Músicas Bregas Lembram Você escrita por Panda Chan


Capítulo 4
4. Sinais


Notas iniciais do capítulo

OiOi bolinhos, tudo bem?
Já vou começar esse capítulo agradecendo pelos comentários do último. Obrigada!
Além disso, quero dar as boas-vindas para a Snow Queen e a
Divergentesemideusa Herondale que começaram a ler a história ♥
Espero que gostem desse capítulo. Boa leitura!



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Dediquei meu final de semana para jogar online com o Henri e ter um ataque de vergonha alheia para cada meme maldoso que o Marco enviava no grupo me zoando. Em um deles, o mais criativo diga-se de passagem, ele usou um vídeo meu dançando e inseriu a música “Baby Shark” de fundo.

Henri: Cara, isso é genial.

Eric: É, se você se dedicasse pros estudos como se dedica pros memes…

Marco: Iiih, quando eu quero julgamento almoço com meus pais.

Henri: Liga não cara, nem todos compreendem a arte.

Marco: É difícil ser artista no século XXI.

Também tive que aguentar os comentários e opiniões da Naomi sobre minha vida amorosa (por sinal, ela tem muitas opiniões sobre esse tópico) e as pequenas indiretas sobre “como os aplicativos de namoro podem ser uma boa para os jovens encalhados”.

Não imaginei que o meu primeiro final de semana de férias seria assim, mas acho que foi melhor do que nada.

Meu celular vibra com uma mensagem da minha querida irmã me lembrando que preciso estar na sorveteria mais cedo para levar seu almoço porque ela está “varada de fome”. Sinceramente, queria saber de onde ela tira essas expressões.

Consulto a hora antes de guardar o celular e termino de embalar a marmita que preparei para Naomi e eu comermos.

— Hoje vai ser um bom dia – murmuro sozinho.

Naomi disse que precisava estudar sem interrupções, por isso escolheu o horário da manhã para ficar na sorveteria. Já eu, que não tinha muitos argumentos na hora porque estava enfrentando um kraken no joguinho, fiquei sem escolha além de aceitar o turno da tarde que é de longe o mais cheio de clientes sem razão.

A unidade da sorveteria no bairro fica há menos de quinze minutos a pé da minha casa e mesmo andando lentamente, observando o céu, as borboletas, os cachorros e os carros chego mais cedo do que gostaria. Não que eu esteja fazendo isso para não pensar na Girassol enfiando a língua na garganta do Lucas, sou um cara pontual mesmo.

— Meu pai teria orgulho dessa pontualidade – comento em voz baixa, assustando uma senhora que passava na rua.

— Os jovens de hoje em dia ficam falando sozinhos, as drogas fazem isso com eles – ela resmunga – No meu tempo não tinha isso, tudo era melhor antes.

Os comentários dela me fazem revirar os olhos. Ótimo, agora terei fama de drogado para os idosos do bairro.

A fachada azul-claro surge em meu campo de visão e sorrio enquanto atravesso a rua em direção a construção de um andar em frente a principal praça da cidade. Estar na sorveteria me acalma e esse é um lugar cheio de boas memórias.

O sorriso se mantém enquanto passo pelos clientes sentados nas mesas do lado de fora, alguns me reconhecem e acenam minha direção enquanto outros comentam sobre seus sorvetes estranhos e tiram fotos para as redes sociais. Antes de abrir as portas de vidro, olho para um dos girassóis no canteiro que cerca o prédio, uma pequena marca de que a Thalia esteve aqui.

— Demorou, hein – Naomi grita do balcão assim que me vê entrar – Ainda bem que não dá pra avaliar essa entrega porque a nota seria zero.

Os conhecidos nas mesas próximas dão risada da reclamação e olham em minha direção esperando por uma resposta. Dou de ombros como resposta e sigo meu caminho até o balcão.

Por ser um negócio relativamente antigo e Naomi e eu sempre estarmos por aqui, nossos vizinhos do bairro já nos conhecem como “os irmãos da sorveteria Haru” e criaram certa intimidade conosco.

Encaro minha irmã que prepara o troco de um cliente no caixa e digo:

— Oi Naomi. Sim, estou bem. Não, não foi trabalho nenhum correr para fazer o seu almoço de última hora. Ah, sim eu passei protetor solar. Obrigado por se preocupar comigo.

Ela ergue os olhos para mim, faz sua expressão mais arrogante e diz com ar de superioridade:

— Ainda bem que você sabe das coisas sem que eu precise falar – com um sorriso simpático e livre de arrogância, ela olha para o cliente – Já vou preparar o seu sorvete senhor, só um momento.

Deixo as marmitas ao lado da minha irmã, observo ao redor e vejo os clientes acomodados nas mesas brancas e nos sofás espalhados pelo salão. Depois fico na ponta dos pés para olhar por trás dos expositores com dezenas de sabores.

— Cadê o funcionário novo? – pergunto.

— É funcionária – minha irmã responde enquanto prepara o sorvete do cliente – E ela está lá atrás buscando mais cestinhas. Você bem que podia dar uma mão e ver se ela teve algum problema, né.

