Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 17
Rosa dos ventos


Notas iniciais do capítulo

Espero que curtam



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— Já que não temos o rastro da magia, melhor usarmos nossas cabeças, vamos pegar um desses elevadores e ir para cima. - Jhonata alegou.

— Porque para cima?

— É onde geralmente ficam os chefões, não é?

— Hum, verdade. - Clarice se lembrou de um dos jogos que jogava que realmente era assim.

Clarice e Jhonata se preparavam para caminhar até o elevador sem que ninguém os notasse, quando sentiram uma presença atrás deles.

— Se eu fosse vocês não iriam por esse caminho. - Uma velha senhora de pele clara, cabelo alvacento, que usava um véu branco sobre a cabeça e um pedaço de um galho com uma jóia dourada brilhante em sua ponta superior, para manter seu corpo curvado em de pé, pousou atrás dos dois.

Em um salto, assustada, Clarice foi para trás de Jhonata por reflexo.

— Garotinha, vejo que sua personalidade mudou bastante. - A velha tocou na macia pele do rosto de Clarice. - Sinal de que fiz um bom trabalho - disse a velha.

— Está falando comigo?

— Você é a única garotinha por aqui, querida. - Encaminhou um olhar compreensivo, que ao mesmo tempo que confortava Clarice, no fundo, incomodava-a.

Jhonata com muita educação, segurou a mão enrugada da senhora e a moveu para longe do rosto de Clarice.

— Senhora, não quero parecer mal educado, mas dada a situação que nos encontramos, acho melhor não agir com tanta intimidade.

— Não há necessidade disso, ó divino cão dos céus. - sorriu para ele. - Vejo que mesmo sem reconhecê-la, seus velhos hábitos de proteção continuam. -Jhonata repentinamente sentiu um toque em seu peito. - Será que é porque seu coração ainda deseja protegê-la?

Assustado, Jhonata recuou segurando Clarice pela mão, e juntos entraram no elevador. Clarice o encarou, e ele, ofegante, colocou a mão na parede do elevador, segurando no centro do seu tórax, exatamente onde a velha havia tocado.

— Você está machucado? Ela te fez algo? - Clarice perguntou preocupada.

— Não é isso, eu não senti a presença dela. Essa senhora me tocou antes mesmo que eu notasse que ela havia se movido. - tentou se acalmar. - Isso significa que ela é extremamente poderosa. - seu corpo inteiro suava de tensão.

— Mas se ela quisesse nos matar, já estaríamos mortos. - disse Clarice numa tentativa falha de acalmá-lo.

— Você tem um ponto, no entanto, o que uma senhora bondosa estaria fazendo em um lugar como esse, sendo tão poderosa?

— Quer dizer...

— Exato, ela que pode ter usado a magia para sequestrar a garota Kitsune.

— Sophia.

— Isso.

Conforme o elevador subia, Clarice se sentia um pouco tonta, como se estivesse prestes a perder a consciência.

— Você está bem? - segurou Clarice em seus braços.

— Sim, só estou um pouco tonta. - afastou-se educadamente.

— Deve ser porque o elevador está usando nossa energia mágica para subir, e isso pode estar causando alguma reação em você.

Então o elevador para, e sua bela porta de madeira se abre. Mas para a surpresa dos dois a senhora que eles haviam acabado de ver no andar inferior estava os aguardando em frente.

— Nossa como vocês demoraram. - A velha gargalhou.

A visão de Clarice ficou turva e ela quase desmaiou novamente, porém a velha estendeu o galho e uma leve brisa estendeu a professora, levantando-a.

— Não agora, garotinha. - Sorriu com seus dentes amarelados, e um incisivo dourado.

— Foi você quem sequestrou a garota Kitsune? - perguntou Jhonata.

— A menina raposa? Não. No entanto, sei onde ela se encontra.

— Onde? - Clarice e Jhonata falam ao mesmo tempo.

— No caule.

— Caule? - Jhonata ficou confuso, mas a velha não respondeu e apenas gargalhou.

— Vão pelas escadas, mas antes vocês vão ter que derrotar o ser que habita este andar.

— E quem é você? - perguntou Clarice.

— Não tenho um nome, mas pode me chamar de "A Bruxa do Norte", a curandeira.

A velha desapareceu antes que pudessem fazer qualquer outra pergunta.

*

— Ai! - Éden se esbarrou em algum lugar.

