Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 72
Soberano na esbórnia


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Arthur Narrando

Domingo. Ontem eu havia extrapolado bebendo no bar do hotel até tarde e acabei indo parar em uma suíte de uma hóspede que eu nem me lembro o nome. Mas hoje era outro dia. E depois de amanhã já era aniversário do Rafael. Decidi presenteá-lo logo, afinal Kevin estava me enchendo o saco com isso.

— Onde você foi nessa manhã? – ele perguntou assim que entrei na cobertura. – Temos que ir almoçar na casa da sua vó, lembra?

— Fui na casa do Kevin buscar uma coisa minha que foi entregue lá.

— Andando? Seu carro estava na garagem.

— Sim, andando Rafael. – fiquei olhando pra ele o irritando.

— Não é longe, mas não é tão pertinho igual a casa da sua vó. Por que você foi andando?

— Precisava pensar e evaporar o álcool do meu organismo. – ele revirou os olhos.

— Você tá cada dia mais sem controle. Dormiu aqui?

— Não interessa. Bom, tenho algo pra te entregar. – cheguei perto dele e estendi a minha chave.

— Pra que isso? Você não vai ir almoçar?

— Vou. Isso é seu, estou te dando.

— Dando? Seu carro? – fiquei esperando a ficha dele cair e ele fazer as conclusões que eu sei que ele faria.

— Explica isso agora. – se levantou ficando sério.

— Resolvi trocar de carro, o seu aniversário tá chegando e eu estou te dando o meu.

— O seu carro é novo. E quando se faz uma troca, você dá o seu pra trocar e abater o valor. Isso não existe.

— No meu mundo existe. Talvez eu reconheça que se não fosse você eu estaria perdido agora. – ele ficou ainda mais desconfiado. Eu não era de fazer declarações assim.

— Você não comprou um carro novo. Ganhou né? – dei uma risada impressionado com o tempo recorde que ele matou a charada.

— A convivência com ele tá te deixando inteligente. – sorri. – Não o culpe. E finja que não entendeu. Ele sabe que você não aceitaria.

— Eu não vou ter um carro desses Arthur. Não tenho dinheiro pra manter.

— O seguro está pago por alguns anos e os documentos também.

— Ele é um idiota. – resmungou com certa admiração.

— Isso fui eu, esse foi o meu presente.

— Vocês são dois idiotas.

— Isso é um obrigado? – ele balançou a cabeça negativamente e riu. Depois pegou seu celular que vibrava.

— Eita. – acabou soltando espontaneamente.

— O que foi? – conhecia Rafael muito bem e sabia que era algo relacionado a Alice.

— O tal Orlando foi pra capital. – contou e demonstrou surpresa. 

— Não o julgo. Também iria se tivesse chance com ela.

— Mas o problema é que ele e Kevin se desentenderam.

— Kevin tem que parar de tomar as minhas dores. Deixa Alice tentar ficar com outra pessoa. É direito dela.

— Ele entende isso. – fiquei olhando pra ele. Havia mais alguma coisa ali.

— Eles estão juntos não estão? – ele ficou quieto sem dizer nada. – Me fala. Estão juntos... Mesmo?

— Não, eles não namoram! Tá louco?

— Mas você demonstrou que isso tá ficando sério Rafael.

— Não precisa ser sério... – entendi e não queria acreditar no que ele quis dizer.

— NÃO. – joguei a mesa de centro da sala longe. Comecei a quebrar tudo na cobertura. Rafael apenas ficava quieto com os olhos assustados. Ele sabia que se encostasse em mim naquele momento podia ser gravemente ferido. Eu estava descontrolado.

Deixei de ir almoçar com meus familiares e amigos e preferi estrear meu carro novo andando por aí. Acabei parando em Alela. Mas eu não tinha paz. Minha mãe me ligava a cada segundo. Agora era Larissa.

— Vai ser mesmo isso?— ela perguntou quando atendi.

— Parece que Alice meio que dormiu com um cara e não fui eu, isso é um novo panorama que deixam as coisas diferentes. Então vai.

