Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 3
Reflexo da lua




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Clarice acordou meio tonta e então se voltou para os olhos preocupados de Calebe, e ao fundo Arthur andando de um lado para o outro.

— Nossa eu por um instante achei que o Arthur tinha um focinho de cachorro. – Disse ela. Arthur imediatamente a interrompeu e com as mãos na cintura disse:

— Especificamente, lobo.

— Clarice, escuta. O que você acabou de ver foi real, Arthur e eu somos lobisomens. – Disse Calebe. Foi quando Clarice percebeu que estava sendo segurada por seus braços longos e firmes, ficou um pouco sem jeito e tentou se levantar.

— Não é possível que isso tudo seja real. – Disse ela enquanto se levantava ainda cambaleado, mas conseguiu se apoiar na maçaneta da porta.

— É sim! – Disse o Arthur animadamente, houve uma ligeira impressão de que ele iria se transformar novamente, mas dessa vez foi impedido pelo olhar de Calebe.

— Que tal irmos com calma em? – Disse Calebe - Vamos a caminho da escola e lá te explicamos tudo com mais detalhes.           

Clarice assentiu com a cabeça, então saíram para a frente da casa e Clarice ainda confusa perguntou.

— Não estamos atrasados? Talvez devêssemos pedir um táxi, sei lá.

— Me desculpe Clarice, mas eu não tenho o costume de me atrasar. Tudo bem se eu me transformar e você subir nas minhas costas?

— Vai se transformar novamente? – Disse ela preocupada.

— Sim. Mas se ainda não estiver confortável pode ficar em casa. – Disse Calebe com um tom de preocupação. Enquanto Clarice gaspeou.

— Você é bem grosso as vezes, não é mesmo? –Disse ela

— Não fui grosso...

— Tudo bem, pode se transformar. Mas nem pense em tentar me comer, vou faixa verde de karatê!

— Prometo que não vou

Calebe fechou os olhos e lentamente um vento soprou. Seus cabelos balançaram e seu corpo foi se desfazendo como poeira, e como uma reorganização dos átomos de repente estava presente ali um lobo de dois metros, no entanto seu olhar continuava gentil. Seus pelos eram alvos e brilharam como a luz da lua.

— Suba. – Disse ele. Clarice subiu nas costas do lobo, então ele correu juntamente com o Arthur também transformado para a Escola.

                Enquanto cavalgava nas costas de Calebe, Clarice foi atormentada por algumas questões e revolver externalizá-las.

— É muita coisa para assimilar. Como por exemplo, onde foram parar suas roupas? E porque você se transforma em um lobo e não naquele monstro das histórias de terror? E por que o Arthur tem chifres?

— São muitas perguntas, mas todas têm respostas – Disse Calebe – As criaturas no geral estão há muitas eras sobre a terra. Era só uma questão de tempo até que elas burlassem suas maldições. Atualmente existem produtos mágicos-científicos que compramos em mercados especificos que nos permitem certas coisas como se transformar sem perder as roupas.

Clarice ficou bastante interessada no assunto, mas não ousou aprofundar-se mais para não ficar ainda mais confusa. Enquanto isso observava as casas do alto aproveitando a vista, de cima do lobo.

— Você ainda não me respondeu as outras perguntas. – Disse ela.

— Pode deixar que eu respondo a segunda. – Disse Arthur. – Aquela é uma transformação de batalha, só temos permissão para nos transformarmos assim em caso de guerra ou quando nossas vidas estão em perigo. Não é isso, professor?

— Exatamente. – Calebe olhou para o Arthur com um ar de aprovação, que com certeza fez o rapaz se sentir mais motivado. – E sobre a última pergunta. Chegamos. – Calebe acabou não respondendo pois eles haviam acabado de chegar no colégio. Todos os alunos ficaram parados admirando o professor a entrada dos dois lobos acompanhados por uma humana, sabiam pelo cheiro.

— Nossa, raramente ele se transforma no colégio. – Disse uma aluna.

— Olha que lindo! Parece um fantasma! – Disse outra aluna. Ninguém tirou fotos, pois celulares são proibidos para alunos no turno da noite. Todos alunos passam por uma revista com porteiro Ernie, o qual consegue farejar celulares até podendo diferenciar as marcas pelo cheiro.

