Segunda chance para o nosso amor escrita por Denise Reis


Capítulo 21
Capítulo 21




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Assim que pegou a estrada, Kate sentiu que a viagem de volta à Nova York seria tensa.

Apesar de se julgar forte, ela chorou e as lágrimas embaçavam a visão.

Consciente do perigo de dirigir com a visão turva pelas lágrimas, Kate precisou parar o carro no acostamento para enxugar os olhos e se acalmar.

E foi neste momento que ela quase retornou aos Hamptons, mas não o fez.

As lágrimas não eram de dor pela queda. Ela sentia muita dor, mas a dor que lhe ardia o peito era do amor que sentia pelo Castle e queria voltar para ele.

O que mais queria naquele momento é que ele se recordasse do passado deles, especialmente da forma como a amava, mesmo que para isso, tivesse que se lembrar das birras dela e do modo rude como muitas vezes ela o tratara, unicamente para despistar a paixão que sentia por ele. Ela teria que arcar com esse ônus.

— Que ódio! Porque eu fui tão burra e teimosa no passado! Custava eu ter dado a ele uma chance? E essa chance seria para nós dóis... Quem sabe, assim, hoje eu e ele estaríamos juntos e felizes. Mas não... Eu sou teimosa e birrenta. Sou uma estúpida!

Ela chorava pelos erros do passado, pela saudade que tinha dele e agora, tudo se multiplicava porque já experimentara muito mais do que um beijo trocado no meio de um caso de homicídio, apenas para driblar um segurança. Ela agora já sabia que os beijos dele eram muito mais quentes e apaixonantes do que da primeira vez. Ela agora conhecia as carícias, que, só de lembrar, seu corpo ardia. O arquivo de lembranças estava mais robustecido, pois a noite de amor seria algo inesquecível.

— Mesmo que se passem mil anos, estou certa que eu nunca o esquecerei.

Doía no coração só de lembrar que ela o amava tanto.

— Ah, como eu quero o Castle. Eu o quero por inteiro. Eu tenho que ser otimista e ter esperança de que a experiência maravilhosa desta madrugada na piscina acontecerá novamente porque a memória dele irá voltar.

Após alguns minutos, ela se acalmou e seguiu a viagem. Estava em dúvida se no dia seguinte tudo ficaria bem.

Faltando aproximadamente uma hora para chegar em Nova York, Kate telefonou para Lanie, sua grande amiga, e conversou com ela por meio da conexão bluetooth do seu carro.

— Você está bem, amiga? – a médica indagou ao perceber que o tom de voz de Kate estava triste.

— Estou, amiga, mas vou ficar melhor quando chegar em casa.

Kate pediu para a amiga se encontrar com ela no apartamento, mas não adiantou o assunto. Falou apenas que estava voltando para casa e precisava conversar com ela.

— Eu vou te encontrar, Kate.

— Mas antes eu vou falar com minha mãe, Lanie... Estou morrendo de saudades. – Kate a alertou.

— Você quer que eu vá com você, amiga.

— Não, obrigada! Acho que vou preferir ficara sozinha com ela...

Kate encerrou a ligação após anunciar o tempo restante da viagem e assim que chegou em Nova York foi logo ver sua mãe.

 

Beckett vinha passando por momentos difíceis e estava muito sensível.

A saudade que sentia da mãe e a vontade de falar com ela estavam rasgando seu coração.

Kate encontrou os portões abertos e foi entrando.

O local estava calmo.

— Mamãe! – Kate a chamou.

O silêncio era grande.

— Mamãe, aonde você está? – Kate repetiu – Preciso falar com a senhora!

Kate até se sentou, mas estava ansiosa para desabafar e começou a andar, até que ouviu uma bonita melodia e também um ruído discreto próprio de jardinagem.

Kate deu um sorriso de felicidade e foi ao encontro dos sons e seu sorriso aumentou ao encontrar sua mãe segurando uma pequena enxada.

Johanna usava macacão jeans sobre a camisa quadriculada em tons de vermelho, luvas próprias para trabalhos manuais na terra e um chapelão de palha que a protegia do sol.

Distraída com sua tarefa de transportar mudas de alfazema, Johanna cantarolava a canção que tocava no rádio e nem se deu conta da chegada da filha.

Como boa filha, Kate não queria assustar a mãe com sua chegada inesperada, já que não sabia que a filha estava de volta a Nova York.

Kate foi até o rádio e abaixou o volume, o que fez Johanna girar a cabeça a fim de verificar o motivo do som ter diminuído o volume e, assim que o fez, encontrou sua filha ao lado do pequeno aparelho.

