Músicas Bregas Lembram Você escrita por Panda Chan


Capítulo 2
2. Boate Azul


Notas iniciais do capítulo

OiOi, olha eu aqui de novo!
Tudo bem, fantasminha?
Em algumas partes do capítulo você vai notar palavras escritas erradas e isso é de propósito para acompanhar o "estado" do Eric.
Espero que vocês goste do novo capítulo. Boa leitura!



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Certa vez, li um romance para a aula de literatura em que o protagonista dizia estar devastado ao ver o amor da sua vida beijando outro. Bem, eu não tenho certeza se a Thalia é o amor da minha vida, mas sei que sou apaixonado por ela há um bom tempo e acredito isso me dá liberdade para dizer que não estou devastado.

Nesse momento, estou me sentindo como o cara que escreveu a música “o tempo passou e eu sofri calado, não deu para tirar ela do pensamento. Eu ia dizer que estava apaixonado...”. Ok, eu não pretendia me declarar nem nada assim, mas caramba, ainda machuca!

Não existe música ou trilha sonora que te prepare para ver a garota que você gosta beijando um cara babaca.

— Eric, cê’ tá bem? – Henri se abaixa um pouco para ficar da minha altura e olha diretamente em meus olhos – É, não tá.

Marco tira o braço que estava em meus ombros e também me encara, só que levantando um pouco os pés.

— É, tá com cara de coração partido – mesmo com o hálito de cerveja, ele parece estar lúcido ao dizer isso – Sei como resolver essa situação!

Ao fundo, Thalia e Lucas se separam sorrindo. Ele passa a mão pela cintura dela e a ergue alguns centímetros do chão antes de beijá-la novamente. Dessa vez, alguns alunos assistem a cena e se empolgam gritando “Uuuuuuuuh” e algumas frases de incentivo como “Olha o casalzin aí!”.

— Como? – meu melhor amigo vai para o lado de Marco e a diferença de trinta centímetros de altura entre eles fica ainda mais evidente. Assim como eu, eles se arrumaram para a ocasião e vestiram roupas sociais.

Em resposta, Marco abre um grande sorriso e puxa um pequeno cantil do bolso de sua camisa.

— Com um porre federal!

Henri revira os olhos e eu provavelmente teria feito o mesmo (essa expressão é totalmente antiquada!), mas estava focado demais na trocação de saliva para isso.

— O Eric não bebe, cara.

— Hoje eu acho que ele bebe – Marco me analisa de cima a baixo com o olhar e depois oferece o cantil. A embalagem prateada está bem riscada, sinal de anos de uso e descuido, mas tenho certeza que isso não afeta o sabor do álcool em seu interior.

Dou de ombros antes de pegar o cantil e um estranho calor se espalha pelo meu corpo no instante em que o líquido passa pela minha garganta, deixando uma sensação de ardência para trás.

— Eca, o que é isso? – pergunto um pouco enojado pelo sabor e pela sensação que causou.

— Tequila, muchacho— ele pisca e pega o cantil para se servir com um gole daquilo.

— Cara, você podia pelo menos ter oferecido um limão e sal pra ele – Henri me dá um olhar que diz “Desculpa pela lerdeza dele, te garanto que não é tão ruim assim” – Sinto muito por você começar a beber do jeito errado. Tenta não beber mais nada pelo resto da noite, tá?

Faço um movimento concordando com o que Henri diz. O calor diminui aos poucos em meu corpo.

Mesmo que a festa seja organizada pela escola, muitos alunos já tem 18 anos e conseguem comprar álcool escondido.

— Ah, para de ser chato, Henri – Marco fala com um tom brincalhão – O garoto precisa de um bom porre pra superar o coração partido.

Henri pega o cantil da mão de Marco e guarda no bolso de seu paletó.

— Você também não pode beber mais essa noite, entendeu? – meu melhor amigo fala como um irmão mais velho, mesmo sendo o mais novo – Cê’ bebeu cerveja, agora tequila… A chance de dar ruim é muito alta.

Marco fica entendiado com o sermão e revira os olhos antes de seguir caminho para um grupo de caras que devem ser seus amigos. Henri me olha e dá uma risada.

— Pelo menos vou ver a sua primeira experiência com álcool em primeira mão.

