Arthur Narrando

Assim que Alice chegou a minha casa com Kevin eu estava esperando os dois lá fora com Rafael, pois quando eu havia acabado de chegar do trabalho o loiro veio ao meu encontro ao ouvir o barulho do meu carro. Não entendi a mensagem dela para que eu esperasse aqui, mas devia ser coisa do meu irmão. Eles desceram e Kevin e Rafael ficaram se olhando. Segundo eu estava sabendo eles não se falaram quase nada os últimos dias, Fael preferiu não manter contato já que meu irmão estava com o namorado.

— Sinto muito. – Fael falou e o abraçou. Parece que ele ter sido tão gentil deixou Kevin completamente sem reação. Esse gesto era improvável e mexeu muito com ele. – Por ele estar namorando. – ele disse baixo após se separarem.

— Guarde os seus sentimentos para quando alguém morrer. - ele se recuperou rápido. Dei uma risadinha. – Qual vai ser? – ele olhou pra mim e depois pra Alice.

— Vamos pra casa da Soph. Já mandei mensagem pra ela. – Alice avisou. – Aqui não vamos ter paz, estão todos presentes com os preparativos para o jantar.

Nem discuti, sabia que ela estava certa. Só não imaginava que estariam todos os nossos amigos lá na casa da Sophia.

— Combinamos de nos encontrar aqui antes de irmos lá para o jantar. É segredo? – ela perguntou um pouco sem graça.

— Que se dane. Fiquem. É bom que mais pessoas talvez sirva de mais ideias. – olhei para Alice sabendo que aquilo seria um erro.

Kevin andava de um lado para o outro e parecia que sua cabeça fervia. Ele parou e me olhou.

— Abri o coração e ela ficou mexida, mas só piorou as coisas porque ela foi atrás dele na academia e o pegou conversando com uma mulher. E mesmo que não seja nada e eu acredito que não seja, isso só dificultou o diálogo.

— Porra. E aí? – perguntei um pouco sem paciência. Havia acabado de sair do trabalho e tudo que eu queria era um banho e descansar, já que hoje eu não iria a aula.

— E aí que você vai arrumar um colar de brilhantes. – ele se sentou na poltrona e ficou me olhando.

— QUE? Pirou? Eu tenho um cartão que o nosso pai abastece e também trabalho e recebo por isso, mas ainda não sou milionário.

— Consignado, alguma coisa assim... Quando se pega a peça e devolve depois, não sei, condicionado? – ele me olhou. E então se levantou e começou a andar novamente. – E então você vai entregar seu cartão a Alice e ela vai chamar a mãe para jantar.

— Só me vejo tomando prejuízo.

— Cala a boca. – ele mandou concentrado no nada e passou a apontar o dedo para esse mesmo nada. – Nisso... – ele fez uma expressão muito diabólica.

— O desgraça. – me levantei. – Se você não quer apanhar para de fazer o papel do vilão agora mesmo.

— Mas eu não sou isso? – ele perguntou e riu. – Foi um prazer tentar ajudar voc... – Alice o puxou pela gola da camisa.

— Parem vocês dois. Kevin você sabe que tira Arthur do eixo então se controla.

— Nisso quando Alice estiver lá no jantar no restaurante caríssimo gastando o dinheiro do Arthur... – ele estava AMANDO aquilo, não tinha lógica. O bicho era incrível. Tudo ele conseguia fazer com que a maldade dele prevalecesse. – Ah, eu me esqueci de um detalhe: Também tem o salão de beleza. Pago pelo Arthur.

— Ah vai se foder.- me levantei enquanto todo mundo ria.

— Eu não estou de zoação não. É tudo pelo bem do amor. – não acreditava que até Alice estava rindo. – Vou explicar. É que ela tem que estar se sentindo poderosa para o próximo passo.

— E qual o próximo passo babaca?

— Ofensas não fazem parte do meu jeito de armar as coisas. –olhei para o Kevin.

— Você tá inconformado que ele seguiu em frente né? – todos ficaram em silêncio. - Não tem como fingir que não está te controlando.

— Não estou fingindo. Só estou fazendo um favor a sua namorada. E me divertindo um pouquinho também. – ele fingiu não se abalar com nada que eu disse. – Como eu dizia... Alice você irá tirar uma foto de sua mãe. Só que não é de qualquer jeito. Você irá pedi-la que faça um olhar sedutor. Ok? – ela concordou. – E então meus caros mirins, vocês devem estar pensando... O Vinicius vê a foto, ela vai ter a localização e ele vai até lá e quando ele ver que ela tá com a filha ele que já vai ter percebido a mulher que ele tá perdendo, vai se juntar às duas e eles vão acabar a noite juntos, correto? – a maioria concordou. – Erradíssimo. Isso é medíocre e arriscado.