— Posso sim, mas não porque é você pedindo.

Atravesso o balcão e vou em direção aos fundos do prédio, mas não sem antes ver o olhar de “se eu tivesse visão de raio laser você estaria ferrado” que Naomi ostenta em minha direção. Vendo a situação, o cliente que está sendo atendido começa a gargalhar.

— Tem que obedecer a chefe, guri! – ele aconselha.

Naomi se diverte com o comentário e não preciso olhar para saber que ela dará uma cobertura extra de graça pra o senhor que o disse.

Entro no corredor estreito que dá acesso a uma cozinha para funcionários, um pequeno escritório para quando meu pai trabalha aqui e o depósito onde ficam armazenados os mantimentos da sorveteria.

Chegando lá, encontro uma pessoa oculta por três caixas de cestinhas para sorvete dando passos desajeitados.

— Opa, deixa eu te ajudar – vou em sua direção e pego as duas caixas de cima, revelando o rosto que estava oculto e aquele par de olhos incríveis – Júlia do Vestido Falante? – solto sem perceber.

— E aí, Eric Amigo do Meu Vestido? – a voz dela é tão gostosa de ouvir quanto me lembro – Infelizmente, hoje eu troquei o vestido por calças e regata, então vocês nem podem conversar um pouco.

Ela dá risada de sua própria piada fazendo com os cabelos castanhos claros balancem em seu rabo de cavalo.

— É, desculpa por aquilo. Eu não estava no meu melhor estado.

— Imaginei que aquele não era mesmo o seu melhor estado – ela arruma a caixa restante para segurá-la com apenas uma mão – Embriagada, sofrendo por amor e alucinando enquanto fala com o vestido de uma estranha – ela ergue um dedo da mão livre para cada coisa enquanto fala – Esse não deve ser o melhor estado de ninguém.

Agora é minha vez de rir diante de seu comentário.

— Em minha defesa, meu estômago estava vazio e não estou acostumado a beber nada alcoólico.

— Nem percebi – então ela me olha de forma engraçada, como se estivesse confusa – E o que você faz aqui?

— O meu pai é o dono, então a minha irmã e eu nos revezamos pra cuidar do lugar nas férias.

— Então quer dizer que eu conheço o filho do chefe? Uau, você podia me ajudar com uma promoção para ficar no caixa – com a voz baixa, ela continua – Só entre nós, a Naomi monopoliza aquele lugar.

— Para o nosso azar, ela odeia servir sorvetes e é quase impossível tirá-la de lá.

— Droga, estou muito frustrada agora – contrariando suas palavras, o tom da voz continua alegre e brincalhão.

Antes que eu possa pensar em uma resposta para manter nossa conversa, sou interrompido pela voz da minha irmã.

— Então é aqui que vocês estão se escondendo – ela nos olha de maneira esquisita – Vim ver se estava tudo bem, se precisavam de ajuda, mas encontrei dois espertinhos matando o trabalho.

Júlia segura a caixa com as duas mãos e até melhora a postura para parecer mais profissional.

— Tudo certo, o Eric veio me ajudar com essas duas caixas e já vamos lá pra frente.

— O Eric o que? – minha irmã olha feio para as caixas – Isso está errado – antes que possamos reagir, ela se coloca entre Júlia e eu, pega a caixa que a garota carregava e deixa em cima das duas em meus braços – Bem melhor.

— Ei! Eu não sou seu empregado! – protesto por trás das caixas.

— Só ouço o blá blá blá de preguiçoso – sinto suas mãos pressionando minhas costas como incentivo para que eu vá embora – Júlia e eu estamos trabalhando aqui há horas e precisamos de uma pausa para o almoço, é justo que você pegue no pesado.

Suspiro profundamente e faço o que ela pediu, mesmo achando que é injusto porque vou começar o expediente em breve. Quando volto para o corredor, encontro as garotas em uma acalorada discussão.

— Estou te falando, não tem problema deixar a parte da frente sem ninguém.

— Mas estamos em três! – Júlia rebate – Podemos nos revezar para que alguém fique no caixa e cuide do salão.

Naomi estala a língua em resposta.

— Bobagem e sei que você só quer fazer isso porque não gosta da minha ideia de dividir a marmita.

Júlia parece corar e resolvo intervir.

— O que está acontecendo?

Mais que prontamente, Naomi começa a explicar a situação.

— Ela não sabia da cozinha e não trouxe almoço, então a convidei para almoçar com a gente porque sei que você sempre prepara comida demais. Agora ela tá buscando desculpa para fugir da gente, vê se pode!

Olho para Júlia querendo transmitir um “Sinto muito, mas não dá para fugir da Naomi” com o olhar. Ela parece entender a situação e suspira.

— Se não tenho escolha, me deixem pelo menos explicar para os clientes no salão que vamos fechar pro almoço.

Naomi sorri satisfeita enquanto uma Júlia muito corada passa por mim.

— Você deve ter gostado mesmo dela se a convidou para comer com a gente e se dispôs a dividir o almoço com alguém.