— Para de ser idiota – olho para onde o casalzin estava minutos atrás e não os encontro – Nem tô’ sentindo diferença.

O sorriso de Henri aumenta.

— Ainda.

 

Não sei ao certo quanto tempo se passou, para mim foram apenas 5 minutos, mas para o meu corpo, o DJ, os outros alunos e o relógio, foram algumas horas. Contudo, sei de uma coisa: eu estou me divertindo.

E daí se a Thalia está afim do Lucas? Eu sou um jovem rapaz independente com muito para viver, bocas para beijar e tenho um excelente gosto musical.

Pelo menos foi o que Henri e Carol disseram pouco antes de me arrastar para a pista de dança.

Dançamos diversas músicas e acho que nunca soltei tanto meu corpo como hoje porque, bem, dançar é algo muito difícil e tem todo aquele lance de ser julgado pelos seus movimentos. Mas e daí, o que eu tenho a perder? Nada!

— Eu tô todo cansado – digo para Henri no intervalo entre a troca de músicas.

— Aguenta mais aí, aqui tá muito divertido! – ele me responde e olha para Carol e suas duas amigas que nos acompanharam na pista a noite toda.

— Acho que preciso sentar – murmuro e percebo que o mundo está girando de maneira meio diferente.

Henri também percebe que tem algo errado com a rotação do planeta e avisa Carol que vai me deixar sentado nas arquibancadas por enquanto.

— É, acho que deu pra você por enquanto – ele ri – Tá todo suado e bêbado.

Caminhamos até um lugar vazio próximo a parede onde uma almofada espera por alguém de bom coração para descansar o trasseiro nela .

— O retrato do jovem moderno – sorrio para ele.

Vou sozinho até a almofada confortável e encosto a cabeça na parede. Henri avisa que vai buscar uma garrafa de água para mim e já volta.

Mesmo encostado na parede, a sensação de que algo está girando errado continua. Sei que a tequila é uma bebida que se bebe em shots e eu só virei o cantil como se não houvesse amanhã. Será que eu bebi errado? Não devia ter virado aquele cantil como se fosse refrigerante de uva.

— Ah, refrigerante de uva – murmuro – Eu amo mais você do que amo a Thalia.

— Deve ser muito amor mesmo – uma voz feminina diz, chamando a minha atenção – Aposto que você está assim por causa dela.

Viro em direção a voz, o que diga-se de passagem foi uma péssima ideia, e me deparo com um vestido preto sem alças de saia rodada.

— Como você sabe, senhora Vestido Falante? – as palavras saem meio enroladas – Tu é mágixca?

Ouço uma risada e me preparo para perguntar como o vestido ri sem abrir a boca quando a pessoa que está vestindo a peça se abaixa para ficar no meu campo de visão.

— Na verdade, eu não sou um vestido falante – ela fala com calma, a voz meiga e gentil – Sou uma pessoa normal que usa vestidos mesmo.

A garota me encara sorrindo com seus grandes olhos (de alguma cor que não consigo identificar no ambiente escuro, mas parecem ser claros) cercados por uma maquiagem preta. Ela tem traços muito bonitos, como os lábios levemente grossos e o nariz pequeno com um piercing decorando seu septo.

— Isso faz maix sentido que a ideia do vestido mágixco.

Novamente, ela ri. O som de sua risada é agradável e parte de mim, talvez a parte que ainda está sóbria, se pergunta de onde ela veio. Tenho certeza que os meninos já teriam comentado sobre se a vissem na escola.

— Você e seu amigo passaram por mim enquanto vinham para cá – ela começa a explicar, mesmo sem eu ter perguntado nada – Acho que você precisa disso – olho para a mão que ela move em minha direção com uma garrafa de água, mas meu foco fica em seu braço cheio de tatuagens de flores.

Ok, acho que encontrei uma bad girl.

— Não poxo aceitar – balanço a cabeça para negar e a Terra volta a girar daquele jeito errado – Eu tô nessa situasão por ter aceitado a bebida de xente estranha… Tá, era o Marco e ele é amigo do Henri, max você intendeu né?

Vai que ela colocou um Boa noite, Cinderelo nisso daí? Se o Marco, um cara que considero um conhecido próximo, me ofereceu tequila, essa estranha deve estar com algo bem pior.

