Copenhague escrita por Julie Morgan


Capítulo 5
Anjo da guarda


Notas iniciais do capítulo

Olá xuxus! Como estão?
Demorei um pouquinho para postar esse capítulo porque eu estive bastante ocupada nos últimos dias, e espero que não fiquem bravos rsrs
Boa leitura! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789050/chapter/5

No dia seguinte…

Sérgio havia acordado cedo para apreciar a quietude da paisagem ao amanhecer e tomar um pouco de ar puro. Poucas coisas lhe traziam tanta paz quanto isso, e em um momento como este tudo o que ele precisava era de um pouco de calmaria em meio à toda aquela tempestade. Alguns pássaros cantavam e voavam das árvores em direção ao jardim para procurar alimento, indicando que o dia estava prestes a seguir seu percurso habitual.

Não demorou para que Alicia também acordasse. Ela, porém, contra seu querer. Havia esquecido de fechar a cortina do quarto antes de deitar-se após a conversa com Marselha, e por isso desceu as escadas um pouco irritada.

— Precisamos conversar, Alicia. - disse Sérgio afastando-se da janela da antessala na qual estava debruçado.

— Por Deus! A essa hora? Não podemos esperar para comer algo? - replicou ela, alongando-se para aliviar a dor em suas costas enquanto caminhava ainda sonolenta.

— Sim, a essa hora. Você simplesmente largou a tentativa de acesso às conversas de Tamayo ontem sem mais nem menos. E quando subi para podermos conversar, adivinhe? Você estava dormindo! Sabe o que isso significa?

— Que sou uma irresponsável, egocêntrica, e blá blá blá. - falou ela enquanto prendia seus cabelos em um rabo de cavalo. - Poupe-me das suas críticas, pois já consigo prever todas as que passam pela sua cabeça.

— Vou considerar o dia de ontem como seu primeiro dia de teste, então tente moderar mais o seu temperamento se possível. Agora as coisas estão ficando cada vez mais difíceis, e não podemos nos dar ao luxo de termos mais conflitos.

— Ao invés de discutirmos, o que irá gastar ainda mais de nosso tempo, acho melhor começarmos com isto de uma vez, não? - resmungou Alicia.

— Iremos começar se você garantir que não irá provocar ninguém, como fez com Tóquio ontem. Não se preocupe, pois ainda irei conversar com ela. Enquanto você começa o seu trabalho, irei preparar um café para nós.

Ela apenas assentiu e caminhou até a sala de jantar, onde havia deixado o computador intocado desde a noite anterior. Esfregou um pouco o rosto para manter-se acordada e respirou fundo esticando os braços. Apressou-se em decodificar algumas senhas, passar por alguns bloqueadores de sistema e… bingo! Estava feito. Uma enorme lista de chamadas telefônicas e gravações pertencentes à Polícia espanhola com o horário e emissor de cada uma. Aquela era sua montanha de ouro, assim como os assaltantes possuíam a sua dentro do cofre do Banco da Espanha.

Descendo a página, encontrou o nome de Prieto e Tamayo e salvou tudo o que poderia lhe ser útil contra eles. Porém, enquanto os arquivos eram baixados, surgiu naquela mesma tela uma mensagem, indicando que havia uma chamada em andamento prestes a terminar. Ela então colocou seu headset rapidamente e aumentou o volume do sistema para que pudesse escutar o conteúdo daquela ligação.

— Não, vocês não podem interromper as buscas por nada! Alicia Sierra ainda está neste país, e eu tenho certeza. Precisamos encontrá-la para acabar com todo esse show de horrores em que ela nos colocou. Não me importo se ela está grávida, caralho! Ela é uma procurada da justiça, como todos aqueles cretinos com máscara de Dalí. Achem ela de qualquer forma!

— Professor! - gritou ela com certa animação. - Acho que irá gostar do que estou acompanhando por aqui. Uma verdadeira preciosidade.

— Um momento! - ele respondeu enquanto terminava de dispor o café recém feito em duas canecas. - O que foi que encontrou? - disse ele ao entrar na sala e entregar uma delas para a inspetora.

