Dinastia 1: O Sonho Real escrita por Isabelle Soares


Capítulo 31
Consequências do passado.


Notas iniciais do capítulo

Capitulozinho curto para vocês refletirem um pouco! ;)
Agradecimentos a juaassaid, lelinhacullen, Talita Martins, lulucatelli e Anna pelos comentários.
Espero que gostem desse capítulo, mesmo que venha tratando temas mais pesados. Enfim, boa leitura!



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Seguíamos para o palácio numa velocidade acima do limite. Edward parecia indeciso entre ir o mais rápido que podia ou se arrastar um pouco mais para não ver a cena deplorável que viria. Eu o acompanhava sem nada dizer e nem sabendo o que pensar daquela situação toda. Ao que parece Emmett havia bebido além da conta, tinha caído e tacado a cabeça numa quina. Carlisle e Esme estavam na abertura oficial do balé contemporâneo no teatro municipal e Rosalie visitava a mãe nos Estados Unidos. Então, Edward era o único que podia socorrê-lo.

Nesses últimos meses, a situação de Emmett em nada se resolvera. Ele continuava se embebedando esporadicamente, o que vinha complicando ainda mais o seu relacionamento com a família e com Rosalie. Edward tinha me contado uma vez que ela já estava a ponto de pedir o divórcio, mas Esme era quem vinha segurando as pontas dos dois e a impedindo de ela o deixá-lo. Eu imaginava o quanto isso deveria ser devastador para um relacionamento.

Porém, aquelas minhas velhas dúvidas que eu tinha a respeito dos mistérios da família real não tinham saído da minha cabeça. É claro que eu tinha conversado com um membro ou outro da família sobre isso e cada um parecia ter uma versão diferente do que levara a abdicação de Emmett, acontecimento esse que eu ainda considerava a fonte inicial para o desencadear dos problemas dos dois irmãos.

— Eu me lembro daqueles tempos com muito receio, você sabe... – me contou Edward certo dia. – Emmett havia se metido com más companhias que o incentivava a achar que ele poderia fazer tudo que lhe dava na cabeça.

— Então, acha que o seu irmão foi mal influenciado?

— Também... Emmett era bastante mimado e trazia consigo aquela rebeldia da adolescência. Acho que quando ele bebia, usava drogas, se divertia o fazia esquecer de todos os compromissos com a monarquia que ele detestava.

— Mas uma abdicação não seria algo impensável e precipitado demais?

— Sim, deveria ser. Mas Emmett era muito jovem e tempestuoso! Não pensava nas coisas como deveria pensar.

— E o pedido da abdicação partiu dele?

— Sim, em uma conversa que ele teve com o meu pai, poucos dias antes de seu aniversário. Eu não sei o que realmente eles conversaram naquela noite, mas aquilo abalou a todos nós.

— Eu imagino... E seu pai não tentou impedi-lo de abdicar?

— Mas é claro que sim. Depois que ele viu que Emmett estava falando a verdade, o que mais ele fez foi tentar convencê-lo do contrário, mas foi inútil. Além do que, o meu irmão também estava com uma imagem muito ruim diante do povo e seria melhor, politicamente, falando que ele se afastasse. Então, o meu pai procurou fazer um acordo com ele.

— Que acordo?

— Que Emmett continuaria com o seu título de príncipe, receberia uma porcentagem do fundo real, mas em troca iria para a reabilitação e procuraria fazer algo que fosse útil e importante para ele.

— Hum... É por isso que Emmett continua sendo chamado de príncipe.

— Sim, mas ele saiu da linha sucessória, ou seja, nem que ele queira poderá reaver o trono novamente e nem seus futuros filhos também não vão ter direito a nenhum título real.

— Será que Emmett não se arrependeu da decisão que tomou?

— Ele de vez em quando se questiona como teria sido... Mas não acho que ele tenha se arrependido de nada.

— E Rosalie? Não desejaria se tornar uma rainha?

— Não, isso seria impossível! Só se ela se cassasse comigo, mas não é caso.

— Tenho a impressão que ela cobra de Emmett o que ele deveria ter sido se não tivesse abdicado e isso o machuca de alguma forma.

