Quando Leopoldina julgou estar ficando um tanto tarde e ele estar demorando demais na casa de Maria, ela decidiu que já estava na hora de voltar para casa.

—Muito obrigada mesmo, Maria, por me receber, foi muito bom conversar com você - disse ela se despedindo.

—Ora, não foi nada, é bom ter uma amiga que tenha estudos em comum comigo, pra variar - respondeu Maria, no mesmo tom simpático.

Assim, Leopoldina a deixou, voltando para a Quinta da Boa Vista, chegando bem ao pôr do sol. Ela passou pela grande entrada do lugar, entrou na casa principal e foi direto para seu quarto, sem encontrar ninguém no caminho. Estava prestes a ligar para sua irmã, mas então foi interrompida com uma leve batida na porta.

—Sim? - ela falou, querendo ter certeza de quem era.

—Sou eu, minha querida, posso falar com você por um instante? - ela reconheceu a voz do Dr. João.

—Ah sim, claro, só um momento - ela se levantou e abriu a porta - olá, Dr. João.

—Boa tarde para você, eu só gostaria de saber como você está, notei sua ausência - constatou o anfitrião - não que esteja invadindo sua privacidade, muito pelo contrário, só quis dizer que me preocupou um pouco, não sabia que a senhorita iria pra outro lugar depois da aula de hoje.

—Ah é que foi um tanto inesperado, tive a ideia depois de conhecer uma colega de sala, ela me convidou para visitá-la na verdade, e eu acho que perdi um pouco da noção do tempo, foi só isso - ela deu uma risadinha sem graça - mas não se preocupe, eu aviso o senhor da próxima vez que sair.

—Não se preocupe, nem pense que quero satisfações constantes da sua vida, só fiquei preocupado já que é novata na cidade, pensei se não tinha se perdido - João argumentou.

—Não senhor, eu também tenho medo de me perder e tomo muito cuidado pra que isso não aconteça, ando bastante de táxi - Leopoldina explicou, o que deixou seu anfitrião aliviado.

—Está bem assim, querida, bom agora que nos entendemos, vou deixá-la à vontade - ele disse, se retirando.

—Obrigada - ela agradeceu, o que João respondeu com um sorriso.

Para ela, era impressionante o cuidado e o carinho que ele tinha para com ela, a tratando praticamente como uma filha, mesmo morando em tão pouco tempo em sua casa. 

Mas quanto ao filho biológico de João, esse já era um tanto mais difícil de lidar do que Leopoldina. Não que o embaixador não amasse Pedro, de forma alguma, mas como qualquer pai preocupado, ele pensava o que seria do futuro do filho se continuasse com aquela rotina irresponsável sem nunca mudar.

A calmaria da casa foi interrompida pela chegada de Pedro, correndo até seu quarto, tentando se arrumar o mais rápido possível. Suas intenções eram aproveitar o máximo de tempo que tinha para sair e se divertir naquela noite. Sua presença não passou despercebida por seu pai, João conhecia bem como Pedro corria, desde que ele era um menino até se tornar o rapaz que era agora.

—Vai sair essa noite de novo? - João entrou no quarto dele, sem esperar por um convite formal para isso.

—Mas que susto, pai! Não faz mais isso, é capaz de me matar do coração! - Pedro reclamou, levando um susto pela presença repentina.

—Deixa de ser dramático, Pedro, não foi nada - seu pai respondeu, sem se deixar abalar - eu realmente te queria pegá-lo em flagrante.

—Flagrante? Eu não tô fazendo nada de errado - Pedro se fez de desentendido de propósito.

—Mas nós sabemos que nada de bom acontece quando você sai à noite - seu pai apontou.

—Poxa pai, agora o senhor me ofendeu - o rapaz ficou irritado - eu sempre volto são e salvo pra casa, sem problema nenhum, então por que o senhor tirou justamente hoje pra me cobrar?

—Porque a impressão que eu tive é que você ia saindo sem me avisar - como sempre, João tinha as respostas na ponta da língua para cada pergunta impertinente de Pedro.

—Não, não é bem assim, eu só ia me arrumar primeiro e depois ia sair - Pedro tentou se justificar.

—Tá bem então - João se conformou, já que viu que o filho não estava mentindo sobre suas intenções de informá-lo - é demais pro seu velho pai pedir que tome cuidado e não volte tão tarde?

—Não, de maneira nenhuma - Pedro acabou dando um sorriso genuíno - obrigado e até mais tarde!

—Até mais, Pedro - seu pai se despediu com certo pesar.

João sentiu falta dele no jantar, Maria Teresa estava acostumada, mas Leopoldina ficou intrigada outra vez com a ausência de Pedro. Pelo jeito, ele não gostava muito de ficar em casa, mas então, a própria Leopoldina se repreendeu. Os hábitos noturnos de Pedro não eram da conta dela, ela era uma mera hóspede ali enquanto ele era um membro da família. Ela continuaria no seu devido lugar, mas ainda assim, não conseguia evitar de se preocupar com Pedro.