Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 5
O mito da sala Alpha-16


Notas iniciais do capítulo

Eu tinha escrito algumas coisas a mais, mas não coloquei agora para enviar esse capítulo logo para vocês. Espero que gostem



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Como as aulas estavam canceladas naquele dia, esperaram até o dia seguinte para investigar os alunos da turma de Arte. Elizabeth sugeriu que se dividissem em dois grupos. Ela e Clarice iriam fazer algumas perguntas para o professor de Educação Física do noturno, visto que a aluna que morreu estava usando o uniforme de educação física, então foram até a casa dele. Enquanto Calebe e um outro professor chamado Victório, iriam interrogar os alunos do clube de arte.

Os alunos do clube de arte chegaram até a sala de reunião que também servia para interrogatório dos alunos, Calebe e o outro professor podiam escutar os alunos cochichando afoitos do outro lado da porta.

— O que faremos? - Perguntou um deles. - Estou muito nervoso, depois daqui vão nos enviar para sala Alpha-16, e vamos virar ingredientes para a janta da escola! – Daniel era um garoto aparentemente frágil, de pele pálida, e usava seus óculos sem necessidade, pois assim se sentia mais seguro.

— Não vamos virar nada, se acalme. - Respondeu uma das alunas que estava ao lado dele. - E a sala Alpha-16 não existe de fato. É uma pegadinha para novatos como você. - Era uma garota alta de cabelos longos e negros, seus olhos cada um era de uma cor, o seu olho direito era dourado e o esquerdo era azul.

— Sophia! – Disse uma voz de dentro da sala que parecia ser a do professor Calebe. Ela entrou na sala.

— Pode sentar-se. – Disse o professor Victório. Um homem sisudo, pálido, com um rosto longo e um nariz proeminente.

Sophia sentou-se, mas o que mais chamava atenção é que ela sempre ficava batendo a ponta de sua unha contra a mesa, como se estivesse enviando algum sinal para alguém.

— Você pode parar com isso? - Disse Victório.

— Isso o quê? – Respondeu Sophia dissimuladamente.

— Você sabe, essas batidas, estão incomodando.

— Ah elas? Entendo. - E continuou a bater.

— Por mais que eu goste de ver o  Victório constrangido, é melhor você parar com isso Sophia, ou, podemos pensar que está enviando um sinal para alguém. – Sophia ficou um pouco surpresa com a especulação de Calebe, mas apenas sorriu e olhou desafiadoramente. Sophia sempre foi uma aluna desafiadora, sempre batendo de frente com vários professores, e subjugando vários alunos que ela considerasse inferior. Vinda de uma família milenar de sangue puro de lobisomens, jamais abaixava sua cabeça ou se curvava para ninguém.

— Aonde você estava quando Beatrícia foi encontrada morta? – Perguntou Calebe.

— Pescando com meu pai. – Sophia respondeu secamente. Estava tão séria que era difícil saber se seus olhos piscaram alguma vez durante todo o interrogatório.

— E onde você estava durante a aula de educação física ontem? – Continuou Calebe, enquanto Victório andava de um lado para o outro atrás dele.

— Na enfermaria, eu passei mal. - Respondeu ela.

— Hum, então se formos perguntar para o professor de educação física se você realmente passou mal, ele pode confirmar? – Perguntou Victório.

— Sim.

— E se perguntarmos a enfermeira, também? – Continuou ele agora mais incisivamente.

— A enfermeira não estava no momento então. - Sophia fez um breve pausa. - Assinei meu nome na lista e fiquei na cama até melhorar.

Victório e Calebe se entreolharam.

— Muito bem, pode ir. – Disse Calebe. – O que você acha? 

— Não senti o cheiro de quem mente. – Afirmou Victório, enquanto mexia no próprio nariz como se quisesse confirmar que o mesmo ainda estava funcionando. - Mas temos que lembrar que ela vem de uma linhagem pura. Com certeza ela é treinada para não deixar que sintam o cheiro de mentira.

— Samanta! – Calebe falou de dentro da sala para que a próxima aluna entrasse.

Uma garota simples de cabelos castanhos entrou.

— Bonsoir, Sr. Calebe, Sr. Victório. Se curvou levemente para ambos.

— Vejo que alguém nessa escola ainda respeita a tradição dos lobisomens em se curvar para um lobo mais velho. – Disse Calebe.

— Sim, esse costume é passado por gerações por nossa família.

