Leopoldina se sentia nas nuvens quando entrou de volta no seu quarto. Era incrível como sua sorte tinha mudado repentinamente. Em um dia ela estava toda chorosa e lamentando, mas agora, tudo tinha se voltado ao seu favor. Como ela não tinha notado que Pedro gostava dela também? Bom, o comportamento típico dele negava muito isso, além da própria insegurança que Leopoldina tinha, se achando inferior às outras meninas com quem Pedro ficava. Mas agora, tudo isso tinha ficado para trás, ela tinha conseguido algo que ousou sonhar poucas vezes, há muito tempo atrás.

Ela era uma menina sonhadora, que costumava desejar viver um verdadeiro conto de fadas, conhecendo um príncipe encantado que a levaria a ter um romance avassalador. Agora, crescida, ela tinha prioridades de estudar e explorar novos conhecimentos ao máximo, mas já que seus sentimentos tinham sido correspondidos, ela fazia questão de viver essa novidade com toda vivacidade também.

Ainda extasiada, ela decidiu contar para Maria Luísa imediatamente. Ligando para ela, esperou que a irmã atendesse, com expectativa.

—Pold! Que bom te ver, já faz um tempo que não liga, imaginei que ainda estava ocupada com os estudos - disse a irmã, surpresa e feliz ao vê-la.

—Eu estava, estava sim, mas outras coisas aconteceram também - Leopoldina deu um sorriso satisfeito ao terminar sua frase.

—Imagino que foram coisas muito boas, pra você estar assim - Luísa chegou a dar uma risadinha.

—Você se lembra que eu cheguei a falar sobre o Pedro com você, não é? - ela iniciou o assunto.

—Lembro, lembro sim, lembro como você parecia completamente encantada com ele - afirmou Luísa.

—O que aconteceu é que agora estamos namorando! - Leopoldina disse num tom de gritinho animado.

—O que? Espera aí, isso é sério? - Maria Luísa se surpreendeu - como é que isso foi acontecer?

—Foi tudo meio de repente, quer dizer, ele me disse hoje que gostava de mim há um tempo, e eu também disse que gostava dele - contou Leopoldina.

—Eu sabia, sabia que você gostava dele! - apontou Maria Luísa, veementemente.

—Pois é, eu só não esperava que ele fosse gostar de mim também - confessou Leo.

—Espera, por que acha isso? - a frase preocupou Luísa.

—Não, por nada, não importa - Leo achou melhor não contar os detalhes tristes e perturbadores - o que importa é que estamos juntos agora.

—Se você está feliz, irmãzinha, fico contente por você, de verdade - desejou Maria Luísa - mas olha, você pretende contar ao Fernando e ao papai sobre isso, né?

—Claro, claro, eu vou falar primeiro com o pai do Pedro - garantiu a irmã.

—Escuta, Pold, esse seu namoro não vai... digamos assim, eu sei que você é responsável com seus estudos e tudo mais, mas quanto ao seu anfitrião, não acha que ele pode ficar... não sei, meio receoso com você namorando o filho dele?

—É o que eu pensei também, mana, mas não se preocupe, vamos falar com o Dr. João hoje à noite, prometo - Leopoldina afirmou.

—Bom, se é assim, fico mais tranquila, eu te desejo sorte e que dê tudo certo pra vocês - Luísa começou a se despedir.

—Obrigada, fique bem, mana - Leopoldina desligou, com o mesmo sorriso encantado espantado nos lábios.

Ela só esperava poder continuar sorrindo daquela maneira depois de falar com o Dr. João. A hora do jantar então chegou, ela fez sua refeição normalmente, mas os olhares que ela trocou com Pedro chamaram a atenção de João e Teresa. A irmã de Pedro, conhecendo bem os dois, percebeu do que aquilo se tratava, e ficou contente, pelo visto, seu irmão tinha tomado juízo e coragem e pediu a hóspede deles em namoro. Quando todos terminaram, Pedro tomou a palavra. 

—É, pai, Teresa, tem uma coisa que eu preciso contar a vocês - ele disse seriamente, o que chamou a atenção de seus parentes imediatamente - eu espero que vejam isso como uma coisa boa, e a total sinceridade do meu coração em tomar essa decisão.

—Quando você usa palavras tão formais, fica difícil não aceitar sua decisão - seu pai respondeu - mas do que se trata tudo isso, afinal?

—Eu e Leopoldina estamos namorando - ele respondeu de uma vez, com medo do que o pai e a irmã iam dizer.

—Isso é sério mesmo? - João se maravilhou - oh meu Deus, isso é fantástico, esplêndido!

—Puxa vida, senhor, isso me deixa... aliviada - Leopoldina finalmente conseguiu dizer algo, se sentindo muito grata ao ouvir isso.

—Ah Leo, eu tô muito feliz por você - Teresa uniu as mãos enquanto sorria, pensando que o sofrimento da amiga tinha acabado.

—Quer dizer que você sabia, Tes, que a Leo... - Pedro entendeu quando a irmã assentiu.

—Eu fico muito feliz em saber que estão juntos - disse João cheio de orgulho - não se preocupem, eu não acho que Pedro se aproveitou de você por ser nossa hóspede, nem que o namoro atrapalhe seu intercâmbio, eu observei como vocês se aproximaram um do outro, vocês tem uma amizade genuína e isso é a base de um bom relacionamento.

—Ah pai, que bom ouvir isso, que bom que gosta da gente juntos e tudo mais - Pedro suspirou, mesmo querendo contestar algumas coisas, mas sabia que seu pai tinha razão para dizer o que disse.

—Eu que agradeço por você fazer Leopoldina um pouco mais parte da nossa família - nisso, João olhou diretamente para ela - é um prazer ter você aqui, e agora ainda mais, poder te considerar uma filha.

—Muito obrigada, senhor - ela sorriu, agradecida e até o abraçou.

Para os Bragança, era realmente motivo de alegria ter Leopoldina como a namorada de Pedro, a única moça que era responsável, com certeza de suas convicções e que poderia colocar juízo em sua cabeça.