Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 12
Nem tudo é o que parece




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Calebe andava tão apressadamente em direção a igreja, que Clarice mal conseguia acompanhá-lo. Seu cabelo ainda não havia voltado ao tom de costume.

— Quem será que é o novo padre de lá? Tomara que não seja o maldito Magnus. De qualquer forma, eu trouxe pó de pemba, extrato de duende, um pouco de casco de ushi, alguns círculos mágicos, porção de cura, porção antiveneno, sucoburos, cachimbo Pererê, e mais algumas outras coisas.

Como fui me interessar por um cara tão maluco?

— Precisa mesmo disso tudo? – tentou ser educada.

— Nunca se sabe! – Calebe levantou o dedo e respondeu com o nariz empinado.

Subiram os degraus da escadaria, e Calebe logo adentrou pelas grandes portas de madeira mogno, as quais estavam escancaradas, deixando a sua acompanhante um pouco atrás.

— Por favor, me ajude com uma moedinha. – disse um homem cego encostado próximo à entrada.

Clarice abaixou-se, e lá deixou um punhado de moedas que trazia consigo. Calebe olhou para trás, porém deu de ombros e seguiu em frente.

— Por que não ajudou ele? Talvez se você...

— Nem tudo é o que parece. – Calebe apenas percorreu a nave da igreja.

Um homem negro, de cabelo raspado usando uma batina se aproximou dos dois, com uma expressão séria, com as mãos para trás e o peito estufado.

— Vejo que não mudou nada desde aquela época.

— Vejo que você mudou bastante. – Calebe aponta para as vestimentas dele.

O homem soltou um largo sorriso, e abriu os braços para a abraçar seu velho amigo.

— Lembro que você também estava estudando para ser padre juntamente comigo, logo depois da guerra. No entanto, desistiu de tudo por uma mulher.

— Você está usando óculos, é o primeiro caso de lobisomem com miopia que eu conheço. – Calebe desconversou em meio a risadas.

— Eu gosto de usar, fica mais convincente de que sou inofensivo. – sorriu, e deu uns tapinhas nas costas do amigo. – E essa é?

Clarice estendeu a mão para cumprimentá-lo, mas o homem sorridente apenas a abraçou também. Era uma pessoa que passava uma sensação de paz e tranquilidade.

— Vem cá. – puxou Calebe.

— Não não, Téo...isso é demais. – Calebe hesitante, foi ao abraço em trio.

Clarice agora estava com a cabeça próxima ao tórax de Calebe, a centímetros do pescoço dele, e podia sentir o cheiro daquele perfume Montblanc, que percorreu por dentro de suas narinas, e atingiu suas células olfativas, levando assim a informação do bulbo olfativo, glomérulos olfativos, chegando ao córtex cerebral, que por fim enviou a informação para todo o corpo que se arrepiassem até os menores de seus pelos.

O que estou pensado? E dentro de uma igreja!

Rapidamente se repreendeu, e por um instante pôde notar um olhar do padre voltado em sua direção, como se ele soubesse exatamente o que ela estava pensando.

— O que você procura não está aqui, meu amigo. – Téo olhou para Calebe.

— Há poucos dias alguns dos meus alunos sofreram um brutal ataque da igreja, que enviou vários lobisomens.

— Aquilo não foi para atingir seus alunos, estávamos atrás de outra coisa. – enquanto proferia as palavras, o padre segurava uma espécie de crucifixo, e desviava algumas vezes seu olhar rapidamente para Clarice.

— Ceres... – Clarice cerrou o punho.

— Exato. Sabemos que ela está tramando alguma coisa que não é somente reestabelecer a ordem dos vampiros. Parece ser algo muito maior. – disse o padre.

— E sobre os assassinatos no colégio? O desaparecimento de um dos nossos professores, vocês não sabem de nada? – indagou Calebe.

— Bom, pelo que você me descreveu previamente por e-mail, apenas os libertários podem criar monstros tão grandes artificialmente, talvez para isso que queiram a essência hibrida.

— Então quer dizer que temos que lhe dar com duas ameaças, a Ceres, e os libertários?

— Receio que sim, querida.

— Mas se for o caso, porque eles não atacaram ainda então?

— Talvez porque não terminaram o primeiro serviço.

— É isso, devem estar armando um plano para capturar Sophia! – Calebe imediatamente puxou seu celular do bolso. – Preciso avisar ao diretor o quanto antes.

— Tudo bem, mas faz tanto tempo que não nos vemos... – deixou a mão sobre o ombro de Calebe. – Pelo menos durmam conosco hoje, e amanhã cedo vocês vão embora. – sorriu, e tornou-se para Clarice mais uma vez. – Melhor que pagar mais uma estadia de hotel.

Calebe conhecia seu amigo há muito tempo, e sabia que se houvesse alguma magia oculta, ele não ia deixar passar, ademais Teodoro possuía um jeito meio extremo para revelar verdades ocultas. Ao ver que ele olhava com frequência para Clarice, resolveu ser mais cauteloso e recusar a proposta.