— Você também é um sangue puro, Samanta? – Perguntou ele.

— Não sei dizer se sou isso, meu senhor. Nasci humana, mas quando cheguei a uma certa idade meus pais me transformaram.

— Entendo. – Disse Calebe. No momento sua feição se transformou em uma mistura de raiva e pena, pois a transformação era um processo muito arriscado, Samanta poderia ter morrido.

— Nós sabemos que você é uma garota responsável e dedicada, mas gostaríamos de saber se você teve algum contato nos últimos dias com a garota que foi morta ou com alguém que desejaria mal a ela.

— Beatrícia?

— Não senhor, ela era uma garota bastante reservada, e poucos alunos falavam com ela. Mas lembro que dias atrás o Daniel disse que ela foi até nosso clube de arte pedir algumas velas. Ela disse que era para algum tipo de ritual performático que estava fazendo.

— Interessante. – Disse Calebe. - Daniel pode se sentar, por favor. Soube que teve contato com a garota morta, antes que a mesma viesse a óbito, claro. Pode me dizer o que houve? – Calebe falava com o garoto, mas ficava de olho em suas anotações, enquanto Victório o encarava o rapaz fortemente.

— Eu apenas dei algumas velas do nosso clube para ela. Quando perguntei para o que era, ela disse que era para um ritual performático, e não me deu mais informações. Vou ser trancando na sala Alpha-16, não vou?

— Que papo é esse? – Calebe, ficou um pouco surpreso ao ouvir esse nome, mas logo voltou a calma, e retomou sua posição. - Daniel, essa sala nem existe. – Disse ele com uma voz branda. E por milésimos de segundos, Victório sentiu um cheiro de mentira vindo de Calebe.

Quando terminaram de interrogar os alunos Victório não pode deixar de pensar no ocorrido, e então puxou Calebe pelo braço, mas de forma gentil e o questionou.

— Agora a pouco senti um cheiro estranho vindo de você, era cheiro de mentira. Você pode me explicar, Calebe?

— Ah, está falando sobre a sala Alpha-16? Ela realmente não existe. – Calebe disse isso, e nenhum cheiro de mentira subiu, o que deixou Victório um pouco confuso, mas ele não queria largar o osso, e já estava pronto para fazer outra pergunta quando Calebe acrescentou mais alguma coisa.

— Eu sou o Alpha-16. – Victório ficou surpreso com a afirmação de Calebe, mas se deu conta que essa era uma patente dada a lobisomens que serviram ao exército em algum momento.

— Você serviu ao exército? – Perguntou Victório.

— Sim, e logo depois que vim ensinar nesta escola, bem no seu começo. Claro, que eu ainda guardava algumas maneiras do exército, e no meu primeiro dia de aula quis dar uma punição no estilo militar a um dos meus alunos que estavam se comportando de maneira indevida. Então levei ele para uma sala, e o pressionei com minha forma de ataque. Esse garoto ficou repetindo Alpha-16 por um bom tempo, que era a patente que estava escrita no meu uniforme. É algo que me arrependo profundamente como professor, e pretendo nunca mais repetir o meu erro.

— Errar como professor no início é algo muito comum. Mas nós nunca devemos parar de nos aprimorar, tanto em conhecimento, como em caráter. – Disse Victório, enquanto acendia seu Malboro.

— Me pergunto como as meninas estão se saindo na aula de Educação Física. - Disse Calebe.

Elizabeth foi caminhando com seu salto alto pela quadra ao lado da casa do professor, enquanto Clarice a seguia sem jeito.

— Okay, turma! Formem alcateias de três! – Disse o professor de educação física, que era um homem barbado, com algumas tatuagens, e um pouco acima do peso.

— Olá, Nicolas. – Disse Elizabeth

— Liza! O que faz aqui, ah sim. A garotinha que apareceu morta com o uniforme de educação física. - Disse o professor, mas logo voltou atenção para o treino - Muito bem turma! Paulo, mais pressão nisso aí! Ainda se considera Alfa?! 

— O que os alunos estão fazendo aqui? - Perguntou Elizabeth.

— Nós temos um jogo para vencer semana que vem, não podemos parar por nada. – Nicolas coçou a barba como se não tivesse muito interesse real na vitória, mas de vez em quando disparava olhares como se tivesse interesse real em Elizabeth. - A garota morta, qual era o nome dela mesmo?

