Eva com tranquilidade.

— Você o quê? Não acredito, vamos ver o que tenho aqui. – Enquanto procurava, Éden jogou a toalha dele na direção dela, que após hesitar um pouco, usou para se enxugar. Ele puxou de seu guarda-roupa um casaco cinza com capuz, que tinha a seguinte estampa escrita, HOT DOG, e também pegou uma de suas cuecas samba canção, e deu para que Eva usasse.

Enquanto Eva tentava fazer tudo no seu tempo, Éden se movimentava de um lado para o outro como uma verdadeira mãezona. Ele realmente surpreendeu quando apareceu com um secador de cabelo para secar aquele cabelo colossal que Eva tinha. Ela tentou resistir um pouco, mas Éden insistiu tanto que a pobre mulher acabou cedendo. Éden então secava aqueles longos cabelos negros, tão finos que qualquer um desatento poderia se cortar os dedos neles, não haviam traços de embaraços ou sequer pontas duplas. Sua pele era de um marrom tão clara que parecia ter sido esculpida das madeiras que compõem as tradicionais casas do Japão.

— Amanhã vamos comprar roupas novas para você, e também vamos fazer um visual novo nesse cabelo. – Disse Éden.

— Existem muitos inimigos lá fora, e ainda não recuperei todos os meus poderes. – Disse Eva.

— Espere! Isso é uma cauda? – Perguntou Éden, se lembrando do momento que viu algo que parecia ser uma cauda na luta contra o lobisomem.

— É sim! Como eu disse, ainda não consegui recuperar meus poderes! – Eva gritou, envergonhada de si mesma.

Em meio a tana conversa e alguns risos, Eva parou para agradecer Éden por tudo que ele fez durante todos esses anos.

— Muito obrigado Éden, por ter cuidado de mim. Era um dia chuvoso como este e você poderia só  ter passado direto, mas parou, e me levou para sua casa. Um cão enorme e ferido, totalmente assustador. – Disse ela.

— Eu que agradeço, ter te levado para minha naquele dia foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. E você não era assustadora, era fofinha. – Eva ficou desconcertada com o elogio, enquanto Éden caiu em risos, então a olhou e completou o que estava dizendo. – Obrigado por fazer parte da minha vida, Hellhound.

— Então você já sabe? - Perguntou Eva.

— Sim, fiz uma pesquisa enquanto procurava as coisas. Mas para mim, você sempre será a minha Eva.

 


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Notas finais do capítulo

E aí? O que achou? Não deixem de comentar, a opinião de vocês é importante demais para mim ^^



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