Músicas Bregas Lembram Você escrita por Panda Chan


Capítulo 12
12. Oi


Notas iniciais do capítulo

Oi Oi! Tudo bem com vocês?
Ufa, depois do último capítulo o mundo ficou meio bagunçado, mas aqui estou com mais um capítulo para vocês.
Espero que se divirtam!



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Eu simplesmente travei.

Que tipo de resposta deveria dar para aquela provocação?

Sempre fui o cara que pensa em uma boa resposta depois que a briga acabou. Quase sempre dias depois, mas isso não vem ao caso.

Enquanto eu mal me lembrava de como respirar, Lucas olhava para a situação com muita diversão e um sorriso satisfeito que não tentava esconder.

Contudo, o mais assustador eram seus olhos que transmitiam uma frieza bizarra. Senti um frio na espinha ao constatar que ele queria muito, muito, muito mesmo me agredir.

— Sabe, é até fofo como você tenta esconder isso – ele prosseguiu – Mas todo esse lance de “Essa mulher é meu destino”, cara, isso te denuncia muito – algo na maneira como ele ri fez com que eu me sentisse humilhado – Longe de mim te julgar, desde que você entenda o seu lugar nessa história.

De alguma forma, palavras baixas escaparam da minha boca.

— Meu lugar?

— Sim, o seu lugar – Lucas sorriu – Você é o melhor amigo que vai sempre estar ao lado da Thalia para dar apoio e proteger quando os pedaços do coração dela são quebrados. É um papel muito importante, se quiser a minha opinião. Toda protagonista de romance tem um melhor amigo ou amiga pra estar lá apoiando, tomando sorvete e sendo o alívio cômico.

— Então você me vê como um alívio cômico? – perguntei com a voz seca e as mãos fechadas em punho debaixo da mesa.

— Não, não, não! – ele se acomodou na cadeira – Você entendeu errado, meu caro. Eu te vejo como alguém que jamais terá chance com a mocinha porque não é relevante o suficiente pra isso. Sabe Eric, você é um bom amigo para a Thalia. E apenas isso.

Meu sangue esquentou e pude ouvir a pulsação acelerada que reverberava pelo meu corpo. Essa seria a segunda briga da minha vida e, após analisar a quantidade de músculos bem desenvolvidos no corpo de Lucas, provavelmente a última. Mas ela teria que acontecer.

Quando me levantei da cadeira, Thalia apareceu e colocou a mão em meu ombro.

— Ei, pra onde você pensa que vai? – ela perguntou.

— Eu…

— Ele vai ao banheiro, amor – Lucas serviu mais um copo de cerveja – E já volta. Não é mesmo, Eric?

Com os grandes olhos castanhos dela me encarando com tanta alegria, não fui capaz de falar nada. Assenti e fui para o banheiro mandar uma mensagem pedindo que Naomi me salvasse.

A noite acabou mais cedo porque tive uma “emergência de família” muito bem encenada por minha irmã na ligação telefônica. No dia seguinte, acordei com mensagens e fotos que Thalia tinha me enviado agradecendo pela oportunidade que dei para conhecer seu namorado.

 

Já faz dias que fico remoendo esses acontecimentos a cada momento vago que tenho, como o disco arranhado que repete o mesmo trecho de uma música péssima.

— Cara, eu não sou muito a favor do diálogo, mas cê’ devia falar com ela.

Olho para Marco que está sentado em frente ao balcão da Haru com sua taça generosa de sorvete. Ao seu lado, meu melhor amigo e a namorada dividem a Taça de Apaixonados, que basicamente mistura todos os sabores rosas e vermelhos disponíveis com uma camada de cobertura de morango e confeitos em formato de coração.

— Essa é a primeira vez que te vejo falar algo sensato e acho uma pena que esteja desperdiçando com o meu irmão – Naomi estala a língua e dá um peteleco em minha cabeça – Escutou isso? É o som da cabeça dura e teimosa com a qual ele nasceu. Eric gosta de complicar tudo!

