Segunda chance para o nosso amor escrita por Denise Reis


Capítulo 19
Capítulo 19




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Martha se sentou no sofá de couro de dois lugares e indicou o espaço do seu lado para a jovem se acomodar e enviou um olhar caloroso – Venha, querida, fique aqui.

Kate aceitou o convite e se sentou ao lado da ruiva.

— Minha querida, como é meu costume e você me conhece bem, não vou fazer rodeios. – Martha arqueou as sobrancelhas ao fazer aquele anuncio.

Beckett assentiu e ficou em silêncio à espera do assunto desconhecido e a elegante senhora prosseguiu – Você está indo embora porque ama o meu filho e não consegue ficar ao lado dele sem ter a certeza de que ele a ama verdadeiramente. Acertei?

— Sim, Martha. Você está certíssima!

— Entendo, filha.

Martha compreendia e até concordava com a insatisfação da moça – Principalmente depois desta noite, não é, querida?

Ao ouvir aquele comentário em tom de afirmação, Kate vincou a testa e o nariz, pois, do jeito que Martha falou, parecia ter certeza do que acontecera entre ela e o Castle durante a madrugada e não parecia ser apenas uma intuição.

Para aumentar a aflição de Kate, Martha fez mais outro comentário surpreendente – A área da piscina é convidativa para o amor...

Kate ficou a refletir se da janela do quarto de Martha dava para ver a área da piscina onde eles tinham feito amor.

Ainda de testa franzida e sem saber como Martha chegara aquela conclusão, tendo, inclusive, mencionado o local do encontro amoroso, Kate questionou a idosa sobre a afirmação que fizera.

— Você pode ser mais clara, Martha? Pelo que entendi, você intuiu que eu e o Castle passamos a noite juntos e ainda indicou que foi na área da piscina.

— Eu até poderia dizer que foi apenas uma intuição, querida, mas estaria mentindo. – Martha a olhou com carinho maternal – Acho a mentira uma perda de tempo.

— Concordo. Eu também não gosto de mentiras, apesar de já ter utilizado deste artifício muitas vezes.

— Quem nunca, né... – Martha anuiu – Bem, mas voltando ao nosso assunto... Não estou intuindo que você tenha passado a noite com o meu filho, contudo, acho muito provável que isso tenha acontecido. Mas também não posso afirmar nada.

Kate continuava curiosa.

Martha continuou a conversa e, de modo cênico, ela pôs as mãos para o alto, em oração – Peço a Deus que eu esteja certa sobre a noite de amor de vocês. E se isso aconteceu eu te juro que fico muito feliz que, finalmente, você se entregou ao amor que você e meu filho sentem um pelo outro. Fico feliz porque você quebrou a maior barreira que ainda restava. Eu amo o amor de vocês, querida, mesmo sabendo que o Richard ainda está desmemoriado, mas tenho fé em Deus que logo ele estará curado. Todavia, Katherine, estou com uma interrogação na minha cabeça... Uma grande dúvida.

— Que seria... – Kate indagou.

— Se essa noite de amor realmente aconteceu, querida, por que você quer ir embora?

Kate ouviu tudo e pensava se deveria ou não tocar naquele assunto tão pessoal, só que Martha voltou a falar.

— Mas antes de você me responder qualquer coisa, Kate, preciso te revelar o motivo de minhas suspeitas.

Kate viu a idosa pegar uma pequena sacola que estava sobre a cômoda do lado do sofá e passou para as mãos de Kate.

Ao constatar o conteúdo da sacola, Kate fechou os olhos e enrubesceu.

Reconheceu primeiro a camisola que usara naquela madrugada e que, por pressa de retornar ao quarto, a abandonara na área da piscina, já que não a tinha encontrado.

Na sacola também havia uma camisa de mangas curtas, em malha de algodão leve, parecendo de pijama masculino. Kate não podia afirmar se pertencia ao Castle, pois já o encontrou pelado na piscina. Kate corou ao recordar o encontro inusitado.

— Esta camisola é minha. Eu até procurei, Martha, mas não a localizei... Vesti apenas o roupão pois estava ansiosa para retornar ao meu quarto... E quanto a camisa de algodão, talvez seja do Castle... Se não me engano, acho que é um pijama, né...

— Você disse que esta camisa “talvez” seja do meu filho? – Martha frisou o adverbio “talvez” – Não entendi...

— É que... – Kate encheu o peito de ar e falou de um só fôlego, pois aquele era um assunto bastante pessoal – Nesta madrugada, quando cheguei no pátio da piscina, eu não vi o Castle. Não fazia ideia de que ele estivesse ali. Só o encontrei depois que eu mergulhei... Aliás, eu esbarrei com ele dentro da piscina... E...

