Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 70
Desorientada


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Kevin Narrando

Como eu havia prometido ao Rafael, eu estava indo com ele atrás das pistas de onde sua mãe estava. A ida de Torres até o local duraria algumas horas e eu sabia que ele não passaria nenhuma delas em silêncio.

— Ainda tá com raiva de mim né? - seu questionamento me fez olha-lo por alguns segundos.

— Não. – preferi não render assunto.

— Se não estivesse não estaria dirigindo dessa forma tensa.

— Estamos indo atrás da sua mãe, é uma situação tensa.

— Olha Kevin eu sei que eu vacilei muito com todo aquele ataque de desconfiança, eu já te pedi desculpas e agradeceria se você não me culpasse mais por isso.

— Para de achar que estou te culpando!

— É isso que você faz. Você com os seus joguinhos faz com isso pareça bem maior do que realmente é. – me virei o encarando e depois voltei a olhar pra frente. – Não vai falar nada?

— Vou falar o que? Você tá convencido que eu estou jogando contigo. Seria perder muito tempo discutir sobre isso.

— Se não está jogando comigo dá pra parar de trazer desconforto pra nossa relação? – finalmente entendi o que estava acontecendo ali.

— Você tá querendo brigar comigo pra afastar a ideia do que verdadeiramente está acontecendo. – peguei em sua mão carinhosamente. – Seja o que for que te espera eu vou estar ao seu lado.

— É surreal ter que achar uma mulher que abandonou o próprio filho. – confirmou minha teoria parando com aquela discussão idiota.

— Ela não te abandonou amor. – continuei fazendo carinho nele.

— Todos esses anos foram o que? – nos olhamos. – Não tenta amenizar isso Kevin.

Deixei aquele assunto morrer. Era o melhor a ser feito. Pensei em distrai-lo com alguma coisa, só que eu também não estava no clima. Isso era sério demais.

— Seu pai já foi pra Alela? – ele realmente não conseguiria ficar calado. Talvez fosse o melhor método para não pensar.

— Acho que vai quando chegar o fim dessa semana. Hoje ele iria buscar o Nic. – ele ficou me olhando. – Não tem ciúme do meu irmão né?

— Meio irmão. – balancei a cabeça negativamente.

— Você é muito doente Rafael. É sério. – meu tom de voz demonstrava o quanto eu me preocupava com a desconfiança que ele tinha.

— Acontece romance entre meios irmãos. Isso até existe na família Montez, não é mesmo? Eu ouvi essa história outro dia contada pela Isa... – o cortei e o encarei com raiva.

— Eles não eram meio irmãos de sangue. Apenas de convivência. E se você continuar assim você vai me afastar.

— Não fisicamente né, já que isso já vai acontecer. – suspirei com sua fala.

— Você disse que estava bem.

— Eu só não vou te ver por meses. Mas é o seu sonho. O que queria que eu dissesse?

— Você não tem outra coisa pra fazer como distração que não seja criar brigas entre a gente? – meu celular começou a tocar e era o meu pai, atendi com a paciência quase esgotada.

“Estou aqui esperando o bastardo. Ele vai demorar muito?”— travei o maxilar.

— Você não consegue fazer o papel de pai mesmo?

“Eu não sei pra que isso. Esse garoto já não tem um pai?”

— Tem. E com certeza ele é muito melhor que você.

“Então por que ele não fica lá com ele? Ah, sim, eu tenho muitas vantagens.”

— O pai dele é muito bem sucedido, acredite ou não ele ganha mais dinheiro do que você.

 “Ali está ele. Tchau Kevin.” 

Respirei fundo. Não sei como eu ainda o aguentava em minha vida. Esse era um grande enigma que um dia eu desvendaria.

— Desculpa dizer que você é igual a ele. Esse cara é um monstro.

— Conte uma novidade. – olhei a estrada e depois o gps. – De acordo com isso aqui estamos chegando. – o olhei.

— Minhas mãos estão suando.

— Calma. Aconteça o que acontecer eu estarei ao seu lado.

— Isso me acalma um pouco.

— Só um pouco? – sorri. – Assim você me insulta.

— Está tentando me distrair.

— E não estou conseguindo. – entrei na cidade. – Acho que chegamos. – procurei o local que havia sido indicado pelo detetive do meu pai.

— Eu acho que eu quero desistir. – parei o carro e fiquei em silêncio. – Você tá puto por eu ter feito você andar isso tudo chegar agora e querer ir embora?