— Primeiro que você nem tinha que estar sabendo disso e segundo que eu não soube de nada Arthur, talvez...

— Talvez nada Larissa. Ele foi pra lá. Kevin não me atendeu o dia inteiro. Ele não sabe como conversar comigo depois disso.

— Tá, mas você tem que ser prioridade agora. Esquece a Alice! E eu também estou com problemas, preciso de você. E sóbrio.

— O que foi? – pela sua voz ela estava realmente com alguma dificuldade.

— Alexandre tá começando a demonstrar ciúme de nós dois. Daqui a pouco ele tá surtando.

— Eu sou perfeito, o que esperava? – rimos juntos.

— Lembrou totalmente o Kevin agora. – sabia que ela sorria.— Eu sou a namorada dele, eu espero que ele confie em mim. Invés disso ele tá zangado. E não ajuda eu ficar preocupada com você, só piora as coisas.

— Não se preocupe.

— Eu não consigo. – se passaram alguns segundos constrangedores.— Poxa, se controla Arthur, eu não posso dar conta de tudo.

— Escolhe um dos dois pra dar conta.

— O que quer dizer?

— Estou bêbado Larissa, tchau.

Não conhecia aquele lugar em que eu estava. Nunca havia estado ali. Mas até que eu estava gostando. Era difícil encontrar algum bar descente aberto em um domingo a tarde.

— Boa tarde sol da tarde. – fechei os olhos ao ouvir aquela voz. Virei o rosto e o encarei. – Antes que me pergunte o que estou fazendo aqui... – pediu uma dose ao barman. – Sua mãe está me enchendo desde cedo. Eu sou seu pai né?

— Eu queria me esquecer disso. – voltei a encarar meu copo. – Não vai voltar pra sua cidade? – dei um sorriso provocativo. – É patético fugir assim.

— É só enquanto passa o bombardeio de especulações. – finalizou com um sorriso reto. – E daí eu vou agir diferente. Mais rígido talvez... Não vou aceitar as gracinhas suas e do seu irmão.

— Você tá esse tempo todo planejando como se vingar dele né? – o olhei de perto.

— Tenho algumas boas ideias. – deu uma risadinha. – Uma já está em prática. E embora eu ache que não vá dar certo, mesmo assim ela irá sucumbir seu irmãozinho e aquele loiro.

— Eles vão superar qualquer coisa.

— O que faz você pensar que todo o meu esforço não vai resultar em nada?

— Você conhece a palavra amor? E verdadeiro? – fiquei olhando pra ele. – Não né?

— Se fosse assim você e aquela garota de personalidade duvidosa estariam juntos. – sorriu. – Ah é, ela não te ama. – abriu ainda mais o sorriso. Peguei o copo e tomei mais um gole.

— Sabe o que eu acho? Eu acho que é impossível separar os dois. E acho que no momento que você se der conta disso vai enlouquecer.

— Chega de papo. – se levantou. – Recomendo que ligue para sua mãe. Ela é uma insistente e não vai desistir até te encontrar.

Liguei pra ela e disse que estava tudo bem e que já iria embora. Bebi um refrigerante e esperei um tempo para poder ir... E nesse tempo encontrei quem eu menos esperava.

— Hoje está sendo o dia dos encontros estranhos. – falei olhando Danilo.

— Kevin me ligou. – se sentou. – Pediu que eu te encontrasse.

— Por que ele não fez isso com o namorado dele?

— Eles brigaram.

— Deve ser porque Rafael não soube disfarçar e eu fiquei sabendo... – me calei. – Não importa. – o olhei nos olhos. – E aí, fazendo tudo o que Kevin pede... Esse é você!

— Não sou gay Arthur. E não gosto dele. Não desse jeito.

— Mas você bem que tá gostando de deixa-lo confuso né? – ele riu.

— É divertido. – sorriu. – O que acontece é que Kevin se tornou uma das pessoas mais importantes da minha vida. Ele cuidou de mim quando eu só sabia ser um idiota com ele por causa da minha irmã.