— E... – Martha indagou.

— E ele já estava pelado...

— E o amor aconteceu! – Martha comemorou.

— Martha! – Kate a repreendeu, constrangida.

— Que bobagem! O amor é lindo!

— Nem sei o que dizer...

— Quando eu desci para fazer minha caminhada matinal na área da piscina encontrei estas peças de roupas íntimas largadas pelo chão, sob as espreguiçadeiras.

—  Eu até procurei...

— Pois saiba que eu fiquei muito contente quando eu as vi, Katherine. No entanto, fiquei sem entender nada quando vi a carinha tristes de vocês dois nesta manhã. Confesso que achei contraditório e não entendi nada. Na grande maioria das vezes o casal acorda disposto e feliz depois de uma linda noite de amor.

Ao ouvir aquele comentário tão cheio de carinho, Kate decidiu revelar a Marta acerca da noite de amor que tivera com o Castle, mas, obviamente, o fez em pouquíssimas palavras, e omitiu todos os detalhes e momentos picantes.

Ao final do relato, Martha não cabia em si de tanta alegria e abraçou a moça.

— Ah, querida, eu vivi para saber que este momento finalmente aconteceu. Mas é aí que reside a minha dúvida... Se você se rendeu ao amor e resolveu se entregar de corpo e alma ao meu filho, querida, não entendo porque quer ir embora.

— É complicado, Martha... – Kate passou os dedos pelas mechas do seu cabelo e o enrolou, deixando-o no ombro. Estava tensa – Parece conversa de doido, mas vou tentar explicar o que se passa pela minha cabeça.

— Relaxe, filha. – Martha a incentivou.

— Veja bem, eu fiz amor com o Rick, mas depois eu caí em mim, e percebi que quem estava ali, fazendo sexo comigo era o João Marinho, então fiquei confusa, mas... – ela ficou rubra e arqueou a sobrancelha – Mesmo assim caí novamente em tentação e fizemos amor novamente. Eu amo o seu filho, Martha, e não consigo mais resistir a ele.

— Não se recrimine, Kate! – Martha encorajava a moça.

— Como a gente bem sabe, Martha, o homem que está me desejando, me admirando e cheio de paixão por mim é o João Marinho, mas ele não é o Richard Castle.

Martha arqueou as sobrancelhas. 

— Martha, apesar do João Marinho estar no corpo do Castle, ele não é o Castle.

Martha a escutava e pressentiu que ela queria continuar explicando.

— Quem é que não gosta de ser desejada, eihm? Ah, todo mundo gosta e eu não sou diferente, só que eu não sinto no João Marinho aquele amor que eu sei que o Castle sente por mim... Aquele amor que eu agora aceito, acredito e sinto muita falta.

Martha a olhava com pesar.

Mesmo emocionada, Kate continuava a expor seus sentimentos – Para quem não está vivendo isso, até pode pensar que estou fazendo drama sem necessidade, só que isso é a minha vida, Martha... Minha vida! Isto é vida real e não um filme ou um romance de ficção. É complicado!

— Realmente, filha, muito complicado.

— Eu não quero somente a admiração, a paixão e o desejo do homem que eu amo. Eu quero e preciso de muito mais. Para mim é indispensável o pacote completo, o que inclui o amor... E este amor eu sei que somente o Castle tem por mim. – Kate continuava emocionada e ficou irritada – Que droga! Que droga! Por que o Castle tinha que ficar desmemoriado?

Vendo a moça tão angustiada, Martha a trouxe para um abraço apertado, cheio de amor e carinho – Não fique assim, filha. Olha, eu tive uma ideia. Ainda tenho que amadurecer esta ideia, mas vou te contar. Repare só... Mesmo sendo um assunto delicado, eu vou te dar uma sugestão, querida.

Secando os olhos molhados, Kate se afastou e voltou a se acomodar melhor no sofá – Qual a sua sugestão, Martha? Que ideia é essa? – Ela mostrou-se receptiva – Acho que estou topando tudo.

— Bem, vou ter que te fazer uma pergunta bem invasiva.

— Mais invasiva ainda? Não acredito.

Martha não aguentou a expressão de aflição no rosto de Kate.

— Nem sou recatada assim, como talvez esteja parecendo... – Kate comentou – Mas é que falar sobre intimidades com a mãe do homem que eu amo... É estranho...

— Mas para eu te falar sobre a minha ideia eu vou ter mesmo que ser bem invasiva, querida.

Kate respirou fundo e demonstrou aceitar – Pois que venha esta sugestão.