— Escute este trecho que gravei desta conversa. É a voz de Tamayo. Não sei com quem ele está se comunicando ainda pois a chamada ainda não foi finalizada, mas isso é o de menos.

O Professor ouvia atentamente os dizeres do Coronel, e um sorriso ardiloso começava a manifestar-se em seu rosto a cada palavra dita. Após pensar um pouco, ele levantou-se e ajeitou seus óculos, pois sabia exatamente o que fazer.

— Preciso que você arraste sua cadeira o mais próximo possível daquela parede e prepare o melhor discurso de toda sua vida. Ou relato, caso queira chamar assim.

— O que pretende fazer? Isso faz parte de mais uma das suas estratégias mirabolantes?

— Você será a mais nova vítima que está prestes a expor para toda Madrid a perseguição desta corporação policial. E claro, de forma simultânea, todos os áudios relacionados a você serão incorporados neste vídeo.

Alicia então foi para o outro lado do cômodo levando consigo o objeto e sorriu ao acomodar-se e cruzar suas pernas.

— Apenas me diga quando irá começar a gravar. Ah, e não se esqueça de manter o enquadro da câmera ajustado. Eles não podem deixar de perceber que há um bebê a caminho. 

— Tenho somente uma dúvida antes de começarmos, se me permite perguntar. - disse o Professor interrompendo a inspetora.

— Bom, tudo depende do conteúdo de sua dúvida.

— Por que disse a Tóquio que queria ser chamada de... Copenhague?

A inspetora então sorriu e retirou o largo casaco marrom com o qual estava vestida, jogando-o para um canto qualquer do cômodo.

— Vocês todos referem-se entre si com nomes de cidades, não? Nada mais justo do que eu também possuir o meu próprio, já que estarei com vocês durante alguns bons dias. E esse nome é em homenagem à minha falecida avó, que durante a Guerra Civil conseguiu se refugiar na Dinamarca por certo tempo. Mas, chega de lembranças tristes. Temos que estar focados no que é realmente relevante agora.

Sérgio, diante daquela situação, buscou sua câmera de cima da cômoda abarrotada de livros na antessala e armou o tripé a uma certa distância de Alicia.

— Está pronta? - perguntou ele ajustando o foco da imagem.

— Eu nasci pronta. - afirmou ela com segurança.

Enquanto isso, no Banco da Espanha…

Tóquio andava de um lado para o outro da sala, tentando ordenar seu raciocínio da melhor maneira que poderia. Entretanto, a voz da inspetora Sierra não se ausentou de sua mente por um segundo sequer durante a madrugada daquele dia, e isso a deixava nervosa.

A lembrança do relato de Rio sobre como havia sido tratado pela inspetora e sua chantagem com o filho de Nairóbi lhe aquecia o sangue e liberava quantidades excessivas de adrenalina, que corria veloz por suas veias. Não queria ser considerada como traidora por fazer aquilo, porém, em todo aquele tempo que tivera contato com o Professor, sabia que ele era um homem de palavra. No assalto à Casa da Moeda, ele lhe prometeu que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para retirar ela e seus companheiros de lá. E agora também não seria diferente.

Indecisa sobre como agir naquele momento, Tóquio decidiu esperar o próximo contato do Professor e aguardar mais notícias, pois também temia causar um alarde desnecessário e deixar o clima ainda mais tenso. Ela então ligou seu comunicador e pediu que Palermo fosse até a entrada da sala do Governador, onde os assaltantes decidiram manter Gandía desacordado e sob vigilância até que o Professor enviasse uma ordem do que iriam fazer com ele.

— Não tenho muito tempo para conversar pois creio que Manila não conseguirá conter a situação sozinha na biblioteca por muito tempo, então preciso que seja clara e objetiva. - explicou ele assim que se aproximou da porta.

— O Professor entrou em contato e me pediu que lhe desse um recado.

— E qual seria?

— "Da Vinci está vivo". Ou algo assim.

Palermo, ao escutar aquilo, exalava felicidade. Colocou suas mãos sobre os ombros de Tóquio e sorriu como se houvesse recebido o maior presente para o resto de sua vida.