— Ótimo, tínhamos que vir pelo caminho escuro. - Eva reclamou e chutou algo.

— Não me culpe se seu humano de estimação não pode ver no escuro. - Disse Calebe, com seus olhos brilhantes.

— Você poderia ter tido um pouco de consideração. - Eva tentou ser a sensata da dicussão.

— Quer consideração segure a mão dele. - Calebe deu uma risada maliciosa que só Eva pôde ver.

— Éden! - Eva falou em uma voz autoritária.

— Sim! - Éden prontamente respondeu.

— Pode segurar minha mão, se quiser. - Eva estendeu a mão até a dele e seus dedos entrelaçaram-se naturalmente após um tempo.

Calebe notou e sorriu.

— O que foi? - Eva franziu o rosto e rosnou para Calebe.

— Ai!

— O que foi dessa vez Éden? - Eva se virou.

— Eu não sei...

Calebe também se virou e viu que Éden havia se esbarrado em uma garotinha, vestida como uma boneca, e que possuía um estranho guarda-chuva com umas pequenas jóias brilhantes em suas pontas, duas vermelhas, três azuis, duas amarelas, uma preta, e uma branca na ponta.

Estranho, acabamos de passar por ela e eu não senti nenhuma presença. - pensou Calebe.

— O que está fazend – antes que Éden pudesse terminar a pergunta Eva puxou-o de uma vez o enviando para mais próximo dela e de Calebe.

— Cuidado, ela não estava aí antes! - Calebe ficou pronto para atacar.

— Ora ora, como são precavidos, a senhorita hellbound, e senhor lobo fantasma, o protetor da montanha.

— Como sabe do meu passado, criança? - Calebe indagou.

— Criança? Sou mais velha que você. Por favor, exijo respeito.

— Toma aqui seu respeito. - Eva tentou socá-la rapidamente. O que deixa Éden em choque.

— Ora ora, atacando uma criança sem hesitar. - A garotinha parecia tão leve que flutuou com seu guarda-chuva aberto e pousou de pé sobre o braço direito de Eva. Então fechou o guarda-chuva e ficou balançando-o para frente e para trás, às vezes o abrindo e fechando, na tentativa de irritar.

— Não foi você quem disse que era mais velha do nós. - disse Eva com um ar de superioridade, o que fez a garota mudar de humor.

Eva sentiu o desejo da garota de feri-la, mas não foi rápida o suficiente para desviar do chute que a atirou em direção a parede, causando um imenso buraco, e abrindo espaço para uma outra sala iluminada.

— Não gostei do seu tom. - disse a garota.

— Eva! - Éden correu em direção a ela.

Enquanto isso Calebe andou em direção a garota sem demostrar algum medo ou hesitação, porém não parecia interessado em lutar, deseja mais saber como aquela menina conhecia o seu passado tão distante.

— E eu posso saber quem alega ser muito mais velha do que eu, e conhece sobre meu passado?

— Calebe, o homem na pele de lobo, ou será que é o lobo na pele de homem?

Éden tentava desesperadamente fazer com que Eva acordasse, mas a afirmação da menina o fez desviar a atenção por um segundo.

— Não mude de assunto, estou perguntando qual o seu nome?

— Muito cuidado com o seu tom, ou pode acabar como aquela garota.

— Garanto que não será tão fácil. - respondeu Calebe.

A garotinha sorriu, e abriu seu guarda-chuva.

— Não tenho um nome, rapaz arrogante, mas pode me chamar de "A Bruxa do Sul", a prega-peças.

Éden ajudou Eva a se levantar, e ela estava aparentemente bem, apenas alguns arranhões que logo sararam. E quando se sentiu mais aliviado, notou um vulto passar por uma pequena janela. 

— Esta árvore... - Éden caminhou em direção até a pequena janela de madeira, redonda, dividida em quatro blocos. - Não estamos mais na cidade... - Colocou a mão sobre a janela, Éden avistou criaturas que jamais havia visto, somente nas mais belas artes de fantasia. Pássaros azuis com quatro asas sobrevoavam o céu, outros seres muito semelhantes a coelhos pulavam entre as nuvens.

— Não mesmo, vocês estão.

— No mundo espiritual. - Eva interrompeu a bruxa completando a frase. - Um lugar onde seria impossível perseguir o rastro de magia, e com um portal bem na cidade, dentro da árvore.

— Exato. - A bruxa do sul pigarreou. - A árvore por qual vocês vieram possue uma ligação com esta árvore do mundo espiritual.