— A noite de amor com o Richard foi satisfatória para você, estou certa? Nem responda... Não precisa... Esta foi uma pergunta retórica, já que eu acredito que a noite de amor foi, sim, satisfatória para você, até porque você disse que caiu na tentação e repetiu... Minha criança, eu tenho muita experiencia de vida... – ela deu um sorriso amoroso – E óbvio que ele também gostou, pois estava disposto para fizeram amor novamente. Se vocês não tivessem gostado, não teriam repetido.

— Você está certa, Martha! Foi tudo maravilhoso! E tenho certeza que não penso assim apenas porque eu amo o Castle. Não sou ingênua muito menos hipócrita para não saber distinguir uma excelente noite de amor.

— Boa menina!

— Até que não foi tão difícil responde a sua pergunta, viu, Martha...

— Então agora vem a minha sugestão.

Kate observava a expressão de mistério na face de Martha.

— Estou esperando.

— Pois é... A minha proposta é você desistir de ir embora e continuar vivendo este romance lindo e excitante com o meu filho e, juntos, vocês aguardam que ele recupere a memória.

— Mas isso seria uma loucura, além do que eu estaria me contradizendo em tudo que eu penso.

— Mas, em compensação, estaria fazendo isso em nome do amor, querida. Em nome do amor que você sente pelo meu filho e em nome do amor que o meu filho sente por você.

— Mas esse homem que está aí fora não é o homem que me ama. Quem está aí fora é um homem que apenas me acha linda, me admira e me deseja. – ela falava sussurrando para que ninguém mais a ouvisse, e o fazia com expressões e gestos exagerados, como se fosse uma conversa de surdo e mudo.

— Kate, você tem que aproveitar esta segunda chance que a vida deu para vocês, querida. Lembre-se que por anos você nem mesmo aceitava o amor que você sentia pelo meu filho, muito menos aceitou e acreditou no amor que ele sentia por você. Você até tentou namorar outros homens, mas claro que não dava certo porque você até ficava com eles, mas seu coração e sua mente estavam no meu filho.

— Verdade! Eu sei disso e me arrependo amargamente.

— Então, querida. Se você se arrepende de não ter aceito antes o amor do meu filho, mesmo que tivesse dúvida por ele ter sido um mulherengo de primeira qualidade, porque não aproveita agora e se arrisca, eihm, ainda mais que, agora, você está de peito aberto, sabendo onde está se metendo. Está tudo às claras. Não se negue a este amor. Vocês viverão juntos essa história e quando ele recobrar a memória, você já estará com ele.

— Mas se ele não recobrar a memória, Martha?

— Pare de querer complicar, querida. Devemos aprender com muitas dicas do passado e devemos também ficar atentos para o futuro, no entanto, o mais importante é viver o presente.

— Mas se a memória do Castle não voltar e ele nunca mais se lembrar da vida anterior que levava?

— Então, é seguir em frente e continuar amando e sendo amada, mesmo que este amor não seja o que você idealizou. Tenho certeza que esse homem aí fora, querida, te respeita e te admira o bastante para te fazer feliz.

Kate escutou o último comentário de Martha e ficou refletindo sobre tudo.

Martha percebeu que Kate titubeava – Ouça o conselho desta que já passou da metade do filme, querida. Desfrute do “hoje”, Katherine. Viva o presente! Aproveite e respeite cada segundo que a vida te oferecer, mas usufrua sem grandes expectativas, assim, com certeza, você será mais feliz.

Kate se levantou e, lentamente, percorreu uma parede com uma linda estante em madeira de lei com belos ornamentos e prêmios literários recebidos pelo Castle ao longo de sua carreira, mas, fazendo jus a casa de um escritor, as prateleiras estavam cheias de livros. No entanto, naquele momento, Kate não se preocupava com os estilos deles, muito menos com os títulos. Sua mente estava fervilhando.

Ela foi até a janela, afastou a cortina pesada e descobriu que dali dava para ver as ondas do mar... Umas grandes, outra pequenas. Viu também alguns pássaros que voavam livres, ora em grupos e ora sozinhos e dois deles, por coincidência, pousaram afastados num galho da árvore bem em frente a ela. Eles foram arrastando suas patinhas pelo galho crespo até que ficaram juntinhos e um deles passou bicar o outro, talvez num carinho. No entanto, os pequeninos estavam em bando que viviam em festa. Chegaram outros e mais outros, até que um vento mais forte balançou as galhas e as folhagens, o que fez todos, de uma só vez, levantarem vôo, juntos, num bailado lindo, como se estivessem se apresentando num espetáculo circense de malabarismo ou, quem sabe, num show de alta performance de aviões com looping e belos vôos rasantes.