— Claro que não. Eu te entendo. Mas pensa bem. Se você não fizer agora vai ficar com isso na cabeça e talvez seja melhor enfrentar essa situação de uma vez.

— Não consigo Kevin. Você sabe o quanto eu já sofri por causa dessa mulher?

— Não sei, mas imagino.  Olha... Se você decidir a gente vai embora, só quero que pense direito e... – ele tirou o cinto e respirou fundo.

— Vamos. Antes que eu desista ou desmaie. – saímos e vi a porta da casa do endereço que eu tinha. Olhei pra ele e notei que ele iria ter um troço.

— Não quero te deixar mais apavorado, mas acho que aquela mulher que está vindo ali é a mesma que estamos procurando. – ele olhou para o lado e arregalou os olhos mais ainda.

— O que te leva a pensar isso?

— Ela tem os mesmos olhos azuis. E algo nela me lembra você.

— Com certeza não é o caráter.

— Você prometeu que iria se abrir. – chamei sua atenção. Depois peguei em sua mão e me aproximei, já que ela entraria em casa.

— Olá. – falei com um pouco de receio. Ela nos olhou e então deixou sua bolsa cair no chão. Se Rafael apertasse minha mão mais um pouco eu acabaria me machucando. – A senhora é...

— Não é possível. – ela colocou a mão na boca. Eu não esperava que ela o visse e o abraçasse, mas também não imaginei que ela iria ficar parada sem acreditar. O assunto ressurgiu há pouco tempo atrás, era de se esperar que ele aparecesse. Ela era muito inocente ou o meu pai realmente fez as coisas muito bem feitas. Talvez a segunda opção fosse a melhor.

— Então... – eu já estava cansado de ficar em pé embaixo do sol quente e com a mão doendo de ser apertada. Aquele momento precisava ser interrompido. – Viemos até aqui para que vocês se conhecessem...

— Não. Porque já nos conhecemos. – ela disse sem tirar os olhos dele. – Rafael meu filho, eu sonhei tanto com esse dia.

— É? Não parece muito. Aliás, não parece nem um pouco. – mesmo que eu tivesse pedido tanto o contrário ele foi armado.

— Você não sabe de nada do que aconteceu no passado. – a voz dela se modificou ganhando um tom cheio de mágoa e dor.

— Sei sim. Mas você teve muitos anos para poder se aproximar de mim.

— Eu acho melhor vocês conversarem sozinhos. – me soltei dele quase a força. – Vou esperar no carro. – vi que ele queria se agarrar a mim igual uma criança em seu primeiro dia de aula. – Qualquer coisa eu volto, é só me chamar. – falei com carinho e dei um leve sorriso.

“Sua cabeça não para?”— li a mensagem de Arthur e dei uma risada. Ele respondia a minha ideia para o aniversário de Rafael. No dia eu não estaria aqui, mas viria no próximo fim de semana após a data, e eu tinha uma coisa em mente.

“Se ela parar significa que eu estou morto.”

“Tudo bem, faço a transação e tudo que você pediu. Eu não tenho mais nada pra fazer mesmo, praticamente perdi a namorada.”

“Essa situação é uma merda, mas não há muito que ser feito. Não pode ser egoísta Arthur, ela precisa disso.”

“E se ela se apaixonar por ele? E se ele conseguir o que sabemos que ele quer?”

“Você não conseguiu em anos acha que ele vai conseguir em alguns dias? E me imagine rindo, não dá pra evitar.”

“Não é assim Kevin... Pode ser que o proibido ative nela alguma coisa. Eu não sei.”

“Estamos mesmo trocando mensagens sobre isso?”

“É, nós estamos. E comece a me levar a sério, senão eu não farei favor nenhum a você.”

“Tá bom. Sua namorada vai perder a virgindade com você, é isso que você quer ler? Tá mais calminho?”

“Qual é o motivo de você ser tão idiota?”

Olhei para Rafael com a mãe, ele não parecia nada calmo e ela se explicava desesperadamente. Não sei se o melhor foi deixa-los sozinhos.

“Você ainda nem me perguntou como seu melhor amigo está com o encontro com a mãe.”

“Até havia me esquecido. Como está sendo?”

“Um fiasco. Acho que ele vai sair daqui pior do que veio.”

“Nada que você não vá saber lidar. Podemos voltar ao meu problema?”