— Naomi! – uso meu tom de voz autoritário – O que a mãe falou sobre falar mal de mim? Eu sou seu irmão!

— Mamãe me ensinou que devo falar sempre a verdade. Então tô’ nem aí se você é meu irmão, lide com os fatos e fale logo com a Thalia!

— Não é tão fácil assim – resmungo.

— Viu o que eu disse? – ela revira os olhos – Meu irmão gosta de complicar tudo!

Irritada, ela se vira e vai em direção ao corredor do estoque com seu cabelo rosa e preto balançando no rabo de cavalo.

Henri estala a língua e atrai minha atenção.

— Já te disse várias vezes e vou repetir: cê’ tem que ouvir mais a Naomi! – ele aponta a colherzinha suja de sorvete em minha direção – E não só ela, a gente também. Somos seus amigos mais próximos e estamos te falando para conversar com a Thalia com todas as letras, em Caps Lock, negrito, neon e tudo que tem direito!

— Se ela estivesse um pouquinho menos feliz com aquele babaca, eu já teria falado. Não tenho cara de chegar, expor o namorado dela e ter que assumir meus sentimentos.

— Ué, só você não assumir os sentimentos – Marco revira os olhos – Niño tonto.

— Não preciso ser fluente pra saber que você me chamou de burro – fuzilo Marco com o olhar — E depois de conhecer a índole do Lucas, tenho certeza que ele iria me expor.

— Que tal você ir pra festa com a gente hoje? – Carol sugere e todos olhamos para ela com confusão — Que foi? Vai ser legal! Tipo, tem música, pizza, bebida e jovens fazendo besteira.

Henri pensa na sugestão e decreta:

— Essa foi a segunda melhor ideia que ouvi hoje.

— E qual foi a primeira? – ela pergunta.

— A de que ele devia falar com a melhor amiga sobre o que aconteceu – ao ouvir a resposta de Henri, mostro a língua – Olha lá, o auge da maturidade em todo esplendor que só conseguimos aos dezoito anos – discretamente, faço um gesto sugerindo que meu amigo vá se ferrar – O atendimento aqui já foi muito melhor.

— Já tô’ mal, não quero ir pra casa de um estranho e ouvir música ruim a noite toda enquanto vocês somem para se divertir.

Em sincronia, Marco e Henri fazem pose de ofendidos e falam ao mesmo tempo:

— Quando foi que eu sumi numa festa?

— Nunca que te deixei sozinho, menino!

— Ah, me poupe – balanço a cabeça e aponto para Henri e Carol – Vocês dois somem pra se pegar em algum canto escondido. Já você, senhor Marco, é pior ainda porque some pra dar em cima de garotas e levar pro cantinho.

— Quem não leva marmita também precisa se alimentar! – ele diz em sua defesa e leva um tapa da irmã na cabeça – Aí, isso doeu!

— É pra ver se pela dor você aprende a falar menos besteira – ela responde antes de voltar a saborear sua Taça de Apaixonados.

— Tá, tá, tá! De qualquer forma, tem mais uma pessoa para te fazer companhia caso a gente desapareça.

Olho para os três diante de mim. Em quem Marco pode estar pensando?

— Quem?

Ele abre um grande sorriso antes de bater na mesa e olhar para um ponto atrás de mim.

— Ô Júlia, vamos pra uma festa?

Olho para trás e encontro uma versão assustada da minha colega de trabalho segurando caixas nas mãos.

— O que? – ela pergunta.

— Não é “o que”, é onde e quando – ele prossegue ignorando totalmente a confusão dela – Sexta-feira é dia de sextar, então simbora’ curtir numa festinha com comida boa, música de qualidade e piscina na companhia do maravilhoso eu, minha irmã, o namorado pé no saco dela e o namorado do namorado da minha irmã. Topa?

