Músicas Bregas Lembram Você escrita por Panda Chan


Capítulo 5
5. Entre Tapas e Beijos


Notas iniciais do capítulo

Oi! Alguém em casa?
A atualização demorou, mas chegou e garanto que ela está cheia de piadinhas (algumas sem graça) e momentos pro Eric sentir o peso da friendzone hahah
Boa leitura!



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— Então, você está trabalhando a Júlia?

— É.

— E fica o dia inteiro ao lado daquela deusa das curvas?

— Não sei se ela gostaria de ser chamada dessa forma, mas sim.

— Só você, ela e os sorvetes?

— Os clientes também.

— E ainda é pago por isso?

— Sim.

— Onde deixo meu currículo?

A pergunta inesperada junto com a expressão incrédula no rosto de Marco me roubam uma gargalhada.

Faz três dias que Júlia e eu estamos trabalhando juntos e provando um sabor diferente de sorvete após o expediente. Alguém comentou sobre a “badgirl misteriosa e bonita pra caramba” estar trabalhando na sorveteria para outro alguém da escola que falou para alguém e esse alguém falou para o Marco.

Confuso, né? Mas nessa cidade a fofoca funciona assim, vai de boca em boca e quando você vê está sendo interrogado para confirmar a história.

— Cara, na boa, você tem muita sorte – Marco dá um leve soco no meu ombro, um sinal de companheirismo – Ela está tão na sua.

Reviro os olhos diante do comentário.

— Não viaja, cara.

Recentemente descobri que a Júlia é uma ótima sommelier de sorvetes, conhece praticamente todos os filmes bons de comédia e nutre uma paixão nada secreta por músicas pop com refrões chiclete.

Como descobri isso? Bem, todos os dias Naomi esquece acidentalmente o seu almoço e isso me dá a oportunidade de conversar por uma hora inteira sobre qualquer assunto com as meninas. Inclusive, já se tornou rotineiro preparar uma porção a mais para Júlia comer conosco.

— Ah mano, para de ser besta – ele faz um barulho com a língua semelhante a “tsc” – Cê’ acha que uma gostosa que nem aquela ia tomar sorvetinho pós expediente com qualquer Zé Mané? – essa é uma fofoca que eu gostaria muito de saber como se espalhou – Nem se eu convidasse essa deusa para o restaurante mais caro da cidade ela aceitaria.

— Talvez se você parasse de se referir a ela como “gostosa” ou “deusa das curvas” ela fosse aceitar – Carol se manifesta pela primeira vez desde que a minha conversa com Marco começou.

— Concordo – Henri diz e olha de maneira apaixonada para a namorada – Você só pode chamar a mina de “deusa das curvas” depois de criar intimidade – ele dá uma piscada que faz a Carol dar risadinhas.

— Ei, você tá falando da minha irmã! – mesmo fingindo irritação, dá para perceber que Marco está se divertindo.

— E sua irmã não é a única mulher que merece respeito – Natasha comenta arqueando a sobrancelha.

Hoje fui convocado por Henri e Marco para o Primeiro Encontro Semanal de Comer Pizza e Falar Besteira das Férias (eles criaram a sigla PESCPFBF para se referir, mas eu disse que era péssima e me recuso a usar), com a participação especial da Carolina, a irmã mais nova e que possui a mesma altura de Marco (o que o deixa bem inseguro), Natasha, a amiga loira emburrada da Carol que só vi sorrir quando estava dançando ‘Vai, Lacraia’ no baile da semana passada e Amanda, a única outra pessoa com traços orientais do nosso ano no colégio.

Quando eramos crianças, os nossos colegas de sala proibiam que Amanda e eu ficássemos nos mesmos grupos por sermos “asiáticos apelões e muito inteligentes”. Na época essas coisas incomodavam muito, tanto que Amanda trocou de sala e nunca mais caímos juntos na mesma classe.

Como somos jovens falidos e com pais que nos matariam por falar palavrões em casa, nos reunimos no estacionamento em frente a pizzaria favorita do Henri com alguns refrigerantes e resolvemos que seria bom comer ali, sentados no cantinho do estacionamento com nossas caixas de pizza, latas de refrigerante e poucos guardanapos.

— Vamos deixar a vida romântica do Eric de lado e ir ao que interessa – Amanda sorri de maneira maliciosa – Ela te disse porque abandonou a escola?

E ali estava o grande mistério que a rede de fofoqueiros da escola não conseguiu solucionar: Por que ela sumiu?

