Dinastia 1: O Sonho Real escrita por Isabelle Soares


Capítulo 47
Mágoas, Brigas e revelações


Notas iniciais do capítulo

O capítulo de hoje está bem longo, mas bem explicativo. Pode ser que venham a se confundir em alguns momentos, pois teremos então uma conversa com toda a família e Emmett, Carlisle e Esme vão contar os principais fatos que aconteceram no passado e estes estarão em terceira pessoa. Vão ficar surpresos com o que vão ler.

Meus agradecimentos aquelas que deixaram uns comentários fofos para mim no capítulo passado como Diana Gouveia, Érica, lelinhacullen, Clarinha Camela, Talita Martins e Anna. Espero que gostem do que vão ler!

Boa leitura!



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O dia amanheceu cinzento, como se o clima adivinhasse o nosso estado de espírito. Edward estava largado na poltrona olhando para a janela, onde ele ficou praticamente a noite inteira. Toda essa história da entrevista e as breves palavras não explicadas de Carlisle no telefonema de ontem à noite nos deixaram com uma angústia no coração e muitas perguntas na cabeça. Nem conseguimos dormir, passamos a madrugada inteira apenas conversando e tentando encontrar respostas ou alternativas para todo esse mistério.

Assim que o sol raiou decidi me levantar do sofá e esticar as pernas. Edward permanecia pensativo, remoendo tudo. Fui até a nossa pequena cozinha e comecei a fazer um café para suportar o dia com pelo menos os olhos abertos. Tínhamos decidido que manteríamos a nossa agenda normalmente para não passar uma imagem de preocupação e horror. Seguiríamos como mandava o protocolo, manter o sorriso, mesmo quando queríamos gritar.  Liguei para Pierre para ele vir dar um trato em mim para que eu não parecesse um zumbi diante das pessoas nessa manhã e ele rapidamente se prontificou a vir.

Peguei umas bolachas e coloquei a garrafa de café em cima da mesa. Definitivamente seria melhor tomarmos o nosso café da manhã aqui mesmo, sem muito alarde e cair no mundo para o nosso compromisso, que por sorte seria em conjunto. Olhei para Edward e ele não tinha se mexido nenhuma grama e parecia ainda pior.

— Edward, venha tomar um café, meu amor. Temos um compromisso para daqui a pouco e precisamos nos manter forte.

Ele assentiu com a cabeça e veio até mim em silêncio. Fizemos a nossa refeição na calma e em seguida começamos a nos preparar para o que viria pela frente. Certamente esse primeiro compromisso, após o acontecido ontem não seria fácil. Simplesmente não sabíamos o que esperar da reação das pessoas e praticamente estaríamos ali pagando para ver.

Tentei desviar as perguntas curiosas de Pierre sobre o acontecido. Ele era ótimo companheiro, porém, muitas vezes bisbilhoteiro quando queria. Edward se arrumava em silêncio enquanto ouvia as mil e uma recomendações de Nick para como deveria se comportar nessa manhã. Ruth também veio até mim para acertarmos todos os detalhes e criar um plano de choque para o evento.

Porém, nada poderia se comparar o que víamos pelas ruas. A opinião da população estava muito dividida. No Twitter, estávamos entre os assuntos mais comentados. Eram hashtags por cima de hashtags, contra e a favor. Eu procurava não olhar muito as redes sociais para não me contaminar ainda mais, porém Nick, Ruth e os outros secretários, especialmente Nilson, se mantinham atentos a cada tweet para ter uma média do resultado da entrevista.

Pelo caminho vimos pessoas eufóricas. Em frente ao palácio tinham algumas delas com cartazes gritando coisas horríveis e mostrando toda a sua revolta contra Carlisle. Tentaram até pinchar o nosso carro quando íamos saindo, mas os seguranças impediram que essa violação acontecesse. Fiquei tão assustada que realmente pensei que a monarquia poderia estar por um fio.

