Copenhague escrita por Julie Morgan


Capítulo 11
Aquele sublime Carpe Diem


Notas iniciais do capítulo

Olá meus xuxus! Estão bem? Torço que sim!
Estou muito feliz por estar escrevendo a história e por vocês estarem acompanhando, de verdade! Não sabem como me alegro cada vez que escrevo!
Espero que aproveitem mais este capítulo, boa leitura à todos ❤



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Mais tarde...

Alicia tinha sobre suas pernas alguns lençóis limpos, e o suor escorrendo por sua testa denunciava como estava cansada fisicamente. Já havia até mesmo perdido certa noção da realidade naquele dado instante devido ao tamanho esforço que estava fazendo, e por isso não sabia exatamente há quantas horas estavam ali dentro daquele quarto. A única pista que denunciava o passar dos minutos era a de que não havia mais tanta luz natural entrando pelas janelas, e as cortinas se mexiam com o soprar de uma brisa mais fria. 

Uma das coisas que ela mais queria ali era algo relaxante e que aliviasse a dor que sentia no momento. Cada nova contração que sentia era acompanhada de uma enorme vontade de insultar qualquer coisa existente deste mundo - até mesmo uma simples partícula de poeira que se deslocasse à frente de seus olhos, ainda que esta não fosse tão visível. Sentia que suas forças estavam chegando ao limite, contudo, parecia haver uma voz interna que lhe pedia para não desistir, pois o momento final estava quase por chegar.

— Você tem que respirar direito. - pediu o Professor na frente da cama, enquanto via a mulher na sua frente com um semblante de aflição.

— Porra, você diz isso como se fosse muito fácil! - ela respondeu cerrando os punhos e fazendo mais força. - E onde está Marselha?

— Talvez já esteja chegando, Sierra. Por Deus, tente se controlar. - o Professor falou esfregando seu rosto com um dos braços, estando tão nervoso quanto Alicia.

Quando ela entrou no quarto após sentir sua bolsa estourar, Sérgio foi até Marselha e o comunicou sobre a situação, pedindo que fosse até o centro da cidade para providenciar alguns itens básicos para a chegada de um recém nascido da forma mais discreta possível. Afinal, não havia muita coisa ali em Nenúfar que fosse útil para a sobrevivência de uma criança em seus primeiros dias de vida, e o Professor não deixaria que ela ficasse sem apoio. Tanto pelo acordo que fizera com Alicia, e também pela obrigação pessoal e ética que desejava manter. Porque apesar de ser o idealizador de um roubo como o que estava acontecendo, no qual estava incluso tentar não deixar qualquer um dos envolvidos sem assistência, ele também tinha o seu próprio código moral a seguir.

— Eu não pensei que seria assim. Bom, na verdade, estou mentindo. Eu pensei, mas não achei que era verdade quando diziam que um parto normal poderia doer tanto. - ela falou fazendo mais força, deixando escapar alguns gemidos de dor enquanto suspirava com frequência. - Caralho!

— Alicia, sem perder o foco, ok? Você pode xingar o que você quiser, mas tente continuar. Eu sei que está muito difícil, mas vamos lá.

— É claro que está difícil, estou praticamente entrando em completa exaustão! - ela retrucou cerrando os dentes. - Já sabe o que faremos com o plano que estava me contando? Sobre eu me entregar e tudo o mais? Talvez teremos que mudar algumas decisões, não? Já que isso está acontecendo justo agora... - ela disse entre um ranger de dentes e um gemido de agonia. - Céus. Está cada vez mais péssimo.

— Sim, nós iremos fazer algumas alterações, mas não pense exatamente nisso. Teremos tempo para resolver essas pendências posteriormente, eu acho. - ele falou enquanto tirava seu celular do bolso. - Bem, acho que pela quantidade de tempo que já se passou você já está na fase final da dilatação, pelo que pude ler em um desses... artigos de maternidade na internet. Aqui diz, "fase expulsiva". Nunca havia entrado em um, mas eu espero que esteja certo.

— E eu mais ainda. - ela respondeu, mordendo um dedo de sua mão direita para tentar conter suas dores eminentes.

Seus olhos então se deslocaram rapidamente para a porta quando ela escutou o barulho da fechadura se mover, e deu um suspiro de alívio ao ver Marselha entrando enquanto carregava algumas sacolas cheias e uma bolsa com detalhes em tons de bege.