“Arthur entende de uma vez por todas que ela PRECISA disso! Deixa de ser ciumento, mimado e incompreensivo. Se a médica disse que é uma saída para ela deixar o cérebro agir de uma forma que facilite uma possível progressão é isso que tem que ser feito. O bem da Alice sempre vai estar acima de vocês dois. Assim como se ela te fizesse mal eu diria o mesmo. Dá pra entender? Ela não vai se apaixonar por ele, o Orlando não tem tantas qualidades assim. E ela te ama, quantas vezes eu vou ser obrigado a dizer isso?”

“Eu não vou suportar perde-la mais uma vez Kevin.”

“Você vai se continuar com essa atitude. Tenho que ir, vou lá ver como aqueles dois estão, prevejo que ele precise de mim.”

Andei lentamente até eles e ouvi o final da conversa, ela contava o quanto sofreu ao lado do pai dele. Eu me posicionei ao seu lado e tentei entender o que se passava em sua cabeça.

— Hoje ele é outra pessoa. Talvez você o fizesse mal. – o ódio de Rafael por sua mãe não iria desfazer de um dia para o outro.

— Desculpa me intrometer. – pedi com a voz ponderada. – Mas eu vejo que vocês dois não vão chegar a lugar nenhum. Ele sente muita raiva de você e você sente ainda muita mágoa do pai dele... Por que vocês não trocam telefones, absorvam essa história e quando se sentirem preparados um dos dois dá o primeiro passo e entra em contato? – eles ficaram me olhando. – Se quiserem continuar discutindo por mim tudo bem.

— Quem é você na vida dele? – ela perguntou parecendo bastante curiosa. Eu o olhei sem saber se ele queria que eu dissesse alguma coisa.

— Ele é meu namorado, por quê? – usou o mesmo tom grosseiro e cheio de julgamento.

— O seu pai sabe disso? – ele deu uma risada nervosa.

— Sabe. E aceita. Eu disse que ele é outra pessoa.

— Só fiquei com medo de ele ter te batido.  – ele revirou os olhos com a maior impaciência. E enfim deu inicio a minha sugestão. Eles se despediram com certa impassibilidade e ela o chamou quando ele se virou. – Sei que é pedir muito, mas eu queria só um abraço. – ele me olhou como se procurasse apoio. Demonstrei com o olhar que era ele quem deveria decidir. 

Por mais surpreso que eu pudesse ficar, aquela cena não me chocou muito. Ele começou a abraça-la com certo distanciamento, mas como uma legítima mãe ela o agarrou e começou a chorar. Até achei que demorou muito pra isso acontecer. E eles ficaram assim por um bom tempo. Foi ele quem deu fim ao ato.

— Tem certeza que não quer entrar e comer alguma coisa? – questionou enquanto ele enxugava o rosto com a manga da camisa.

— Tenho. Quando for a hora certa eu te ligo. – saiu andando sem olhar pra trás.

— Tchau. – me despedi e ela pediu que eu esperasse.

— Não sei nada sobre vocês dois, mas vi que você se preocupa com ele, cuida dele pra mim.

— Ele sabe se cuidar sozinho. – dei um sorriso triste. E então entrei no carro.

— Bom... – falei suspirando. – Acho que dei uma má resposta pra sua mãe. – o olhei. – Ela ainda não é oficialmente minha sogra, é?

— O que você disse? – deu uma risadinha.

— Ela pediu que eu cuidasse de você e eu disse que você sabia se cuidar sozinho. Espero que ela tenha entendido o recado. – ele ergueu o corpo no banco e chegou mais perto me puxando pela nuca e me beijando.

— Estaria perdido nesse mundo se não fosse você.

— Não parece pelo tanto que você me importuna. – fiquei o olhando de perto. – Vamos. Você deve estar emocionalmente exausto. – ele se sentou direito e deitou o banco.

— Se eu cochilar você vai achar ruim? É que não dormi nada essa noite. – o olhei sorrindo.

— É claro que não dormiu. Não vou não. E vou tentar não fazer movimentos bruscos para você não acordar.

— Você é mesmo um anjo. Meu Calebzinho inverso. – deu uma risada fechando os olhos.

— Se disser isso mais uma vez dou um cavalo de pau quando você entrar em sono profundo.

— Não seria capaz de tamanha covardia.

