Copenhague escrita por Julie Morgan


Capítulo 6
Atestado de óbito


Notas iniciais do capítulo

Olá meus maravilhosos! Tudo bem com vocês? Espero que sim :D
Antes de começar o capítulo, queria agradecer a todos vocês que estão acompanhando a história. Vocês não sabem como estou feliz por escrevê-la e saber que vocês aí do outro lado da tela estão gostando. Muito obrigada a todos, de coração!
Bom, agora deixo o capítulo para vocês se divertirem rsrs
Boa leitura ❤



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O Professor suspirou um tanto quanto aliviado quando desligou a câmera e sentou-se para tentar organizar seus pensamentos momentâneos. A gravação de Alicia havia sido exibida para toda população de Madrid e em poucos minutos estaria circulando por todas as redes sociais de forma frenética, como havia acontecido com Rio. Era questão de tempo até que seu rosto estivesse vinculado a todos os noticiários nacionais e até mesmo internacionais.

— Está bem? - disse Alicia com um tom de voz preocupado ao vê-lo esfregar o rosto com as mãos ao retirar seu óculos.

— Apenas com uma leve dor de cabeça, nada demais. - explicou ele com o olhar vago em meio ao ambiente.

— Consequências da exposição ao estresse. Sei bem como é. E sei melhor ainda a maneira certa para aliviá-lo.

Ela levantou-se de onde havia sido gravada e acenou para Sérgio, indicando que ele levantasse da cadeira acolchoada.

— Pegue sua arma, e venha comigo.

Ele a olhou confuso e arqueou uma de suas sobrancelhas por não haver entendido o que havia dito.

— Ora, vamos. Eu não mordo, apesar de agir algumas vezes como uma completa filha da puta. Precisamos de algo para descarregar toda essa tensão. 

Embora desconfiado, Sérgio pegou sua pistola de cima da mesa e a acompanhou. Andaram para a parte externa da casa e adentraram o jardim, de onde Alicia pegou uma pedra e começou a riscar um círculo no meio do tronco de uma árvore.

— Bom, não é um desenho perfeito. Mas serve de qualquer forma. - ela deu de ombros e se afastou um pouco para trás até que pudesse manter uma distância segura. - Agora nós apenas seguramos essa belezinha aqui com as mãos bem firmes e… - ela puxou o gatilho e direcionou a mira de sua arma para o centro do desenho, dando em seguida um tiro. - Bum! - disse ela após a bala sair da arma e atingir a madeira.

— Não sabia que gostava tanto de armas. - falou o Professor enquanto a observava e se posicionava para fazer o mesmo.

— Eu não definiria como "gostar". Elas somente te dão uma sensação momentânea de controle da situação, então… é apenas isso. Descarregar adrenalina e liberar dopamina.

— Bem, gostando ou não, foi um belo tiro. - Sérgio dobrou levemente os joelhos e também atirou, porém o fez três vezes.

— Pelo visto está com bastante estresse mesmo. - ela disse em tom de brincadeira.

Ambos ficaram ali, atirando contra o tronco da árvore por alguns minutos e permanecendo calados até que o celular de Alicia começou a vibrar em seu bolso. Parou o que estava fazendo por um instante e resolveu olhar o que era. Porém, não era exatamente o que esperava de uma mensagem.

Ela encarou a tela de seu celular por certo tempo tentando analisar a imagem e o texto que havia recebido, e não conseguia pensar em outra coisa senão em descobrir quem estava por trás daquilo.

"Comissário está muito bem comigo por enquanto, mas posso fazê-lo desaparecer em minutos. Você e ele serão apenas poeira caso não nos encontremos neste endereço dentro de duas horas. Sei muito bem o que está fazendo, portanto não se atrase nem deixe de vir, ou poderá ser pior. ”

— Mas que… porra é essa? - exclamou ela com certa raiva.

— O que foi? - perguntou o Professor se aproximando dela e tentando ver o que estava em seu telefone.

— Algum engraçadinho me mandou essa mensagem dizendo que sabe o que estou fazendo, ou… sei lá. Ou isto é um trote ou realmente estão me perseguindo. Me certifiquei muito bem de que Comissário estava acolhido em boas mãos.

