Copenhague escrita por Julie Morgan


Capítulo 3
Nenúfar


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Como estão?
Trago para vocês mais um capítulo dessa fanfic e espero que gostem.
Boa leitura a todos!



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4 anos antes do assalto ao Banco da Espanha…

Aquela era uma típica manhã de outono europeia. As folhas das árvores ganhavam tons acobreados e desprendiam-se com facilidade dos galhos devido ao sopro dos ventos, caindo sobre os gramados e superfícies cimentadas da cidade. Os raios de sol davam lugar às nuvens cinzentas e os ventos frios eram responsáveis por deixar o ambiente da cidade mais acolhedor.

Palermo e Berlim esperavam pelo Professor dentro de uma das salas no monastério onde estavam instalados, que devido ao início das baixas temperaturas estava preenchido por diversas velas. O único som que escutavam vez ou outra era de alguns passos, provavelmente dos monges que se retiravam da Sala de Meditação para encaminhar-se aos seus aposentos para descansar.

Quando Sérgio por fim abriu a porta, Andrés esboçou um largo sorriso ao ver a garrafa de whisky nas mãos de seu irmão e não demorou a pegar seu abridor de garrafas de seu bolso.

— Ah, irmãozinho! Finalmente! Nada melhor para afastar o frio do que uma boa dose de álcool! - riu enquanto pegava a bebida das mãos de Sérgio, abrindo o frasco em seguida e distribuindo o whisky em três copos.

— Você sabe bem o que penso sobre bebidas alcoólicas em nossas reuniões, não é? - repreendeu o Professor. - E se alguém percebesse que fui ao mercado para isso? Eu poderia ser acusado de... heresia!

— Fique tranquilo… relaxe. O álcool irá apenas aflorar nossas ideias neste momento, não vejo nada de mal nisso. - afirmou Andrés colocando uma de suas mãos sobre o ombro do Professor. - E você, irmãozinho, é o que mais precisa de uma distração. Há dias vejo que está nervoso. Vamos, desabafe! O que está lhe deixando assim?

Sérgio então pegou uma das pastas que estava sobre a grande mesa redonda ao centro do cômodo e a abriu, distribuindo as folhas que estavam nela em linha reta.

— Isso. É isso que me preocupa. Temos aqui todas as informações para entrar no Banco da Espanha, e isso é formidável. Porém, perceba… - ele então apontou para a última folha da fileira, que continha apenas a palavra “Fuga” em seu topo. - Como iremos sair do Banco? Você mesmo disse que poderia ser impossível.

— Ah, então é isso que o está deixando acordado essas últimas noites? - interrompeu Palermo, dando um gole em sua bebida e servindo-se de mais uma porção. - Não se preocupe. Seu irmão e eu estivemos discutindo bastante durante os últimos dias e creio termos encontrado um ponto em comum sobre a fuga.

— E o que seria?

— Quando estivermos próximo de terminar a fundição de todo o ouro, então entraremos em cena com o "Plano da Vinci".

— Plano da Vinci? Pensei que fosse eu quem determinaria os nomes aqui… - brincou Sérgio enquanto puxava uma cadeira para perto de si. - Mas enfim, continue.

— Leonardo da Vinci foi um dos maiores nomes da pintura italiana, caso não saiba. Portanto, irei ignorar completamente esse comentário seu. - falou Palermo em tom irônico. - Bem, sabemos que entrar no Banco da Espanha pode ser arriscado, mas não impossível. Nosso maior obstáculo é sair dele com vida. A esta altura do campeonato, imagino que as saídas viáveis estarão bloqueadas pela Polícia. Consideremos então que o túnel e a cobertura do edifício já tenham sido descartados, ou sejam os alvos que a Polícia visa dominar. O que nos resta então?

O Professor permanecia calado, ponderando sobre as possibilidades restantes. Depois de certo tempo, fez sinal de quem havia desistido de tentar responder.

— Ora, homem! É óbvio! Olhe para a estrutura do Banco. O que mais lhe chama a atenção nesta foto? A entrada, claro!

— Como “óbvio”? Ficou louco Martín? - indagou Sérgio, com uma expressão perplexa em seu rosto. - A entrada será o local mais vigiado em todo o assalto. A Polícia sempre instala sua base de operações próximo a um local de onde possam vigiar melhor os criminosos, e é assim em todos os tipos de esquema!

