Copenhague escrita por Julie Morgan


Capítulo 9
Imprevisível


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas doçuras! Como estão vocês? :3
Prontos pra mais um capítulo? Então vem comigo que é sucesso! rsrsrs
Boa leitura!



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Depois de sua conversa com Marselha, Alicia preparou um pouco de café e foi para a sala onde o Professor estava. Sentou-se em seguida em uma das poltronas que haviam colocado ali e esticou suas pernas, assoprando o ar quente que saía de sua xícara apreciando o aroma doce e típico do café.

— Pelo seu rosto, também parece estar com problemas. - afirmou ela antes de tomar um gole da bebida.

— Não foi nada demais. Ou eu pelo menos acho que não.

— Deixe-me adivinhar, problemas… com Raquel?

Sérgio apenas concordou com um movimento de cabeça e retirou seus óculos, os limpando em sua camisa.

— E você? Conversou com Marselha? O que ele lhe disse?

— Ele me contou tudo o que você havia deduzido, mas esse não é problema. - ela explicou colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. - Não fui capaz de lhe dar uma resposta concreta, e não sei quando farei isso. Mas me diga, conseguiu mais alguma informação?

— Ainda não. Apenas uma boa bronca.

— Bem, creio que só nos resta aguardar.

O celular de Sérgio então tocou e vibrou em seu bolso, e com um movimento rápido ele o atendeu, sem nem mesmo verificar o número.

— Olá?

— Professor, Antoñanzas falando. Preciso ser rápido, pois estou prestes a entrar em meu turno.— explicou o agente enquanto atravessava a rua com passos rápidos.

— Pois diga-me, alguma notícia?

— Eles vasculharam a área que lhe informei, e estão levando tudo o que possa ser suspeito para análise laboratorial. E também estão tomando relatos de possíveis testemunhas. Porém, temo não ser esse o maior dos obstáculos.

— E qual seria? Aconteceu algo?

— Professor… estão investigando todos os agentes da Polícia também. Querem saber se não há o envolvimento de ninguém nisso tudo, pois estão seguros de que Raquel só escapou por ajuda de alguém infiltrado. E se descobrirem que fui eu? Podem até tentar me matar!

— Calma, Benito. - o Professor pediu levantando-se de sua cadeira. - Continue agindo normalmente. Demonstrar insegurança é o que pode lhe denunciar. E você tem alguma informação sobre o estado de… Sierra?

— Outra que está com sérios problemas. - ele respondeu. - Esse caso está rendendo para a Polícia boas horas de caos, Professor, e eles não pretendem se deixar vencer tão facilmente. Estão colocando agentes à paisana para rondar todos os potenciais locais em que ela esteja. Se eu fosse você a partir de agora também não confiaria em mais ninguém. Nem mesmo em sua própria sombra.

— Obrigado pela ajuda, Benito. E seja forte. Sei que tempos mais difíceis estão a caminho, porém precisamos tentar.

Ele então desligou seu telefone e cerrou os lábios, enquanto olhava para Alicia.

— Então…? Acho que precisa me contar algo.

— Precisamos elaborar um esquema sobre todos os turnos que ocorrem na tenda. Sem exceção de ninguém.

— E por que isso agora?

— A situação está se estreitando. Para todos nós. Agora teremos que, além de tudo o que está acontecendo, lidar com policiais disfarçados tentando achar pistas sobre você. Então se fizermos um diagrama com todos os turnos de agentes na tenda, saberemos quais estarão disponíveis para circundar a cidade e quais estarão em frente ao Banco, pois assim saberemos inclusive como estão lidando com a chegada de Raquel até lá.

— Acha que eles podem conseguir algo? Digo, entrar em meu apartamento ou interrogar alguém que me tenha visto?

— Talvez sim. Mas de nada valem os relatos e hipóteses se eles não têm a prova viva, que é você.

— Por que não conferimos o sistema da Interpol também? - ela perguntou ao ter a ideia. - Embora Prieto tente tranquilizar a mídia, tenho certeza de que acionou as autoridades internacionais por trás das câmeras.