— Não tem mesmo nenhuma chance de você estar apaixonado? – ele desviou o olhar parecendo estar impaciente. – É porque a forma como você fala dele... Não é normal Danilo.

— A minha irmã é uma surtada que cismou que faria ele ficar com ela. Ele tem todos os motivos para me odiar. E não fez isso. Tem noção? Eu o admiro Arthur. Além de ser grandioso, ele é perspicaz, inteligente, divertido, sarcástico... Ele lembra a mim quando não tenho Diana por perto.

— Ahhh... – pensei um pouco no que ele disse. – Acho que entendi. É uma coisa de identificação mesmo.

— Sim. – me olhou. – Eu sou meio desajustado mentalmente, o que é de se esperar se tratando da família que eu venho, mas não tenho nenhuma fixação nele. Fica tranquilo.

— Bom, então vamos nessa. – me levantei. – Acho que agora podemos ser amigos Dan. – passei o braço em volta do ombro dele. – Preciso mesmo de alguém solteiro pra sair.

— Você é meu ex cunhado. – afirmou meio sem jeito.

— O que é que tem? Se o irmão de Alice estivesse aqui com certeza nós dois estaríamos aprontando. – bati em suas costas. – Vem. – apontei para o carro. – Que tal um puteiro já que você gosta de mulher? – ele coçou a cabeça.

— São cinco horas da tarde.

— E daí? Abre as dezesseis. Anda logo. – sorri e entrei, sabendo que eu iria levar o pequeno Danilo para o mau caminho.

Rafael Narrando

Ainda era domingo. Esse dia parecia estar durando uma eternidade. Arthur deixou todo mundo preocupado e cismou de não voltar pra casa. Estava com todos os nossos amigos reunidos na casa da vó Isa.

— O que vamos fazer quanto ao Arthur Ryan? – Larissa perguntou se levantando da espreguiçadeira. Tampei os olhos já que eu tomava sol.

— Não tem o que ser feito. Ele tem que superar. E isso leva tempo.

— Até lá ele pode morrer de cirrose ou pegar alguma doença, engravidar alguém, vai saber.

— Arthur não é otário. – avisei insatisfeito com sua suposição. – E você não devia estar preocupada com isso. – percebi seu namorado de cara fechada.

— Ele é meu primo! Quer que eu me preocupo com o que? Você sofrendo com seu namorado longe?

— Podem parar com as implicâncias. – Ryan mandou extremamente autoritário. Ele entrou mesmo com tudo no papel de comandante. – Vou tentar ter uma conversar com Arthur amanhã.

— Por que não hoje? – Aline questionou parecendo tão preocupada quanto Larissa.

— Ele com certeza não estará sóbrio o bastante para uma conversa séria.

— Enquanto isso podemos retornar ao fato de que Caleb tá imune e com uma vingança armada contra Kevin? – Alê questionou acho que apenas querendo tirar o foco do Arthur.

— Ele já se vingou na verdade. – falei atraindo os olhares de todos. – A mãe do Kevin me procurou ontem, ela me pediu para que eu terminasse com ele. Fez uma cena e tanto.

— E você? – Sophia perguntou antes de qualquer um.

— Kevin faz absolutamente tudo pelo nosso namoro, acha mesmo que eu iria ver a mãe dele chorando e aceitar terminar com ele? – ela ficou me olhando. – Não. E ele nem ficou sabendo disso. Não quero preocupa-lo. Mas ela disse que tá doente e vai usar isso para convencê-lo.

— Doente o caralho, com certeza é coisa do Caleb. Capaz até dele arrumar um laudo falsificado.

— Agora me intriga ela ter ido para o lado dele assim tão de repente. Ela aceitava vocês dois.

— Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia. Vai entender.

— Achei lindo a forma como você defende seu relacionamento. – Otávia comentou e sorriu.