Quando encontrou os olhos da mãe, Kate abriu um sorriso e fez uma saudação a distância, mas logo apressou seus passos e se aproximou de sua mãe.

 Contente por ver a filha ali, Johanna deixou as mudas de lado e retirou as luvas sujas.

— Ora, ora, ora, se não é a minha filha preferida que veio me ver. – Johanna brincou ao abraçar a filha, num cumprimento cheio de amor.

— Sem dramas, mamãe! Sou filha única, está lembrada disso? – Kate entrou na mesma sintonia animada da mãe.

— Filha eu estou um pouquinho suja de terra. – Johanna se afastou um pouco e consultou suas próprias roupas e até passou as mãos pelo macacão a fim de tirar o excesso de terra, mas não teve êxito e depois retirou o chapelão.

 Kate puxou a mãe de volta e a abraçou apertado.

A moça recebeu um monte de beijo no rosto e na testa – Ah, mamãe! Como eu estava com saudades de seus abraços, seus beijos e suas zoações. Não me importo se sujar minha roupa.

— Eu também estava com muita vontade de te dar um abraço, querida. – Johanna olhou para cima e se deparou com o sol quente – O sol está quente, viu, filha. Vamos até a varanda. Eu tenho limonada e um bolo fresquinho que eu fiz um pouco antes de começar a mexer no jardim. Vamos! – a advogada olhou bem para sua filha – Pensei que você ainda estivesse nos Hamptons...

Kate não respondeu nada.

Muito observadora, Johanna procurou ler o semblante da filha – Huuummm! Estou vendo que você quer me contar algo que está te perturbando. E, pelo visto, tem a ver com o Castle.

— Acertou, mamãe!

Quando o Castle conhecera Johanna, ele ficara encantado com ela e a recíproca era verdadeira. Juntos, davam boas risadas. Ele fez questão de autografar todos os livros da mãe de Kate, pois ela confidenciara que era sua fã número um.

— Vamos sair do sol, querida.

Após lavar as mãos e os braços, Johanna preparou uma bela bandeja com o bolo e outros petiscos caseiros e levou à varanda, pondo sobre a mesa de madeira já ornada com um vaso com lindas flores coloridas colhidas do quintal.

De um lado da mesa havia um grande sofá rustico em madeira, cujo assento havia um longo fóton branco com capitonê. O sofá ainda estava ornado com várias almofadas com estampas florais. Do outro lado da mesa estavam três largas cadeiras.

Kate encarregou-se dos copos e da jarra de limonada e sentou-se em uma das cadeiras, enquanto a mãe ficou no sofá.

— Adoro ver que você não se arrependeu de ter se aposentado, mamãe.

Degustavam as guloseimas enquanto conversavam.

— Nunca pensei que eu ia gostar tanto, filha. – ela confessou.

— Amo te ver assim, sorridente e entretida com as plantinhas do seu jardim... Flores, hortaliças... – Kate comentou antes de degustar outro pedaço de bolo que sua mãe lhe servira.

— Ah, querida, cansei daquela vida de Fórum. E você sabe, né, eu estava extrapolando minha carreira de advogada e comecei a investigar corrupção e outras coisas que me incomodavam muito. Mas resolvi ouvir os seus conselhos e os do seu pai, né... E parei! Se continuasse eu poderia até ser morta, pois, como você sabe, eu estava recebendo ameaças.

— Ainda bem, viu, mamãe! Deixe a polícia fazer o serviço dela.

— E sabe do que mais? Adoro essa vida de aposentada! Não sabia que ia gostar tanto. Mas saiba que vou ficar ainda mais feliz quando você me presentear com um monte de netinhos para encher essa casa. Vou adorar fazer mudinhas com as crianças, assim como fiz com você, querida. Fica a dica! – Johanna deu uma piscada de olho cheia de malícia que fizeram as duas rirem.

Johanna era uma pessoa alegre, de bem com a vida, forte e muito otimista. – E não sou somente eu, viu, filha, seu pai anda louco para ter netinhos para cavoucar a terra com ele, espalhar sementinhas, aparar a grama do jardim – Eu quero te ver feliz, filha!

Ao ouvir a mãe falar sobre netinhos e sobre sua felicidade, Kate se retraiu.

Comeu o ultimo pedaço do bolo de laranja e bebeu alguns goles da limonada – É sobre isso mesmo que eu vim falar com a senhora, mamãe.