No caminho fiquei pensando se realmente tinha sido uma boa ideia arriscarmos uma aparição num evento, após esse escândalo. Sinceramente, eu estava com medo de sermos vaiados pelas pessoas e não sabermos levar isso muito bem. Tentei me acalmar com o pensamento de que seria um evento “fácil”, iríamos visitar uma ala que tratava doenças relacionadas à mente, como depressão, Alzheimer, e dentre outras. Não poderia ser tão difícil! Mas quando o carro parou em frente ao Hospital foi como um sacolejo e nos deixou vivos para o que estava prestes a acontecer.

Edward estava com uma expressão séria e suas mãos tremiam, porém a sua voz saiu forte e decidida:

— Vamos ser profissionais. Isso vai passar logo.

Apertei a mão dele com uma mão e com a outra agarrei a corretinha de Santa Eudóxia, a padroeira de Belgonia, que eu ganhara quando me tornei duquesa. Eu nunca fui católica e nem acreditava em religião, mas agora eu pedia para todos os santos que tudo desse certo. Descemos do carro e formos recebidos com silêncio. Algumas pessoas estavam do lado de fora do Hospital apenas nos olhavam ao longe, nos avaliando. Coloquei o meu melhor sorriso no rosto e acenei para eles. Alguns me devolveram o aceno, o que foi algo realmente bom.

Os profissionais que trabalhavam na ala do Hospital nos receberam muito bem e com muita formalidade. Nos explicaram como funcionavam os métodos de tratamento e que tipo de doentes estavam ali. Essa ala era conhecida como “espaço da mente”, tinha sido inaugurada por Esme nos anos 90. Ela lutou anos para que houvesse um tratamento especializado para pessoas com doenças da mente. A avó materna de Edward tinha morrido de depressão e isso fez com que Esme se motivasse para descobrir mais detalhes sobre a doença para tentar ajudar outras pessoas.

Aparentemente o clima dentro do hospital era favorável. Conversamos com doentes, médicos e enfermeiros. Parecia que a raiva de muitos era com Carlisle e não chegava muito anos atingir. Edward e eu tentamos encarar tudo numa boa, com o nosso melhor espírito. O momento mais emocionante foi quando uma adolescente com depressão pediu para me abraçar. Fui até ela e realizei o seu pedido. Ela chorava muito nos meus braços e eu acariciei a sua cabeça. Enquanto eu estava ali, passou uma ideia na minha cabeça que se tudo permanecesse firme daqui para frente, eu iria também me lançar em campanhas contra a depressão e um monte de ideias começou a surgir na minha mente. Eu me sentia bem mais aliviada agora e queria poder passar essa sensação de esperança para essa garota. Quando o abraço terminou, eu olhei no fundo dos olhos dela e disse:

— Tudo vai ficar bem, você vai ver. Você é uma menina tão bonita! Vai ser muito feliz!

Edward me olhava emocionado e eu sentia o misto de emoções que poderiam estar rodeando a cabeça dele. A garota pegou a minha mão e a beijou. Ela pediu uma foto comigo e com Edward e a tiramos. Deixamos o hospital, mais aliviados, porém sabendo que tudo ainda estava por vir.

Na TV e no rádio só saiam notícias a cerca da entrevista e muitos bombardeavam Carlisle, sem mesmo tentar averiguar o que realmente tinha acontecido. Até começavam a cogitar na possibilidade de colocar a princesa Carmen no trono e outros até podiam supor que os republicanos agora teriam vez. Eu achava tudo muito vago e irreal demais! É claro, que a cabeça das pessoas estavam sendo minadas com o parecer da imprensa, mas eu não acreditava que Carlisle iria cair por tão pouco no apresso das pessoas.

Quando chegamos ao palácio novamente, soubemos que Carlisle e Esme tinham chegado de viagem. Não podemos vê-los de cara por que eles entravam e saiam de reuniões com os mais diversos tipos de gente, do primeiro ministro até chefe de imprensa. Só podemos todos nos reunir na hora do almoço. Esme fez questão de nos manter todos unidos durante a refeição. Porém o clima não poderia estar pior. Parecia que o grande momento estava sendo adiado pelos dois que tentavam manter a calma e o controle da situação. Mas estava difícil. Até os membros da própria família não sabiam o que pensar.