— Não sou mais um imbecil. Posso até ter sido no passado, mas hoje eu sei o que importa. Ele é tudo pra mim. Eu suportei o pai dele me oferecendo dinheiro, ele com uma garota por causa do pai dele... Suporto a insegurança de achar que ele ainda pode sentir algo por Murilo... – dei de ombros. – Eu aguento qualquer coisa para estar ao lado dele.

— Por isso é tão ciumento e inseguro. Tem medo de perdê-lo.

— Nossa! Que grande descoberta. – um provocou o outro e uma discussão iria começar novamente se não fosse Ryan.

Mais tarde cheguei na cobertura e Arthur estava dando uma festa. Demorei um tempo para assimilar tudo. O som era ensurdecedor. Vi algumas pessoas, entre eles mulheres que não faziam nem um pouco o tipo dele.

— Oi. – atendi a chamada de vídeo de Kevin.

“Onde você está?”— ficou sério me fazendo rir.

— Ah, é bom ter ciúme né? – ajeitei meu fone. – Na cobertura. Seu irmão virou um bicho solto totalmente sem lei. Acabei de chegar e mesmo mal informado já sei que esse lugar... – respirei fundo.

“Falei para o Danilo encontra-lo e fazer a cabeça dele para ir embora, não cair na zona com ele.”

— Por que mandou ele Kevin? – fiquei nervoso.

“Você estava com o pessoal, se divertindo na piscina. Não quis te incomodar.”

— Ah tá, não foi por ter ficado com raiva e a gente discutido não. – discordei ironicamente.

“Eu só acho que você não devia ter sido tão transparente com Arthur. Ele tá vulnerável e sofrendo muito. Agora não é hora dele saber nada sobre Alice e Orlando.”

— Tá, eu admito que vacilei. – desviei o olhar.

“Que música é essa? Sai desse lugar!”

— Eu estou no meu quarto. Passei despercebido por eles. Nem tem muita gente. São mais mulheres. – revirei os olhos. – Eu falei que ele estava perdendo a linha.

“Semana que vem vou conversar com ele pessoalmente.”— sorri lembrando que eu iria vê-lo.

— Estou contando as horas para que isso aconteça.

“Também estou com muita saudade.”

— Kevin... – não aguentei por muito tempo não falar daquilo. – Eu sei que a sua mãe é tudo pra você. E sei que você se preocupa com ela. Se por acaso ela te pedisse algo, mesmo não querendo você faria? – ele ficou pensando em minha pergunta.

“Ela não te ofereceu dinheiro também né?”— discordei gestualmente. – “Não. Eu não faria. Mas... Você disse sobre eu me preocupar com ela. O que tá acontecendo?”

— Odeio o fato de você ser extremamente detalhista. – suspirei. – É que... Eu não sei Kevin. Ela vai te dizer. – consegui distrai-lo daquilo e quando desliguei a chamada fui até a sala e vi que estavam ligando pra cá.

— Mesmo a gente estando no último andar, o som está tão alto que tá passando pelas janelas e incomodando os outros andares. – avisei a Arthur.

— Foda-se. – respondeu e sorriu. – Eu sou dono disso aqui e uso como eu quiser.

— Melhor você recobrar a consciência rápido.

— Que gato! – uma das mulheres passou a mão em mim e segurou a barra da minha bermuda. Fiquei olhando pra ela me encarando como um raio laser. Depois abaixei o rosto e olhei as mãos dela.

— Tira. – mandei com grosseria. E eu sabia que ela não iria obedecer. – Tira a mão de mim. – olhei para Arthur que ria. – Eu não vou encostar nela. Por favor, Arthur.

— Ele é meu cunhado. – ele segurou o ombro dela. – Vem. – a puxou e praticamente a jogou no colo do Danilo que estava beijando outra.

— Um tempo atrás esse seria um cenário perfeito pra mim, eu estaria no paraíso. Mas agora não. E não é disso que você precisa. Não é burro, sabe disso.

— O que eu preciso Rafael? – cruzou os braços ficando com o copo entre os dentes. – Sentar e chorar pela Alice?