— E quem é Comissário? - questionou o Professor.

— Meu… gato de estimação.

— Certo, um gato... - falou Sérgio um tanto incrédulo. - E quem mandou a mensagem?

— Não faço a mínima ideia. Chegou por um número anônimo. Acha que devo ignorar?

Sérgio tomou o celular das mãos dela e leu o endereço anexado na imagem, pois ele lhe soava familiar.

— Número 73, Topázio Leste. Tenho a impressão de que conheço esse local...

— E o que preciso fazer? Ir até lá encontrar com esse sujeito?

— Nós vamos até lá. Não pode correr o risco de se deparar com um chantagista em potencial sozinha. Porque é isto o que ele está tentando fazer: usar suas informações pessoais para atingi-la. 

— Mas e o plano? Você não pode abandoná-lo. Você é a cabeça por trás de tudo isso.

— Tóquio e Palermo receberam instruções bem claras sobre o que fazer por enquanto, creio que podem se virar sozinhos. E nós temos um acordo, não? Você foi exposta para distrair a Polícia, nada mais justo do que retribuir.

Antes que Alicia pudesse lhe dizer que estava agradecida pelo favor, viu Marselha correndo na direção deles um pouco ofegante e com um semblante alarmado.

— Escutei alguns tiros vindos daqui e acabei acordando com o barulho. Aconteceu algo? Estão bem?

— Ah, olá loirinho. - respondeu Alicia com um sorriso tímido. - Nós estamos inteiros, porém a pobre árvore não. Estávamos utilizando-a de cobaia para atirar, mas fomos interrompidos por isso aqui. - ela então mostrou a mensagem de seu telefone para Marselha, que ainda respirava com certa dificuldade. - E você chegou na hora exata para analisar como resolver esse problema.

— Não sei o que essa pessoa pretende, mas acho que um bom susto poderia facilmente afastá-lo de você. Se me permite, posso dar um soco certeiro nas têmporas dele para deixá-lo desacordado e…

— Calma, Marselha. Não se precipite. Quanto menos agressividade usarmos, mais poderemos passar despercebidos e manter a situação a nosso favor. - interrompeu o Professor. - Apenas apele para a violência em último caso.

— Ser bonzinho demais é que não irá ajudar em nada, Professor. Nós precisamos mesmo é de…

— Marselha, você não entende que isso pode acabar causando um...

— Escutem os dois. - interrompeu Alicia irritada. - Se quiserem começar uma discussão, fiquem à vontade. Mas saibam que irei sozinha se for assim. Não os chamei para começar uma briga, e muito menos sou a mãe de vocês para ficar ouvindo suas implicâncias um com o outro.

Alicia começou a caminhar para fora do jardim a passos largos para dentro da casa, enquanto os dois homens se encaravam calados. Ela então foi para a cozinha e começou a abrir algumas gavetas e portas de armário na esperança de encontrar o que procurava.

— Vamos lá, não é possível que não haja isso em nenhum lugar. - murmurou ela se agachando para abrir uma gaveta emperrada. - Finalmente. - disse ela se levantando e limpando a barra de sua calça.

Havia encontrado a tesoura que procurava e foi direto para o banheiro. Quando entrou, olhou-se no espelho e desfez seu rabo de cavalo deixando os fios caírem sobre seu colo em sua camisa esverdeada de mangas compridas. 

— Vamos lá, Alicia. Precisa se desapegar dessas mechas compridas caso queira sair para qualquer canto dessa cidade. - disse ela para si mesma segurando os cabelos na altura dos ombros com uma de suas mãos.

Começou a cortá-lo aos poucos sem um padrão definido até que adquirissem uma certa forma que lhe agradasse, jogando os fios cortados no lixo e ajeitando melhor sua franja.

— Não tão profissional mas... tanto faz. - disse ela saindo do banheiro e indo procurar mais balas para carregar sua arma.

Encontrou um cartucho para pistolas sobre a mesa de operações na sala de jantar e começou a carregá-la, mas antes que saísse Marselha encostou-se no batente da porta de braços cruzados.