A situação piorou ainda mais quando chegou mais um bilhetinho misterioso de bônus para Esme durante o nosso almoço. Ele leu o que tinha escrito e os seus olhos começaram a lacrimejar, o rosto vermelho de raiva e parecia que explodiria a qualquer instante. Ela pegou o papel e o rasgou em mil pedacinhos e parecia cada vez mais incontrolável. Carlisle a olhava curioso e ao mesmo tempo preocupado.

— Chega! É o fim! Eu não aguento mais as pessoas bombardeando Carlisle por algo que ele não fez!

Todos nós dirigimos os nossos olhares para ela e com um misto de surpresa e excitação pelo que ela poderia revelar. Esme apenas tentou se acalmar e pediu para Carter retirar a mesa.

— Não podemos adiar mais, Carlisle, essa conversa tem que acontecer agora.

Ele assentiu e pediu para que todos nós seguíssemos para o seu escritório. Seguimos ao nosso destino como uma procissão. O sentimento era único entre nós e a tensão poderia ser compartilhada com todos. Carlisle pediu para que ninguém os incomodasse e assumimos os nossos lugares para a conversa ter início.

Esme, enfim, permaneceu em pé e olhou para cada um de nós. Eu me sentia num grande clímax de um filme.

— Acho que não podemos adiar mais essa conversa. Até por que ela chegou a proporções inimagináveis e só poderemos caminhar para frente se colocarmos tudo em pratos limpos.

— Verdade mãe. – Emmett falou criando coragem. – Por isso, eu gostaria de contar para vocês a minha parte na história.

— Fique à vontade, filho. – ela falou ao mesmo tempo que se sentava.

— Eu tinha mais ou menos dezesseis anos quando as coisas começaram a ficar piores...

Outubro de 1999

Os passos do jovem príncipe ecoavam por todo o quarto. Quem o visse agora não diria que era alguém tão imaculado pela realeza. Embaixo dos seus olhos tinham sombras escuras e o azul de suas íris agora combinavam com um vermelho intenso. Ele mal tinha conseguido dormir. Riu para si mesmo com esse pensamento, pois na verdade, ele nem tinha dormido noite passada. Mas o que tinha mesmo acontecido na noite passada? Pensou em perguntar a Nilson, o seu secretário, mas sabia que com a cara que ele fazia agora ao acordá-lo, ele não iria responder.

— É bom saber que está acordado, alteza. – disse Nilson ironicamente.

— Dá para falar mais baixo! A minha cabeça está explodindo. – disse o príncipe Emmett colocando as mãos na têmpora.

— Deve estar mesmo, não é? Depois de tudo que aprontou ontem.

— Ah qual é, Nilson! Você também não!

— Devo dizer que está atrasado para um compromisso oficial?

— Dane-se! – disse o príncipe se levantando da cama e indo em direção ao banheiro.

Nilson, o então secretário do príncipe, respirou fundo e tentou não dar uma resposta ignorante a ele por que sabia que o temperamento de seu pupilo era bastante volátil e isso poderia custar o seu emprego. Esperou a sua alteza sair do banho para poder ter uma conversa razoável com ele. Paciência Nilson! Pensou consigo mesmo.

— Alteza, lembre-se que é sua responsabilidade cumprir os seus compromissos oficiais.

— Argh! Eu acabei de completar 16 anos, sou um adolescente, poxa! Como posso ter tantas responsabilidades assim no meu colo?

Nilson se segurou novamente para não dizer algo grosseiro. Sabia que o príncipe Emmett vinha passando por uma fase difícil. Tinha presenciado ele em dias melhores no passado. O conheceu bem mais jovem e se lembrava de como ele era agradável, que sempre contava piadas e adorava praticar esportes, principalmente quando tinha alguma disputa envolvida. Mas agora, depois que ele começou a sair com um grupo meio duvidoso, estava com a cabeça revirada. Bebia demais e tinha sido flagrando fumando maconha. Algo que tinha abalado totalmente os seus pais, eles tentaram conversar com ele e resolver o problema passivamente, mas tinha sido inútil. Agora toda a imprensa tinha descoberto e o transformado em seu Judas particular. Emmett não o ajudava a tentar fazer o seu trabalho também. Chegando praticamente todos os dias embriagado e se envolvendo em um escândalo atrás do outro.