— Mas nosso esquema não é como os outros, não se esqueça disso. Estamos falando de algo muito mais grandioso e elaborado, portanto não é de se estranhar que a Polícia irá cansar. Não sei quando, mas chegará um momento em que todos estarão tão tensos e tão cansados que começarão a desistir de vigiar a entrada e irão começar a considerar modos menos evidentes para encontrar-nos. E é aí que nós iremos agir. Seremos como uma versão moderna de Robin Hood, com a única diferença que não possuímos arco e flecha. Mas, em tempos como o de agora, metralhadoras e fuzis são muito mais úteis. A ideia central é esta: enquanto a Polícia estiver desgastada e tentando a todo custo nos capturar, iremos estar terminando a fundição de todo o ouro. E quando acabarmos, realizaremos o maior feito da história desse país. Iremos começar a distribuir parte das pepitas de ouro para a população, ameaçando corromper a reserva nacional da Espanha. Assim, a Polícia tentará usar os tubos subterrâneos para alcançar o cofre e tentar nos impedir de sair por lá. Mas, quando chegarem, já será tarde demais, pois teremos liberado nossos reféns justamente por essa porta da frente. - Palermo então fez uma pausa e bebeu mais um gole de whisky antes de continuar. - E claro, como é de se imaginar, todas pessoas estarão em festa e agitação ao ver pepitas de ouro caindo sobre suas mãos, e assim conseguiremos entrar no meio dos reféns e da multidão totalmente despercebidos.

— E quanto a nós? Você acha que a Polícia é assim tão idiota? Nossos rostos estarão expostos na porra do país inteiro! Como iremos sair vivos?! - falou o Professor franzindo a testa.

— Mas eu nunca disse que iríamos sair vivos. - completou Martín dando um sorriso para Andrés, que estava calado apenas observando os dois.

***

Dias atuais

Alicia e o Professor mantinham um clima de tensão entre eles, sem saber como dar o empurrão inicial para operarem juntos. O Professor então buscou um pouco de água em sua cozinha improvisada, que continha basicamente um frigobar, um micro-ondas, alguns talheres, copos e pratos. Ali havia somente o necessário para duas ou três pessoas por pouco tempo, então era mais do que suficiente. Ele então deixou um copo próximo de si e outro de Alicia, enchendo ambos com o líquido.

— Se vamos nos ajudar, precisamos nos manter hidratados. E você ainda mais do que eu.

— Obrigada. - Alicia então esboçou um pequeno sorriso ao notar tal gesto.

— Bom, antes de continuarmos… queria que explicasse mais sobre as gravações de Tamayo e Prieto. O que pretende com elas?

— Acho que seria útil colocar estas conversas contra eles, como o que fez com o vídeo de Rio. Quando aquela filmagem estava sendo transmitida na tenda, Tamayo não conseguia esconder sua raiva por nada. Agora imagine aquele merda escutando as próprias gravações? Nos últimos dias ele se rendeu aos meios de trabalho ilegais, e sei disso porque o escutei falar para os agentes não se preocuparem em serem corruptos. Seria impagável vê-lo se sentir fodido de novo.

O Professor sentiu como se uma lâmpada houvesse iluminado seus pensamentos. Essa era a deixa perfeita para atrapalhar a Polícia contra a perseguição de Alicia, e ainda por cima ganhar tempo para terminar a fundição do ouro. Para isso precisavam conseguir essas gravações o quanto antes.

Enquanto conversavam, não demorou muito para que Marselha visse a mensagem do Professor e estacionasse seu carro em frente ao esconderijo. Ele então entrou, observando se não estava sendo seguido. Quando chegou ao cômodo grande e escuro onde estavam o computador e os dispositivos eletrônicos remotos usados no assalto, puxou rapidamente sua arma dentro de seu casaco ao ver Alicia.

— Professor, o que ela está fazendo aqui?! - perguntou ele sem entender a situação.

— Ahn, nada! Abaixe isso! - disse ele ao ouvir a voz imponente do amigo ecoando por todo o espaço. - Preciso apenas de um favor seu, não temos tempo para bate-papo. Se me der licença, Alicia.

A inspetora apenas assentiu e continuou observando alguns papéis e anotações espalhadas próximas ao comunicador.

Sérgio caminhou até Marselha e fez sinal para que entrassem na sala ao lado, para poderem conversar a sós. O loiro cruzou os braços e esperou que a porta fosse fechada para então começar a falar.

— Acho que toda a sanidade em sua mente brilhante acabou por completo. Está louco ou o quê?

— Sim. Eu sei. Pode parecer loucura. Porém creio ter encontrado a última peça para resolver nosso problema. E essa peça é justamente Alicia.