— Posso te garantir que aqui só tem água. Olha – ela bebe um gole da água na garrafa e oferece novamente para mim – Pode confiar, eu só quero te ajudar a ter a ressaca mais tolerável possível amanhã.

Como a minha mente embriagada não encontra mais motivos para negar a garrafa, termino aceitando e bebo toda água em apenas um gole. Caramba, como eu estava com sede.

— Obrigado – devolvo a garrafa para a bad girl. Talvez esse seja um péssimo apelido já que ela está em ajudando e essa atitude é totalmente não bad girl— Qual o seu nome?

— Sou a Júlia e você?

— Eric – estreito os olhos para tentar descobrir a cor dos dela – Qual é a cor dos seus óios?

Júlia faz uma expressão confusa, mas logo responde.

— Acho que é cor de amêndoa? – ela ri, porém sua afirmação sai com tom de pergunta – Geralmente as pessoas não perguntam isso.

— Eles parecem ser bonitos – tento sorrir novamente pra ela, mas minha cabeça gira errado de novo e volto a encostar na parede.

— Você não tá muito legal, Eric – ela passa a mãos em meu braço direito, em um gesto encorajador – Quer que eu procure seus amigos?

Uma risada seca, muito semelhante a tosse, escapa pelos meus lábios.

— Não prexisa — respondo – O Henri deve voltando e a Thalia deve beijando.

— A Thalia que sempre vence como Melhor Aluna do semestre? – ergo a mão fazendo joinha para que ela entenda, já entendi que mover a cabeça é um erro – Ah, eu vi aquele beijão que ela deu depois de receber o prêmio. Você é apaixonado por ela, né? Por isso bebeu todas?

Gostaria de me defender e dizer que sou apaixonado, mas que beber um tiquinho só não teve nada a ver com ela. Por sorte, Henri chega antes que eu passe vergonha tentando criar uma mentira para essa situação.

— E aí cara, trouxe sua água – ele me entrega outra garrafa e logo começo a beber. Henri nota a presença da Júlia e começa a se desculpar – Ele te encheu o saco? Desculpa qualquer coisa.

— Que nada, eu que vim falar com ele quando percebi que estava meio zoado – ela dá de ombros como se me ajudar fosse algo sem importância.

— A Xúlia é minha nova amiga – digo após beber toda água que Henri trouxe – E o vestido dela fala comigo.

Henri revira os olhos e Júlia ri novamente.

— Acho que está na hora de te levar pra casa, amigão.

Não sou capaz de discordar dessa ideia.

—--

Abro os olhos e me deparo com um quarto que obviamente não é o meu. Por sorte, antes que eu me desespere e grite por socorro, reconheço o ambiente como sendo o quarto de Henri.

Levanto a cabeça e me sinto ligeiramente tonto, o que me obriga a voltar para o travesseiro com os olhos pesados.

Nota mental: Nunca mais seguir os conselhos do Marco porque eles são terríveis.

 

Ok, vamos a lista de danos da noitada semi bêbado em um evento escolar:

Dores pelo corpo causadas pela dança horrível? Confere.

Latejar incomodo e constante na cabeça? Confere.

Sensação de boca seca? Confere.

Vexames? Hum…

Eu falei com o vestido daquela garota (qual era mesmo o nome dela?), mas não acho que isso tenha sido um super vexame. Teve também a hora em que…

— Ai não, mano – murmuro enfiando a cara no travesseiro para tentar apagar a memória.

 

Henri me levou para a sua casa na noite passada para que meus pais não ficassem preocupados, assim que chegamos ele pediu que eu ficasse quieto para que a mãe não desse sermão sobre meu estado levemente embriago.

Meu melhor amigo só se esqueceu de uma coisa: ninguém engana a tia Cátia.

— O que esse menino tem? – ela perguntou com a voz severa e olhos semicerrados.

— Ah mãe, intoxicação alimentar.

— Sei – o tom de voz denunciava a sua suspeita na história – Então você tá doente, Eric?

— Doente de amor, procurei remédio na vida noturna – comecei a cantar.

Henri me olhou daquele jeito que o Super-Homem olha para os inimigos antes de usar a visão de calor.