— Só vou lhe dar um conselho... É melhor se preparar para a possibilidade de, em breve, ter que cumprir as funções que, por enquanto, são de seu pai. Por que o seu avô, a sua majestade, o rei, não está bem de saúde e a qualquer momento pode acontecer o pior.

— Deus me livre, Nilson! Você só traz mau agouro!

— Mas é verdade. Seu pai em breve vai ser rei e você terá que cumprir as funções de príncipe herdeiro e fazer tudo que esperam de você.

— Isso é o que me enche, Nilson. Eu odeio tudo isso! – Gritou Emmett apontando para as paredes de seu quarto. – Odeio ter que ir a esses compromissos chatos. Apertar a mão de um milhão de pessoas e voltar com elas dormentes. Odeio toda essa regra ridícula que me oprime e não me deixa fazer nada. Eu quero fazer o que os jovens da minha idade fazem. Quero ser feliz! Quero namorar muito sem me preocupar que tenham um monte de lentes me fotografando. Quero ficar bêbado sem me preocupar com o dia seguinte e quero que um dia eu mesmo possa escolher o meu futuro.

Nilson acolheu as palavras de Emmett e até ficou solidário a elas. Mas sabia que isso jamais seria possível para ele. O seu futuro seria decidido pelos outros e pelo bem do país e da monarquia.

— Eu compreendo, alteza, mas sabe que isso não é possível no seu caso.

— Eu sei. – disse o príncipe derrotado. – E é por isso que eu quero aproveitar o máximo de tempo que ainda me resta.

— Podia aproveitar sem destruir a sua imagem perante o povo, sem destruir a sua vida.

— Foda-se o que pensam de mim! Eu não estou nem aí para isso. É a minha vida, não é?

Nilson já ia abrir a boca para dizer que a sua vida não a pertencia e sim aos seus súditos, mas desistiu ao ver o estado alterado do príncipe.

— O que eu digo para as pessoas que lhe aguardam no compromisso que você deveria cumprir essa manhã?

— Dane-se em esse compromisso! E me deixe em paz!

O secretário deixou o quarto pensando em como iria contornar mais aquela situação.

 - Papai estava mesmo muito doente na época. – continuou Carlisle, nos trazendo para o presente. – Nunca esqueço do dia em que Esme e eu o virmos pela última vez no hospital.

O rei Pierino estava internado, após mais um ataque cardíaco. Tinha se recuperado, mas estava muito fraco e no dia seguinte seria submetido a mais uma cirurgia no tão afetado coração.

Carlisle estava sentando ao lado da cama do pai e segurava a mão do velho moribundo. Ele estava muito arrependido por ter passado praticamente a sua vida inteira se desentendendo com o pai. Se lembrava de todas as brigas que teve com ele durante a juventude. Os dois tinham concepções de vida completamente diferentes e por isso viviam em confronto um com o outro. Se arrependia de ter sido tão rebelde e de não ter tentado ter um relacionamento mais amigável com o pai. Mas ele era tão jovem na época! E a mente de um adolescente não é justa e acha que pode mudar o mundo, mas agora no auge de seus 43 anos encarava tudo com uma perspectiva mais madura. No fundo, na época, ele queria tentar se mostrar ao pai para que ele finalmente o enxergasse. Queria esfregar na cara dele o quanto ele tinha sido um pai horrível! Queria colocar todos os seus sentimentos ressentidos de anos para fora e isso soava tão ridículo agora! Não devia ter feito aquilo, afinal ele era seu pai! E agora ele estava ali morrendo e o tempo não poderia voltar mais.

— Filho... – disse o rei abrindo os olhos devagar. – É você que está aí?

— Sou eu pai. Por favor, não se canse.

O velho apertou a mão do filho com força e tentou falar, mas sua voz saia rouca e com dificuldade.

— Prepare o seu filho para o futuro que lhe espera.

— Fique tranquilo pai. Emmett vai receber os melhores preparos que poderia ter.

— Não... Emmett não... Edward.