— Finalmente voltou! - o Professor disse aliviado ao vê-lo depois de ter pensando em mil coisas que poderiam ter acontecido de ruim com o amigo naquele meio tempo em que havia se ausentado, e isso apesar dele ser um dos únicos que a Polícia ainda não possuía uma descrição de suas características para poder reconhecê-lo.

— Sabia que não é fácil andar por todo o centro de Madrid sem chamar o mínimo de atenção com tudo isso? - ele retrucou para Sérgio, enquanto deixava todos aqueles itens sobre uma mesa de canto. Porém, ao se lembrar de Alicia ali próximo, tentou conter qualquer outro comentário que gerasse mais desconforto para a situação, pois estar presenciado aquilo já os deixava apreensivos demais para ter que suportar outra coisa.

— Por fim! Não quero que desapareça por tanto tempo de novo, assim quase me mata de susto! E agora é que realmente não posso morrer. Não mesmo. - ela disse em tom irônico esta última frase para trazer certo alívio cômico, apesar do nervosismo evidente.

— Não pense nessas coisas de morte agora, Sierra. Tenha mais positividade, por favor. - Diego respondeu em reprovação.

— Sim, sim. Claro. Positividade. - ela disse com ironia novamente, apontando para o próprio rosto tendo nele um falso sorriso. - Com a maldita Interpol atrás de mim e eu aqui prestes a gritar de tanta dor, tudo o que eu tenho que ter é positividade. Apenas em seus sonhos, loirinho.

— Alicia, você está muito...

— Arrogante? Insuportável? Estou prestes a ganhar uma criança, merda! - ela o interrompeu e olhou de relance para a pistola que tinha no criado mudo ao lado esquerdo da cama. - Podemos resolver isso melhor depois se quiser.

O Professor engoliu em seco enquanto escutava o diálogo entre os dois, pois temia ocorrer algo pior devido ao humor de Alicia naquele momento - ainda mais por ela ter insistido a todo custo em ficar com aquela arma próxima a ela, pois somente o fato de ela estar preparada para qualquer afronta o deixava inquieto. No entanto, logo após, ambos deixaram escapar uma risada sutil, deixando ele ali claramente sem entender o que havia acontecido entre eles para estarem assim, com uma troca de humor tão repentina.

— Na verdade, autêntica como de costume. -  Marselha replicou enquanto sentava na lateral da cama estendendo uma das mãos para Alicia, ficando depois apenas calado para que ela entendesse a mensagem que queria passar. 

Trocaram um olhar rápido e ela então entrelaçou seus dedos aos deles, agradecendo mentalmente por ter aqueles dois ali lhe dando força e suporte. Ok, talvez ela houvesse praticamente ameaçado os dois a ajudá-la antes disso, mas estava profundamente agradecida - apesar de não expressar da devida maneira naquele instante. Jamais iria conseguir resistir àquela incessante procura da Polícia se não fossem por eles, e por isso sentia ter criado a partir dali uma relação diferente para com todos. Talvez afinidade fosse a palavra certa, apesar de já ter sido também um grande entrave naquele assalto.

Logo, bastou mais um pouco de empenho e algumas queixas de incômodo por parte de Alicia para que ela deixasse uma pequena menina de poucos cabelos ruivos iguais aos seus por fim conseguir sair de dentro de si, comprovando para os outros dois pelo brilho que atravessava os seus olhos naquele momento que apesar de todas as suas imperfeições, ela também tinha um de seus motivos pelo qual ter empatia - mesmo diante das tantas fatalidades que já havia experimentado até então.

Por um dado instante, ela sentiu-se em puro êxtase. Lhe faltava certo ar para pensar em qualquer coisa, pois estava totalmente envolvida pelo som de choro de sua criança quando o Professor a entregou nos braços envolvida por uma manta. Assim como sua filha, tampouco ela pôde poupar algumas boas lágrimas, admirando todos aqueles detalhes tão preciosos de uma versão muito menor de si mesma. E também muito mais pura.

— Já têm algum nome em mente? - perguntou o Professor depois, se afastando para que Alicia pudesse ter o seu momento de interação com a menina.