— Abrir o coração pra ela não foi não? – perguntei e respirei fundo.

— Foi um ato lindo. – ele levantou o dedo. – Um dos únicos atos lindos que eu tive nessa vida. E não foi em vão, serviu para ela parar de me odiar ou me odiar menos.

— Então se não é isso, o que é Kevin? – Sophia perguntou curiosa, como a maioria estava. Eles não tiravam os olhos do meu irmão.

— Aprendam com o mestre. – ele se levantou. – Primeiro temos que ter a certeza que ele vai ver a foto assim que ela será postada, para isso temos algum de vocês que vai comentar lá na casa da vó Isa que a Raíssa tá muito linda na foto. Pronto. Depois que ele ficar pilhado, não podemos correr o risco dele sair e pegar outra mulher, então temos que mantê-lo em casa. O que mantem um pai em casa?

— Filhos.

— Uma não vai poder. Quem é o outro?

— Você tá fazendo isso de propósito? – perguntei o encarando.

— Qual é a sua Arthur? – Otávia perguntou nervosa. – Se desarma. Para de atacar o Kevin. Ele é uma peste, mas só está tentando ajudar.

— Vou ligar para o Murilo agora. A parte ruim é que ele vai ter que saber que os pais estão se separando. – olhei para Alice.

— Não entendo quase nada de ansiedade. Isso pode prejudica-lo? – ela perguntou preocupada.

— Vocês são dramáticos pra caralho. – Kevin pegou o meu celular da minha mão e já estava no nome dele e então ele discou.

— Oi priminho. – ele disse assim que ele atendeu. Era absolutamente inacreditável a forma como meu irmão mudava de personalidade. – Precisamos da sua ajuda.

“Você sabe que eu estou no hospital né? Um “Oi como você está?” cairia bem.”

— Oi, como você está? Então como eu estava dizendo, a gente, mais especificamente sua irmã, precisamos da sua ajuda.

— Kevin cuidado com o jeito que você vai falar. – Alice avisou em um tom rígido.

“O que está acontecendo?”

— Bom... Os seus pais estão meio que... Se separando... – Kevin era um ator, ele gesticulava, desviava o olhar... Era muito constrangedor. – Sobre isso, eu sinto muito. – ele abaixou o tom de voz. – Mas... – ele aumentou o tom de voz de uma vez. – não aguentei e peguei o celular.

— Murilo, me desculpa. – falei sério olhando pra ele. – Essa criatura está sem controle.

— QUEM ESTÁ SEM CONTROLE AQUI É VOCÊ SEU IMBECIL. – olhei para o meu primo e levantei a sobrancelha como se mostrasse que eu tinha razão. – Conta pra ele que esse vermelho em meu rosto é do roxo que estava porque você me bateu. Brutamontes do caralho.

“Vocês dois voltaram a brigar?”

— AH, PARABÉNS PELO NAMORO PRIMINHO. – ergui a sobrancelha de novo como se isso explicasse tudo. Murilo suspirou.

— DÁ PRA VOCÊS ENTENDEREM QUE A GENTE PRECISA DO RESTO DO PLANO E SE A CABEÇA DO KEVIN NÃO FUNCIONAR ELE NÃO VAI CONSEGUIR?

— Sophia, agora eu te amo. - Kevin bateu as mãos com a garota.

“Ele tá ajudando a minha irmã a fazer com que os meus pais se reconciliem?— fiz sinal positivo. – O que eu tenho que fazer?”— olhei para o Kevin.

— Fala aí agora Arthuzinho. – ele me desafiou.

— Diz logo Kevin!

— Então me dá o telefone.

— Você vai ficar igual um doente ou vai conversar como uma pessoa normal?

— Eu já disse que ofensas não fazem parte do meu jeito de articular as coisas.

— Toma. – entreguei o celular vencido pelo cansaço.

— Você vai ligar para o seu pai na hora em que Arthur te mandar uma mensagem. E vai enrolar até receber uma nova mensagem pra desligar. Só isso. – ele deu aquele sorriso cínico dele.

“Não tem nenhum assunto especifico que eu devo tratar na ligação?”

— Não. Mas seja devagar desde o início. Vamos precisar de tempo. E você vai notar que ele pode estar um pouco desconfortável ou irritado, é pra estar mesmo.

“Tá bom. Seja o que for que você esteja armando faz dar certo Kevin.”— não sei se foi o jeito que o Murilo falou ou talvez o olhar que ele deu, mas ele desarmou completamente o meu irmão que mudou a expressão facial e até se sentou. Depois ele me entregou o celular e saiu da casa.