Sérgio então ligou o computador, e Alicia aproximou-se dele para também ver a tela mais de perto. Depois de bloquear o IP de internet que usavam, o Professor entrou em alguns sites de notícias e também na Interpol, verificando os dados que conseguia achar.

— Bom, pelo que vejo aqui, há dois contextos sobre o seu estado. Um bom e um ruim. Qual quer escutar primeiro?

— O bom, óbvio. - ela falou de prontidão.

— A parte boa é que alguns ministérios estão questionando os áudios de Tamayo e Prieto, e algumas notícias manifestam o apoio de parte da população ao seu vídeo.

— E a parte ruim? - ela perguntou tomando mais um pouco de café.

— Seu perfil agora está incorporado à Polícia Internacional também, assim como os nossos.

— Finalmente agora posso me considerar oficialmente como parte do grupo. - ela atestou com ironia e então ergueu sua xícara para o Professor. - Então, um brinde não alcoólico ao nosso acordo.

— Saúde. - ele respondeu fazendo o mesmo gesto e rindo, abrindo depois uma planilha para começar o arranjo das escalas dos agentes.

Horas mais tarde...

A janela do quarto de cima estava entreaberta, deixando apenas um pequeno filete da luz do luar adentrar todo aquele ambiente escuro. As gotas de chuva tornavam-se mais intensas conforme o tempo passava e o vento forte balançava as folhas das árvores, afastando os pássaros adormecidos nos galhos mais altos.

Alicia estava abraçada a uma almofada e tinha outra entre as pernas, tendo sobre si um largo cobertor branco. Estava dormindo de forma profunda até que um barulho estranho alertou seus sentidos e a acordou de repente. Havia feito parte da planilha junto do Professor e depois se ausentou para descansar, assim como ele também o fez.

Sua visão estava turva e distorcida por ter levantado rápido demais, e ela esfregou os olhos algumas vezes antes de repousar os dois pés no chão sentada beirada da cama. Tomou certo fôlego e se levantou, procurando nas sombras onde estava sua pistola. A encontrou sobre o móvel de cabeceira e permaneceu com a mão firme segurando o gatilho da mesma enquanto ia até a cômoda para procurar algo que a cobrisse, pois havia dormido somente com suas roupas íntimas.

Revirou as peças de roupa que ali estavam nas gavetas e encontrou um grande roupão preto entre eles, vestindo-o com agilidade sem largar a pistola carregada. Amarrou a faixa de cetim ao redor de sua cintura e abriu a maçaneta da porta com cuidado, sempre atenta e olhando para os lados tentando identificar a origem do tal som. Aproximou-se da escada e o escutou mais uma vez, e então decidiu dirigir-se ao andar de baixo com passos silenciosos. 

Apoiou-se no corrimão e desceu um degrau de cada vez até chegar na antessala, tendo as pupilas dilatadas e o semblante alerta como o de um caçador atrás de sua presa. Ela mordia o lábio inferior e sentia o piso gelado entrar em contato com a superfície de seus pés por estar descalça, e quando virou-se para entrar na cozinha deu um suspiro ao puxar o gatilho.

Um guaxinim cinza e de manchas pretas vasculhava por comida nos armários e havia deixado algumas sacolas caírem no chão. Logo que notou a presença de Sierra ele pulou para bancada da pia e a encarou, segurando um pacote com as mesmas balas de goma que ela havia dividido com Marselha.

— Vamos, bola de pelo, saia daqui. - disse ela se aproximando do animal e apontando sua arma contra ele. Por estar assustado, pulou pela janela mais acima largando a embalagem e foi para o gramado ao lado da casa, deixando Alicia mais aliviada. - Maldita janela. - ela reclamou fechando o objeto e sentindo algumas gotas de chuva entrarem por ele, molhando suas mãos.

Ela deu outro suspiro e olhou para os próprios pés, reclamando mentalmente por ter sido acordada. Devido ao susto que havia levado, resolveu andar pela casa para observar alguns detalhes da decoração que lhe passaram despercebidos, pois não sabia certamente o que fazer. 