Até pouco tempo atrás eu não reparava na Júlia, mas depois de ler todas as mensagens em que ela era citada no grupo com os meninos e não encontrar sequer um perfil no Facebook com o nome da garota, fiquei curioso.

— Eu não sei – respondo com sinceridade – Nunca falamos sobre o sumiço dela da escola, acho que isso não é algo muito importante.

As meninas se olham de maneira conspiratória, como se estivessem discutindo através do olhar se o que eu dizia era verdade ou mentira. Aproveitei a distração delas para roubar a última fatia de pizza de muçarela.

— Cara, essas mina’ vão te comer vivo se não der uma fofoca boa pra elas – Marco sussurra para que apenas eu ouça.

— Espero que meu gosto seja péssimo porque eu não tenho o que falar.

Henri se aproxima de nós.

— O que vocês estão fofocando aí?

Marco e eu trocamos um olhar e com cara de paisagem dizemos:

— Nada.

O grito de Natasha chama a nossa atenção.

— Quem comeu a última fatia de queijo?

Imediatamente, Henri e Marco se colocam ao meu lado e usam seus corpos para me esconder enquanto coloco a fatia inteira de pizza na boca e mastigo o mais rápido possível.

— Por que os meninos estão parados como se fossem uma parede? – Carol pergunta.

— Porque estão escondendo alguma coisa – Amanda comenta com a voz divertida – Tipo a última fatia de pizza.

— Eu não acredito nisso! – Natasha grita – Vocês sabem que eu sou vegetariana e só como a pizza de queijo, aí vão lá e pegam a última fatia. Isso é uma puta falta de sacanagem, vocês…

Marco se afasta e olha para a loira.

— Você ser vegetariana não significa que a pizza que rachamos é só sua.

— Mas vocês sabiam que eu estava comendo!

— Cê’ comprou uma de brócolis só pra você, se fecha meu!

— Olha aqui, você tenha respeito quando falar comigo seu brutamonte anão!

Os dois continuaram a discutir enquanto Henri, Carol, Amanda e eu observávamos a tudo como meros espectadores.

— Qual de vocês comeu a pizza? – Amanda pergunta.

— O Eric – Henri responde – E espero que tenha valido a pena.

— Cara, tudo vale a pena quando se tem a oportunidade de ver o amor surgir – aponto para os dois briguentos e depois faço um coração com as mãos para emoldurar a cena – Viu? Se você prestar atenção consegue até ver os corações surgindo ao redor.

Meu melhor amigo olha para mim e sei que ele está pensando no mesmo que eu.

— Um, dois… – ele começa a contagem.

— Três!

Juntos gritamos em alto e bom som:

— Entre tapas e beijos, é ódio, é desejo, é sonho e loucura – ouço as risadas descontroladas das meninas.

— Eles estão cantando pra gente? – Natasha pergunta.

— Um casal que se ama até mesmo na cama provoca loucuras – Henri se empolga e prolonga a última palavra fazendo um “loucuuuuuuuuuras”.

— Pior que estão – Marco nos encara com raiva.

— Ok, ok – Carol intervem cortando a cantoria – Acho que já deu. Vamos pegar outra pizza?

Natasha não responde, apenas ergue a cabeça e sai empinando o nariz. Carol revira os olhos e sinaliza para Amanda acompanhá-la enquanto vai atrás da amiga.

— Eu achei que ela ia comer seu fígado – Henri comenta.

— Ia não porque – ele afina a voz e tenta imitar a Natasha – “Eu sou vegetariana”.

— Ser vegetariana mostra que ela se importa com os animais, mas não sei se “Marco” também está nessa categoria.

Marco fuzila Henri com o olhar.

— Cara, às vezes eu me pergunto porque te deixo namorar a minha irmã.

— Porque foi uma decisão dela e eu a faço feliz.

Marco sorri.

— Faz mesmo.

Os dois encaram as meninas. Mesmo de longe, dá para perceber que a Carol está rindo enquanto prende os cabelos ondulados em um rabo de cavalo. De costas elas formam uma escadinha perfeita com Natasha como a mais alta, Carol no meio e Amanda no final.

— Acho que se fossemos mulheres, seriamos como elas – comento.

Os meninos as encaram com curiosidade, analisando a possibilidade.

— Acho que Marco está para Natasha, por que ambos são muito esquentados. Podemos ignorar que ela é loira e ele moreno, e também essa coisa da altura.

— Concordo.