— Reflete sobre o que tá fazendo. Eu sei que essa dor tá te matando, eu te entendo Arthur. Passei por isso enquanto amava Alícia. Mas não é assim que vai resolver. Agora senta e pensa sobre seus erros. O que você fez com ela que pode ter ajudado a chegar a um fim. – não era hora pra conversa séria, mas por incrível que pareça, ele prestava atenção em mim.

— Sete dias sem transar e você já tá chato pra caralho. – me enganei grandemente. Ele iria sair e eu o parei.

— Está indisposto mesmo a encarar a realidade né? – nos olhamos de perto.

— Perdi minha esperança Rafael. Minha força foi toda embora. Preciso dessa música alta porque o silêncio me sufoca. Sei que eu joguei por água abaixo planos e um futuro com alguém que eu ainda amo e pensar nisso me faz mal, não é bom pra mim. O vazio que eu estou sentido é monstruoso. – ele não havia dito nada ainda sobre o fim da relação e decidiu desabafar tudo de uma vez. – Parece que essa dor nunca vai ter um fim. – continuei olhando em seus olhos. – E eu sei que não posso errar tanto. Mas eu preciso disso. Tenho que atravessar esse silêncio para poder me libertar, sabe?! Toda lágrima que já escorreu e ainda escorre pode parecer ser um alivio, mas não é. É só mais um peso. E se eu continuar carregando esse peso sem fazer nada isso vai me dominar.

— Entendo Arthur. – o puxei para o seu quarto e fechei a porta. – Dá pra abaixar esse som só um pouquinho? – ele fez o que eu pedi e se sentou na cama.

— Elas estão me esperando.

— Eu sei. Vai ser rápido. – me sentei ao seu lado. – Tudo o que eu passei até hoje com o seu irmão me ensinou a caminhar, entre erros e tropeços eu aprendi a fazer o certo... Mas tudo tem seu tempo. E eu estou te dizendo isso porque é um exemplo de como as coisas acontecem. Eu me transformei. Me regenerei. Não tente atropelar os processos Arthur. Existe uma fé que te conduz, é ela que vai te libertar.

— Não me parece o discurso de quem chorava o dia todo sem o Kevin.

— Mas eu não fiz isso. – apontei pra fora.

— Por que sabia que ele te amava e era tudo uma mentira.

— Ela te ama – me calei. Eu não sabia se aquilo era mesmo verdade. – Bom... Ela um dia te amou. E muito. Sinta de coração a gratidão que foi tê-la ao seu lado. Sinta essa vibração. Essa emoção. Ninguém pode te ajudar mais que você mesmo, tudo tá em sua mente, domine essa dor tendo o foco certo. – ele ficou me olhando. – Sim. Eu aprendi isso com ele. – sorri.

— Eu me sinto tão perdido. E tão solitário. Não dá pra ser maduro e sábio agora Fael.

— Eu estou com você o tempo todo praticamente. Você tem suas primas, seus amigos.

— Mesmo cercados de amigos eu me sinto tão sozinho. Só eu sei o que eu passo.

— Ei gato. Vai deixar a gente apenas dançando? – uma delas abriu a porta. Bufei.

— Obrigado pela conversa. – ele agradeceu antes de se render a libertinagem. Foi bem difícil dormir aquela noite.

Kevin Narrando

Alice perdeu todo o juízo que lhe restava. Não entendia como em um dia ela dizia que achava que seriamos duplamente cunhados novamente e no outro eu encontrava Orlando em sua cama.

— QUE PORRA É ESSA? – gritei nervoso. – Primeiro você trancou a porta. Sabe muito bem que isso é proibido entre nós dois aqui nessa casa. E segundo que eu não chamei esse cara pra vim aqui e muito menos sei do que tá acontec.... – não consegui nem acabar de falar. – Alice sai daqui agora.

— Você não vai bater nele.

— O que vocês estavam fazendo? – olhei os dois.

— Dormindo. Ele chegou cedo de Torres. E estava cansado. Só isso. Não confia em mim?

— Não. Infelizmente eu não confio.