— A verdade é que não. Aconteceram coisas demais nas últimas semanas, então sequer cheguei a uma decisão. Por que? Sugerem algum? - ela perguntou alternando o olhar entre os dois, esperando que se pronunciassem.

O Professor cruzou os braços e olhou para os próprios pés, pensando bem antes de formular sua próxima frase.

— Acho que deve se lembrar de… Nairóbi. A nossa outra participante do grupo.

Alicia ficou um pouco desconcertada ao escutar aquele nome, pois sabia muito bem de quem se tratava. Era a assaltante que ela havia conversado e visto pela janela do Banco segurando um grande urso de pelúcia azul, e que havia deixado ter uma conversa com o filho pelo telefone. Era ela. A mulher que quase havia dado ordem para matar sem qualquer tipo de piedade.

— Sim. - E porque a está mencionando? - ela falou em um tom inseguro e triste quando a lembrança daquela cena veio à tona. - Me desculpe se eu a privei de ter também momentos assim. Com o filho. Céus, como eu não havia pensado no quanto fui hipócrita? - ela disse começando a se repreender.

— Não, não a estou mencionando por mal. É que em uma de nossas conversas, ela me contou sobre uma coisa.

— Que coisa?

— Que se um dia tivesse uma filha, se chamaria Ibiza. Era bem visível que ela adorava uma vida animada, sem medo da opinião de terceiros. Então talvez achei que gostasse também, porque soa muito peculiar e interessante.

— Ibiza. De fato, um nome muito original. Sem dúvidas. E você, o que acha loirinho? - ela disse olhando para ele próximo de si, que até então apenas permanecia calado. - Acha que poderia combinar?

— Pois sim, o que você escolher irá ser ótimo. Você que é a mãe dela, afinal. 

— Então está escolhido. - ela atestou esboçando um sorriso tímido e enxugando uma lágrima teimosa que insistiu em cair. - Ibiza Sierra, a nova integrante mirim do grupo dos Dalís. Em lembrança de Nairóbi.

— Por Nairóbi. - o Professor disse sorrindo de volta. - Irei buscar um pouco de água para vocês, me esperem aqui. Marselha, fique com ela. - ele pediu saindo do quarto em seguida e fechando a porta.

— E você? Não precisa ir descansar? - ela questionou à Diego com um suspiro brando quando o Professor se afastou de seu campo de visão, admirando as mãos de Ibiza que se abriam e fechavam a cada minuto, e que cabiam facilmente em uma das suas próprias.

— Já fiquei muito tempo parado, acho que agora é hora de estar atento a qualquer coisa que acontecer com… vocês.

Alicia não conseguiu conter um sorriso bobo no canto da boca ao escutar aquilo. Era reconfortante saber que estavam se importando por seu estado, pelo menos uma vez na vida. Talvez se permitir experimentar essas sensações novamente não fosse tão ruim quanto ela pensava, apesar do choque que já havia presenciado meses atrás quando havia perdido Germán.

— O que irá fazer quando isso tudo acabar, Diego? - Alicia perguntou sentando-se melhor depois de fazer sinal para que ele pegasse algo para limpar a pele da menina, que estava ainda um pouco suja. - Já tem algo em mente?

— Nada ainda, acredita? Estou esperando para ver como as coisas irão se suceder daqui em diante, para não ter que fazer uma mudança de planos tão grande.

— Entendo. Você é um cara esperto. - ela disse um pouco acanhada, com algumas palavras presas à garganta que não sabia como expressar devidamente sem soar tão exagerada, e ele já havia percebido isso.

— Pelo seu rosto acho que você tem algo para falar. Mas não sabe como. Acertei?

— Você realmente observa muito bem. Todas as vezes. - ela riu de forma sutil. - É que… de verdade, não saber o que fazer exatamente depois desse plano todo está me deixando incomodada. Ainda mais agora. - ela explicou colocando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.

— Mas isso não é ruim. Todos teremos muito tempo daqui para frente para colocar tudo em ordem. Passamos por muita coisa, então primeiro deveríamos… sabe, dar uma pausa.