Haviam no corredor várias pinturas e retratos de paisagens, que ela tentava identificar pela legenda logo abaixo das fotos. A maioria era de pontos turísticos muito famosos, tendo ela visitado alguns deles também, como Nova York e Buenos Aires. Seu olhar vagava pelas imagens e quando se deu conta estava diante de outra porta. Esta, porém, entreaberta.

Ela se aproximou da fresta com cautela e tentando fazer o mínimo de barulho possível, pois não conseguiu conter sua curiosidade. Ali estava Diego, e o que ele lhe havia lhe dito mais cedo ainda rondava sua mente e lhe deixava inquieta.

Quando fez intenção de se retirar dali para que não o acordasse, escutou em meio ao ritmo da chuva um murmúrio conhecido.

— Está me espionando? - perguntou ele apoiando-se com os cotovelos na cama para ver melhor a figura de Alicia.

— Porra. Você me assustou. - ela falou ficando ruborizada, e acabou abrindo mais a porta para que visse Marselha melhor. - Não escutou o guaxinim? Pois eu sim. Algum de vocês deixou a janela da cozinha aberta. 

— Me desculpe, fui eu. - afirmou ele a fim de se levantar da cama para procurar por um casaco.

— Não, não se levante. Já o espantei. Pode voltar a dormir. Irei deixá-lo em paz. Estava apenas… de passagem.

— Não quer entrar? - questionou ele ligando o abajur ao lado da cabeceira e olhando o horário em seu celular. - Duvido que haja algo melhor para se fazer às três e meia da manhã de uma quarta-feira.

— Três e meia da manhã? Caralho. Não pensei que fosse tão tarde.

Ela ponderou alguns segundos sobre a proposta e acabou concordando, deixando sua arma sobre a escrivaninha próxima da porta.

— Não me diga que espantou um animal indefeso com uma pistola 9 milímetros? - Diego falou com uma risada baixa.

— E eu iria imaginar que seria um guaxinim? - ela respondeu se aproximando e sentando-se na beirada da cama de casal. - Poderia ser um agente buscando-me por uma valiosa recompensa de dez mil euros.

— Apenas isso? Dez mil euros? Acho que você vale mais que isso.

— E você diz isso insinuando que sou perigosa ou é apenas mais uma de suas tentativas para se aproximar de mim?

Marselha engoliu em seco por aquela pergunta ter sido tão direta e desviou o olhar.

— E por que está acordado? - ela questionou novamente aproximando-se mais do centro da cama, dobrando as pernas e segurando os tornozelos.

— Não sei. Talvez seja a chuva. - ele alegou dando de ombros.

Ficaram em silêncio por certo tempo apreciando os ruídos das gotas batendo contra o chão até que Alicia tomasse coragem para continuar a falar, pois não conseguia conter as palavras presas em sua garganta.

— Antes de conseguir deitar eu pensei no que você disse. E acho que está enganado, Diego. Você não quer se envolver comigo, apenas está depositando uma provável carência afetiva em mim, motivada pelo fato de que nos últimos meses não teve qualquer tipo de relação afetiva devido ao planejamento do roubo.

— Realmente gostaria de entender como você tem essas ideias. Quando irá enxergar que você não é uma máquina que tenta sempre seguir à risca todos os dados que lhe fornecem?

— Talvez eu seja uma. Já me chamaram de tantas coisas, que aposto que essa seria a menos ofensiva delas. Apenas estou livrando você de uma futura decepção. Mais cedo ou mais tarde, Diego, eles vão me encontrar. E você sabe disso. 

— Não, eles não vão.

— Porra. - ela disse em meio à uma risada. Porém, não de felicidade, e sim mascarada com um teor de angústia. - Não torne as coisas mais difíceis do que já estão. 