— Johanna arregalou os olhos e deu um largo sorriso, mostrando toda a felicidade que sentia – Meu Deus!!! Mesmo passando por todos esses problemas, você descobriu que está grávida, querida? Ainda bem que agora está tudo bem e você e o Castle estão se conhecendo, né, mesmo estando desmemoriado. – ela lamentou, mas logo fez uma expressão de dúvida – Mas... Nossa Senhora!! Você e o Castle... Sério!? Vocês, finalmente resolveram ficar juntos? Que alegria, meu amor! Vocês, eihm, não perderam tempo... Mal se reencontraram e já fizeram bebês! – ela fez uma rápida conta mental – Sete dias! Adorei! Esta é a minha filha!

A idosa era comunicativa como a Martha e disparou a fazer um monte de perguntas e afirmações quase sem dar espaço entre uma e outra.

— Hey, mamãe! Respira! – Kate a admoestou carinhosamente.

— Ok! Uma pergunta por vez... Então, pode responder... Gravida! Rapidinha, eihm?

— Mamãe! A senhora está impossível!

Johanna passou as pontas dos dedos nos lábios, como se estivesse fechando um zíper, e esse gesto fez Kate dar risadas.

 

— Preciso te dizer que a notícia que tenho não é de gravidez.

Johanna não conseguiu esconder a tristeza, mas logo corrigiu sua expressão facial – Tudo bem, filha, vocês decidem o melhor momento... Mas, continuo querendo netinhos, entendeu? Mas... se não é nada sobre meus netinhos, não entendi, então, seu comentário...

— Quero desabafar com a senhora sobre amor, mamãe. Sobre relacionamento amoroso. É sobre mim e o Castle! Estou sofrendo muito por amor, mamãe! Preciso de conselhos! Meu coração está em pedaços!

Naquele momento, lágrimas de tristeza voltaram a escorrer dos olhos da jovem e esta cena cortou o coração de Johanna.

— Oh, querida! – com a habilidade e o carinho de sempre, Johana se levantou e trouxe a filha pela mão e a colocou sentada junto dela no sofá, apertando-a nos braços, como fazia quando era apenas uma criança.

Kate adorava aquele colo e o cheiro tão próprio de sua mãe e não tinha ideia do que faria se ela não estivesse ali.

— Ah, mamãe, estou sofrendo tanto.

— Então fale para a mamãe o que está te fazendo sofrer tanto, meu anjo. – Johanna pegou o guardanapo e passou pelos olhos da filha, enxugando as lágrimas e limpando a maquiagem que borrara – Não quero ver minha boneca assim, tão triste.

Desde sempre, Johanna conhecia os sentimentos de sua filha com relação ao Castle e sempre fora a favor de que a jovem se entregasse ao amor e deixasse de ser medrosa. Por inúmeras vezes a aconselhara a enfrentar o mundo e apostar na felicidade que batia à sua porta. Johanna sempre dissera a filha que o “não” ela já tinha, então, teria que arriscar ouvir o “sim”.

Sentindo-se amada e amparada, Kate narrou para a mãe tudo que acontecera naquela madrugada, já que não tinha segredos com ela.

Não deixou de contar, inclusive sobre seus medos e receios acerca das personalidades diferentes dos dois homens que estavam no corpo do homem que amava. Falou das sensações, das emoções. Comentou sobre seus pensamentos, suas decisões, sem esquecer de falar sobre os conselhos que a Martha lhe dera, conselhos estes que ela estava tentada a aceitar.

Johana ouvia tudo e se apegava a cada detalhe que a filha falava e ao final, deu conselhos cheios de amor e experiência de sua longa caminhada não somente como mulher, mas também como advogada. Falou acerca das centenas de casos de divórcios, sendo que muitos deles ela conseguiu evitar ao conversar com os clientes sobre o amor, falou sobre o dar, receber e o trocar. Muitos destes casais desistiam do divórcio. Johana falou que um casal precisa não só de amor, mas também de parceria.

— Kate, veja bem... Você disse que um dos seus medos e tristezas é que não pode conversar com o Castle sobre as experiências que vocês tiveram nestes quatro anos que partilharam nas investigações, já que ele não se recorda de nada. Você também sofre muito porque ele não se lembra das brincadeiras ou mesmo das discussões que vocês viveram no passado. – Johnna repetia muitas das coisas que a filha já dissera e aproveitava para colher dados para os conselhos que pretendia oferecer a ela.

— Isso me faz muita falta, mamãe. E adoro este jeito que o Castle tinha, tão dele... E eu gostaria muito de ficar conversando e até o provocando sobre as coisas que aconteceram com a gente.

— Entendi. – Johanna assentiu – Mas me conte sobre o jeito atual dele, Kate... O modo como ele te trata, agora. Como é que ele fala e brinca com você, agora? E como é que está o jeito como ele te olha e te fala coisas bonitas, eihm, filha?