— Não... Rosalie se casou com ele sabendo das condições. Acredite, Rosie gosta de Emmett de verdade e de todos os defeitos que ela possa ter a ambição não é um deles.

— E o que acha que o aflige tanto a ponto dele se embebedar a todo instante?

— Vício. Emmett deixou os prazeres da adolescência para traz, mas nunca conseguiu se livrar das consequências deles.

Paramos em uma das vagas de carro da garagem do palácio. Ao invés de sair do veiculo imediatamente para socorrer o irmão, Edward parou e encostou o rosto no volante, como se quisesse se preparar para o que viria. Acariciei os seus ombros para acalmá-lo.

— Vamos Edward! Emmett é seu irmão e não pode abandoná-lo.

Ele assentiu e descemos do carro, entrando no palácio pela entrada de acesso a garagem. Subimos as escadas e Edward não soltava a minha mão nem por um instante. Não pude notar as belezas dos cômodos onde passávamos. Eu não tinha o conhecimento das partes superiores do palácio ainda. No primeiro andar havia um corredor enorme com muitas portas que eu imaginava que fossem quartos. Mais ao fundo tinha outra escada que dava acesso ao segundo andar. Subimos e ao invés de um corredor encontramos uma porta que Edward prontamente a abriu. Pensei que seria um quarto, mas era um apartamento. Fique surpresa, é claro, nunca tinha visto uma engenharia assim. Um apartamento todo construído dentro do palácio. Impressionante!

Porém, a cena que vimos em seguida não era nada impressionante e nem bonita de se ver. Emmett estava sentando no chão tentando se levantar mais sem sucesso. Jorrava sangue de sua cabeça. Ao lado dele havia vários cacos de vido no chão. Edward foi até ele com cuidado para não se machucar e eu o acompanhei.

— Emmett, o que você fez consigo mesmo?

Emmett pela primeira vez notou a sua presença e sorriu.

— Edward... Eddie... Você aqui.

— Você me chamou, não lembra?

— Eu? Buft! – Emmett deu uma gargalhada sonora. – Bella oi! Você é tão bonita, apesar de ser tão certinha. – riu mais uma vez. – Mas eu gosto de você, sabia? Você é perfeita para o sem graça do meu irmão. Ele também é todo certinho!

— Não gosto de vê-lo assim, meu irmão. Você nem sabe mais o que está fazendo.

— Ah deixa de ser chato! Eu só estava me divertindo!

— Que bela diversão!

Edward tocou o rosto do irmão e olhou a sua ferida. Emmett apenas ria ou olhava para outro lado com um olhar desfocado.

— Parece que não é um corte profundo. Pelo menos isso. Bella, por favor, me ajude a levá-lo ao banheiro para que eu possa dar um banho nele. Não posso deixá-lo nesse estado.

Nos levantamos e colocamos os braços de Emmett em cada lado do nosso ombro e o erguemos com dificuldade. Ele era bastante pesado e também já estava sem o total controle sobre o seu corpo e que tornava o nosso trabalho ainda mais difícil. Mas seguimos o levando apartamento a dentro até a suíte.

— O que foi aconteceu Emmett? – perguntou Edward.

— Eu não sei... Eu estava bebendo e aí... Acho que cai, sei lá.

— Pelo seu estado não acredito que tenha sido só bebida.

— Não acredita em mim? Problema seu! Para sua informação, eu não cheiro mais e nem fumo faz tempo! Eu tomei só um copinho de Uísque...

— Por que você continua fazendo isso, ein? – perguntou Edward irritado. – Não vê que você vai acabar perdendo todo mundo que te ama?

— Larga de ser chato! Não percebe que isso sempre aconteceu? Todo mundo sempre quis me deixar de fora. Me colocar de lado como se eu fosse um cachorro sardento.

— Não fale uma besteira dessa!

Edward pegou o irmão e o colocou dentro do box e ligou o chuveiro. Fiquei de fora do banheiro só vendo Emmett gritar ao ter contato com a água gelada. Nessa hora eu tive vontade de chorar ao ver aquela cena. Era triste e lamentável ver a degradação de uma pessoa daquela forma. E aí eu vi o quanto às drogas, o álcool enganava as pessoas. Dava uma promessa de anestesia, diversão e prazer, mas tirava toda uma vida. Destruía tudo em volta e arrasava uma pessoa como um espaço destruído pela queda de uma bomba. É sofrível ver a dependência de uma pessoa que poderia ter um futuro e presente brilhante, mas que o vicio não permitia.