— Não pode ser... estamos dentro da Yggdrasil – Eva colocou a mão sobre a boca, pois não podia acreditar no que estava acontecendo. - Desgraçada! O que você fez?! - avançou diretamente para cima da Bruxa do Sul que rapidamente fechou seu guarda-chuva e desferiu mais um golpe que dessa vez deixou a hellbound inconsciente mais uma vez.

— Não é contra mim que vocês devem lutar se quiserem encontrar seus amigos.

— Como você... - Éden tentou iniciar uma pergunta.

— Essa é uma das vantagens de ser uma bruxa. - Encarou Éden por um tempo. - Você tem olhos bonitos rapaz, são olhos cansados.

— Como olhos cansados podem ser bonitos?

— O papo está muito bom, mas você pode por favor explicar a parte de encontrarmos nossos amigos? - Calebe estava começando a ficar impaciente.

— Na sua vez lobo-homem. - Estendeu o guarda-chuva para Calebe, e fez um gesto para que ele caísse ao chão, deixando-o de joelhos. - Existe magia em você. - aproximou-se de Éden.

— Quer dizer que sou um bruxo?

— Não é isso, é um tipo diferente de magia, que vocês humanos chamam de Imaginação. Esses olhos cansados podem ver além. Deixe me ler sua mão. - Puxou a mão dele grosseiramente. - hum...Vejo um amor. - olhou para Eva estirada ao chão. - Mas também vejo mágoa, muita mágoa em seu passado e em seu futuro. Você pensa que não merece ser amado por ninguém, precisa deixar esse ódio ir, precisa perder o medo de ser amado. - Sorriu gentilmente para Éden.

— Agora chega! - Calebe começou a forçar a barreira da bruxa fazendo com que o braço que segurava o guarda-chuva começasse a mudar de posição. - AAAAAAAAArgh! - Com muito esforço ele pôs de pé, sua respiração ficou ofegante, e possuía alguns hematomas por lutar contra uma magia tão poderosa. - Se não vai dizer por bem, será por mal.

Quando Calebe estava prestes a entrar em sua forma de ataque, a bruxa deu um salto para trás como se estivesse com medo, mas ele sabia que garotinha estava só disfarçando.

— Nossa, que perigo! Um lobo que viveu sozinho nas montanhas por 15 anos é realmente perigoso! Não importa quanto tempo passe, no final você ainda é um selvagem.

— Calebe... - Éden olhou para Calebe, sem perceber que fazia uma expressão de pena, nesse mesmo momento Eva se levantou.

— Você parece saber demais, bruxa! Quem é você? - Eva cambaleou e se apoiou em Éden.

— Já disse quem sou. O caminho para seus amigos está logo depois daquela porta, muito cuidado com os desafios. E mais uma coisa lobo-homem, um dia você trilhará o mesmo caminho daquele que você criticou, e terá que decidir entre aquela que você ama, e aquela que você amou, seja sábio.

Eva ainda tentou socá-la, porém a pequena bruxa desapareceu como se nunca houvesse estado ali.

*

— Que tipo de lugar é esse? Meio que me lembra... - Clarice observou ao redor e viu vários corpos pelo chão, alguns pendurados em uma espécie tábua gigante no alto, penduradas por grandes cordas de aço que faziam a tábua se balançar.

— Esse corpo ainda está fresco. - Jhonata olhou para cima, e com sua visão de cão divino notou que mais distante na escuridão havia uma criatura de uns 3 metros com grandes asas repousando. - Que merda é essa? - Sem querer acabou pisando em um osso que estava no caminho e fez um barulho que ecoou pela sala fazendo o monstro despertar em um grande rugido, e sair da escuridão.

— O que é isso? Parece um lobisomem, mas possui asas no lugar dos braços, em uma mistura de penas e pelos. - Clarice tentou correr de volta para porta de onde vieram, mas a mesma fechou-se como mágica.  

— Vai ficar tudo bem, apenas fique atrás de mim. - Jhonata se pôs na frente de Clarice, mas antes que ele pudesse se preparar para enfrentar o monstro.

Clarice começou soar e sentir-se mal como se estivesse prestes expulsar algo para fora do seu corpo. Foi então que uma voz familiar ressoou em sua mente.

Ei você, 

me deixe sair ...

 


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Notas finais do capítulo

Esse episódio foi mais gostosinho de criar.



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