— Oxe, ele tá cantando? – tia Cátia olhou para Henri em busca de respostas.

— Ah mãe, você sabe que o Eric é meio doido – ele pisou no meu pé.

— Aí! – gritei.

— Doido sempre foi, mas doido cantando Boate Azul é novidade.

— Poxa tia Cátia – murmurei – De paixão eu tô doente, será que a senhora me entende?

— Iiih, já vi que tem mulher no meio – ela balançou a cabeça – Entra logo e coloca ele pra dormir no colchão do teu quarto, daqui a pouco vou levar um balde pra ele – mais que depressa, Henri me guiou pela casa em direção ao seu quarto – E Eric – ela chamou – Amanhã quero ouvir todos os detalhes dessa sua noitada de Boate Azul.

 

Vexame? Mais que confere.

 

— Finalmente tu acordou – levanto o rosto que estava no travesseiro e vejo Henri inclinado na beirada da cama para falar comigo – E aí, como está a sua primeira ressaca?

Faço um som de descontentamento.

— A vida é melhor sem isso.

— É mesmo – ele estende o celular em minha direção – Quer ver as fotos de ontem? Ficaram massa.

Meu olhar de “Por que você está me castigando?” faz com que ele solte uma gargalhada irritante que atiça mais a dor de cabeça.

— Cara, me diz que eu não cantei pra sua mãe quando a gente chegou aqui.

Para meu total terror, ele confirma.

— Cantou e não foi só uma música não, foram duas.

— Droga – murmuro.

— E o pior ainda está por vir…

— Ah, por favor, não fale da pior parte!

—… Ela quer todos os detalhes do que rolou.

— Droga – murmuro novamente – A tia Cátia não vai aceitar a versão resumida dos fatos.

Como todo bom melhor amigo, Henri ri da minha cara e se diverte com a minha desgraça.

A mãe dele sempre foi a mais liberal e age como amiga/conselheira/pessoa sensata o que é incrível, a tia Cátia sempre tem bons conselhos e ouve as nossas opiniões como iguais.

O único defeito é que ela é uma tremenda Caixa de Pandora ambulante e guarda todos os detalhes de todas as histórias que contamos. Se um dia ela resolver abrir a boca, provavelmente terei que sair do país.

Assim que saímos do quarto para tomar café, meus maiores medos se confirmam a tia Cátia faz um interrogatório sobre o que aconteceu na noite passada, quem deu bebida pra quem, quem dançou com quem, quem beijou quem e porque eu estava cantando Boate Azul.

Obviamente, eu omiti que essa música faz parte da minha playlist favorita e que a ouço mais vezes do que é saudável.

No final de tudo, ela disse que eu deveria expor meus sentimentos para a Thalia porque a situação estava me magoando e isso poderia trazer consequências para a nossa amizade e pediu que Henri e eu a ajudássemos a arrumar a casa.

— Cara – Henri começa assim que a sua mãe sai da cozinha – A parte mais louca de ontem é que você conversou com a Júlia – ele dá um soquinho no meu braço – Mandou bem!

Júlia! Então esse era o nome da dona do vestido mágico.

— Você conhece ela?

— Claro, o Marco tem o maior crush nela. A gente já falou dela pra ti, mas tu deve ter ignorado porque – e com a voz irritantemente fina ele fala – “ela não é a Thalia”. É aquela mina que trancou a escola ano passado e voltou nesse.

Busco na minha memória quando eles falaram da tal Júlia, mas não consigo me lembrar. Provavelmente ele está certo e eu a ignorei totalmente porque estava pensando sobre a Thalia.

— Bem, espero encontrá-la de novo – dou de ombros – Tenho que agradecer pela ajuda de ontem.

Henri me olhou de maneira curiosa, mas não disse nada. Logo estávamos entretidos com vassouras e rodos e o assunto morreu.

Por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Talvez eu tenha escutado tanto Boate Azul enquanto escrevia esse capítulo que a música está tatuada no meu cérebro? Talvez, mas adorei escrever a parte do Eric "doente de amor" hahaha
Será que o Eric vai reencontrar a sua bad girl? Compartilhe a sua opinião nos comentários.
(Lembrando que autores se alimentam disso)
Até o próximo capítulo!



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