Sai do quarto e peguei um saco. Com cuidado, comecei a catar todos os cacos de vidro que estavam no chão. Emmett só poderia ter feito muito mais do que apenas bater a cabeça na quina de um móvel. Os gritos dele soavam em todo o apartamento. Tentei não pensar em nada disso e continuei limpando a sala de estar. Quando Edward chegou abraçado ao irmão, encontraram tudo limpo e seguro de qualquer acidente com um caco de vidro no chão. Emmett parecia estar mais equilibrado agora. Ele e Edward se sentaram no sofá e eu me afastei para tentar não atrapalhar o momento deles. Edward tocou o rosto de Emmett e começou a tratar a ferida ainda aberta. Ele derramava algumas lágrimas solitárias e parecia bastante envergonhado.

— A que ponto você chegou, irmão.

Emmett sorriu tristemente.

— Nós trocamos de lugar. Se lembra, Eddie, que eu socava todos os garotos idiotas que tentavam te bater na escola?

— Lembro. Eu te achava um máximo! Na verdade, eu sempre via você como o carro chefe e eu o reboque. – riu. – Sabe, que até hoje eu acho que ainda busco ser uma pessoa como você, como se nunca eu tivesse conseguido conquistar a minha identidade própria.

— E hoje você me acha um fracassado.

— Não é isso. No momento você me preocupa, apenas. Nunca deixei de te admirar!

— Eu sou um idiota mesmo! Um burro!

Edward pegou na mão do irmão e apertou.

— Por que você continua nessa, grandão?

— Eu não sei... Eu não consigo sair mais dessa arapuca que eu me envolvi. No começo eu bebia por que todos estavam lá bebendo. Era divertido e dava prazer. Mas depois, eu não conseguia mais encontrar aquela sensação boa que eu sentia antes, sabe? Mas pelo menos, eu conseguia esquecer os problemas daqui.

— Eu imagino. Mas eu vou te fazer uma pergunta: Essa anestesia do álcool vai resolver os seus conflitos?

— Não... Nunca resolveu.

— Então grandão! Por que não tenta sair dessa?

— Por que eu não consigo! Não acha que não já tentei, mas não é assim tão fácil! Edward, eu bebo por que eu preciso da bebida. Eu sei o quanto isso me prejudica, quanto faz vocês sofrerem, mas eu não consigo! Eu acho que se eu não tomar uma dose sou capaz de morrer. O meu corpo está dependente dessa bebida.

— Eu vou te contar uma coisa que eu nunca te disse.

Emmett o olhou com curiosidade. Eu sabia o que Edward iria contar a ele e estava satisfeita por finalmente vê-lo se expressar mais abertamente, era um sinal que as feridas já estavam sendo curadas.

— Eu tive raiva de você, Emmett. Eu queria socá-lo por ir embora e me deixar com todo esse fardo nas costas. Eu não compreendia o porquê de você se rebelar tanto por uma coisa que devia ser o seu dever.

— Eu lamento muito, irmão. Mas não era algo que eu estava preparado para enfrentar. Eu sempre detestei ser o próximo a colocar a coroa na cabeça. Pode não parecer, mas eu achava que estava fazendo a coisa certa deixando o cargo para você por que sempre eu acreditei em seu potencial. Eu queria ser como você. Ser mais responsável e capaz de decidir sempre pelo que é certo. Papai te admirava tanto e eu achava injusto ocupar um lugar que era para ser seu.

Edward olhou para o irmão com surpresa e eu também. No fundo, eu esperava uma conspiração entre ele e Rosie, mesmo que isso não tivesse fundamento nenhum. Edward ficou Sem jeito com as palavras de Emmett e tocou o ombro dele.

— Você pensa mesmo isso?

— Por que eu mentiria?