— Quem é aquela nas costas dele? Que ousadia! Uma humana, ainda por cima – Rosnou uma aluna.

Na diretoria o diretor do turno noturno ajeitou-se na cadeira, penteou seu bigode, e pediu para que entrassem.

— Você sabe por que chamei você aqui? – Disse o diretor.

— Sim, porque testemunhei lobos que causam explosões no turno noturno. Mas não entendo porque eu, vocês poderiam simplesmente ter usado um dos seus produtos mágico-sei lá o que e apagado minha memória, vocês não têm isso? – Argumentou Clarice. O diretor desconfiou que Calebe tivesse dito alguma coisa, mas apenas ignorou.

— Temos sim. Mas aí que está, infelizmente não funcionou em você. Por isso tivemos que ser radicais e agora estamos tentando trazer você para o nosso lado. Além de descobrir o mistério por trás da sua imunidade a tecnomagia. Ademais, não seria a primeira, muitos humanos trabalham nessa escola no turno noturno também, pelo simples motivo de que uma boa parte da população desta cidade é composta por lobisomens.

— Como assim levar para o lado de vocês? Vão me transformar em lobisomem também? Já basta o que vocês fizeram com o Arthur!

— Professora... – Arthur tentou intervir. Clarice estava pensando agora que qualquer um que ela poderia ter conhecido, poderia ser um lobisomem.

— O que aconteceu com o Arthur foi um caso especial, o professor Calebe o salvou da beira da morte. – Disse o diretor. Clarice olhou para Calebe, o rosto dela ainda bravo, mas se desmanchou em compreensão, então acalmou-se.

— Muito bem, nós vamos oferecer um bom salário para você para substituir o antigo professor de biologia do turno noturno, já que a professora que o faria infelizmente não pôde vir por motivos particulares. – Disse o diretor.

— É, é meio complicado já que é tudo novo para mim, e eu nem sei como é exatamente uma anatomia de um lobisomem, então... – Disse Clarice.

— Oh, não se preocupe com isso querida. Essa parte será suprida por um professor específico em lobisomens. Mas se ficar curiosa, temos livros que falam sobre isso na biblioteca.

— Ainda não sei... – Respondeu ela.

— Tudo bem aqui está o valor, pode pensar nisso o tempo que quiser. – O diretor passou um papel fechado que tinha escrito uma certa quantia em dinheiro. Clarice abriu o papel e gaspeou por reflexo “isso é 3 vezes mais do que eu ganho em um mês inteiro! ”, sem relutar Clarice aceitou.

— Tudo bem! Eu aceito a vaga.

— Mas não vai nem pensar? – Disse o diretor.

— Não é preciso pensar quando a oportunidade bate à porta. - Disse Clarice empolgada e sorrindo. O diretor sorriu meio constrangido.

— Pode ir então, está liberada, quando sair da sala haverá um motorista lhe aguardando. Ele irá leva-la até sua casa. - Na saída, Ernie estava com seu sobretudo e chapéu escuros aguardando Clarice. Eles foram juntos até a frente da escola, mas Clarice não viu nenhum carro.

— Você quer que eu...? - Perguntou Clarice. Ernie riu.

— Não não professora, a van da escola está logo ali na frente já. Ernie tinha um sotaque puxado, quando estavam na van em direção a casa de Clarice, ela comentou sobre isso.

— É que sou de uma região que atualmente é muito próspera, mas antigamente sofria bastante com a seca e a fome, minha família não tinha condições. O tempo passou e das minhas memórias muitas se desgastaram, pois mudei bastante. Mas quis manter esse sotaque como uma lembrança de onde eu vim.

— Entendo, obrigado Ernie. – Clarice desceu da van e entrou em sua casa. “Amanhã será meu primeiro dia, mal posso esperar”

No dia seguinte Clarice acordou empolgada para seu primeiro dia de aula no turno noturno, tanto que passou todo o turno da tarde pensativa sobre o assunto. Enfim a noite caiu e chegou o tão momento aguardado, como de costume Calebe e Arthur foram buscá-la o que despertou mais fofocas entre os estudantes quando chegaram no colégio. Clarice entrou na sala de aula e todos a encaravam bastante. Mas como todas as turmas de ensino médio, a sala tinha aqueles que queriam aprender e aqueles que bagunçavam. Arthur, que por algum motivo era muito popular no turno da noite, não estava mais bagunceiro como outrora. No início ficou receosa, mas ao ver os rostos de seus alunos Clarice notou que nada havia mudado.