Imediatamente começo a falar “Não” sem emitir qualquer som enquanto sinalizo com as mãos que vou morrer se for a essa festa e que ela não deve aceitar o convite maluco de Marco. Ela me olha de volta, move a cabeça em compreensão e suspira profundamente antes de abrir um enorme sorriso e responder:

— Mas é claro! Quem vai me dar carona?

 

Acendo a luz do quarto dos meus pais e me jogo na cama aos pés da minha mãe com o celular na mão.

— Mãe, eu preciso que você ligue pro Henri e diga que eu não posso sair hoje.

Ela desvia os olhos do livro que está lendo e me encara.

— Filho, hoje é sexta-feira. Na sua idade eu saía sempre que podia, principalmente aos finais de semana.

— Realmente, sua mãe era uma farrista sem igual – meu pai comenta, sem tirar os olhos do filme que em seu tablet – Mas se você quer ficar em casa, deve falar com seus amigos e impor sua vontade.

— Mas eu não quero sair e nem falar com eles – deixo a voz manhosa, geralmente eles dão tudo que quero quando uso essa voz meio de criança.

Meus pais riem.

— Não adianta fazer manha, Eric. Agora que você vai nessa festa mesmo! – Dona Amélia anuncia em meio a uma gargalhada.

— Mãe, eu não quero!

— Todo mundo vai, Eric. Seus amigos estarão lá!

— Você me criou pra não ser como todo mundo, logo não preciso ir!

Observador, o senhor Toshiro diz:

— O garoto tem um bom argumento.

Minha mãe olha feio para ele.

— Você devia estar do meu lado nesse lance de pais.

— Estou do lado que ganhar mais rápido essa discussão para ver o John Wick vingando a morte do cachorro – mais uma vez, meu pai prova que é uma pessoa bastante prática e de desejos simples.

— Filho, você vai.

Num’ quero.

— Mas vai.

— Sou adulto e não quero – me imponho – Agora liga pra casa da tia Cátia e avisa pro Henri que tô com dor de barriga.

Minha mãe sorri e me olha com aqueles olhos redondos cheios de amor, Sinto que venci essa pequena discussão.

— Vou fazer melhor que isso, bebê – ela afaga meu rosto e grita – Naomi, seu irmão tá escondido aqui!

De longe escuto o grito vitorioso da minha irmã e me preparo para todos os comentários sobre a minha falta de estilo enquanto os passos apressados se aproximam.

E lá vamos nós.

 

Depois de uma viagem de carro bastante caótica (Marco apressou a irmã e descobri que Carol tem talentos incríveis para se maquiar dentro de um carro em movimento), chegamos até a tal festa.

Como todas as festas em que Marco e Henri gostam de ir, essa acontece em uma casa de dois andares com piscina nos fundos. O andar de cima é fechado e não podemos ir, mas todo resto do local é liberado.

Além de faturar com os ingressos, os organizadores ganham dinheiro com a venda de itens para piscina, bebidas, petiscos e toalhas. No final, sai mais lucrativo alugar esse tipo de casa e levar a festa até ela do que ter ponto fixo em baladas da cidade.

O tema dessa vez é Vintage e logo que entramos recebemos nossas pulseirinhas do open bar das mãos de uma hostess vestindo a parte de cima de um biquíni de bolinhas amarelas, lenço vermelho de bolinha na cabeça e shorts de cintura alta.

A parte do bar (também conhecida como cozinha) estava bem decorada com neon, atraindo a atenção de todos. Um espaço com cartazes para tirar fotos engraçadas com o fundo também foi preparado e tenho certeza que Henri e Carol vão bater selfies em todos. Montaram um karaokê improvisado na sala e as vozes estridentes da dupla cantando Toxic chegam até meus ouvidos.

— Essa será uma daquelas noites que a gente só aguenta bebendo – Marco comenta. Henri e Carol assentem em concordância – Bora’ pegar umas bebidas?