— Você não sabe o que está dizendo. Sabe o que penso de verdade, Sierra? Que você deixou todo o Ministério da Justiça de mãos atadas, assim como aqueles policiais dentro da tenda. Então por favor. - falou ele segurando uma de suas mãos. - Não se considere menos do que uma das pessoas mais fodas desse mundo.

Ela se acanhou ao receber aquele toque, no entanto não o achava ruim. Somente temia que uma nova tentativa de proximidade acabasse em desencanto.

— Já pensou no que irá fazer caso a Polícia encontre-nos? Pelo visto acho que não. Se não quisermos passar todo resto das nossas vidas atrás de quatro paredes de concreto, acho melhor nos esquecermos disso. Meu nome agora já está no sistema da Interpol, e sabe-se lá em quantas delegacias espanholas.

— Sierra, eu sei que você agora está em todos os noticiários do país, e até mesmo nos internacionais, mas por que não desfruta a maneira como a vida pode ser imprevisível? Como nós, humanos, podemos ser imprevisíveis? Aproveite a adrenalina do momento. Não é isso o que provavelmente te motivou a seguir o ramo policial?

Ao escutar aquilo Alicia fixou seus olhos aos dele, e talvez fosse possível ouvir ambos os corações entrarem em descompasso naquele momento.

— Não sei até que ponto essa adrenalina pode ser segura o suficiente.

— Acho que a única maneira de saber seria com um teste, não?

Ela então deixou escapar um sorriso de canto e suspirou. Havia imaginado para si mil cenários diferentes, mas nenhum deles se comparava àquele. Nada se comparava ao que estava guiando o seu coração, apesar de seu cérebro tentar lhe sabotar com perspectivas pessimistas.

E foi somente naquele instante que ela decidiu deixar seu emocional tomar conta de seu ser.

— Se ousar contar isso para alguém, eu juro que quebrarei um osso seu enquanto estiver dormindo. - alegou ela.

Ela então se inclinou para mais próximo dele e fechou os olhos, segurando seu rosto como se não o quisesse deixar escapar. Uniu seus lábios aos de Diego de maneira súbita e sentiu como se uma onda de calor preenchesse todo o seu interior. Ele por sua vez correspondeu e segurou sua cintura, envolvido pelo perfume floral que emanava de sua pele. Ambos deixaram a sensação fluir com calma de início, porém com um profundo desejo e certeza de que queriam aproveitar cada segundo daquele momento, pois o que estava por vir ainda era uma zona desconhecida. E talvez prejudicial.

Ainda de olhos fechados, absorvendo todo aquele prazer inebriante, Alicia deixava escapar alguns gemidos baixos e teimosos, acompanhados de puro êxtase e respiração oscilante conforme iam acelerando e intensificando o toque dos lábios.

— Merda. - ela falou ao se lembrar de algo e tomar certo fôlego.

— O que foi?

— Você disse... que são três e meia da manhã, não é? - ela perguntou com certa falta de ar.

— E o que isso importa? - ele questionou enquanto fazia um carinho em seu cabelo por trás, fazendo com que ela se arrepiasse levemente.

— Tenho que terminar uma planilha de informações com o Professor amanhã cedo. E por falar nisso, ele também está nesta casa. - ela explicou tentando se levantar e ajeitando seu roupão, porém antes que o fizesse Diego segurou seu braço e a fitou com um olhar marcante.

— Então não esqueça o despertador, ruivinha. - ele falou lhe dando um beijo em seu pescoço, o que a fez morder seu lábio inferior.

— Não irei. Agora, boa noite. - ela pronunciou enquanto se dirigia para fora do cômodo, pegando antes sua pistola da escrivaninha.

Quando girou a maçaneta e trancou a porta do lado de fora, Alicia então se recostou na parede do corredor tentando controlar sua respiração, enquanto tinha em seu semblante um sorriso malicioso e apenas uma frase em evidência em sua mente:

Maldita janela.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Se puderem, deixem um comentário ou sugestão para eu saber o que estão achando, porque isso também me motiva e ajuda muito a continuar escrevendo ❤
Mil beijinhos, e nos vemos no próximo capítulo!



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