Músicas Bregas Lembram Você escrita por Panda Chan


Capítulo 11
11. Shut Up and Dance


Notas iniciais do capítulo

Oi jovem bolinho, tudo bem?
Sei que a ideia da história são músicas sertanejas ou de sofrência, mas não consegui pensar em outra para estar nesse capítulo que não fosse a Shut Up and Dace do Walk The Moon. Espero que essa "fora da curva" não estrague a experiência para vocês que curtem as brasilidades em cada capítulo.
Também inseri a letra no corpo do texto, coisa que não sou tão fã assim de fazer para que todos (principalmente os não falantes de inglês como eu) pudessem entender o contexto.



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A segunda-feira passa bem mais rápido do que eu gostaria. Quando percebo, o final do expediente chega e Júlia experimenta sua dose de sorvete de iogurte com morango sentada em cima de uma mesa do salão.

Mesmo com o intenso movimento de pais e filhos que aproveitam suas tardes no parque próximo e todo o cansaço em meu corpo, existe uma parte minha que queria passar mais tempo servindo sorvetes e evitando segurar vela para minha melhor amiga e seu namorado.

Outra parte não vê a hora de conversar com Thalia, ouvir sobre os últimos filmes que ela assistiu, o que achou do final daquela série medieval e com o que sonhou na noite passada.

— Tem o mesmo gosto do iogurte que comia quando era criança.

Pisco levemente surpreso por ouvir a voz da minha companheira de trabalho. Ela balança as pernas despreocupadamente enquanto saboreia seu sorvete.

— Fico feliz que tenha gostado, é um dos meus sabores favoritos e foi criado pela Naomi.

— Você está insinuando que se eu falar pra pequena boss que gostei, vou ganhar pontos com ela? – Júlia ergue apenas uma sobrancelha de maneira charmosa.

— Por que você chama a Naomi de pequena boss quando se eu que sou o primeiro filho?

Ela dá de ombros.

— Nós dois sabemos que a hierarquia aqui não se baseia na ordem de nascimento.

Meu celular vibra no bolso. Assim que o pego, leio a última mensagem de Thalia.

Thalia: Já estou chegando. E você?

Eric: Saindo!

— Adoraria ficar aqui e discutir sobre a hierarquia e seu futuro profissional nessa empresa quando eu a assumir – ela mostra a língua – Mas, preciso sair agora. Se importa de fechar hoje?

— Nenhum pouco, acho até que vou aproveitar a oportunidade para experimentar mais desse sabor.

— Fico feliz que goste das minhas escolhas – pisco em sua direção – Boa ida para casa!

Bye, bye— ela praticamente canta como se fosse um trecho da música dos Backstreet Boys.

O movimento na rua está normal para o horário, muitos restaurantes e bares próximos estão abertos enquanto as lojas fecham aos poucos e os funcionários se espalham pelas calçadas. Sem meus fones, consigo captar dezenas de conversas aleatórias e a música que sai de alguns estabelecimentos. Mesmo que seja uma segunda-feira, as pessoas se encontram para beber e comer fora com os amigos.

Sorrio com a imagem que surge em minha mente: os meninos e eu, alguns anos mais velhos, sentados em cadeiras de madeiras com uma mesa do mesmo material diante de nós cheia de copos usados e pratos vazios. Um de nós discordaria do outro com o famoso “Aí é que tá” seguido por um tapa na tampa da mesa. Pelo menos é isso que eu gostaria de ter, amizades longas e duradouras com piadas que só a gente é capaz de entender.

Um arrepio percorre a minha espinha ao perceber que Marco está na imagem que criei mentalmente. Acho que me apeguei àquele sem-noção.

Não demora muito para que eu chegue até o bar escolhido pela minha melhor amiga. A proposta do local é ser rústico, mas não sei como isso é possível se ele conta com ar-condicionado, televisões transmitindo o jogo de futebol, uma parede cheia de letreiros neon e uma jukebox improvisada com uma tablet no fundo do salão.

— Eu não acredito que você chegou alguns segundos antes de mim, senhor Eric! – seguindo o grito, olho para trás bem a tempo de ver Thalia saltar no ar para ser pega por mim em abraço caloroso – Feliz aniversário atrasado!

— Acho que você disse isso ontem – murmuro contra os cachos sem soltá-la.

— Nunca é demais parabenizar o meu melhor amigo do universo inteiro – ela responde e sei que está sorrindo enquanto diz isso – Agora me solta rapidinho que tenho que garantir uma coisa.

Faço como pede e a solto para que possa ir correndo até a jukebox no fundo do salão.