— Ah... Você sabe que eu seria. – nos olhamos e eu fiz carinho em sua perna. – Durma. – recomendei com a voz mansa. Ele fechou os olhos e eu fiquei alternando meu olhar entre ele e a estrada. Por mais que o encontro não tivesse tido um desfecho muito favorável era muito bom ver que ele não se abalou tanto a ponto de conseguir até descansar. Agora só o tempo seria capaz de melhorar a relação dos dois.

Arthur Narrando

Ver aquele cara entrando pela porta de casa e abraçando Alice me deixou pior do que eu estava. Pra piorar ainda mais ele disse que ela estava linda. Todos me olhavam esperando uma reação, talvez que eu explodisse ou pelo menos dissesse alguma coisa. Permaneci calado. Ele cumprimentou a todos e tentou se enturmar.

— Imagina ver seu namorado ao lado de alguém que não é você. – falei bem baixo para Rafael.

— Eu quebro a cara dele e da pessoa. – me olhou. – Sabe que é só terminar e acaba com isso né? É uma tortura extrema Arthur. – olhei os dois. Ela sorria para ele. Um sorriso que eu tinha que me esforçar pra tirar dela. – Eu estou começando a ter raiva dela. Sério.

— Não tenha. Peça ao Kevin para passar a compreensão dele pra você. Ele tá sendo bem compreensivo.

— Claro! – fechou a cara. – É porque é ela! Ela e o irmão conseguem qualquer coisa e qualquer compreensão do Kevin. Parece até uma magia.

— Talvez seja. – falei bem sério. – Caso contrário eu já teria terminado. – não estava mais aguentando aquilo. Aquela cena. Aquele momento que demorava uma eternidade pra passar. – Vamos sair pra beber?

— Você ouviu seu sogro... Não acho que bebendo irá enfrentar isso como homem. Por mais que eu ame essa proposta.

— E o que você sugere? Que eu fique aqui vendo isso?

— Chama a Alice pra conversar Arthur.

— Ela claramente não quer conversa. E tá muito bem ali, não vai gostar que eu interrompa.

— Quer que eu faça alguma coisa? – Kevin perguntou chegando perto da gente.

— Você não tá do lado dela?

— Não existe lado. Eu entendo que ela precisa disso, mas tá sendo foda aguentar ver de perto.

— É o que eu ando vendo todos os dias. Ela não se importa comigo. Nem se vai doer ou não. – olhei para Rafael. – Você vai ou não? Eu preciso beber. – ele olhou o namorado. – Ah, vão se foder. – me levantei e sai da casa.

— Espera. – o loiro logo apareceu e foi comigo. – Kevin preferiu ficar pra ver o que tá rolando. Sabe o quanto ele é esperto para essas coisas. Talvez ele coloque o idiota no lugar dele. – riu. – Não duvido muito.

Não disse nada. Só fui rápido até o local mais próximo em que eu pudesse ingerir uma quantidade suficiente de álcool para que tudo aquilo deixasse de me incomodar. Acho que o número foi maior que imaginei, já que passamos a tarde toda por lá. Voltamos já anoitecia.

— Cadê o seu amiguinho? – perguntei a ela ao ver que Orlando não estava ali. – Será mesmo que é amigo ainda? – todos me olharam assustado. Minha sorte o pai dela não estar perto senão eu já estaria deformado. – Pode ir em frente Alice. Não me use como desculpa.

— Arthur você vai agir assim? – questionou enquanto eu ia a caminho da escada.

— O que você pensa que eu sou Alice? – quase gritei chamando a atenção dos pais dela que vieram para a sala rapidamente.

— Nem sei o que pensar. O que eu sei é que eu não quero falar com você e não quero ficar perto de você agora. – ela foi pra área da piscina e Kevin veio até a mim ficando em minha frente.

— Ele bebeu muito. Releva. – eu não conseguia ver quase nada. – Raissa faz alguma coisa!

— Ele não vai bater nele Kevin. – ela o respondeu.

— Então explica o olhar dele nesse instante.

— Sabe Arthur... – Vinicius começou a falar mesmo com meu irmão entre a gente. – Você é um grande exemplo de como alguém pode ser tão bom e mesmo assim se deteriorar. Sua ruína é impressionante. Agradeça ao seu irmão, você realmente não levou um soco no rosto por causa dele. E eu não estou nem aí se você vai me denunciar ou se eu posso perder a amizade da minha irmã, na próxima eu juro que eu quebro a sua cara inteirinha. – ele foi para a área da piscina certamente falar com a filha.

