Músicas Bregas Lembram Você escrita por Panda Chan


Capítulo 3
3. Esse cara sou eu


Notas iniciais do capítulo

OiOi!
Estou tão feliz que a história recebeu seus primeiros comentários aqui ♥
Obrigada pela atenção e pelos comentários, Taah S.! Espero que goste desse capítulo como dos outros.
E por falar nesse capítulo, ele me deu um pouquinho de trabalho para escrever. Boa leitura!



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A parte difícil de passar a noite fora de casa é que seus pais sabem que você foi a uma festa e que passou a noite fora de casa. Além disso, eles também têm o WhatsApp da dona da casa onde você dormiu.

— Que bonito, hein – minha mãe abre a porta assim que piso no tapete de boas-vindas – Dormiu fora, aparentemente ficou alcoolizado… Achei que tinha te educado para ser melhor que isso – ela estreita os olhos – Deixa o sapato ali, seu pai tá em casa.

Suspiro pesadamente me arrependendo mais uma vez de ter escutado o maluco do Marco enquanto deixo meu sapato na pequena sapateira ao lado da porta.

No Japão é costume deixar os sapatos que usou para sair do lado de fora de casa, isso evita que o lar seja contaminado por impurezas da rua e pelos problemas do cotidiano. Meu pai morou lá só até os 5 anos, mas essa é uma tradição que ele faz questão de manter.

Também é um dos principais motivos de brigas aqui em casa porque minha mãe e eu estamos sempre desrespeitando isso sem querer. Como eu já estou meio encrencado, dessa vez abandono meus sapatos e calço as pantufas sem reclamar.

— Sinto muito por ter causado alguma preocupação, mãe – começo assim que piso na sala. Como sempre, Naomi está estudando deitada no sofá. Ela ergue os olhos do livro e balança a cabeça com olhar de julgamento. Sigo para a cozinha – Eu tomei uma decisão errada e isso não vai se repetir, prometo.

A cozinha cheira a bolo e calda de chocolate, um dos melhores cheiros do mundo. Respiro fundo para inalar mais daquele aroma mágico e delicioso.

— Bem, espero que você cumpra suas promessas – minha mãe cruza os braços e me olha de cara feia por cinco segundos antes de desistir da pose – Sabe que eu odeio fazer o papel de mãe séria, né? Não me force a fazer isso de novo – então ela abre os braços e logo sou envolvido pelo seu calor.

— Eu sei – sorrio para ela – E esse bolo, Dona Amélia?

— Fiz pensando em você – ela diz com a voz baixa – Um incentivo para sobreviver ao sermão que seu pai vai dar.

Ao longe, posso ouvir o grito do meu pai me chamando e sua voz parece furiosa.

— Ah, tem isso ainda – suspiro – Por favor, não deixe ele escrever na minha lápide que fui a vergonha da família.

Ela aperta meu ombro de maneira encorajadora.

— Farei o possível para deixar sua imagem intacta.

Subo as escadas e vou até o final do corredor, onde encontro a porta do escritório do meu pai aberta e ele sentado atrás da mesa com a cara bem irritada.

Meus pais se completam em muitos aspectos e o principal é esse: a maneira como lidam com algo. Minha mãe é mais liberal, sempre ouve e fala na mesma medida e raramente apela para um castigo ou punição severa. Já meu pai, bem, ele é o oposto dela nesse aspecto.

— Bebeu tequila, Eric? – meu pai questiona retoricamente com o tom de voz ameaçador – Você não pode aguentar pelo menos duas semanas para fazer isso de maneira legal?

O escritório do meu pai reflete bem a sua personalidade: organizado e minimalista. Ele diz que precisa apenas do essencial, que no caso são os arquivos para guardar documentos importantes da família e da casa, uma estante de ferro com poucos livros (todos de negócios e organizados em ordem alfabética), uma cafeteira e o conjunto da escrivaninha e a cadeira de rodinhas. Ele não deixa um computador fixo no escritório, acha desperdício de dinheiro, por isso utiliza o mesmo que usa para seu lazer.

— Sinto muito, pai – mantenho a cabeça baixa e encosto a porta para abafar os gritos que virão.

— Sente muito? Você é o filho mais velho, que exemplo acha que está dando para a sua irmã mais nova? – engulo em seco – Já pensou que isso pode incentivar a Naomi a experimentar álcool? – após a breve explosão, ele se acalma e sua voz soa menos ameaçadora – Você é o exemplo dela, filho. Sua mãe e eu queremos ensiná-los a serem adultos saudáveis, mas só você pode mostrar para a sua irmã como é ser um adolescente responsável. O mundo é perigoso para vocês, mas para ela principalmente.

E aí está, o lado do meu pai que se esconde atrás dos gritos e castigos: o protetor.