Dessa vez quem olhava confusa era Esme, que observava o marido e sogro numa distância da cama para dar mais privacidade aos dois. Mas as palavras que acabaram de ouvir a impressionavam. Ele estava sugerido que Edward assumisse o trono? Mas isso jamais poderia acontecer, não é? Era Emmett o herdeiro por direito e isso já doía o suficiente nela para imaginar colocando o outro filho para esse terreno minado. Não! Isso não podia acontecer, por mais que realmente Edward fosse mais maduro e centrado, ele não estaria preparado para tal coisa.

— O que disse pai?

— Edward, meu filho... – o rei se esforçava ao máximo para tentar explicar, mas sua voz não saia como ele queria. – Ele é que deve ser o rei um dia.

— Mas isso é impossível!

— Carlisle... Monarquia acima de... de tudo!

Carlisle esperou uma explicação plausível do pai, mas ele havia adormecido novamente sem nada mais a dizer.

No dia seguinte, ele estava morto, não havia resistido à dura cirurgia no coração. Carlisle estava austero e desolado, apesar de sua expressão séria e distante. Nem lhe passava na cabeça que agora ele era o rei de Belgonia. Nem conseguia pensar nisso, pois para ele essa função ainda pertencia ao seu pai que por 54 anos ocupou tão presentemente esse cargo. Ainda se sentia o pior dos homens por não ter passado mais tempo com o seu pai, por ter perdido tanto tempo com discussões que poderiam ter se resolvido de outras maneiras. Mas agora ele só pensava que não queria a mesma relação com os filhos. Queria o melhor para eles e tentaria sempre fazer o possível para conseguir que eles fossem felizes.

— Chorei tanto naquele dia... – disse Emmett, de volta ao presente. – Lembra mãe?

— Sim. Você derramava rios de lágrimas no meu ombro e eu não sabia como te consolar.

Esme se recordou desse dia tão vivamente em sua mente. Afinal tantas coisas aconteceram que jamais sairiam da sua cabeça e começou a relatar tudo que se lembrava.

— Mãe, o que será de mim agora? – perguntou o jovem Emmett baixinho.

— Você vai assumir as funções que até ontem eram de seu pai.

— Eu não quero mãe.

Esme colocou a mão no queixo do filho e fez com que ele olhasse para ela. Com uma expressão severa disse:

— Coragem filho! Esse é o seu dever!

— Isso é tão injusto!

— Não é. Mas paciência que tudo dará certo no final.

Ela tentou acreditar no que disse ao filho enquanto o consolava, mas no fundo ela sabia que não ia ser assim tão fácil. No seu interior havia uma velha incerteza de que as coisas não estavam em seu lugar correto. Emmett não estava bem e precisava ser tratado, mas como? Nunca em sua vida tinha presenciado um problema como o dele e essa situação a corroia. Sua mente dava voltas sem saber o que fazer ou como se portar diante disso. Não entendia como o filho mais velho tinha se envolvido com essas coisas ruins. Será que ela tinha errado em sua educação? Será que ela tinha sido uma mãe ruim? Era simplesmente incompreensível! Porém, ela estava disposta a fazer tudo que fosse para o bem dele, não queria o ver sofrendo e infeliz. Nunca! Mas o tempo havia de curar essas feridas. Há se ia!

Os anos foram passando e tudo ficava pior. Emmett cada vez mais se envolvia no vício. Chegava ao palácio bêbado ou drogado. Era flagrado em festas caindo de tão embriagado ou pelado ao lado de várias mulheres. Aliais, ele fazia delas como um objeto de diversão, pois nunca um relacionamento dele durava mais do que um mês.

Agora faltava os seus compromissos de propósito e dizia aos quatro ventos o quanto ele odiava aquela vida e a partir do momento que completasse dezoito anos não seguiria mais nenhuma regra estúpida. Viveria como ele queria e seria livre.

Os jornais noticiavam cada passo da vida do príncipe rebelde e isso já estava começando a incomodá-lo. “O que tinha demais transar com uma garota? Eles por acaso não faziam sexo? E beber? Eu não sou um viciado! Todo mundo já tinha bebido alguma vez na vida. Ele só bebia para se divertir. Tinha esse direito não tinha?”, ele pensava.