— Ei! – Marco soa ofendido – Sendo assim, Eric está para Mandy porque ambos tem olhos puxados.

— Cara, isso é ofensivo. Melhore.

— Faço das palavras do Henri as minhas. E a Carol está para Henri, porque ela é a mediadora do grupo e ajuda a apaziguar conflitos.

— Você quer dizer a sensata do grupo – meu amigo corrige.

— Nunca diria que você é sensato, já te vi jogando e você é suicida.

— Personagem foi feito para morrer! – Henri argumenta.

Marco distribui leves tapas para chamar a nossa atenção e aponta para o outro lado da rua.

— Eu tô’ sonhando ou a aquela obra de arte fugiu do museu e tá’ bem ali?

Confuso, olho na direção que ele está apontando. No ponto de ônibus pouco iluminado do outro lado da rua está a Júlia, com a mesma camiseta verde estampada com uma preguiça e calça rasgada que usou na sorveteria.

Franzo o cenho enquanto a vejo. Ela está sozinha.

— Que estranho – comento com os garotos – Ela disse que o pai ia buscá-la como faz todos os dias, por que está sozinha?

— Será que ela está indo encontrar com alguém? Tipo um date?

— Nem brinca com isso! – Marco se exalta – Esse pitelzinho não pode se envolver sério com alguém antes que eu tenha minha chance com ela.

Henri revira os olhos.

— Marco, nós sabemos que você nunca terá chances com ela – então ele me empurra de leve – Vai lá falar com a Júlia, talvez tenha acontecido algo com o pai dela.

Olho para os meninos e movo a cabeça em concordância.

— Qualquer coisa eu mando uma mensagem pra vocês.

Deixo os dois em uma acalorada discussão sobre “Como assim eu (Marco) não tenho chances com ela?” e atravesso a rua para chegar até a garota distraída.

— Ei – chamo quando estou a uma boa distância para que ela veja meu rosto e não se assuste – Júlia?

Ela olha em minha direção e por um momento consigo captar nervosismo em sua expressão, mas esse sentimento logo é substituído pelo jeito descontraído dela.

— Oi – ela cumprimenta – O que você está fazendo aqui? Está perdido? Seus pais sabem por onde você anda? – Júlia ri da própria brincadeira e sua risada é encantadora.

— Vim comer pizza com uns amigos – aponto para os meninos no estacionamento do outro lado. As garotas voltaram e estão olhando diretamente para nós, enquanto Henri e Marco fazem sinais de beijo com as mãos – E você? Achei que ia voltar para casa com seu pai como todos os dias.

— Ah, o meu pai… – ela aperta os lábios até formarem uma linha fina – Ele teve um imprevisto, então peguei o ônibus e estou vindo sozinha hoje.

— Mas esse ônibus dá muitas voltas, compensa mais vir a pé.

— Eu sei, mas a região não é muito segura para andar a pé sozinha – ela completa com o tom mais baixo – Principalmente sendo mulher.

Olho para a rua e pela primeira vez percebo que alguns postes estão apagados, dando a sensação de escuridão total para a direção oposta a pizzaria.

— Entendi – casualmente coloco as mãos nos bolsos – Então, vamos para qual lado.

Confusa, Júlia pergunta:

— Como assim “lado”?

— Bem, eu já comi muita pizza e não vou te deixar sozinha – ergo uma sobrancelha – Posso te levar para casa?

Ela suspira e parece aliviada ao dizer.

— Siga-me, nobre cavalheiro – ela faz um sinal com a cabeça e a sigo para a direção dos postes apagados. Como ela tem coragem para andar aqui de noite e ainda por cima sozinha?

Observando o olhar da Júlia, posso ver que ela está no piloto automático enquanto nos guia para sua casa. Caminhamos em silêncio por dois minutos que parecem ser uma eternidade, até que eu pergunto:

— Então, hum, você vem sempre aqui?

Ela me olha com curiosidade e sei que está tentando entender qual é a da pergunta ruim e sem sentido.

— Só quando eu preciso ir em casa o que acontece, meio que, todos os dias – ela se aproxima de mim – E você, vem sempre aqui ou só quando eu estou?

Dou um sorriso tímido, parece natural brincar assim ela.

— Só quando tenho a oportunidade de te encontrar – pisco em sua direção e fico feliz em ver que estamos em uma área com mais iluminação – Mas hoje eu fui arrastado pelos meninos, eles disseram que eu não devo ficar lambendo as feridas e sentindo falta da Thalia.

