Conforme o tempo foi passando, Pedro e Leopoldina foram se acostumando à vida de casados. Depois de sua formatura, decidiu usar grande parte de suas energias para conseguir um bom emprego, continuando a fazer seu melhor para orgulhar principalmente o pai e a esposa.

Pedro teve grandes entrevistas de emprego, em lugares e repartições importantes, não necessariamente ligadas ao governo, empresas de grande porte ficaram interessadas em seu currículo, principalmente por sua formação e suas experiências acompanhando seu pai em reuniões que tinham totalmente a ver com o ofício. Assim, ele arranjou emprego em uma grande empresa privada, trabalhando justamente com as relações de seus sócios internacionais.

—Isso é uma grande oportunidade - disse sua esposa, certamente transbordando em orgulho -fico feliz que eles escolheram você.

—Eu também, fiquei bastante surpreso, mas isso é ótimo - concordou ele - vamos ter nosso próprio espaço e finanças, sem depender do meu pai.

—Me admira muito você pensar assim - respondeu Leopoldina pensativa - mesmo sabendo que o seu pai não mediria esforços para nos ajudar.

—Sim, ajudar é uma coisa, mas no bancar, não é algo muito esperado, nem correto - Pedro tentou defender seu ponto de vista.

—Por que não seria exatamente correto? - ela logo questionou - escolha interessante de palavras...

—Ora, eu e você somos uma família agora, e mesmo que moramos com o meu pai, é minha obrigação sustentar nós dois - ele explicou.

—Ah sim, agora compreendo melhor... - Leo murmurou - não se trata exatamente de uma questão de orgulho, mas mais de honra.

—Isso, é isso mesmo, eu tenho que ser e estou sendo responsável - completou Pedro.

—Muito bem então, isso é ótimo, pra nós dois - Leopoldina concordou.

Assim, ela também se ajustava à sua vida no Brasil e o que fazer exatamente, agora que ela tinha terminado seu intercâmbio. Ela tinha claro suas próprias paixões, inspirações e aptidões acadêmicas, só não sabia exatamente o que fazer com elas. Pensou no assunto um pouco, e depois, decidiu que era bom também pedir a opinião de Pedro. Quando estavam a sós em seu quarto, Leo aproveitou a oportunidade para conversar com ele sobre o assunto.

—Acha que eu daria uma boa professora? - questionou ela.

—Se você daria uma boa professora? Imagina, é claro que daria - ele riu ao se aproximar dela, mas seu elogio era completamente sincero - eu estaria completamente ferrado se não fosse por você, sem suas aulas particulares.

—Eu sei, eu agradeço por apreciar o bom trabalho que fizemos - respondeu ela - mas dar aula para uma turma é algo bem diferente.

—Sim, mas não tem nenhum desafio grande demais pra você - Pedro comentou - se você quer dar aulas, vá em frente.

—Bom, é que estava pensando em que carreira seguir - Leopoldina pôs uma mão no queixo, enfatizando ainda mais sua reflexão sobre o assunto.

—Você tem muitas coisas que gosta de fazer - ele acrescentou outra vez.

—Eu sei, mas qual delas seguir? - questionou ela outra vez - espera, acho que tive uma boa ideia.

—Era só questão de tempo até que uma surgisse - ele sorriu, querendo dizer o quanto ela era inteligente.

—Vamos pensar nos prós e contras das minhas áreas de estudo - Leopoldina expôs o caso dessa forma - poderia entrar pra equipe de estudos de minerologia da faculdade, ou botânica.

—É uma boa maneira de começar a se pensar - Pedro a incentivou.

—Foram ótimos os estudos de minerologia, mas eu mal vi botânica, quer dizer, estudamos os dois praticamente da mesma maneira, mas senti mais falta das plantas... - ela voltou a refletir outra vez - acho que decidi, serei uma botânica, de verdade, e bem aqui no Brasil, com tantas espécies que eu nunca conheci.

—É um campo enorme de estudos - disse ele.

—É isso, me decidi - ela assentiu, realmente decidida.

—Sabia que ia chegar lá - elogiou Pedro.

Assim, Leopoldina se dedicou tanto ao ofício, buscando uma oportunidade, que conseguiu uma boa posição no próprio Jardim Botânico. Era muito mais do que ela poderia querer, trabalhar com o que amava e estar ao lado de quem amava.