Toshiro, meu pai, e suas irmãs vieram morar com os tios quando eram muito jovens. Por ser o caçula, ele passava muito tempo brincando com suas irmãs e o restante com seu tio, que era um daqueles homens que acreditam que “cabe a nós, seres de pênis, ser o chefe da família e macho alfa”. O tio o ensinou a ser um “macho”, as minhas tias o ensinaram a ser um homem.

Elas sempre disseram que nossas atitudes são exemplos para outros, seja para o bem ou para o mal, e que cada membro da família é responsável por dar o exemplo para o próximo a fim de manter todos unidos.

Por um descuido, minha tia mais velha engravidou no final da adolescência e foi expulsa da casa dos tios dela. Meu pai confessou que o tio dele dizia todos os dias que uma maçã podre vai estragar as outras e que as outras irmãs seguiriam pelo mesmo caminho.

Alguns anos depois, esse tio faleceu e a minha tia mais velha pode voltar a viver com as irmãs e irmão. Porém, meu pai nunca se esqueceu das palavras de seu tio.

Percebo que ele continua com seu sermão e volto a prestar atenção.

—…você entende isso, Eric? – movo a cabeça em concordância sem fazer ideia de com o que estou concordando e ele suspira – Que bom filho, não gosto de te cobrar, mas você não deve se esquecer das responsabilidades que tem com a família.

— Pode deixar, pai – me viro para abrir a porta quando ouço sua voz me chamando novamente.

— Outra coisa – o encaro torcendo para que não seja uma parte dois do sermão – Sei que você precisa estudar para as provas das faculdades, mas surgiu uma oportunidade e a Naomi também vai estudar dobrado nessas férias. Por isso, vou separa os turnos de vocês na sorveteria.

— Mas pai, é época de férias, o movimento vai ser infernal!

Meu pai se formou em administração e trabalhou por anos em multinacionais, mas dez anos atrás largou tudo e resolveu realizar seu sonho e ter uma sorveteria como as que ia quando era criança. Os sabores secretos de sorvete que meu pai criou fizeram sucesso instantaneamente e não demorou muito para que ele abrisse uma segunda unidade da sorveteria.

Durante as férias, Naomi e eu trabalhamos lá por meio período (outra regra do meu pai é nada de mesada, então ele paga um salário normal e cabe a nós economizar o valor durante o resto do ano) para auxiliar ele ou algum funcionário com o serviço.

Geralmente nossos turnos são de três pessoas, nós e um funcionário fixo. Assim cobrimos os horários mais lotados sem nos cansar tanto.

— Não se preocupe, contratei uma garota que vai ficar em período integral e fechar a loja. Vocês só terão que trabalhar quatro horas cada, acho que conseguem lidar com os clientes.

Considerando que antes trabalhávamos umas seis horas, quatro parece ser algo aceitável e vai sobrar tempo para dormir até tarde.

— Sendo assim, tudo bem. Agora se me dá licença, tenho que tomar banho.

Com uma careta ele diz:

— É, você tá precisando mesmo.

 

 

Depois de me livrar das roupas do baile e do suor causado pela faxina na casa do Henri, finalmente deito na minha cama e posso encarar os adesivos que brilham no escuro no teto em paz.

Ou, pelo menos, até meu celular tocar.

— Quem será, quem será? – murmuro enquanto desbloqueio o aparelho.

O grupo com Henri e Marco tem mais de cinquenta novas mensagens, mas antes que eu possa ler, uma conversa com apenas três me chama a atenção.

 

Thalia: Oi!

Acordei agora, fiquei bem louca ontem haha.

Posso passar na sua casa pra gente conversar?

 

Eric: Pode sim.

A minha mãe fez bolo, então vem logo.

 

Mesmo sem uma resposta dela, desço as escadas e fico na sala esperando.

Quinze minutos depois, ouço alguém bater à porta.

— Ouvi dizer que tem bolo – ela sorri.

Thalia parece estar radiante e mais alegre do que nunca com seu cropped amarelo, short preto e as pantufas que deixamos separadas para ela.

— Você não parece alguém que teve ressaca – observo enquanto dou passagem para que possa entrar.

— Eu te disse que fiquei bem louca, não disse do que foi – ela diz baixo para que só eu ouça – Oi Naomi, como vai a minha flor do dia hoje?

Naomi ergue o olhar de seus livros e sorri para a minha amiga.

— Bem melhor que o meu irmão pateta, posso te garantir.

Olho feio para repreendê-la, mas tudo que consigo é fazer as duas rirem da minha cara.

A minha mãe vem em nossa direção com um grande sorriso no rosto.

— Thalia, minha menina – elas se abraçam – Você está tão bonita! – minha mãe aperta as bochechas dela – Não se esqueça de levar bolo para seus pais antes de ir pra casa.

— Pode deixar tia Amélia!

Minha mãe sobe as escadas enquanto nós vamos para a cozinha, deixando a minha irmã sozinha com seus estudos.

Na cozinha, Thalia senta em uma cadeira enquanto eu sirvo fatias de bolo para nós.