— Só por que eu quebrei uma regra?

— Ele veio sem você me dizer nada.

— Sabia que não iria gostar. Por isso não contei antes. E eu soube quando ele já estava indo, ele quis me fazer uma surpresa. – ela me encarou. – Você entende de surpresas né?

Troquei rápidas mensagens com Rafael pra ver se eu conseguia me acalmar. Não adiantou muito.

— KEVIN SOLTA ELE. – ela gritou enquanto me puxava.

— Quero ele fora daqui em cinco minutos! Nada mais que isso. – sai do quarto e fui para o segundo andar ver a paisagem e respirar fundo. Eu precisava recuperar a serenidade.

 Depois desse fatídico episódio nós dois nos falamos menos. Ela se achou no direito de ficar chateada e eu mantive a minha posição. Não aceitaria que ele viesse se deitar com Alice debaixo do mesmo teto que eu.

— Vocês dois se preveniram? – perguntei enquanto dirigia para Torres. Já havia se passado uma semana. Era sábado bem cedo.

— Não conversa comigo. – sua voz demonstrava alguma coisa que eu não pude decifrar. Talvez ainda fosse a raiva me cegando.

— O que foi? É a minha dúvida. Vocês estavam trancados no quarto.

— NÃO CONVERSA COMIGO. – gritou lentamente.

— Podia ter juntado suas coisas e decidido ficar em Torres. – ela me olhou surpresa.

— É o que você quer?

— Não vamos dar certo morando juntos Alice. Você tá acostumada a driblar regras e eu odeio isso.

— Você fica doente quando se trata do seu irmão!

— Pode ser. – respirei fundo. – Eu disse que não tomei partido, mas talvez eu esteja errado. Ah, e culpe o seu irmão. Foi ele que fez com que eu me permitisse amar Arthur tanto assim.

— Às vezes eu adoro a ideia de ele ter lhe deixado. – me olhou com soberba.

— Na maioria das vezes eu também. – a olhei e sorri. – Pois assim eu fiquei com Rafael.

Ela não discutiu mais e o resto da viagem foi em silêncio. Quando cheguei a deixei na casa dela e fui direto para a cobertura, mesmo que eu precisasse ir para casa ver Nicolas. A vontade de ver Rafael era bem maior.

— Bem vindo ao puteiro. – meu namorado falou assim que passei pela porta de vidro. – Arthur, Danilo, Yuri e Nicolas estão obstinados a transarem com o máximo de mulheres que eles conseguem. E quando eles acham que chegaram no limite, eles dobram o número. É insano.

— Nicolas? – levantei a sobrancelha.

— Ah... Você não sabe. Ele é mais puto que eu quando era solteiro.

— Isso aqui tá uma zona. – olhei as garrafas de bebidas pelo chão.

— As camareiras já reclamaram, mas como o seu pai deixou a administração na mão de quem tem medo do filho dele... Nada vai ser feito. – sorriu.

— Luna deve estar surtando né?

— Sim e não. Ela preocupa bastante. Mas sinceramente, acho que ela tá é mais aliviada dele não estar com Alice.

— Você tá de olho nele? – olhei em seus olhos procurando resquícios de mentira.

— Tá tranquilo. Só muita bebida e mulher. – suspirou. – Ele inclusive tá começando a chegar atrasado no serviço. Não sei até onde vai a consideração do Ravi.

— Eu tenho muita coisa pra te perguntar. – vi Danilo se mexer no sofá.

— Arthur tá com alguém no quarto. Os irmãozinhos Nicolas e Yuri no quarto de hóspedes, acho que tem uma mulher com eles. E o Danilo é o mais tranquilo dos quatro. Ele sempre dorme no sofá sozinho.

— Ele deve estar eufórico com tudo isso. – fiquei olhando o garoto.

— Só fica no hotel praticamente. Como ele manteve o emprego dele, quando ele larga já vem pra cá. Ah, Arthur tá faltando muito a aula. Bom... Chega de falar do seu irmão! Fui babá já, agora eu quero ser cuidado. – quase se jogou em cima de mim.