— Gostei sim, mas não tanto quanto você.

Antes que eu possa dizer algo, Naomi entra na cozinha e me deixa sozinho.

 

Dizer que o clima no almoço estava estranho pode ser considerado eufemismo, por isso Naomi e eu começamos a brincar de implicar um com o outro e zoar com coisas da infância. No final, Júlia estava gargalhando com nossas histórias malucas e participando ativamente da conversa.

Quando a minha irmã enfim foi embora, olhei para Júlia e disse:

— Preparada para servir sessenta e sete sabores diferentes de sorvete para muitos clientes sem noção?

Com uma expressão decidida no rosto, ela me encarou e respondeu:

— Sim, senhor.

Deixei que ela responsável pelo caixa enquanto eu corria com bolas de sorvete e coberturas para atender a todos os pedidos. O tempo passou rápido e faltando uma hora para fechar ela chegou.

— Como o meu ninja favorito dos sorvetes está hoje?

Ali estava ela, brilhando de alegria como sempre usando sua jardineira amarela, camiseta branca e tênis coloridos com os cachos emoldurando seu rosto.

— Oi Girassol – respondo com animação – O que a traz aqui?

— Bem – ela passa o dedo indicador despretensiosamente pelo expositor até parar em cima do seu sabor favorito – Vim lembrar para o senhor Toshiro do porquê ele não devia ter me dado sorvetes infinitos.

— E visitar o seu melhor amigo que é bom nada – digo em tom de brincadeira – Já preparo o seu sorvete.

Termino de atender alguns clientes e monto a casquinha favorita da Thalia com sorvete de chocolate amargo, cereais coloridos com baunilha e caramelo com chocolate. Ela dá pequenos pulinhos de alegria enquanto pega a casquinha com três bolas das minhas mãos.

— Obrigada, Ericzinho. Você é o melhor!

— Só porque te alimento com sorvete – ela faz uma expressão ofendida – Mas, sério, você veio até aqui só para pegar uma casquinha?

— Que nada, vou encontrar o Lucas na praça daqui a pouco – ela olha a hora em seu celular e se sobressalta – Ih, já tô’ atrasada. Até logo, Eric!

Da mesma maneira inesperada que vem, ela se vai e me deixa sozinho com os sorvetes e clientes para atender.

 

No final do dia, apenas duas pessoas cansadas estão na sorveteria: Júlia e eu.

— E aí, o que achou do seu primeiro dia?

Júlia tira o avental e solta os longos cabelos castanhos do rabo de cavalo.

— Bem melhor do que eu imaginava – ela franze o cenho – E bem mais movimentado.

— Melhor se acostumar porque nas férias é sempre assim – aponto para os expositores – Essa é a única sorveteria na cidade com sessenta e sete sabores diferentes.

Ela olha para os expositores e para as telas atrás do caixa onde vários sorvetes aparecem em looping.

— Acredita que eu não conhecia esse lugar? Só soube de sua existência quando vi a vaga de emprego.

Faça uma expressão fingida de quem está ofendido.

— Essa é uma falha enorme em nosso marketing e na sua educação – ela faz careta – Nunca provou um dos nossos sorvetes?

— Não e tem alguns sabores tão loucos aqui que nem sei se provaria.

— Ah, mas vai provar agora – puxo uma cadeira – Milady, seu lugar, por gentileza.

Ela observa com curiosidade enquanto eu sirvo dois potes com um dos sabores de sorvete e levo até a mesa.

— O que é isso? – pergunta.

— Vamos chamar de treinamento – pisco com um dos olhos – Esse é um dos sabores mais estranhos e dos que mais sai, é legal que você saiba como é.

— Mas não vamos ter problema com o seu pai por tomar o sorvete de graça?

— Qualquer coisa a gente coloca na conta da Thalia.

Ela dá uma risada que é estupidamente boa de ouvir e algo em mim se agita.

Espero até que ela dê umas cinco colheradas no sorvete antes de perguntar:

— Gostou?

— Muito – ela responde rapidamente – É muito bom e diferente. O que tem aqui?

— Requeijão cremoso e cereja – ela faz careta – Não tô’ brincando, é sério.

— E como uma combinação horrível dessas pode dar em algo bom?

— Pergunte ao senhor Toshiro, ele traz uns sabores muito esquisitos e que vendem muito bem – aproveito para pegar uma colherada generosa do meu pote – Meu pai diz que é como se ele visse sinais de que, mesmo sendo esquisito, aquilo vai dar certo. Estranho, né?

— Um pouco – a voz dela sai um pouco baixa – É uma pena que para algumas situações não existam sinais ou a gente não consiga vê-los.

Não comento nada, mas tenho a impressão de que ela não está falando sobre sabores de sorvete.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham que a Júlia quis dizer com essa história de 'sinais'?
E alguém mais acha que a Naomi rouba cena sempre que aparece em um capítulo?
Compartilhem suas teorias nos comentários, eu me divirto muito lendo e adoro respondê-los ♥
Até o próximo capítulo,
Beijos jovens bolinhos de suspiro.



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