Invisible Play - Level Up escrita por Douglastks52


Capítulo 9
O Que Um Amigo É


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo focado na vida nem-tão-normal de Kurokawa. Boa leitura!



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Kurokawa abriu a porta da sua casa e começou a caminhar em direção à cozinha: 

—Bem vindo de volta. -Disse Lizzy sentada na mesma posição de antes. -Como foram as tuas aulas? 

—A professora decidiu me castigar injustamente... -Respondeu Kurokawa servindo comida e sentando-se a mesa. 

—Tenho que ser amigo de um estudante transferido por um dia. 

—Isso não parece bem um castigo. 

—Claro que é! -Respondeu ele com sua boca cheia de comida. -Eu vou ter que falar com ele! E se ele não conseguir fazer amigos depois e tentar falar comigo todos os dias? Você tem noção de quão chato isso seria? 

—Qual é o problema disso? Essa não é a tua oportunidade de fazer um novo amigo? 

—Porque eu precisaria de um amigo? 

—Amizades são divertidas, vocês podem compartilhar segredos e se ajudarem. 

—Eu não preciso de ajuda. 

—Tudo bem. -Respondeu Lizzy tentando ignorar os comportamentos antissociais de Kurokawa. - Ah, já agora, eu combinei de ir à um parque aquático com o Sasesu amanhã, você quer vir conosco? 

—Calma...o que? Como? Porque? Você e o Sasesu são amigos? 

—Durante o fim de semana, nós fomos a Euler juntos e ele é um cara bem legal. -Respondeu Lizzy. -Eu já sabia disso até porque vocês dois são amigos, mas em Euler, eu tive certeza. 

—Eu e o Sasesu não somos amigos...porque é tão difícil para você aceitar isso? 

—Porque é tão difícil para você admitir isso? É normal ter amigos, Kurokawa. Nós somos amigos. 

—Não, não somos. Você mora na minha casa e nós conversamos porque é beneficial para nós dois. Isso é apenas uma troca. 

Lizzy suspirou irritada, ela sabia que uma discussão com aquele cabeça dura não chegaria à lugar nenhum: 

—De qualquer forma, você devia vir conosco amanhã. 

—Me dê uma razão. 

—Porque vai ser divertido e eu tenho certeza que você não tem nada melhor para fazer. 

—Não, mais uma tentativa. 

—Porque você pode trazer o aluno transferido e assim você não tem que ficar sozinho com ele o dia inteiro. 

Kurokawa pôs seu prato na pia e começou subir as escadas em direção ao primeiro andar: 

—Vou pensar sobre isso. 

—Que ser humano tão teimoso... -Resmungou ela. 

—Eu consigo te ouvir! -Gritou Kurokawa. 

—Vai tomar banho! Eu consigo sentir o teu fedor daqui! -Retrucou Lizzy. 

—Eu já ia fazer isso antes mesmo de você dizer! 

Kurokawa entrou no banheiro, ele realmente exalava um odor, no mínimo, peculiar. A última vez que seu corpo havia entrado em contato com água havia sido no sábado de manhã, e ele tinha passado o fim de semana inteiro com suor e sangue a escorrer pela sua pele. Já sentindo-se refrescado, ele decidiu passar o resto do dia trancado no seu quarto. Conviver com Lizzy era uma ideia que o irritava naquele momento e ele tinha que se preparar mentalmente para o dia de amanhã. 

Kurokawa acordou com o despertador do seu celular e realizou os seus procedimentos matinais. Antes de sair de casa, ele caminhou até a cozinha, viu que Lizzy estava dormindo e pegou alguns sacos de caramelos. Ele não havia jantado na noite anterior por pura teimosia e por isso o seu estômago já estava resmungando. Kurokawa sabia que podia pegar um ónibus para ir até a escola, mas atualmente, correr levava mais ou menos o mesmo tempo e servia como um bom aquecimento. 

Ele suspirou e entrou na sala de aula, alguns minutos mais tarde, um professor apareceu junto de um aluno. O tal jovem tinha aproximadamente a mesma altura de Kurokawa, cabelos castanhos, curtos e bagunçados, junto de olhos negros e um sorriso infantil: 

—Kurokawa, este é Takeda, o aluno transferido, como a professora te avisou ontem, mostre-lhe a escola e tente fazê-lo sentir-se parte da turma. -Explicou o professor. 

—Prazer em te conhecer, Kurokawa! -Sorriu Takeda empolgadamente esticando sua mão. 

Kurokawa forçou um sorriso no seu rosto e aceitou o cumprimento: 

—Prazer...em te conhecer...Takeda. 

Kurokawa retornou ao seu lugar e Takeda sentou-se ao seu lado: 

—Mano, essa escola é bem grande! -Comentou Takeda. -Estou super empolgado para conhecer as coisas aqui! 

—Como você consegue estar tão animado...? São oito horas da manhã... -Pensou Kurokawa. 

A primeira aula do dia teve fim e Kurokawa percebeu que o seu tormento tinha apenas começado. Ele tentou caminhar para fora da sala silenciosamente, mas Takeda o seguiu: 

—Para onde estamos indo? 

Eu estou indo para o terraço. -Respondeu Kurokawa. 

—Uau, você tem permissão para ir para lá? 

—Não. 

—Como vai entrar lá então? 

—Eu tenho a chave. 

—Como? 

—Eu roubei. 

—Uau, você é rebelde, gosto disso! 