— Sendo bastante sincera, mamãe, neste ponto ele é o mesmo cavalheiro de sempre. Ele continua muito gentil comigo, as brincadeiras são idênticas, apesar de nunca se referir ao passado. Aliás, ele não sabe nada sobre o passado. E quanto ao jeito dele me olhar... – Kate deu um suspiro apaixonado, cheio de amor – O olhar dele derrete meus ossos, mamãe. Ele continua o mesmo Castle galanteador de sempre. Ele está apaixonado por mim, mas eu tenho a impressão que é só paixão e desejo. Ele vive dizendo que eu sou linda, desejável e delicio... – Kate interrompeu-se e ficou rubra, fazendo a mãe sorrir, pois, logicamente, entendeu o que a filha disse – Mas, mamãe, apesar de saber que isso é muito importante na vida do casal e até esquenta a relação, eu quero mais. Eu quero amor.

— Querida, você não é mais uma criança. Já viveu outras experiencias amorosas que não foram exitosas, até porque nunca sentiu esse amor verdadeiro que você sente pelo Castle. O que eu quero dizer é que eu sei que você sabe que nem sempre o amor vem assim – ela estalou os dedos – tão rápido. Primeiro vem todas essas sensações de pele, de olhares, arrepio ao ouvir a voz da pessoa... O desejo, filha! Isso é ótimo! E tudo melhora quando a pessoa tem também as qualidades que o Castle tem, ou seja, ele é um cavalheiro, é gentil com você e te trata com carinho, respeito e, pelo que você me falou antes, ele te admira. Ah, querida, não é todo mundo que tem a sorte de encontrar um homem e em tão pouco tempo ter tudo isso. Sim, querida, você o reencontrou há quantos dias mesmo? – Johanna fez uma pergunta retórica e nem esperou resposta – Pois é, querida, você o reencontrou há sete dias e ele te trata como se a conhecesse desde sempre e mesmo sem conversarem sobre o passado de vocês, já têm tantas coisas em comum.

— Verdade, mamãe. Não tinha pensado sobre isso.

— Vamos agora falar sobre os seus medos... Todo mundo sabe que medo é necessário para demarcar os limites das ações, mas só que você exagera na dose, Kate. Diminua o medo e se jogue. Perceba que a criança feliz é aquela que não tem medo de correr e subir em árvores e que, por isso, as vezes cai e rala o joelho. Essa criança com o joelho e o cotovelo ralado é muito mais feliz do que aquela que fica sentadinha na sala o tempo todo, com medo de cair durante a brincadeira. Entendeu, filha. Então... Se jogue e seja feliz! E quanto ao fato do Castle estar desmemoriado e você não poder conversar sobre as coisas que aconteceram entre vocês lá no passado... Ah, querida. Bobagem! Minha dica é a seguinte: Volte para os Hamptons, agarra o Castle e construam juntos novas memórias, filha. Em breve vocês terão tantas memórias que aquelas do passado talvez nem façam falta.

Kate ouviu, ficou pensativa e Johanna já conhecia aquele olhar.

— Meu anjo, pare de ser aquela Katherine que adora complicar o que é simples. Será que a situação está assim tão complicada ou será que é você que está complicando, eihm, Kate? Leveza, filha! Se joga para o amor!

 A conversa com sua mãe fez Kate se sentir mais leve.

— Mamãe, adorei conversar com a senhora. Sabe, depois de refletir sobre os conselhos da Martha e sobre tudo que você me falou, estou quase decidida a voltar aos Hamptons e me jogar nos braços do homem que eu amo.

— O que estraga é esse seu “quase”, filha... Mas não vou falar mais nada. Cabe a você decidir.

Depois que terminaram de se deliciar com as iguarias saborosas, Kate se despediu.

— Mamãe, adorei te ver. Vou para meu apartamento. A Lanie está me esperando.

Seguiam juntas até a porta da rua – Dá um beijo na Lanie, filha.

— Darei, mamãe.  Te amo! – Abraçaram-se.

— Também te amo, filha.

Diga ao papai que mandei um beijo para ele, viu.

— Sim, querida, eu direi a ele.

Kate já estava entrando no carro quando Johanna se aproximou novamente – Ah, e diga a Lanie para aparecer de vez em quando. Diga que eu já preparei a muda de peônia amarela que ela me pediu.

— Direi!

Kate saiu do carro e deu um novo abraço na mãe – Mamãe, eu já decidi... Eu vou voltar para o Castle... Eu não posso perder esta segunda chance que a vida está nos dando. Eu o amo tanto!

— Ah, que maravilha, filha! Você vai agora para os Hamptons?

— Não. Estou cansada. A viagem foi longa. Vou amanhã bem cedo.

Depois de novas despedidas, Kate partiu.

 

 

... Continua...


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