— Vai lá. – Alice mandou pegando o aparelho da minha mão.

Cheguei lá fora e ele estava encostado no muro. Sua respiração era rápida e os seus olhos expulsavam lágrimas silenciosas.

— O que foi? Você viu o namorado dele lá? Mas a Raíssa disse que ele não sai do lado dele.

— Não. Só deixei de controlar minhas emoções. Ele confia em mim e notar isso me fez vê-lo com os olhos sem a venda do controle emocional. Desde que eu soube que ele está namorando eu ainda não havia chorado.

— Invés de sentir as coisas você encarna esse personagem e assume essa personalidade horrível. Você tem que sentir Kevin.

— Mas dói demais. – seu choro aumentou. Fiquei com muita dó dele e por mais que o odiasse da forma como ele vinha agindo eu não conseguia ser tão frio. Assim que o abracei ouvi algo que não imaginava.

— Eu só tenho você.

— Claro que não. Você tem a Alice e o Rafael.

— Eles são meus amigos e eles podem se cansar de mim. Você sempre vai ficar independente do idiota que eu seja.

— Pensa nisso antes de me magoar, por favor.

— Eu to com medo. Eu nunca tive ninguém. E agora eu sei que as pessoas vão embora e que dói muito. Não quero ser fraco e sofrer tanto.

— Eu não vou embora. A Alice não vai. E nem o Rafael. Não vê o mundo por essa casca Kevin... Não assume esse lugar mais. Vem, vamos voltar pra lá, a admiradora do seu intelecto Sophia está louca pra saber o resto. – ele enxugou o rosto e respirou fundo.

— Onde eu parei? – ele perguntou ao entrar na sala. Todos notaram que ele havia chorado, mas ele nem se importava.

— Vinicius em casa.

— Sim. Quando ele desligar com o filho, Alice irá ligar o chamando para ir até a casa deles... Onde se o tempo correr certinho, eles vão chegar praticamente juntos. E vai ter o vídeo do casamento deles passando em um telão para lembra-los de coisas que talvez eles se esqueceram e no fim um vídeo romântico que a filha romântica deles irá fazer com a ajuda do namorado mega romântico.

— AI QUE LINDO. A gente pode ir de platéia? – olhei para Larissa.

— Obviamente não. – ele respondeu rápido. – A finalidade é a seguinte, ele vai estar nervoso e intrigado com a foto da esposa, vai sentir alívio quando a filha liga e conta que jantou com a mãe e elas esperam que ele vá até a casa deles e maior vai ser a surpresa quando além de ver a esposa toda linda daquele jeito de perto, ainda recordar vinte anos atrás e fechar com chave de ouro com um vídeo emocionante e incentivador.

Todos bateram palmas, inclusive eu que tive que me render. Apesar de ainda discordar da parte que gastava o meu dinheiro, mas fazer o que.

— E quando vai ser? – perguntei o olhando.

— Temos que ter tempo para o vídeo, o colar, marcar o salão, reservar o restaurante... Depois de amanhã.

— Tá. Agora vamos porque eu preciso tomar banho e descansar um pouco antes desse jantar idiota. – falei contrariado.

— Nossa, que bom que eu não sou o único que acha isso tudo uma palhaçada! – meu irmão exclamou e riu.

Assim que sai do banho o meu celular tocou, era a mãe do Kevin. Ela me pediu ajuda para convencê-lo a passar o natal em Torres.

"Você prometeu que me ajudaria."— ouvi sua reclamação.

— O Kevin está meio instável agora.

"O Kevin puxou ao Caleb, quando ele foi estável? Eu mesma vou falar com ele."

— Agora é melhor não forçar.

"Me dê um motivo."

— Ele puxou ao Caleb. É motivo suficiente. Eu cuido disso, mas preciso que me dê tempo. Ainda faltam dois meses para o natal.

Nos despedimos e eu desliguei. Esperava que eu conseguisse ajuda-la apenas se o melhor fosse o Kevin ficar aqui.

Kevin Narrando

Coloquei os olhos nos filhos do casal que vieram jantar e não fiquei nada impressionado, porque não gostei de nenhum dos dois. Os adultos nos deixaram sentados na sala e foram beber alguma coisa. Depois de todos se apresentarem a garota que se chamava Diana estava conversando com Rafael, o que era de se esperar já que ele era muito comunicativo.

— Ele é bonito demais. – ouvi sem olhar pra eles.

— Quem? – ele perguntou a ela.