— Professor, pense no que está dizendo! Ela torturou o Rio! E também foi responsável pelo tiro contra Nairóbi. E se esse tiro não tivesse acontecido…

— Sim, eu sei. Você não imagina o quanto estou desconfiado sobre isso tudo. - falou enquanto limpava seus óculos. - Por ora, precisamos ficar atentos a todos os movimentos desta mulher. Ela é imprevisível. Mas se as minhas teorias estiverem corretas, conseguiremos dar o nosso próximo passo infiltrando-a no esquema. Não temos chances de sairmos senão pela porta da frente, e qual a melhor maneira de sabermos como está o exterior do Banco? Isso mesmo, ela. Ela com certeza sabe sobre todos os turnos dos agentes naquela tenda.

— Mas não acha que ela pode nos delatar a qualquer momento? E se tudo isso for algum tipo de truque?

— Ela tem muito mais a perder do que ganhar neste momento. Por isso, enquanto ela estiver aqui, quero que a vigie. Quero que tente observar todos os detalhes do que ela faz. Não a perca de vista um segundo sequer. Se tudo ocorrer como planejado, seguiremos com uma grande vantagem sobre a Polícia.

— E o que havia dito antes? Sobre precisar de um favor?

— Ora, esse é favor Marselha! - falou revirando os olhos por sua ironia não ter sido entendida. 

Voltando à onde estava, Sérgio pegou seu celular e colocou um novo chip para conseguir falar com Antoñanzas. Sempre se comunicavam às 16:00 horas, e naquele dia não seria diferente. Alicia o observava enquanto roía uma de suas unhas, e parecia estar preocupada com algo.

— Finalmente. - falou o Professor quando o agente atendeu. - Está em um local seguro para conversar?

— Sim, pedi para me retirar por uns minutos da operação. Disse que precisava ver minha mãe no hospital.

— Certo. Preciso de sua total discrição neste momento. Pode me dizer o que está acontecendo na tenda?

— Bom… - Benito respirou fundo antes de continuar. - A parte boa é que parecem ter esquecido de vocês por um tempo. Tamayo está louco para encontrar a inspetora Sierra. Até o momento ele colocou cinco viaturas, do grupo Fênix e Gama, para rondar a área. Estão respectivamente indo para o aeroporto pela rodovia M-205, no Km-27. Depois irão para a M-206 e a M-207, no Km-29.

— Merda... - exclamou o Professor, temendo o que estava por vir. - E em quanto tempo irão rondar cada área?

— Creio que irão dividir-se para agilizar o trabalho. As viaturas contam com 5 agentes em cada uma, então daqui uma ou duas horas devem ir para o Km-29, creio eu.

— E você sabe dizer porque escolheram vasculhar o Km-29?

— Disseram ser a área que está com menos movimento durante os últimos dias e a mais rápida de buscar. Porém, precisam primeiro ter certeza que a inspetora não está saindo do país.

— Entendo. Mantenha-se alerta. Entro em contato com você depois. - o Professor então desligou o celular e retirou o chip. - Mas que… merda! Eu não tenho um segundo de paz, caralho! - bateu com as mãos na mesa, e depois as esfregou no rosto.

O esconderijo do Professor estava localizado a um raio de 2 quilômetros do Km-29, e temia ser descoberto junto com Alicia. Seu coração então começou a palpitar de forma descompassada, e a aflição transbordava de seu rosto.

"Em que merda você se meteu, Sérgio! Agora está se culpando mentalmente por precisar ajudar uma pessoa que poderia facilmente foder com a sua vida. E que ainda pode." - pensou ele.

O Professor considerou então ser conveniente alterar o rumo do esquema até que as coisas se acalmassem um pouco. Antes da morte de Andrés ele jurou fazer jus ao nome de seu irmão durante o assalto, e nunca quebraria essa promessa. 

— Temos menos de 40 minutos para recolher tudo o que pudermos e o que for mais essencial. Marselha! Marselha! - gritou ele, sendo evidente o início de sua ansiedade. - Preciso que você coloque o computador, o comunicador e os cabos naquelas caixas. Alicia, recolha toda essa papelada e coloque dentro das pastas. Eu irei pegar as armas e volto para te ajudar, Marselha. Não sei se a Polícia irá chegar a aumentar seu raio de buscas, mas precisamos nos prevenir. Pelo menos por enquanto.

— E para onde vamos, se não se importa em responder? - questionou Alicia, levantando-se com certa dificuldade da cadeira.

— Nossas opções estão um tanto quanto limitadas. Mas creio que Nenúfar será um bom refúgio. Lá poderemos continuar nosso acordo em sigilo. 


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Quero saber as opiniões de vocês!
Um mega abraço e muito obrigada por estarem acompanhando :)



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