— Sinto muito, são muitas horas de viagem e será melhor se partirmos hoje mesmo. Como sou lobisomem, e aguento a noite inteira dirigindo. – gabou-se.

— Aposto que sua amiga humana não aguentaria. Principalmente em uma estrada tão esburacada como a do caminho que vocês irão seguir.

— É Calebe, você é sempre tão egoísta! Vamos aceitar sim, a sua bondade.

— Promete?

Clarice achou estranho Teodoro falar daquela forma, porém, o calor do momento e a raiva de Calebe, a impediram de pensar direito.

— Prometo.

Paff!

O som de Calebe batendo com força na sua própria testa ressoou pela igreja.

Teodoro sorriu.

Em silencio os dois voltaram para o hotel para buscarem suas coisas e levarem para igreja.

— Por que agiu daquela forma com um homem tão bom?

— Às vezes você parece que esquece que está lhe dando com criaturas sobrenaturais.

— Como assim? Se você não me explicar, não vou entender. – Tomou a frente dele enquanto andavam, mas Calebe se desviou.

— Acaso você teve a sensação dele estar lendo sua mente lá dentro da igreja?

— Sim, mas... – Clarice parou por um instante. – Isso significa que...

— Sim, ele estava. E não é só isso, o outro poder dele "a palavra", você caiu direitinho.

— O que isso quer dizer?

— Que agora não podemos fugir, temos que passar a noite na igreja.

— E se não voltarmos?

— Isso acontece. – Calebe tirou uma foto do pescoço de Clarice e mostrou para ela. Havia uma marca de uma mão de lobisomem enorme. – Vai apertar quanto mais a gente demorar de voltar, até que você morra sem ar.

Clarice de repente se sentiu com as pernas fracas e caiu no chão, não podia acreditar que havia sido tão ingênua.

Talvez todos vocês sejam mesmo monstros

Mas antes que esse pensamento pudesse tomar conta da sua mente, sentiu ser coberta por algo quente, e quando virou, se deu conta que era um paletó preto.

— Não se preocupe, eu vou te proteger. – Calebe estendeu sua mão para que ela pegasse, mas não conseguiu encará-la.

Clarice pegou a mão dele pela primeira vez, e se levantou. Todavia, sem demora soltou, deixando um breve sorriso escapar.

— Você não estava usando paletó, onde achou?

— Eu tirei daquele mendigo.

— Eu não acredito!

Calebe riu.

— Estou brincando. Está vendo? – mostrou um anel no dedo indicador dele.

Clarice encarou o anel, mas não disse nada.

— Tecnomagia! Posso guardar algumas úteis coisas dentro dele.

— Por que então não guardou nossas coisas aí dentro?

— Porque já está lotado, tá achando que é infinito?

Calebe e Clarice voltaram para o hotel para buscarem suas coisas, e ao chegarem lá, pegaram suas coisas sem dizer uma palavra. Calebe parecia distante e bem determinado, pouco a pouco seu cabelo retomava a tonalidade prateada de sempre.

— Eu tenho plano. – Calebe quebrou o silencio. Vendo que ele estava extremamente sério, Clarice não disse nada, apenas escutou. – Vamos jantar, e o conhecendo, sei que ele vai nos atacar depois da janta. – A janta era algo sagrado para Teodoro, Calebe sabia que ele não iria tentar nada, nem antes, e nem no decorrer dela. – Durante a janta, você vai usar isso nele. – Mostrou uma Desert Eagle. – Está carregada com balas de prata. Você vai se abaixar e atirar por debaixo da mesa.

— E se ele ler meus pensamentos? – deu dois cascudos de leve na própria cabeça.

— E ele vai. – deu um sorriso confiante. – Mas não poderá fazer nada. – deu mais um cascudo na cabeça dela, também de leve.

— E por que você não o mata? – disse corada.

— Acontece que a janta também é sagrada para mim. – riu meio sem jeito. - Mas não pelo mesmo motivo que ele, claro. – deu dois tapas na própria pança.

Antes de sair, Calebe tomou um gole de um pequeno frasco de vidro marrom.

— O que isso que está bebendo? – Clarice estava curiosa. Sabia que não era só isso que ele estava tramando, no entanto, após se lembrar dele dizendo que ia protege-la, resolveu confiar nele desta vez, apenas desta vez.

— Ah, é só uma porção. Vai me prevenir de alguns dos poderes dele.

— E não tem para mim? Já que eu que vou executar o plano?

— Desculpa, era o último gole. Se eu soubesse que era ele quem estava responsável por essa igreja agora, teria me preparado melhor.

Preparado melhor? Ele parece o Batman com mania de organização.

Assim, os dois professores, foram de encontro a sua primeira e talvez, última batalha contra um inimigo poderoso. 

 


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