— Beatrícia. – Disse Clarice, um pouco chateada com a situação, pois o professor não parecia ligar de verdade para o caso. Apesar de ter pouco tempo trabalhando no turno noturno Clarice podia perceber que talvez os lobisomens não se importavam tanto assim para a morte.

Nicolas olhou para Clarice com um pouco de curiosidade e após duas fungadas de leve a uma certa distância, perdeu o interesse. O que claramente deixou Clarice ainda mais sem jeito.

— Não tenho nada a ver com esse assunto, a menina passou mal e foi para a enfermaria. Ela já vinha passando mal em minhas aulas, há alguns dias. – Nicolas se aproximou no ouvido de Elizabeth e sutilmente perguntou. – E aí, quando é que vai rolar o replay? – Mas ela apenas o ignorou e saiu. Clarice a seguiu. Não sabia se era porque os lobisomens a subestimavam, mas Clarice conseguiu ouvir o que Nicolas disse para Elisabeth. O que a deixou pensativa.

Voltando para a escola, no meio do caminho, Elizabeth e Clarice encontram Éden passeando com um cachorro. Este era bastante diferente dos conhecidos, era enorme, mas lembrava vagamente um Doberman, no entendo possuía uma calda peluda e brilhante olhos azuis. Elizabeth logo notou que Éden parecia estar indo na direção de onde o professor de educação física do noturno estava.

— Éden! – Clarice gritou um pouco distante.

Ele se virou e viu as duas, então foi até elas para cumprimentá-las. Mas antes mesmo que pudesse se aproximar, seu cachorro ficou descontrolado por causa de Elizabeth e partiu para cima dela. Rapidamente Elizabeth usou sua habilidade para intimidar o cachorro, mas não tinha jeito, ele parecia estar mais furioso ainda. Éden segurava o cachorro com toda força que podia, mas mesmo assim o cachorro o arrastava até elas, com uma força descomunal.

— Calma garota! – Gritava Éden aos pulos.

Por impulso Clarice tomou a frente de Elizabeth, e colocou a palma da mão a dianteira, com um gesto de repreensão.

— Halt! – Gritou ela, em alemão.

Imediatamente o cachorro parou, e começou a acariciar Clarice. Não parava de lambê-la e abanar o rabo.

— Nossa, você é boa com cachorros. – Disse Elizabeth suando frio. – Você fala alemão?

— Hehe, um pouco. Aprendi há um tempo atrás na..., ué, onde foi mesmo? Enfim, sei algumas palavras para manter certos animais violentos no controle. Não é mesmo garota? – Disse Clarice enquanto acariciava a cadela no queixo.

— Impressionante. – Disse Éden. – Eu tenho dificuldade de colocar ela na coleira, entre outras coisas como dar banho, que é impossível. - A cadela deu uma leve rosnada para Éden, mas voltou as caricias de Clarice. - Mas de alguma forma ela aprendeu a fazer isso sozinha. - Completou.

Clarice ia fazer mais perguntas a respeito da cadela, mas Elizabeth a interrompeu.

— Você sabe do toque de recolher da cidade, não é mesmo? Por que está aqui fora? Não me diga que você quer investigar o caso.

— Eu só estava passeando com minha cadela. – Respondeu Éden, um pouco intimidado. – E também, vim pegar um ar fresco, para minha criatividade.

— O Éden é escritor. – Disse Clarice.

— Eu sei. – Respondeu Elizabeth secamente.

— Sabe? – Clarice ficou confusa por um momento, mas se lembrou do que o Nicolas havia dito antes. “ Será que a senhorita Elizabeth é uma predadora de homens? ”, pensou.

— Sim, ele já tem um livro publicado. E é muito famoso inclusive. Você provavelmente não o reconhece porque ele usa um pseudônimo.

— Sério? – Perguntou Clarice.

— Sim, “Quando os anjos choram”. – Disse Éden.

— Ai, meu Deus. Eu amo esse livro! Não acredito! Você é o Albert Durkein!

Antes Clarice pudesse bajular Éden até conseguir um autógrafo, Elizabeth a tirou de lá, pois estavam atrasadas para levar as informações para os outros professores. A cadela ficou um pouco triste com a partida de Clarice, mas foi com Éden, que realmente estava indo para a quadra do professor de Educação Física. De repente, no escuro, próximo a uma árvore, uma figura assustadora de um lobisomem em sua forma de ataque apareceu diante dele. Um ser com pelos negros e olhos vermelhos vívidos, com caninos enormes e uma massa muscular absurda, rosnava para Éden.


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