— Você não vai realmente sozinha, não é? - perguntou ele enquanto analisava Sierra segurando sua arma.

— Diego, eu não tenho motivos para envolver você e o Professor nisso. O assalto precisa muito mais de vocês do que de mim. Não me leve a mal, mas vocês têm muito mais com o que se preocupar.

— E eu não posso escolher com quem me preocupar?

Alicia então ficou calada e sem jeito ao escutar aquilo, pois não sabia como responder.

— Olha, Sierra, eu não conheço sua personalidade por completo e tampouco sei se terei tempo suficiente para isso. - ele continuou falando e olhando-a fixamente. - Mas, por ser observador até demais, acho que você deveria deixar essa postura "cem por cento autossuficiente" que você aparenta ter de lado e deixar as pessoas ajudarem de vez em quando, ainda mais agora.

— Ok, ok. Você venceu. - ela disse com um suspiro de frustração. - Chame o Professor então, mas chega de sermões. Ah, e entregue a chave do carro para mim, porque apesar de irem também, quem irá dirigir sou eu.

— Você realmente não parece ser fácil, Sierra. - disse ele em meio a um riso contido. - Aliás, bela decisão em cortar o cabelo. Além de estar diferente das suas fotos vinculadas aos jornais, ficou muito bem em você.

Olhando mais de perto seria possível ver uma coloração rosada preenchendo as bochechas da ruiva pouco a pouco devido ao comentário, ainda que ela houvesse apreciado o elogio.

Mais tarde…

Apesar de não possuir total consentimento do Professor, Alicia conduziu o veículo com as orientações do mapa que ele possuía enquanto Marselha observava possíveis veículos em perseguição contra eles. Depois de certo tempo, entraram então em uma viela em uma área deserta e de aspecto ruim, muito diferente do centro movimentado de Madrid. Havia falta de iluminação e grande parte dos muros das construções ao redor eram pichadas e sujas, assim como o chão.

— Número 73. Aqui estamos. - disse Alicia saindo do carro junto dos outros dois.

— Tem certeza que é neste lugar? Uma antiga distribuidora de ferramentas? - perguntou Marselha analisando o aspecto do local. - Aqui não me parece ser tão… movimentado.

— E qual local um desconhecido escolheria para manter-se anônimo, loirinho? Um circo é que não seria, óbvio. Bom, faremos o seguinte: eu irei entrar primeiro e ver o que esse sujeito quer. Se em 15 minutos eu não estiver aqui fora, ou se escutarem qualquer sinal de uma capaz ameaça, vocês podem entrar pela parte de trás. Mas não se preocupem, estou muito bem armada também. E tenho uma pequena adaga presa atrás de minha panturrilha, caso precise atingi-lo de perto.

— Está segura disso? - falou o Professor ajeitando seus óculos.

— Absoluta. Já lhe disse, eu consigo me virar sozinha. Não é porque estou grávida que esqueci como lidar com pessoas assim.

Ela então empurrou as grades enferrujadas do portão a sua frente e entrou, deixando os dois para trás. Andou pela área da frente coberta com areia e cascalho até que entrou em um galpão velho mais ao fundo por uma porta de ferro um pouco amassada. O ambiente contava apenas com uma meia luz sobre o local, não sendo possível distinguir tudo o que havia ali. Entretanto, Alicia conseguia perceber a forma de algumas caixas empilhadas na parede à sua esquerda, e barras de ferro e madeira caídas à sua direita.

— Olá? - chamou ela andando mais ao fundo do galpão e andando com cautela para não pisar em nada que pudesse lhe machucar. - Seja quem for que me pediu para vir aqui, eu correspondi ao pedido. Então o que acha de acabarmos com todo esse suspense inútil?

— Ah, Alicia. Você sempre com seu jeitinho destemido achando que é capaz de confrontar as pessoas. -disse uma voz masculina que parecia aproximar-se dela, e que lhe parecia ser familiar. - Realmente, você nunca muda.

— Raúl? - perguntou ela tentando identificar o autor da fala. - Pensei que ainda estivesse fora da cidade.