— Isso é… perfeito! Estamos agora a um pequeno passo de concluir este nosso maravilhoso feito, minha querida Tóquio. Mas para isso preciso de todo o seu empenho.

— Mas eu… não faço a mínima ideia do que esteja falando. O Professor disse que entraria em contato hoje para dar-nos mais informações.

— Sim, sim. Iremos esperar a ligação dele. Mas, até que isso aconteça, esteja consciente disso: nós apenas iremos sair vivos se, e somente se, em outra realidade estivermos mortos.

— Não me diga que nós…

— Sim. É exatamente isso o que passou pela sua cabeça. - Palermo a interrompeu. - Nós iremos forjar nossa própria morte.

Antes que Palermo pudesse prosseguir, o comunicador portátil de Palermo começou a piscar, indicando que alguém estava tentando entrar em contato. Ele então ligou-o e aumentou o volume para que pudesse escutar melhor quem estava comunicando-se.

— Palermo. Sou eu, Rio. Parece haver uma interferência de sinais em nosso sistema agora, porém não consigo identificar quem o está enviando. - informou o assaltante.

— E parece ser perigoso? Digo, pode ser alguém tentando infiltrar-se em nosso sistema de comunicação?

— Não, não. É um sinal inofensivo, apesar de muito bem codificado. O que me parece estranho é que… ele parece estar sendo transmitido simultaneamente para as torres de televisão e telefonia mais próximas daqui. E também parece estar chegando até a base de operações da Polícia.

— Mantenha-se ativo com este sinal. Irei pedir que Helsinki vigie Gandía aqui na sala enquanto estivermos lhe ajudando.

Os dois então aguardaram a chegada de Helsinki e foram imediatamente para onde Rio se localizava. Andavam com passos rápidos e firmes, com os olhos sedentos por um pouco de descanso, já que haviam passado longas e contínuas horas acordados. Quando entraram, Rio digitava e buscava informações como louco, sem nem mesmo piscar.

— Nunca precisei lidar com um código tão difícil. Está criptografado em uma linguagem de sistemas quase impossível de reconhecer. - falou enquanto deixava escapar um suspiro de cansaço.

— Mas você consegue apenas deixar em exibição o que estão mostrando?

— Bom, irei tentar. Espere um momento. - Rio então reposicionou alguns cabos e reiniciou o notebook que usava, esperando com convicção que aquilo funcionasse. Logo após alguns minutos, a tela em que estava começou a iniciar uma reprodução automática de vídeo e ele sentiu-se emocionado. - Isso porra! Agora temos que confiar em nossa estabilidade de internet para que o vídeo não seja interrompido.

Ao ser iniciada a transmissão, os olhos dos três assaltantes não ousavam acompanhar qualquer outra coisa a não a pequena luminosa do notebook. Tóquio roía suas unhas de ansiedade e Palermo tinha as duas mãos apoiadas na cintura, pedindo internamente que aquele obstáculo fosse solucionado o mais depressa que conseguissem. Todavia, quando a figura de Alicia Sierra sentada em uma cadeira surgiu diante deles, não conseguiram conter em suas expressões o ódio momentâneo que sentiam.

— Olá, Madrid. E todos os que estão acompanhando esta gravação. Estamos passando por muitos momentos turbulentos durante as últimas semanas, e um deles foi a incessante necessidade da Polícia em encontrar meios de acusar um de seus membros acerca das ações ilegais contra alguns membros da entrada ao Banco da Espanha. E, como todos vocês já sabem, eu fui a escolhida para ser usada como peão nesse jogo. No entanto, trago a conhecimento do público todos os arquivos de Coronel Tamayo e Coronel Prieto planejando minha incriminação, em forma de áudios e documentos escritos. Todos de cunho oficial. Espero que tenham espaço suficiente nos celulares de vocês para suportar tantas conversas sobre como encontrar uma mulher grávida de maneira ilícita. Bom, imagino que tenham compreendido a mensagem. Vamos seguir com o máximo de esforço para comprovar as falhas desse sistema e quanta podridão há por trás dele. Não ignorem a Resistência.