 Carlisle e Esme já tinham tentado de tudo para fazer com que o filho entrasse nos eixos nesses últimos dois anos. Tinham conversado com ele, o levaram para um centro de reabilitação para que ele presenciasse o que a droga fazia com as pessoas, tinham cortado a sua mesada, mas nada, absolutamente nada tinha funcionado.

— Eu tinha tanta raiva guardada na época. – Emmett relembrou. – Eu odiava tudo! A droga e os meus amigos era as únicas coisas que me faziam esquecer. Lembro do dia que resolvi que melhor era sair com os seus amigos e não se importar com o que os meus pais estavam fazendo.

“Você devia ser como o seu irmão!” lembrou o que o pai disse certa vez e a raiva bateu com mais força ao lembrar disso. Edward era um bom garoto, mas era certinho demais e ele jamais quisera ser como ele. Não queria ser chato! Pelo contrário! Mas por que o pai dele não conseguia entender isso? Ninguém conseguia entender isso. Ele odiava quando Carlisle sempre conversava com Edward sobre tudo. O elogiava quando ele se saia bem na escola, ou quando tocava bem a droga do seu piano. Mas para o seu primogênito era só castigo e reclamações, se não era isso, era trabalho e mais trabalho que ele sempre detestou. Parecia que nada que ele fizesse era bom o suficiente para o seu pai.

Os flashs o cegavam enquanto ele tentava descer do carro. Os paparazzis estavam afoitos e ele sabia que eles só queriam um passo errado dele para que ganhassem mais e mais dinheiro com isso. Irritado, ele pegou a câmera de um paparazzi e a quebrou ao atirá-la no chão. Ele ouvia gritos e xingamentos as suas costas. Mas não se importava, nada mais importava nessa noite.

Ele adentrou a boate e logo foi ao encontro de seu amigo, Bertie, que já estava próximo ao bar. Ao vê-lo, ofereceu um cigarro e Emmett prontamente aceitou. 

— Você não está com uma cara muito boa. O que aconteceu dessa vez?

— A cada dia, eu espero mais e mais para me livrar deste trabalho.

— Mas você não pode fazer isso.

— Eu sei que não. Mas pelo menos eu não deixaria de tentar.

— E como pensa em fazer isso?

— Sei lá... Não tenho muito saco para pensar nisso. Só sei de uma coisa, e isso pode soar rebelde, mas cada vez mais eu penso que o tempo dos reis e das rainhas já passou.

— Não é isso que a maioria das pessoas aqui pensam.

— Mas é o que eu penso! Nenhuma dessas pessoas vivem o que eu vivo. Eu estou cansado de ter que ir a todos esses eventos chatos, de ser aplaudido, de ouvir gritos e ser perseguido por esses estúpidos urubus o tempo todo! Como eu odeio ser parte da realeza!

E começou a beber sem ver o tempo passar. A música soava alta e cada vez mais distante aos seus ouvidos. Mas em seu interior ele sentia alegria e só queria viver aquele momento como se ele fosse acabar naquele instante. Pegou uma garota pela cintura e começou a dançar com ela, era tão bom saber que todas estavam aos seus pés. Pegou outro cigarro e começou a fumar novamente até que o prazer daquela droga o consumisse por inteiro. Mais alguns drinques depois, ele tinha apagado e apenas a escuridão estava presente em seu ser.

— Foi o dia pior da minha vida quando eu soube que você, filho, tinha sido internado com coma alcoólico. – afirmou Esme. – Eu chorava aos seus pés, completamente desesperada. Sem saber o que fazer e completamente me sentindo no limite!

Esme pensava em tudo que tinha tentado fazer para salvar Emmett e que tinham sido em vão. Mas ela sabia de uma coisa: não iria deixar que o seu filho morresse. Ela iria protegê-lo dele mesmo. Mas como?

De repente lembrou de como ele vivia reclamando da vida que levava. Era a monarquia que o incomodava? Então, ela se esforçaria para que ele se livrasse desse fardo pesado demais. Não importava mais com protocolos ou leis de sucessão, ela queria ver o filho feliz e protegido. No momento, ele não estava em condição para assumir nenhuma responsabilidade. Sua cura era a prioridade agora.