Ao ouvir o nome da minha melhor amiga, a expressão de Júlia se torna solidária. Ela percebeu no dia em que nos conhecemos que sou apaixonado pela Thalia (algo que sempre achei que escondia bem) e desde então ouve meus pequenos desabafos inseguros sobre a minha melhor amiga não falar comigo direito.

— Já falamos sobre isso, Eric. A Thalia só está muito encantada pelo novo boy dela, mas você é e sempre será o melhor amigo.

O consolo da Júlia me joga com mais força ainda na zona da amizade, mesmo sabendo que ela diz cada palavra para o meu bem.

— Continuo achando estranho isso dela não responder minhas mensagens – suspiro – Nem mesmo sei se ela está bem.

Com exceção a breve visita para pegar um potinho de sorvete, não tive mais notícias da minha melhor amiga e isso é muito esquisito porque sempre fomos aqueles amigos que se falam vinte e quatro horas por dia.

— Eric, ela está apaixonada e provavelmente quer passar todo tempo possível com aquele lá.

Sinto como ela tivesse socado o meu estômago. Thalia já esteve com outros caras antes e namorou algumas vezes, Lucas não é a primeira paixão da vida dela (e espero que não seja a última). Mas, assim como aconteceu a cada cara que ela me apresentou, o pensamento de achar que ele não é bom pra ela e que eu deveria ser a paixão surgiu no fundo da minha mente.

Ciúmes. Inveja. Mágoa. Esses são os sentimentos que eu jogo em uma caixa bem no fundo e deixo guardados a sete chaves para não escaparem porque sei que são sentimentos injustos.

Me preparo para dar alguma resposta para Júlia quando uma mulher se aproxima correndo e a abraça com força.

— Júlia, que susto você me deu! – ela olha para o alto e grita em direção a janela do prédio onde estamos na frente – Carla, cancela a ligação pra delegacia que eu achei a Júlia!

Uma cabeça loira aparece em uma das janelas e grita:

— Ainda bem! – essa deve ser a Carla – Julinha, tu nunca mais assusta a gente assim, hein!

A mulher que abraça Júlia deve ter a altura do Marco, seus braços são cobertos por tatuagens em um padrão que mistura diversos elementos orientais e sobem até desaparecer nos ombros por baixo da manga de sua camiseta preta estampada com uma mão mostrando o dedo do meio. Os cabelos da mulher são de um vermelho vivo e bem curtos.

— Eu vi sua mensagem tarde demais, não sabia que devia te encontrar no ponto de ônibus e aí quando eu liguei você não atendeu… Fiquei muito preocupada, Júlia – ela abre os olhos e finalmente parece perceber a minha presença – Quem é esse?

Pela primeira vez, vejo Júlia gaguejar.

— E-e-esse é o Eric – ela aponta para mim – Eric, essa é… – a mulher a interrompe.

— Sou a Michele, a melhor amiga e colega de quarto da Júlia.

Confuso, olho para Júlia que parece se esconder atrás da figura de Michele.

— Colega de quarto? Mas eu achei que a Júlia morasse com os pais.

— Ah não, ela deixou a casa dos pais faz muito tempo – Michele estala a língua e revira os olhos castanhos como se estivesse dizendo algo que qualquer um deveria saber – Agora ela mora comigo.

Olho para Júlia que definitivamente está tentando se esconder atrás da melhor amiga. Ela percebe meu olhar e começa a encarar os próprios sapatos.

— Bom saber que a Júlia mora com a melhor amiga – sorrio da maneira mais simpática que consigo – Então Júlia, pode me dizer por que mentiu dizendo que ia encontrar seu pai?


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Notas finais do capítulo

Júlia, você foi pega na mentira! Próximo capítulo acontecerá no Casos de Família para explicar essa mini-possível-treta entre Eric e Júlia Jujuba.

Obrigada a todos que esperaram pelo novo capítulo, espero que vocês tenham dado tantas risadas quanto eu enquanto escrevia (principalmente nos trechos do Marco que foram meus favoritos). Por muitos motivos, razões e emoções a saída foi atrasar o capítulo, mas fazer com valesse a pena. (Isso não é plágio de NxZero, essa é uma história de música sertaneja). Desculpa pela demora!

Ainda essa semana pretendo postar outro capítulo, então fiquem de olho nas notificações e deixem aquele comentário bacanudo (pode xingar a autora) pra que eu saiba o que estão achando.

Beijo de hortelã jovens bolinhos de caramelo.



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