Eles subiram as escadas e Kurokawa rapidamente reparou que Takeda tinhas ótimas habilidades físicas, já que ele havia sido capaz de acompanhá-lo o trajeto inteiro. Kurokawa abriu a porta, encostou-se numa parede e começou a encarar o horizonte: 

—Há quantos anos você estuda aqui, Kurokawa? 

—Não sei... -Respondeu ele já quase sem paciência. 

—Você mora muito longe daqui? 

—Não... 

—Qual é a tua disciplina preferida? 

—Para de fazer perguntas! -Retrucou Kurokawa irritado. 

—Porque você tem tanto medo assim de se aproximar de pessoas? -Perguntou Takeda encarando-o. 

—Do que você está falando? 

—Você está fugindo do que? Quem te machucou? 

—Não fale como se soubesse de alguma coisa. 

—Eu não preciso saber de nada para te entender, Kurokawa. -Afirmou Takeda se aproximando. -Não há nada para entender, é só olhar para você, qualquer um consegue ver: você é vazio. Você mostra essa fachada de arrogância para as pessoas, mas no fundo, você é só um menininho assustado. 

—Cale a boca... -Avisou Kurokawa com ódio em seus olhos. 

—Senão o que? -Sorriu Takeda se aproximando ainda mais. 

No instante em que aquelas palavras saíram da boca de Takeda, Kurokawa acertou-o furiosamente com um soco em seu rosto: 

—Merda, perdi o controle e usei muita força, se ele tiver morrido, eu vou ter muitos problemas... -Pensou Kurokawa. 

Takeda cuspiu um pouco de sangue que tinha na boca e afundou o seu punho no rosto de Kurokawa: 

—Você é fraco, Kurokawa! 

Kurokawa sentiu-se atordoado pelo ataque, mas Takeda não lhe deu tempo para se recuperar: 

—Seus socos são leves porque eles não carregam nenhuma emoção! -Gritou Takeda agarrando os ombros de Kurokawa e desferindo uma joelhada em seu estômago. 

Kurokawa cerrou os seus dentes e bateu a sua cabeça contra a de Takeda: 

—Cale a boca! -Gritou ele. -Você não sabe de porra nenhuma! 

Aproveitando que Takeda estava tonto por causa de seu último ataque, ele empurrou-o para longe com um chute em seu estômago. Kurokawa tentou controlar a sua respiração enquanto limpava o sangue que escorria pelo seu rosto. Ele não fazia ideia do que estava acontecendo e mesmo que não estivesse usando toda a sua força, Takeda continuava sendo anormalmente forte.  

Takeda levantou seu o rosto enquanto encarava Kurokawa e apertava o  seu estômago com uma mão. Sua respiração também estava ofegante. Após aquela breve pausa, os dois correram em direção um ao outro: 

—Eu não sei de nada porque você não quer contar! -Gritou Takeda acertando o rosto de Kurokawa com mais um soco. 

—Eu já disse para a calar a boca! -Gritou Kurokawa acertando a perna de Takeda, fazendo o cair e subindo em cima dele. 

Kurokawa desferiu barragens incontáveis de socos até se cansar. Takeda fez seu melhor para defender-se de todos eles, mas era claro que ele havia sofrido bastante dano. Kurokawa achou que talvez tivesse exagerado e abaixou sua guarda durante meio segundo, foi o tempo que Takeda precisou para mandá-lo para longe com um soco no seu queixo. Os dois permaneceram deitados no chão, ambos fatigados e bastante machucados. 

—Qual é a tua ideia? -Perguntou Kurokawa com algumas dificuldades. 

—Eu quero ser teu amigo. -Respondeu Takeda respirando irregularmente. 

—E você pretende conseguir isso me enchendo de porrada? 

—A maneira mais efetiva de se comunicar com você é através de violência. 

—Como você sabe dessas coisas? Porque você está fazendo isso? 

—Porque eu já fui como você. Eu entendo como você se sente. Eu sei quão horrível é. 

Kurokawa permaneceu calado durante alguns segundos. Até que finalmente encontrou palavras que valessem a pena dizer: 

—Você é um jogador de IP, certo? 

—Sim. -Sorriu Takeda. 

—Eu sabia...aqueles socos eram fortes demais para alguém normal. 

—Você tem alguma poção de cura contigo? 

—Não.  

—Então como vamos explicar os nossos rostos para o professor? -Riu Takeda. 

—Eu não sei. -Respondeu Kurokawa tentando se levantar. -Você que devia ter pensado nisso, foi você que começou isso tudo. 

Takeda também se levantou com alguma dificuldade: 

—Você acha que ele vai acreditar se dissermos que caímos nas escadas? 

—Eu já usei essa desculpa antes, você vai precisar pensar em algo melhor. -Retrucou Kurokawa abrindo a porta. 

—Fomos atacados por pássaros? 

—Você não está nem tentando... 

Os dois caminharam de volta até a sala e dizer que um ataque de pássaros fez com que eles caíssem nas escadas, aparentemente, foi uma desculpa credível. Takeda e Kurokawa não trocaram mais palavras durante o resto do dia e a última aula chegou ao fim. Ambos caminharam até a saída e Takeda começou a seguir Kurokawa mantendo alguma distância entre eles: 

—Porque você está me seguindo? -Perguntou Kurokawa. 

—Os professores me disseram para passar esse dia contigo. -Respondeu Takeda se aproximando. -Para onde vamos agora? 

Kurokawa suspirou: 

—Para um clube aquático. 


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Notas finais do capítulo

E mais um personagem é adicionado à história.