— E aí, cara – Lucas estende a mão e eu aperto. É esquisito, mas parece que ele está colocando mais força que o necessário nisso – Ansioso para o seu rolê’ de adulto?

Coço a cabeça e olho rapidamente para os meus pés.

— Fica feio se eu disser que “não”?

O loiro abre um sorriso satisfeito e não sei se há maldade nessa expressão, divertimento ou ambos.

— Pode se acalmar que a gente cuida de você – ele pisca para mim e depois se vira para um garçom – E aí Zeca, como cê’ tá’?

O garçom e Lucas conversam animados sobre muita coisa em um espaço de tempo muito curto. Só pela interação deles já posso presumir que o namorado da minha amiga é um cliente fiel do local.

Thalia chega por trás e me assusta com um “Bu!” desnecessariamente alto.

— Mulher, você quer me deixar surdo?

— Claro que não, bobo – o sorriso travesso em seu rosto a denuncia, ela queria sim! – Só queria sentar logo. Vamos? – Thalia sinaliza uma mesa próxima com quatro lugares vagos e nos sentamos de frente um para o outro, como sempre fazemos. Olhar para ela me relaxa.

Não demora muito para que um garçom anote nossos pedidos e rapidamente sirva a primeira garrafa da noite.

— Nunca te imaginei num barzinho como esse – com a voz mais baixa, prossigo com tom de brincadeira – Esse lugar não é muito “hétero top” pra você?

Desde que entramos na adolescência, Thalia usa o termo “hétero top” para descrever todo e qualquer lugar frequentado por caras babacas que secam sem piedade a bunda dela.

— Quando se namora um cara, os outros não mexem com você – ela revira os olhos – Vamos falar de coisa boa, vai. O que você tem feito?

Falo sobre todos os dias jogando com os meninos, mostro alguns dos melhores memes que Marco fez com minhas fotos pós-baile, incluindo a versão icônica dançando ao som de Baby Shark. Depois conto sobre os dias em que saímos para comer e falar besteira, sobre as amigas de Carol e como está sendo trabalhar com a Júlia.

Não falo sobre as dezenas de sabores de sorvete que estamos experimentando todos os dias após o expediente. Esse parece ser o tipo de coisa muito íntima para compartilhar, mesmo que seja com a Thalia.

Ela fica empolgada ao ouvir sobre minhas últimas experiências e começa a falar sobre todos os dias que passa ao lado de Lucas. Por ser a Thalia contando com seu jeito único, cada memória melosa tem sua dose de bom humor que torna a história muito melhor.

Quando Thalia começa a falar sobre o final de semana na praia, a história sobre o “abate” me vem a mente. Mesmo com sua narrativa cuidadosa, percebo que ela está escondendo partes importantes pela maneira como seus olhos brilham ao falar sobre certos assuntos. Ela está feliz, apaixonada e não é por mim.

Fico feliz por ela e triste por mim ao mesmo tempo.

Não vou seguir por esse caminho. Foca, Eric. Foca! Faz o momento ser bom e se preocupa com as lamúrias depois.”

De alguma forma, Thalia lê meus pensamentos e faz justamente a pergunta que eu mais temia.

— E o coração do meu ninja favorito. Como está?

— Como sempre esteve – mentalmente completo “tirando uns remendos aqui e ali”.

— Ah, corta essa! – ela bate na tampa da mesa – Você não me engana, senhor Eric. Aposto que tem alguém de quem você está afim. Deixa eu ver…

Ela apoia o rosto no queixo e percebo que suas unhas estão sem esmalte. Estranho, Thalia sempre está com as unhas pintadas por amarelo ou qualquer cor semelhante. Talvez ela não tenha tido tempo de pintar.

Droga, como posso prestar tanta atenção assim nela e esquecer de quando é minha vez de lavar a louça?

— Vamos lá – ela arruma sua postura – Você teve contato com pouquíssimas garotas nas últimas semanas e as únicas solteiras são as amigas da Carol. Então nossas pretendentes são: Amanda e Natasha.

— E nenhuma delas é meu tipo – resmungo.

— Não sabemos seu tipo, Eric – ela estreita os olhos para mim – Se você beijou quatro pessoas na vida foi muito.

Bem, isso é verdade. Ser apaixonado pela sua melhor amiga pode trazer sérias consequências para a sua vida amorosa, como, por exemplo, atrapalhar a atração que você sente por outras pessoas já que sempre está inconscientemente as comparando com sua paixão.

