Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 13
Quando a noite cai (parte I)




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A noite caiu, Clarice e Calebe estavam preparados.

— Podem se sentar.

Clarice ainda estava tensa com a ideia de ter que matar Teodoro

— Por que Calebe não fez isso ele mesmo? - Pensou.

O clima estava tenso. Clarice sabia que de alguma forma Teodoro poderia saber do que estava para acontecer, no entanto Calebe se mantinha calmo e seguia totalmente com o plano.

— O que estão achando da janta?

— Está uma delícia. - Calebe sorriu de boca cheia.

Clarice ainda estava inerte. Não parava de pensar no que teria que fazer logo em seguida, mesmo um pouco nervosa, pouco a pouco, retirou a arma de sua bolsa, e levou-a para baixo da mesa. Apesar dos esforços não conseguia parar de tremer. Teodoro não parecia desconfiar de nada, até que de repente ele a olhou nos olhos, parecia saber. Por um momento ela hesitou.

— Quer um pouco de carne? - Ofereceu.

— Não obrigado eu não como carne. - respondeu Clarice.

— Assim como eu, no final somos iguais. Apesar de que não evito carne por piedade dos animais, seria hipocrisia. É apenas uma opção minha.

— E o que o impede de não estar aqui no lugar deste pobre animal. - Apontou para o prato com um frango enorme. - Qual a diferença entre quem come e quem é o alimento?

— Óbvio. Os mais fortes sobrevivem. - Calebe pegou mais uma enorme fatia do animal e jogou em seu prato, sem moderação.

— Essa sua ideia darwiniana de que a natureza foi feita para nos servir, meu amigo, já está ultrapassada.

— O senhor conhece Darwin? - Clarice parou de tremer por um instante.

— Mas é claro, li vários de seus livros. Sem falar que tive o enorme prazer de conhecê-lo pessoalmente. Apesar de que sou mais fã mesmo, de Wallace. Que apesar de ter descoberto a mesma coisa, sem ir muito longe de sua casa, não teve tanta relevância.

— Pois é, então o que leva um animal mais fraco a atacar primeiro? Seria o medo de morrer? Ou desejo viver?

Nesse momento, Clarice acabou disparando um tiro contra Teodoro, e ao mesmo tempo que a bala corria de encontro ao corpo do inimigo, uma lágrima descia do rosto de Clarice, que jamais havia matado alguém até então. Subitamente, algumas memórias da infância de alguma garota sugiram em sua mente. Era uma garota pequena, e brincava com as borboletas, quando viu mais distante uma delas presa em uma teia de aranha. O animal relutava para se soltar, mas nada do que fazia adiantava. Clarice pensou em soltá-la, quando estava pronta para tirar a o pequeno inseto de lá, notou que a aranha também precisava se alimentar, e morreria caso ela salvasse a borboleta. Não demorou muito para a pequena menina entender a crueldade do mundo, e que a morte é algo recorrente nas vidas dos seres vivos, por mais trágico que pareça.

— Será que se a aranha pudesse se alimentar apenas de folhas, ela o faria? Ainda assim, as folhas também não fazem parte de outro ser vivo? - Teodoro parecia bem, como se a bala não o tivesse afetado.

De repente, umas gotas de sangue começam a cair sobre o braço de Clarice. Ela então salta para trás se assustando com a situação. A imagem de Calebe e Teodoro  sentadas na mesa, desaparece, e uma nova imagem surge, de dois monstros bem próximos a ela. Teodoro tentava agarrá-la com suas garras de lobisomem, e Calebe também em sua forma de ataque o segurava com uma mão, e com a outra cravava suas garras no peito do padre. Ela olhou para sua arma, que ainda estava fria, nem sequer havia sido disparada.

— Maldito – Sangue jorrava pela boca de Teodoro. - Usou seu poder para me deixar sem movimentos.

— Sim, combinei o meu poder de ilusão, para você acreditar que Clarice havia atirado, e partir para cima dela. No entanto, eu estava aqui em pé o tempo inteiro, apenas o esperando para usar meu outro poder que paralisa minhas presas apenas com o olhar. Eu o chamo de "O olho do rei".

Clarice ainda nervosa segurava a arma em sua mão, enquanto repetia umas palavras sem muito sentido.

— O que aconteceu? - Ela olhava dois monstros enormes se encarando apenas à um metro da cadeira que estava, um era meio cinzento com muitas cicatrizes, e outro branco e brilhante, como um fantasma.

O monstro branco tira suas garras do peito do monstro cinzento arrancando de lá um coração, fazendo com que o corpo caísse no chão desfalecido.  Cansado, o monstro branco se virou para Clarice, e disse com uma voz grossa que lembrava  um trovão.

— Eu os coloquei uma ilusão, então você nem chegou mesmo a disparar o tiro. Infelizmente você tinha que ter a intenção de matá-lo ou meu plano não iria funcionar.

Clarice caiu prantos, então ela começou a socar o monstro. Que mesmo com as mãos sujas de sangue a abraçou gentilmente.

Ouviram sons passo que ecoavam por toda a sala.

— Meus parabéns. - Teodoro em sua forma humana, aplaudiu. - Nem mesmo eu desconfiei dessa armadilha. Muito engenhoso, capitão Calebe. - Mas você sabe o que tenho que fazer com essa garota.

Calebe parecia um pouco surpreso, no entanto, forçou um sorriso.

— Então quer dizer que você tinha mais um truque na manga? Pode ressuscitar?

— Que Ingenuidade, meu companheiro, todos esses anos ao meu lado na guerra, e não percebeu que temos quase a mesma idade de lobisomem. Ou seja, temos praticamente a mesma quantidade de poderes. Sendo que você só conhece 3 meus. - Ajustou a batina. - E eu soube que pelo visto você não tem o seu quinto poder, o que me coloca em vantagem. Então desista logo de resistir, e me entregue garota.

— Pessoalmente eu não faço questão dela, mas ela é uma integrante do grupo professores, e eu não posso deixá-la ir. Sem falar que agora ela também faz parte colegiado logo, é meio complicado.

— Sempre cínico. - Teodoro riu.

— A garota estava em choque, não parecia a mesma. Toda essa informação era uma grande carga em seu cérebro, não conseguia mais compreender o que estava acontecendo.

E essas memórias.

— Essa garota não é quem ela diz ser. - afirmou o padre.

— Bom, isso não importa. Seja quem ela for, descobriremos na hora certa.

— A menos que ela o mate primeiro.

— Estou disposto a arriscar.

Calebe lançou um olhar. Compreensivo e piedoso para Clarice, que estava ainda sentada na mesa com as mãos sobre a cabeça, e chorando.

Ao reparar no olhar dele, Teodoro desferiu um golpe contra Calebe, se transformando novamente em sua forma de ataque. O professor é arremessado longe contra a parede, mas volta rapidamente impedindo que Teodoro seque tocasse em Clarice. Ele segura o braço do padre e o arranca. Teodoro morde Calebe, porém é inútil, porque o mesmo abre a boca do rival com as próprias garras e o divide em dois.

Porém mais uma vez ouve-se os passos vindos do fundo da igreja. É Teodoro. 

 


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