— Que saudades desse bolo de cenoura – ela leva uma garfada até a boca – Sua mãe arrasa na massa e na cobertura de chocolate.

— Eu sei, ela diz que é porque coloca muito amor em tudo que faz.

— Não tenho dúvidas – ela apoia o rosto entre as mãos – O amor deixa tudo mais maravilhoso.

Ergo uma sobrancelha diante do comentário sem sentido.

— Você quer me dizer alguma coisa, Thalia?

O sorrio bobo em seus lábios já me deu indícios da resposta.

— Aí Eric, o Lucas é tão perfeito e beija tão beeeeeeem – sim, ela prolongou bastante o “e” – A noite de ontem parece um sonho, sério. Ele me beijou quando desci do palco, depois continuo me beijando no corredor e aí fomos no laboratório e…

— Por favor – imploro – Me diga que vocês não molharam o biscoito na bancada que a gente usa.

Ela revira os olhos, ignorando a expressão antiquada que escolhi usar para sexo.

— Claro que não, babaca – ela parece constrangida antes de continuar, em voz baixa – Aí eu falei com ele sobre álcool e tal, ele me disse que está numa reabilitação e não bebe mais. Então a gente saiu de lá e foi pra casa dele, daí…

— Por favor, não continue – aperto a ponte do meu nariz – Acho que já tive detalhes demais.

Ela revira os olhos.

— Homens – resmunga e volta a comer seu bolo – E só pra você saber, não transamos. Ok?

Resolvo jogar o balde de água fria que ela precisa.

— Não é isso – suspiro – Você tá feliz e isso é ótimo. Eu fico feliz porque você tá feliz, sabe disso né? Mas, Thata, você sumiu pra ficar se pegando com um cara na escola e depois passou a noite na casa dele. Vocês mal se conhecem! Tem noção de como isso é louco? Eu recebi três sermões de três pais diferentes por ter dado uns goles na tequila do Marco e ficar meio alterado. O que você fez é bem mais irresponsável.

— Eu sei, eu sei – ela ergue as mãos em sinal de rendição – Mas sei lá, talvez ele seja o cara.

O cara.

Em momentos como esse é difícil não usar as palavras do Roberto Carlos e gritar “Esse cara sou eu!”, porém, é uma consequência do que escolhi. A Thalia não faz ideia do que sinto por ela e que ouvir coisas assim desperta o ciúme que eu não tenho direito de sentir.

— Vocês mal se conhecem.

— Sabe nas comédias românticas quando o casal se beija e tudo se encaixa? – seu sorriso aumenta – Foi exatamente assim que me senti. Não dá pra explicar, mas o sentimento foi maravilhoso.

— Eu ficaria mais tranquilo se você esperasse um tempo para conhecê-los melhor antes de decretar que ele é o cara.

— Tá bom, tá bom, mamãe Eric – ela revira os olhos – Mas tenho certeza que quando mais tempo juntos, mais rápido irei te mostrar que ele realmente é o cara.

Engulo os sentimentos negativos e mudo de assunto para falarmos sobre as fofocas pós baile que ela recebeu. Em poucos minutos, somos os amigos de sempre conversando e comendo.

E nada indica que um de nós está secretamente apaixonado pelo outro.

 

 

Depois que Thalia vai embora, tomo coragem para ler o grupo com os meninos. As cinquenta mensagens são, em sua maioria, imagens e vídeos meus dançando que eles transformaram em memes.

Em meio as mensagens, chego até uma parte que Henri fala sobre a minha breve conversa com Júlia.

Marco: Que inveja, mano!

Tudo que eu queria era falar com aquela deusa das curvas.

A mina parece um violão.

 

Henri: Já pensou que é justamente por esse seu jeito que ela não fala com você?

 

Marco: É né, o Eric só ignorou a mina e ela até água ofereceu.

Agora pra mim, que faço dez viagens pra carregar tudo aquilo de areia no meu caminhãozinho, nada.

 

Por curiosidade, pesquiso o nome “Júlia” na conversa e encontro centenas de resultados. A história de Henri é verdadeira, eles falam da Júlia de vez em quando e Marco tem um crush forte nela. Baixo uma mídia enviada pelo Marco no meio dessas mensagens, em poucos segundos estou encarando os cabelos claros e a expressão entediada da garota.

 

— É Júlia do vestido mágico, parece que não vai ser difícil a gente se encontrar pra que eu possa te agradecer por ontem.

 


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Notas finais do capítulo

Até que o Eric sabe como controlar o ciúmes né? Mas o que será que vai acontecer quando a Thalia se aproximar (e apaixonar) ainda mais pelo Lucas?
Será que o crush do Marco pela Júlia trará problemas para o nosso protagonista?
Compartilhem as suas teorias nos comentários e até o próximo capítulo!
Beijos de hortelã jovens bolinhos de chocolate.



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