— Sim, eu sei. A realidade não será mais a mesma, mas eu… não sei de verdade o que esperar de um futuro próximo. - ela afirmou olhando para ele, usando a voz mais calma que poderia ter para tentar se expressar. - Nesses dias estando aqui, mesmo sabendo que talvez eu não mereça tanto assim, vocês me deram uma chance. E eu não irei esquecer isso, porém… por mais que esse esteja sendo o esquema mais insano de toda a minha carreira, acho que eles me provaram uma coisa que você mesmo disse na madrugada passada.

— E o que é? Diga.

— Que aproveitar o momento não é ruim. Existe um conceito certo para isso, você deve conhecer: o Carpe Diem. Talvez ele não seja mais uma dessas frases bonitinhas em latim que as pessoas gostam de usar em legenda de fotos. - ela então respirou fundo e tomando coragem para contar, talvez, a percepção mais acertada que já tivera na vida e que já havia passado pela sua mente ilustre. - A verdade é que… acho que não quero me afastar de você. Não agora. Merda, você agora está me fazendo chorar. E eu odeio chorar.

Ela então o abraçou de forma repentina e um pouco atrapalhada por estar segurando Ibiza com um dos braços, mas isso não a impediu. Logo ela, que sempre havia afirmado que os ciclos precisam ser fechados quando é a hora exata, queria poder conseguir voltar alguns minutos daquele relógio e deixá-lo fixo para que não mudasse. Estava gostando desse tipo de companhia, e por mais que soubesse que a hipótese de uma despedida fosse a mais provável de acontecer, ela não queria. Não queria deixar afastar algo que lhe havia alcançado em tão pouco tempo, mas que parecia estar tomando rumos mais concretos. Por causa disso, tinha escorrendo pelas bochechas talvez as lágrimas mais sinceras que jamais poderia reter.

— Existem milhões de hipóteses passíveis de acontecer nesse plano ainda, Alicia. Então não se incomode com isso. Podemos tentar encontrar as soluções mais inesperadas que você já viu. E eu já disse que posso lhe ajudar, se esqueceu disso?

— Talvez sim. Mas que bom que agora posso ter certeza de novo. - ela disse se afastando do abraço para que pudesse ficar com o rosto próximo ao dele, apreciando mais uma vez aquela velha sensação de ter mil e uma borboletas em seu estômago. - Não sei esclarecer muito bem o que está passando entre nós, e o que acontecerá entre nós. Mas confesso que me parece muito bom de ser aproveitado.

Sua boca então foi de encontro à dele, dessa vez um pouco mais tranquila do que na madrugada anterior. Queria demonstrar com um toque toda a afeição que carregava dentro do peito da forma mais tenra que poderia sonhar, mas sem expressar palavra alguma. Era o carinho na sua forma mais bonita, que a parte audaz de Alicia talvez tentaria não mostrar. Mas, naquele instante, ela já não era capaz de controlar essa sua versão, pois estava ocupada demais desfrutando o momento. Aquele sublime Carpe Diem.

Foi então que o Professor abriu a porta trazendo um pouco de água em alguns copos, contudo quando viu os dois juntos apenas os deixou sobre a mesa de canto antes que eles o vissem, e saiu rapidamente para não atrapalhá-los.

— Queria sugerir algo. Se talvez não se importar. - Alicia confessou depois de se afastarem. Diego então confirmou com um aceno, e ela continuou. - Pode dormir aqui depois? Conosco? Não quero ficar sozinha nessa primeira noite.

— E não irá. Bom, primeiro vamos organizar as coisas que você precisa fazer na ordem correta: se alimentar, tomar um banho com ela, e depois descansar. Enquanto isso, posso organizar tudo por aqui.

— Você é incrível, loirinho. - ela falou lhe dando um beijo rápido na bochecha antes que Diego se levantasse e fosse buscar o que comer, e ela por sua vez afastou sua camisa quando ele saiu para que Ibiza pudesse amamentar pela primeira vez.

Ela de fato esperava não estar sendo invasiva ou muito menos ousada demais ao ter feito aquela proposta, porque se havia alguém mais deslumbrada com uma emoção daquelas no dado presente, ela desconhecia. Era incrível demais para ser verdade.

— Espero que não se incomode em dividir a cama hoje, hein. - ela disse olhando para Ibiza, que estava de olhos fechados concentrada no que fazia.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Estou curiosa para saber as opiniões de vocês hein? rsrs
Um grande abraço e vários beijinhos! Amo vocês!
Ah, e nos vemos no próximo :3



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