— Você não tem ideia do quanto eu sofri quando todo o peso da responsabilidade de ser o príncipe herdeiro caiu nas minhas costas. Eu tinha sonhos, Emmett. Eu tinha uma vida boa, finalmente, e do nada tudo isso se acabou, tem ideia disso? Ficava pensando o quanto eu ia arrasar Belgonia se eu assumisse o seu lugar. Eu decepcionaria o papai e todo o nosso povo por que eu não me sentia pronto para essa tarefa. Eu não tinha a sua simpatia, o seu jogo de cintura, a sua lábia e nem mesmo a sua segurança. Para mim você era o cara!

Emmett riu e Edward o acompanhou. Era incrível como esses dois tinham ideias completamente atravessadas um do outro, mas era perceptível a cumplicidade e admiração que sentiam pelo o outro. Era muito bonito de se ver!

— Eu não quis lhe causar dor alguma, Eddie. Acho que formos mesmo muito egoístas por tramar tudo isso sem pensar em você. Me sinto um imbecil por isso e absolutamente culpado por ser tão fraco...

— Você não é fraco! Há pessoas que te admiram e amam! Você ainda pode recuperar o tempo perdido. Não o trono, é claro, isso seria impossível, mas ganhar novamente a confiança da nossa família e o seu casamento com Rosie.

Emmett abaixou a cabeça, provavelmente não acreditando muito nas palavras de Edward. Ele parecia não ter mais esperança nenhuma, apesar de querer mudar. Mas para isso deveria haver muita força de vontade. Eu e Edward sabíamos muito bem disso.

— Eu queria poder ter essa sua confiança, Eddie, mas eu realmente já tentei sair dessa. Mas toda vez que eu tenho um problema, que eu discuto com Rosie, quando me lembro de algum ruim dá vontade de beber e mesmo quando isso não acontece, quando tento ficar sem por álcool na boca, eu sinto umas tremedeiras terríveis, começo a suar a me desesperar e então eu não consigo resistir.

— Emmett, eu sei que você já chegou num estágio que o vício já se alastrou em você, mas nem tudo está perdido. Eu sofri anos com a minha depressão. Pensando que eu era um fracassado, querendo me destruir me entupindo de remédios, mas eu estou conseguindo vencer. – Edward olhou para mim com um olhar agradecido e doce e voltou a olhar para Emmett. – Desde de quando Bella me ajudou a encontrar o caminho para que eu pudesse sair dos problemas que eu mesmo criava e quando passei a visitar um psicólogo e a desabafar. Tudo vem se modificando em mim, eu venho me tornando um novo homem.

— E acha que funcionaria comigo?

— Claro! Se quiser eu marco uma sessão para você. Ele é muito discreto e um ótimo profissional.

Emmett olhou para o lado meio desacreditado.

— Basta você querer, irmão. Confie em você e pense em tudo que você gostaria que se modificasse para ter um futuro melhor que irá sair dessa.

— Eu vou pensar nisso, ok?

— Eu vou marcar uma sessão para você.

E assim foi. Dias depois, Edward conversou com o seu psicólogo que aceitou tratar Emmett com a mesma discrição e profissionalismo, mesmo ele não sendo especializado em pessoas dependentes químicas. Emmett chegou a ir à primeira sessão ao lado do irmão, mas não teve coragem de entrar e continuou bebendo. Porém, Edward não perdia as esperanças e nem eu. Sabíamos que o caminho da reabilitação não era fácil, levaria tempo, o primeiro passo seria acreditar e nunca perder as esperanças. Emmett estava doente de uma enfermidade bastante séria. Ele estava preso num labirinto e não sabia encontrar a saída. Por que o alcoolismo é isso, uma doença que tinha ida e não volta. Que deixa a pessoa completamente dependente e desequilibrada, que vai destruindo tudo em volta até que tudo se torne um grande deserto completamente seco de valores, amizades, amores, trabalho, dinheiro. Porém, nunca poderíamos desistir e abandonar aqueles que amamos. Mesmo que eles próprios tenham se esquecido deles mesmos.


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Notas finais do capítulo

Só para esclarecer: o mistério central da trama não foi resolvido. Mas será ainda nessa fase. Ao mesmo tempo que Bella vai se adaptando a sua nova vida, o mistério vai sendo revelado e tudo irá se resolver. Gostaria que comentassem bastante o que vocês acham desse mistério todo e se gostaram do capítulo, é claro! Beijos! Até segunda!