Ela se levantou e começou a andar pela sala de um lado para o outro. Sua cabeça formulava inúmeros planos para fazer com que o filho não precisasse mais ser o herdeiro do trono. Ela tinha que ser corajosa e muito estrategista. Sabia que não seria fácil quebrar as regras, afinal elas estavam escritas e vigentes há muitos anos. Mas não importava, ela teria que conseguir de alguma forma.

Sua mente estava num turbilhão. Girava e girava sem encontrar uma alternativa ou plano perfeito. As horas passavam no relógio e nada vinha na sua cabeça. Porém, ela tinha que ser rápida por que a vida de seu filho dependia disso. Por um momento pensou em sua sogra que agora estava desmemoriada devido ao Alzheimer, ela a odiaria se soubesse o que estava pensando agora. Sorriu com essa possibilidade. Desde que entrara para a família real, ela tentava entrar nos eixos, fazer tudo que lhe era exigido para agradar os seus sogros, mas nada os agradava. Para eles, ela sempre seria aquela pobretona do interior, sem classe ou compostura. Culpavam-na por tudo e com certeza se presenciassem esse momento diria que a culpa tinha sido dela por não produzir herdeiros fortes e com juízo o suficiente para assumir as suas responsabilidades. Mas uma vez ela deu um sorriso irônico, pensando que eles teriam que engolir mais essa.

O relógio badalou anunciando mais uma hora e a ideia surgiu na sua cabeça. Finalmente! Era um plano perfeito e bastante simples. Tinha certeza que no final daria tudo certo e veria a paz em sua família novamente. Mas para que isso acontecesse, ela teria que conversar com as pessoas certas e ser bastante discreta.

No dia seguinte, ela procurou Catherine, a especialista em protocolos e leis reais, e o advogado dela e de Carlisle para que tivessem uma conversa em sigilo. Tanto o advogado quanto a funcionária do palácio estavam surpresos com o pedido de Esme. A sua Majestade sempre fora tão distante de quaisquer assuntos que se referissem a legislação monárquica, o que ela poderia querer com eles naquele momento?

A Rainha mandou eles se sentarem e cruzou as mãos em cima da mesa, olhando seriamente para os dois que estavam na sua frente.

— Vou ser bastante clara no que eu vou pedir e exijo que sejam absolutamente sigilosos sobre o que vamos conversar aqui. Entendido?

— Sim, majestade. – ambos falaram sem ainda nada entender.

— Ótimo. Não gostaria de ter que tomar medidas drásticas contra vocês caso essa conversa saia daqui. Tenho certeza que como rainha conseguirei tudo que quiser...

— O que a senhora deseja? – Catherine perguntou abismada. Nunca a tinha visto falando naquele tom.

— Quero que abram um processo de abdicação em nome de sua alteza, o príncipe Emmett.

Tanto Catherine quanto o advogado olharam um para o outro surpresos e confusos com aquele pedido.

— Mas senhora... – iniciou Catherine. – Isso não é possível.

— Eu já dei uma lida nos livros dos protocolos e nas leis monárquicas e sei que é possível sim.

— Só seria possível se o próprio príncipe Emmett se manifestasse a respeito quando completasse dezoito anos. O caso teria que passar por uma comissão antes para averiguar se isso é realmente viável para o país para depois ser aprovado. – falou o advogado.

— Não vai precisar de nada disso. Garanto-lhes que Emmett vai abdicar daqui uns dias e não será preciso nenhuma reunião de comissão nem nada.

— Claro que vai senhora. – insistiu ele. – Não podemos fazer algo do tipo só por que a senhora está querendo. Temos que consultar o rei, o parlamento, o conselho...

— Com o rei eu me entendo.

— Majestade, nunca houve nenhuma abdicação em Belgonia antes... – lembrou Catherine.

— Eu sei. Esta será a primeira e espero que a única. Quero que entendam que eu estou preocupada com a situação do país. Querem que um irresponsável e bêbado seja o seu futuro rei? – perguntou ela tentando ser o mais dura possível, mas sabia que aquelas palavras doíam mais nela do que em qualquer um.

— Não. – ambos disseram ainda impressionados com a frieza da rainha.