O vídeo então foi encerrado e os três olhavam-se atônitos sem acreditar no posicionamento de Alicia, apesar de toda a clara e explícita declaração dada por ela.

— Bem, apesar da minha alta desconfiança, acho que o Professor está por trás disso. Não seria a primeira vez que ele consegue cativar uma inspetora. - falou Palermo depois que Rio parou o vídeo. No mesmo instante, o telefone com o qual se comunicavam com o Professor começou a vibrar, indicando uma tentativa de ligação. - Falando no diabo… - ele então se prontificou em atender, embora estivesse um pouco irritado. - Qual a sua dificuldade em manter o mínimo de sanidade, Professor?! Não me diga que está se envolvendo com mais uma inspetora!

— Guarde as suas ofensas e especulações malucas para outro momento, Palermo. - repreendeu Sérgio do outro lado da linha. - Ouça com muita atenção, você e qualquer um dos participantes que esteja por perto. Com esse vídeo que acabei de divulgar juntamente com os áudios creio termos cerca de 72 horas para começarmos a execução final de nosso roubo antes que a Polícia desconfie de algo. Aquela tenda deve estar com todos os agentes à mil por hora procurando por Sierra, mas ela está protegida comigo. E ela é o melhor meio de distração que poderíamos desejar. Enquanto isso, preciso que você, Palermo, entre em contato com nossos colaboradores do Paquistão para nos providenciar três caminhões clandestinos disfarçados como pertencentes à Polícia Nacional. E, o mais importante de tudo, dentro destes caminhões deve haver caixotes de madeira suficientes e sob medida para todos vocês.

— E quanto ao ouro, Professor? - indagou Palermo.

— Preciso que reforcem a produção ao máximo e separem ao menos sete quilos de pepitas para serem distribuídos para nossos colaboradores como pagamento. O restante ainda não sei como iremos utilizar ao certo, mas tenho certeza de que ele será fundamental para saírem daí.

Embora o Professor não pudesse vê-lo, Palermo esboçava um sorriso vitorioso e um olhar nostálgico. A lembrança de Berlim naquele instante era inevitável, pois grande parte de tudo aquilo fora projetado também por ele. E Palermo iria até o fim do mundo para honrá-lo pelo que fizera vida.

— Preciso conversar com ele. – Tóquio disse andando na direção de Palermo, esticando sua mão para que lhe entregasse o comunicador. Ele então o fez, e a assaltante respirou fundo antes de falar. – Sou eu mais uma vez, Professor. Tóquio. Acho que ainda temos uma conversa pendente.

— Tóquio eu... – Sérgio gaguejou e esfregou uma de suas mãos na testa, sem saber ao certo como se explicar. – Eu sinto muito se não lhe contei sobre Alicia antes. Ou melhor, Copenhague. Tudo aconteceu tão depressa e de uma forma tão... estranha que não sei como ainda dispus de tempo para conseguir arquitetar toda essa distração.

— A verdade é que ainda não estou preparada para encará-la frente a frente, mas eu só preciso escutar uma coisa vinda de você, Professor.

— Pois diga logo. – falou ele de prontidão.

— Posso ter certeza de que ainda é meu anjo da guarda? Claro, se Lisboa não se importar.

Os dois riram e por certo instante um silêncio melancólico dominou aquela ligação. Sabiam desde o começo que era necessário entregar-se de corpo e alma para um assalto daquela proporção e que a confiança deveria ser o valor primordial de tudo, e ainda que se posicionasse com falta de crença em relação à elementos religiosos ou místicos, Sérgio não queria e nem poderia deixar nenhum deles desamparado.

— É claro, Tóquio. Apenas... tenha um pouco de paciência comigo se possível, pois não sou uma das pessoas mais normais desse planeta.

Ela então sorriu e segurou seu cordão de prata com a inicial de seu nome verdadeiro esperando que tudo ocorresse bem, apesar das circunstâncias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se puder, deixe uma sugestão ou comentário do que achou. Isso me ajuda e motiva muito a continuar escrevendo!
Mil beijos e nos vemos no próximo capítulo! :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Copenhague" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.