— Pelo menos eu beijei antes dos dezoito anos e ganhei a aposta com o Henri.

— Ah, aquela aposta – Thalia ri e sei que está pensando na mesma lembrança que eu.

Demorou um pouco para que eu desse o tão esperado primeiro beijo e meu melhor amigo não perdia nenhuma chance de me zoar por isso. Quando cheguei ao meu limite com as piadas, apostei com ele que se beijasse alguém antes da maioridade legal, ele teria que usar a antiga roupa de Haru Sorvetudo, a mascote da sorveteria, por um verão inteiro sem reclamar. Até hoje sou grato pela garota que me beijou no jogo da garrafa no primeiro ano do ensino médio.

— Bons tempos que não voltam mais.

— É, mas não o suficiente para me distrair – com toda maturidade, mostro a língua para ela – A Natasha não faz muito seu tipo, acho que ela é bem independente e madura, mas muito reservada com os sentimentos e você é uma Maria-Mole de emoções.

— Ei, isso pareceu ofensivo!

Ela ignora meu protesto e continua:

— Já a Amanda… Bem, podemos dizer que da fruta que você gosta ela já chupou até o caroço.

— Credo, que frase de vó. Como você sabe disso?

Thalia estala a língua e balança a cabeça.

— Eric, Eric. Eu sou uma garota, sei de quase tudo.

— Ah é? – apoio meu rosto na mão e a olho com um grande sorriso – Então, senhora Sabichona, me diga o que acontecerá nos próximos cinco minutos?

Vejo o sorriso no rosto dela aumentar conforme muda sua expressão para uma desafiadora e confiante.

— Você vai levantar dessa mesa e dançar.

— O que garante? – pergunto aproximando meu rosto um pouco mais de sua direção por cima da mesa.

Porém, antes que Thalia possa me responder, Lucas aparece por trás e dá um grande e barulhento beijo no ombro exposto pela blusa dela.

— Posso saber qual o assunto aqui? – ele pergunta olhando para a namorada.

— Bem, pode – Thalia morde o lábio inferior e acho que eles vãos e beijar bem ali. As notas de uma nova música começam a ecoar e ela desfaz o contato visual – Mas só depois dessa dança – ela pisca em minha direção, levanta de sua cadeira e vai para a parte sem mesas perto do jukebox gritando – Eric, vem!

Não contenho a felicidade ao reconhecer a música. Então essa era a surpresa que ela estava preparando.

As caixas de som nada rústicas espalhadas pelo ambiente tocavam a música Shut Up and Dance, do Walk The Moon.

Ah não se atreva a olhar para trás

Apenas mantenha seus olhos em mim

Eu disse 'você está se segurando'

Ela disse cale a boca e dance comigo!

Essa mulher é o meu destino

Ela disse oh oh oh

Cale a boca e dance comigo

Em nosso primeiro baile, Henri estava doente e eu fiquei sentado nas arquibancadas durante boa parte da noite jogando Candy Crush no celular. De longe, pude acompanhar enquanto Thalia ia de grupo em grupo de conversas, como uma abelha conferindo todas as flores de seu jardim.

Quando ela percebeu que eu estava sozinho, veio correndo me chamar para dançar e numa coincidência especialmente surreal do universo, ela chegou bem a tempo de cantar o final da primeira estrofe.

— Cale a boca e dance comigo!

Fomos vítimas da noite

A química, física, kriptonita

Loucos pela batida e pelas luzes baixas

Oh nós nascemos para ficar juntos

Nascemos para ficar juntos

Depois desse dia, em todas as festas sempre tocava essa música e ela se tornou parte especial da história da nossa amizade. Nós revezamos e um cantamos trechos para o outro, mas o refrão é sempre do mesmo jeito com os dois juntos e gritando em plenos pulmões.

Ignoro os sons das conversas no ambiente e a presença ameaçadora de Lucas há alguns metros de nós, foco em cantar e dançar com a minha melhor amiga no meio de um bar em plena noite de segunda-feira.

Ela pegou meu braço

Eu não sei como isso aconteceu

Nós tomamos a pista e ela disse

Ah não se atreva a olhar para trás

Apenas mantenha seus olhos em mim

Thalia segura minha mão e logo está rodopiando, rindo, cantando e deslizando pelo chão de madeira do lugar. Para a minha surpresa, estou igual.

Nesse momento sinto que tudo está como deveria ser e somos novamente os melhores amigos que dormem juntos, dividem potes de sorvete e roubam fatias de bolo de madrugada para comer assistindo à filmes de terror.