— Pois é isso que vai acontecer caso ele não seja posto para fora agora. É cortar o mal pela raiz e eu estou dando a oportunidade de vocês fazerem isso enquanto não se instala uma rebelião lá fora pedindo uma república. Vocês perderiam o seus empregos e ainda veriam o caos se instalarem em suas vidas por que todos irão detestar aqueles que um dia se envolveram com a monarquia.

Os dois olharam abismados para ela. Por mais que houvesse um pouco de drama nas palavras dela e um pouco de exagero, não poderiam tirar a sua razão. A abdicação do príncipe Emmett era o que todos pareciam querer no momento. Ninguém aguentava mais ver as suas rebeldias e travessuras. Não dariam nada para que em breve as pessoas começassem a reivindicar e isso seria um completo desastre.

— Não aguento mais a imprensa nos nossos pés a todo instante divulgando os malfeitos do meu filho e exigindo que façamos alguma coisa. Amo o meu país e quero o melhor para ele. Emmett não está nessa posição. Na monarquia temos que colocar a razão e a coerência acima de quaisquer sentimentos. Vocês têm a minha ordem para dar uma entrada no processo e tirar o meu filho do tabuleiro.

— Ainda assim temos que convocar o conselho. – insistiu o advogado mais uma vez, ainda atordoado com as palavras da rainha.

Esme pegou o calendário e olhou quantos dias faltavam para o aniversário de dezoito anos de Emmett.

— Vocês têm quinze dias para agir e providenciar tudo que for preciso. Não quero um não como resposta e ordeno que o papel para o meu marido e filho assinarem esteja em minhas mãos antes do aniversário dele. Agora vão!

Os dois saíram exasperados da sala onde se encontraram com a rainha ainda pensando se atenderiam ou não a ordem dela. Afinal, uma abdicação era algo muito sério e não poderia ser resolvido como se fosse uma brincadeira de criança.

Enquanto isso, Esme torcia em sua sala para que eles realmente não se acovardassem, mas sabia também que deveria dar um empurrão para que tudo acontecesse. Pegou o telefone e ligou para Nilson, o secretário de Emmett, esperou alguns segundos e disse em disparada:

— Nilson, é a rainha.

— Sim, majestade. O que deseja?

— Encha a agenda de Emmett de eventos e não dê nenhuma folga a ele. Diga-lhe que ele deve comparecer a todos, pois se não verá nunca mais nenhum centavo de nossa parte.

— Acho que ele não gostará disso...

— Não interessa! Emmett precisa crescer. Coloque os eventos como estou lhe ordenando e transforme os próximos quinze dias de sua vida um verdadeiro inferno.

— Ok... – disse Nilson um pouco inseguro.

Esme desligou o telefone sem esperar mais nenhuma resposta do secretário. Abriu a sua agenda e procurou o número de um jornalista amigo seu. Ligou anonimamente e alegrou-se por ele ter atendido a ligação. Colocou um pano próximo a boca e começou a falar:

— Olá, tudo certo? Tenho um serviço para você.

— É mesmo?

— Com certeza. Tenho duas informações quentes para lhe dar.

— E como saberei se isso é realmente verdade? Se não é um trote?

— Essa ligação está vindo do palácio de Belgravia e é uma pessoa de muita confiança que está falando com você agora.

— Então me fale o que tem.

— A primeira é que está sendo aberto um processo de abdicação do príncipe Emmett agora mesmo e que não deve passar dos próximos quinze dias para sair.

— Isso é realmente extraordinário! É mesmo verdade?

— Com toda certeza. Já pode começar a informar por ai sobre isso.

— E a segunda informação?

— Coloque os fotógrafos na rua nos próximos dias por que o príncipe irá dá um show de manchete para vocês.

— Interessante...

— Tenho que desligar agora... Espero que pegue a carta premiada.

Esme desligou o telefone e sentiu um misto de emoções. Por um lado se sentia confiante de seu plano e por o outro lado se sentia a pior das mulheres por estar fazendo isso com o próprio filho, mas sabia que isso era para o bem dele. A felicidade dele era o que importava. O resto ela assumiria, independente do que viesse pela frente.


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Notas finais do capítulo

Revelador, não? E aí esperavam por isso? Comentem tudo que estão achando! No próximo capítulo teremos mais revelações! Até breve!