— Bom, sou Clarice a nova professora de vocês.

— Professora, qual o seu relacionamento com o professor Calebe?  - Uma das alunas levantou a mão.

— Ah, ele me busca para a escola, pois como sou “humana” existe o risco de eu servir de alimento para um de vocês. Mas fora isso não tenho nada com ele.

— Aaaaaah. – Várias meninas falaram em conjunto e comentaram entre si como estavam felizes de que o professor ainda estava solteiro.

Ao final da aula o Arthur ficou para ajudar Clarice com as coisas dela.

— Arthur que bom que você está bem, quando falei com você pelo telefone temi pelo pior.

— Não se preocupe professora. O professor Calebe é uma ótima pessoa, sinto que devo muito a ele. Vocês dois fariam um até um ótimo casal.

— Não pode falar isso! O professor Calebe é o um homem comprometido. – Disse Clarice com um ar de seriedade.

— Comprometido com quem? – Disse Arthur meio confuso.

— Ele não está com aquela professora loira e tudo mais?

— Elizabeth? Não! Ela é a professora de inglês. Quer dizer eles sempre andam juntos, mas é porque o antigo melhor amigo do Professor Calebe era noivo da professora Elizabeth, pelo menos foi isso que ele me contou.

— Entendo... – Sem querer Clarice deixou escapar um pequeno sorriso, mas por sorte apenas ela mesma notou e logo o escondeu.

Quando estava de saída Calebe a viu esperando no corredor e foi falar com Clarice a sós.

— Ei, obrigado. – Disse ele.

— Pelo que? – Ela perguntou.

— Por não ter contado ao diretor que você não se lembrava direito de nada e que sem querer eu acabei te contando.

— Tudo bem. – Clarice assentiu com a cabeça. - Isso meio que me rendeu um emprego que paga bem, então estamos quites. - Calebe sorriu.

Ambos olharam para o céu estrelado por algum motivo, e contemplaram as estrelas.

— Posso te acompanhar esta noite? – Perguntou ele.

— Mas o Ernie já está me esperando para me levar.  – Clarice respondeu meio que sem jeito.

— Não, tudo bem. – Disse Calebe. - A gente se ver por aí.

— Tá certo, nos vemos por aí. – “Sua burra, burra, burra” Clarice pensou.

Quando chegou em casa, tirou os sapatos e se jogou na cama. Então, chacoalhou as pernas com indignação.

— Eu devia ter aceitado, não acredito que recusei. – Falou em voz alta. Clarice olhava para o teto do seu quarto com várias estrelas pintadas e uma lua. Olhou para a lua e lembrou-se dele novamente, em sua forma de lobo.

— Ele se parece tanto com a lua...já sei! Eu deveria chamá-lo de Lobo lunar! Não...Lobo da lua! Pedaço de lua? AAAAA. – Gritou de frustração. – Não acredito que estou empolgada com meu colega de trabalho, isso que dar passar tanto tempo da vida sozinha. Depois de um tempo encarando o teto pôs-se a pensar a respeito do Éden.

— O Éden é tão legal também... – O que estou pensando?! Clarice, nunca pensei que faria isso, reclamou olhando no espelho que ficava ao lado da cama. Você não é uma daquelas meninas daqueles romances que tanto lê.

— Mas se o Éden fosse um vampiro, seria tão interessante! – Pensando bem, será que também existem vampiros, eu deveria perguntar para o Calebe? – Nossa...ele me ajudou tanto e nem peguei o número dele, amanhã vou perguntar.

No dia seguinte Clarice chega animada para a sala de aula do turno da tarde, quando se depara com uma imagem grotesca. O rosto do lobo esculpido na escola estava com a boca aberta, e por entre seus dentes escorria sangue, quando ela olha mais atentamente percebe que dentro da boca do lobo havia um dos alunos vestindo a veste da turma noturna.


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