— Trouxe seu presente de aniversário. – me olhou com os olhos semicerrados.

— É mesmo Kevin?

— Eu não te dei nada ainda.

— Deu ao seu irmão. – desviei o olhar. – Não vem com historinha de que ele fez o que quis e você não planejou nada.

— Eu não te dei nada Rafael. E isso não deixa de ser verdade.

— Eu te odeio tanto Kevin. – mordeu meu ombro me fazendo gemer de dor. – E o que você vai me dar? – tirei o pacote de presente com a peça de roupa atrás de mim, mas não o entreguei porque fiquei paralisado ao ver quem saia do quarto de Arthur.

— Não é isso que tá pensando. – Larissa avisou rapidamente. – Vim conversar com ele em mais um fim de noite em que ele se sentiu vazio, triste e sem condições de ficar mais bêbado. – ela pegou uma bolsa em um canto da sala.

— E o que Alexandre acha disso? – questionei curioso.

— Ele não sabe. E não conte. Ele surtaria. – deu um sorriso ligeiro e se despediu.

— Isso é o que eu estou pensando? – fiz a pergunta olhando os olhos do meu namorado.

— Eu não sei meu bem, mas... O aniversário dele também tá chegando e acho que ele vai ganhar uma inimizade de presente. – respondeu se referindo a Alexandre. Meu celular começou a vibrar. Peguei no bolso da frente da minha calça e vi que era Murilo. Com certeza Alice tinha dado show com ele por ligação contando a nossa briga. Coloquei o telefone de volta no bolso.

— Quem está te ligando? – Rafael perguntou sabendo que eu não mentiria. Não acredito que iriamos brigar logo agora que eu estava com tanta saudade.

— Olá casal. – fui salvo pela voz rouca de Arthur saindo de seu quarto. Ele estava com a aparência péssima. Apesar de ainda mais forte que a última vez que o vi, o rosto de cansaço demonstrava as noitadas que ele virava. – Hoje vou levar o Danilo para estar entre a gente no fim de semana Kevin, algum problema? – fiquei olhando sem entender a pergunta. – É que o elo entre vocês dois é mais forte, pensei que pudesse ficar com ciúme de ser eu a chegar com ele perto dos nossos amigos.

— Eu não sou do tipo ciumento.

— Ele não tem que ter ciúme de alguém que nem é namorado dele. – Rafael esbravejou. Apertei o queixo dele e o beijei.

— Deixa eu ver seu presente. – ele bateu em Arthur.

— Tira a mão. – eles começaram a discutir igual crianças com ofensas bobas.

— É por isso que agora o Dan é meu novo melhor amigo. – Arthur soltou somente para provoca-lo, mas Rafa levou pro coração.

— Alguns dias com esse idiota anula tudo que a gente já passou?

— Tudo? Tem só dois anos que te conheço.

— Seu melhor amigo na verdade é o Alê que você conhece desde a infância e gosta tanto que agora vai até pegar a mina dele né? – perguntei cruzando os braços. – Não ofenda meu namorado! Não faça mais essas brincadeirinhas ridículas. Sabe que ele é sensível.

— Eu espero que você nunca o magoe. – ameaçou Rafael. – Vou tomar um banho.

Enquanto Rafael ia para o seu quarto e eu ia atrás li a mensagem que havia chegado de Murilo. Eu tinha que ser bem rápido.

“Convenci Alice que você apenas se preocupa e que tá agindo por emoção. Ela vai te perdoar quando for até ela. Respira e esquece isso de Orlando. Todos têm que fazer suas próprias burradas.”

 Guardei o celular a tempo de não ser descoberto. Depois teria que me afastar dele para apagar as chamadas e essa mensagem. Eu não gostava de agir assim. Mas eu não iria trazer brigas e talvez até um término para o meu namoro por um motivo fantasmagórico.


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Notas finais do capítulo

Até amanhã com certeza (talvez eu deixe um post hoje de madrugada) ♥



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