— O estressado dos olhos verdes. – ele deu uma risadinha. – O que foi? Ele namora?

— Sim. E mantenha distância, você já disse tudo: estressado. E assim... Bonito demais é o Arthur, Kevin é exótico. – filho da puta.

— Você tá fazendo aquilo né? – Alice perguntou chegando ao meu lado. Questionei com o olhar. – Ouvindo a conversa dos dois.

— Acredita que o Rafael falou que o Arthur é bonito demais e eu sou exótico? - perguntei bastante indignado. 

— O que não é bem mentira... – ela deu uma risada.

— Você é namorada dele, não vale. – a olhei. – Por que ficou estranha quando viu esses dois?

— Esse menino – ela o olhou de longe. – Ele não me transmite uma coisa boa.

— Ah pronto. – olhei pra porta. – Quem convidou o meu pai?

— Ele faz parte da família, esqueceu?

— Da minha não. – ela deu uma risada com a minha fala.

— Até parece, vocês dois são igual gato e rato. Mas confesso que fico muito feliz em ouvir isso. – a olhei e vi um sorriso enorme em seu rosto.

— Você faz mesmo a minha namorada sorrir né? – Arthur perguntou chegando perto da gente.

— Seria você se não fosse tão chato. – o provoquei.

— Não me faça me arrepender de ter te consolado há quase uma hora atrás. – o ignorei.

— O que achou dos novos vizinhos? – perguntei observando os irmãos conversando com nossos amigos.

— A garota não tira o olho de você e parece legal... Se ela ficar no seu pé eu vou gostar dela. – o encarei quase sorrindo.

— Que joguinho você acha que está fazendo?

— Isso é engraçado considerando o fato de você ser o dono do jogo. Só pra você ver como é cansativo.

— Isso não dá pra mim, eu sou muito sério pra ser debochado. – falei imitando a voz dele. – Ah Kevin, você me cansa. – Alice deu uma risada.

— Sou um idiota e só sei ser sarcástico. – ele revirou os olhos. – É muito difícil te imitar.

— Olá. – a garota veio até a gente, Rafael estava com ela.

— Vocês já notaram que Sophia e Ryan estão mais próximos nos últimos dias? – comentei olhando os dois conversando e ignorando totalmente a presença da garota. Alice não aguentou e começou a rir e Rafael me olhou sério.

— Kevin, essa é a Diana. – ele disse chamando a minha atenção.

— Eu já estou sabendo. Oi Diana, tchau Diana. – sai de perto deles.

— Não repara, ele é estranho assim mesmo. – Alice falou ainda rindo.

— Parece que o torna mais bonito ainda. – ah pronto, agora além de ter que superar o fato de Murilo estar namorando eu iria ter que lidar com uma garota interessada em mim. Só faltava...

— Então... – meu pai chegou perto de mim. Não faltava mais nada.

— Não estou com saco pra lidar com você hoje. Sério. – o encarei nervoso.

— É, eu to sabendo que o seu priminho tá amando... – ele sorriu. Como uma pessoa podia ser tão ruim?!  Tentei seguir e ele segurou meu braço com muita força.

— Vou fazer um escândalo aqui, não tenho nada a perder.

— Sua mãe está vindo após uma série de entrevistas sobre o abrigo e várias sessões de fotos e outros trabalhos... – ele falou e respirou fundo. – Não sei o motivo dela ainda insistir em ainda fazer esse trabalho de modelo.

— Por ela ainda ser linda e ter prestigio? Ninguém mandou casar com ela. – tentei ir de novo e mais uma vez ele não deixou.

— Quando ela chegar eu não quero que você leve Rafael para a sua cama. Isso vai perturbá-la demais.

— Como se eu não te conhecesse. Você não quer isso e tá usando a minha mãe como uma desculpa.

— Kevin você não devia nunca ter feito isso. Levar um homem pra casa foi algo inadmissível.

— Por quê? Se fosse uma garota tudo bem né?

— A partir do momento que você se apaixonou pelo seu primo nossa relação virou um inferno.

— Sempre foi. Você mandava e eu obedecia igual um idiota. Eu acordei, só isso.

— Então acorda agora e entenda que você não vai levar Rafael pra sua cama. – dei uma risada. – O que foi?

— Tá bom. Não vou leva-lo.

— O que vai aprontar?

— Você vai ver. – pisquei e dessa vez sai andando. Iria juntar o útil ao agradável... Distrairia minha mente e provocaria meu pai. E até daria um tempo de Rafael, porque isso estava ficando muito habitual e perigoso.

"Nós fizemos uma promessa e sempre que vou embora, parece que você ainda está comigo."