— Vamos sim – Henri olha para Júlia – Vocês ficam aqui. Tentem guardar esse lugar perto do ar-condicionado pra gente – ele olha em minha direção e dá uma piscadela.

— Ei, não querem saber o que vamos beber? – Júlia questiona com a sobrancelha erguida.

— Prometo te surpreender, pitukinha— Marco manda um beijo no ar para ela e sai andando.

Ao meu lado, ela ri.

— Esse Marco é uma figura e tanto.

— E sincero também – olho de canto para Júlia – Hoje você está uma pitukinha mesmo.

Júlia se inspirou nas pin-ups para seu figurino com direito a calça de cintura alta, top vermelho, lenço preso na cabeça por um nó, batom vinho e botas com salto alto. Ela deixou a jaqueta de couro no carro de Marco, disse que só usaria quando quisesse parecer rebelde.

Pelo canto do olho, consigo vê-la mordendo o lábio inferior.

— Só hoje? – pergunta.

Antes que eu possa pensar em alguma resposta engraçada, um cara sem camisa esbarra em mim e molha o meu braço esquerdo com a mistura de suor e água de piscina.

Mals aí, cara – o cheiro forte de álcool sai de seu hálito – Desculpa mesmo, não queria te atingir.

— Ah, está tudo bem – dou um tapa em seu ombro – Pode seguir o seu caminho.

O rapaz sorri de maneira nada sóbria e continua sua jornada rumo a porta dos fundos. Quando percebo que já está longe o suficiente, respiro fundo.

— Caramba! Dá para ficar bêbado só de sentir o hálito de alguém? Porque acho que o dele me deixou alto – como num passe de mágica, uma mão segurando um copo com líquido transparente surge em frente ao meu rosto – Eita nois que eu alto mesmo!

Viro o rosto e encontro Marco com uma lata de cerveja presa entre o outro braço e seu peito segurando um copo vermelho com guarda-sol na mão.

— Pega logo que é seu – ele diz. Pego o copo e dou um gole, imediatamente sinto o calor da vodka misturada com energético.

— E essas duas bebidas aí? – pergunto.

— São para a senhorita e eu – ele pisca e olha para a Júlia sem dizer nada.

Marco só fica parado olhando fixamente para a minha amiga como se esperasse por algo, ela me olha buscando por respostas. O clima é tão constrangedor que olho para os lados buscando ajuda e encontro Henri e Carol no bar, ela escondendo as gargalhadas e ele com a mão na cara olhando incrédulo para a cena.

Júlia se cansa do silêncio pra lá de constrangedor e o quebra com apenas duas letras.

— Oi?

Marco abre um sorriso enorme, daqueles que o olho parece até menor de tanto que as maçãs do rosto até levantam.

— E toda vez que você disser “Oi”, eu vou te responder só “Oi” – ele entrega o copo e com segura a mão livre de Júlia – Com o meu peito gritando “te amo” – para finalizar, Marco dá um beijo leve na mão dela – Romântico demais, né gata?

O rosto dela parece ter congelado em uma máscara de incredulidade. Ouso dizer que ela está tão surpresa que chega a parecer ofendida pelo gesto dele.

Henri e Carol finalmente voltam até nós, ela ainda gargalhando e ele com a mais nítida expressão de vergonha alheia no rosto.

— Júlia, eu só quero te dizer que se você quiser uma ordem de restrição contra o Marco, serei sua testemunha – Henri aperta de leve o ombro dela – Você não está sozinha nessa.

— Ei! Falando assim faz parecer que a Julinha tem medo de mim – Marco bufa – Eu usei a cantada mais criativa do meu acervo!

Ainda rindo do irmão, Carol diz:

— E é por isso que você está solteiro.

Bem, pelo menos essa festa está começando melhor do que as anteriores.


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Notas finais do capítulo

Quais as suas teorias para as próximas etapas?
Vocês já devem ter percebido, mas toda vez que algo de bom começa a acontecer com o Eric....



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