Ela está radiante e se entrega em todos os sentidos a música animada. Batemos palmas em sincronia antes do último refrão e é minha vez de cantar para ela pela centésima vez o mesmo trecho, sentindo em meu coração o peso da frase Essa mulher é o meu destino.

Poucos passos depois, a música acaba e estamos suados, ofegantes e felizes. Muito felizes.

— Isso foi tão…

— Eu sei – vejo a sinceridade em seus olhos – Senti tanta falta disso, Eric.

Por um segundo me sinto completo. Para o meu azar, um segundo passa rápido demais.

Lucas presenciou todo o momento especial de amigos e não poupa força nas palmas altas que bate para nós.

— Uau, que show vocês deram! – ele parece orgulhoso e olha diretamente para Thalia – Gatinha, eu não tinha ideia que você dançava tanto. Depois vou cobrar uma dançar íntima, hein!

Thalia soca o braço dele e repreende.

— Aqui não!

Ele ri da reação dela e passa o braço ao redor de seus ombros.

— Vamos hidratar vocês dois. Bora’ lá!

Seguimos de volta para a mesa. A primeira garrafa está vazia e recebeu a companhia de outras duas e uma porção de batatas fritas. Thalia e eu nos acomodamos nos mesmos lugares de antes e Lucas se senta ao lado dela.

— Tomei a liberdade de pedir algumas coisas pra gente, espero que gostem.

— Valeu, cara – agradeço enquanto me sirvo com cerveja e pego algumas batatas.

A leveza que senti até minutos atrás se vai e tudo parece meio “pesado”, mesmo que não tenha razão para isso.

Como sempre, Thalia quebra o gelo e começa com assuntos aleatórios que nos levam a compartilhar histórias engraçadas e assim o tempo passa.

Descubro que Lucas teve uma namorada maluca que só faltou traí-lo com o próprio pai e era muito ciumenta. Outra inventou uma gravidez para que ele não terminasse com ela. Teve uma também que roubou parte do dinheiro que ele carregava na carteira para gastar com drogas e depois o perseguiu por meses.

— Ainda bem que parei de atrair malucas – ao concluir isso, ele sorri para Thalia que parece envergonhada com o comentário.

Sua família tem um longo histórico com o exército e o pai quer que ele sirva para fazer faculdade paga pelo governo, como Thalia já havia comentado. Ele fala sobre seus antigos amigos e comenta sobre os dias em que Marco saía com eles.

— Era engraçado porque o cara era travadasso’— Lucas se serve com nossa quinta garrafa – Se ele via alguém bebendo, já olhava pros quatro cantos procurando o FBI em alguma moita.

Não contenho a gargalha.

— O Marco? Eu pagaria pra ver isso.

— É, além disso ele incorporava um pitbull para defender a honra da irmã.

— Com a fama que os amigos tinham, até entendo porque ele queria manter vocês longe da Carol – Thalia comenta.

— Não éramos tão ruins assim – Lucas sorri com orgulho. Ela revira os olhos.

— Vou no banheiro rapidinho, espero que vocês não se biquem hein!

— Vai lá, mãe – Lucas responde bom humor.

Antes de ir, Thalia me encara e vejo em seu olhar como ela está feliz por ver que estamos nos dando bem. De certa forma, também estou feliz. Seria insuportável se Lucas fosse o cara insuportável e superficial que sempre pareceu ser porque eu teria que conviver com ele por anos até o encanto em Thalia se dissipar.

Quando ela se afasta o suficiente, Lucas me olha de um jeito diferente.

— Então, o que achou de mim? – ele pega seu copo – Boa influência ou me quer o mais longe possível da sua amiga?

Suspiro antes de responder:

— Vou ser sincero, achei que você era um cara chato e bem babaca. Tô’ feliz por ter me enganado – ele sorri com a resposta – Vejo que você deixa a minha melhor amiga feliz, então não tenho porque querer que se afastem.

— Fico feliz de ouvir isso – ele para com o copo em frente aos lábios e me encara – Principalmente vindo do cara que é apaixonado pela minha namorada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥
Agora chegou o momento mais esperado: o que cargas d'água vai acontecer? Será que o Lucas vai expor o Eric na internet? A Thalia realmente dança tão bem? Teremos o retorno de Henri como Haru sorvetudo?
Ai ai e aquele famoso sequestro de cachorro?
Depois de tantas perguntas, aguardo as teorias de vocês!
Até a próxima!

PS: Vocês costumam seguir autores em IGs literários? Criei um, mas estou tão insegura e sinto que foi muito no impulso. Por favor, opinem também haha



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