Kate se afastou da janela, só que ao invés de retornar para o sofá, ela se acomodou em uma poltrona cor de vinho de tecido grosso, em frente a Martha.

— Meu coração está acelerado, Martha e não paro de pensar nas sensações deliciosas que é ter o Rick ao meu lado, brincando, conversando, me provocando, me beijando, fazendo amor, ou mesmo somente olhando para mim, sem precisar falar nada... Mas não posso negar que nesta madrugada, depois que fizemos amor, ele me disse muitas coisas lindas... e fez promessas... Mas ele também disse que realmente não se lembra de mim...

— Já percebi que você continua reticente e...

— É, Martha, esta sou eu. Eu não posso enganar a mim mesma, vivendo com um homem que eu sei que não é quem eu quero que seja. Eu amo o Rick. Eu não quero apenas a estampa do Richard Castle. Se eu quisesse isso, tinha ficado com ele logo no final do primeiro caso que resolvemos juntos, porque ele se insinuou abertamente para mim e me convidou para jantar. Imagina... Meu escritor favorito me convidando para jantar... Parecia um sonho! Como somos jovens, saudáveis, cheios de vida e com os hormônios à flor da pele, ele interessado na minha figura e eu super fã dele, claro que não ficaríamos somente no jantar, né... Com certeza teríamos uma noite ardente inesquecível. Nunca fui santa, aliás, longe disso... Mas não era isso que eu queria, principalmente se tratando do mulherengo que aparecia em todas as revistas de fofoca do mundo, cada vez com uma mulher diferente à tiracolo. Eu não queria ser a próxima da lista que seria descartada no dia seguinte. E, agora, então, que eu o amo, nem se fala...

— Mas este que está aí fora é diferente, Katherine.

— Sim, eu sei disso. Claro que ele é diferente. Este que está aí fora é o João Marinho no corpo do Richard Castle, mas não é o Richard Castle.

— Você sabe muito bem que não foi isso que eu quis dizer, Katherine. Eu estou falando sobre a hombridade do homem que está aí fora.

— Não consigo, Martha. Juro que eu tentei, mas estou confusa... Dois homens em um só... É demais para minha cabeça e para o meu coração.

Percebendo que Martha vincou a testa, Kate avisou – Imagino que você está achando que sou louca.

— Longe de mim te julgar, querida.

Kate não falou nada, mas depois acrescentou algo interessante – O que eu sei, Martha, é que o antigo Richard Castle, aquele mulherengo, mudou seu modo de ser e viver justamente porque queria ganhar o meu amor. Somente hoje eu reconheço como fui medrosa em não ter reconhecido isso. Mas agora só me resta esperar que ele retorne.

— Você está decidida a não arriscar a ser feliz, não é, Katherine. – Martha afirmou.

— Estou decidida a não me machucar, Martha. Posso até estar errada. Talvez fique arrasada e passe a noite toda chorando de arrependimento e talvez amanhã ou depois a tristeza nem saia de mim. Mas não sou orgulhosa. Eu prometo para mim mesma que caso eu me arrependa desta decisão eu volte atrás e aí vai caber a ele me aceitar de volta ou não.

— Lembre-se que a vida é feita de escolhas e cada um é responsável pelas suas, mesmo que para isso tenha que envolver a vida dos outros.

Ao ouvir o conselho da mais velha, a jovem não falou nada, apenas fez um gesso afirmativo com a cabeça.

Em seguida, arrependeu-se do silêncio – Estou sabendo, Martha. Obrigada pelos conselhos.

— Ah, como eu queria que você parasse de complicar as coisas, querida.

— Eu também, Martha. Mas não consigo. Até parece que estou ouvindo a Lanie e minha mãe.

Neste momento Kate deu um abraço muito apertado em Martha.

— Amo ouvir seus conselhos, Martha. É como se eu estivesse escutando minha mãe. – Kate se emocionou – Eu também queria desabafar com ela e ouvir seu modo de ver as coisas. – Kate desabafou – Eu preciso tanto...

— Oh, querida!

— Estou morrendo de saudades de minha mãe. Meu peito está apertado.

Depois de secar suas lágrimas, Kate deixou a biblioteca na companhia de Martha.

— Eu já vou! – Kate anunciou.

A fisionomia de tristeza de Alexis e a de angústia do Castle eram evidentes.

A menina correu até ela e a abraçou apertado, comprovando o carinho e o amor.

Martha não concordava com a opção que a jovem fizera e mantinha no rosto a expressão de preocupação.

As despedidas foram curtas.

 

 

... Continua...

 


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