— Não o leve a sério. Ele jamais encostaria em você. – Raissa falou e suspirou. – Mas você tá conseguindo ativar o pior lado dele. Você entende que tá julgando Alice por ela estar tentando apenas voltar a ser como todo mundo? Não acha que ela merece isso Arthur?

— Se eu disser o que eu acho eu vou ofender seriamente sua filha, então melhor eu não dizer nada.

Fui para o quarto que era meu antes de me mudar para a cobertura e chorei, chorei como um neném ou até mesmo um recém nascido faminto. Um tempo depois bateram na porta, não me mexi e nem disse nada. Ouvi a voz de Kevin pedindo para abrir.

— Você não tem o que fazer? Arrumar suas coisas, seus documentos, organizar tudo para que possa ir pra capital? Já está chegando o dia. Acho até que as aulas já começaram. – falei ao abrir a porta. Ele entrou e a fechou.

— Minha desconfiança acabou de ser confirmada. – fiquei olhando pra ele. – Mas isso não importa agora. Alice disse algumas coisas estranhas ao pai dela e depois disse que iria fazer um chá e sumiu. Como já está a noite e escuro ele a procurou sem sucesso. Já está ficando desesperado junto de Raissa.

— Casa do Orlando. Com certeza.

— Ele já foi lá.

— Ele mentiu dizendo que ela não estava.

— Ele desconfiou disso e entrou. E o cara não ia mentir vendo o estado que Vinicius estava.

— O que ela disse ao pai?

— Você quer mesmo escutar? – confirmei.

— Basicamente que a vida dela não vale a pena. Que ela não sente nada e ainda machuca as pessoas. E que morrer talvez seja um bom destino. Na verdade, usando o termo exato e mais pesado ainda ela chegou a dizer que estava pronta pra morrer.

— Ela não disse isso.

— O pai dela não tá alucinando. E ele ficou um bom tempo tentando tirar isso da cabeça da filha, mas parece que não adiantou muito.

— Por que ele a deixou ir até a cozinha fazer um chá sozinha? – me levantei começando a também entrar em desespero.

— Não imagina o quanto deve ser difícil para um pai ouvir uma filha dizer isso? Ele devia estar abalado e não pensou direito Arthur. - nos olhamos. - Lembrando que ele tem um transtorno, Murilo tem um transtorno e agora ela diz isso. 

— Isso não tá acontecendo. – comecei a andar. – Ela não vai fazer nada.

— Escuta. – me puxou me fazendo parar. – Por mais que ele esteja com vontade de te matar, é a filha dele e ele pediu para que eu viesse até você para que achasse ela. Ele confia no seu... Amor.

— A falta do irmão, a falta de emoções, ter que depender de alguém pra melhorar e ainda ter o namorado a aborrecendo o tempo todo. Parando pra pensar ela realmente é frágil demais pra isso tudo. – o olhei. – Kevin... Pode parecer loucura o que eu vou dizer, mas eu não posso ir. Tem que ser você. Eu sei onde ela está.

— Estou mantendo a calma porque já tem gente fora do controle demais nessa casa. E você sabe que meu controle emocional é magnífico. Mas não me pede pra impedir um suicídio. Por favor.

— Ela vai ouvir você. Sei o que estou dizendo. E eu não entendo você se negar a isso. É a Alice Kevin!

— Se eu não conseguir... Quem vai se matar sou eu.

— Você sempre consegue tudo. Por que esse medo?

— Confio mais em você Arthur. Ela te ama. Agora vamos parar de conversar e vai logo.

— Você guarda algum objeto perigoso ou remédios? – me olhou sem entender. – No seu quarto. É lá onde ela está. – seu semblante demonstrou ainda mais confusão. – É só lembrar todos os momentos difíceis, foi pra lá que ela correu e ela já me disse que é o refúgio dela.

— Mas ela não está procurando um refúgio.

— Tá. Ela quer que a dor passe. Por isso estou te perguntando se há algum perigo pra ela lá já que ela está desorientada.

— A banheira. – arregalou os olhos. – Estou indo. – saiu correndo com certeza na máxima velocidade que conseguia. Confiava que ela não iria fazer nada, por mais sobrecarregada ou confusa que ela se encontrasse. E se eu estivesse errado, Kevin iria chegar a tempo, tinha total certeza disso.


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Notas finais do capítulo

Muito provavelmente tem post amanhã ♥



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