— Madrid é meu lar, Sierra. - disse ele se posicionando em um ponto mais iluminado do galpão. - E você sabe como adoro a logística daqui. Festas nas melhores casas noturnas espanholas com os melhores drinks, as moças mais bonitas, as drogas da melhor qualidade...

— Se você me pediu para vir aqui para ficar apenas tagarelando sobre noitadas e mulheres nuas, está perdendo seu tempo. - esclareceu Alicia de prontidão.

— Calma, calma. - disse ele em meio a uma risada contida. - Também não precisa ficar chateada comigo, não é para tanto. Estou aqui porque preciso de um favor seu, pois caso tenha se esquecido, lhe consegui as informações sobre a placa do carro do Professor para que pudesse se encontrar com ele. E agora é necessário que você pague o que me deve.

— Pensei que a minha transferência bancária havia sido suficiente. - falou ela com as mãos na cintura olhando fixamente para o homem diante de si.

Raúl trajava uma jaqueta escura de botões metálicos com as mangas dobradas, deixando as tatuagens em seu pulso visíveis. Tirou do bolso dela um cigarro e o acendeu com seu isqueiro, tragando e assoprando a fumaça em seguida.

— Dinheiro não é tudo nesse mundo. - afirmou ele após soltar uma boa quantidade de fumaça de sua boca. - Mas, enfim… preciso que você converse com o Professor e me consiga um passaporte e outros documentos falsos para sair do país. E preciso deles para, no máximo, este fim de semana.

— Você? Sair do país? - Alicia então riu de maneira irônica. - Ora, seja realista! Você só conseguiu sair da cidade na época do seu envolvimento com drogas, Raúl, porque o seu querido primo lhe ajudou. Se não fosse por ele, a Academia inteira teria movido céus e terra para foder você ainda mais.

— Não fale do Giovanno. - disse ele em tom irritado. - Você o decepcionou muito, Alicia. Muito mesmo. Não sabe quantas noites eu tive de lidar com as lágrimas e soluços dele ao redor de várias garrafas de cerveja.

— Tudo isso porque eu simplesmente disse que já estava comprometida e ele continuava me perseguindo? Por favor, Raúl. Não comece com esse melodrama mentiroso. Ah, e antes que eu me esqueça: onde está o Comissário?

— O bichano? - perguntou ele jogando o cigarro no chão e apagando-o ao pisar nele. - No mesmo local em que você pediu que eu reservasse. Apenas o utilizei como uma forma conveniente para você vir até aqui, e parece que funcionou muito bem. Mas você não está entendendo, Alicia. Eu preciso sair do país o quanto antes.

— Está com dívidas por causa das drogas, é isso?

— Como você é inteligente, Sierra. Que formidável raciocínio! - disse ele em tom de sarcasmo. - Como sei que você não irá cobrir as minhas dívidas, apesar de esse ser um gesto muito gentil, eu estou pedindo algo muito mais simples. Apenas alguns documentos falsos, e se possível todos prontos até esse final de semana.

— E se eu… simplesmente não quiser fazer isso?

— Você decide. - ameaçou Raúl apontando a arma para Sierra. - Colaborar comigo ou acabar com um belo disparo. E tenho certeza de que esse seu rostinho bonito não será tão reconhecível depois disso.

— Raúl, não precisamos nos exaltar, ok? - falou Alicia tentando acalmá-lo enquanto andava vagarosamente em sua direção. - Eu não posso pedir algo dessa proporção assim sem mais nem menos. E além do mais, eu deixei bem claro que encontrar o carro do Professor seria o nosso último contato. Eu não posso me arriscar mais por você, Raúl. Me desculpe, mas fazer isso seria como assinar meu atestado de óbito.

Ele então atirou contra o teto fazendo com que alguns pedaços dele se soltassem e a poeira se espalhasse pelo chão e pelo ar antes estático.

— Acho melhor você repensar em suas palavras. -  informou ele com os olhos fixos aos da ruiva. - Ou eu mesmo posso deixar minha rubrica nas linhas pontilhadas da última página desse seu... atestado.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Estou muito curiosa para saber as opiniões de vocês!
Mil beijos e nos vemos no próximo capítulo :3



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