Você Vê, Mas Não Observa! escrita por danne


Capítulo 2
O Retorno


Notas iniciais do capítulo

oiii, nos vemos lá nos comentários, hein!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788918/chapter/2

Quando Kate iria imaginar que o simples ato de dividir o apartamento com alguém traria tantas coisas novas pra sua vida?  

Como se livrar da bendita bengala e descobrir que na verdade sentia falta de toda aquela adrenalina que a guerra lhe fazia sentir e apenas as investigações ao lado de Sherlock Holmes lhe as devolvia.  

Ou descobrir que a ideia de que quando voltasse pra casa haveria alguém lhe esperando para o chá ou encontraria o apartamento em completa desordem com pedaços humanos na geladeira. 

Ou chegaria e logo sairia para algum caso que Sherlock considerasse aceitável.  

  

Ou apenas gostasse de chegar em casa e ver o moreno fazendo suas experiências sobre a mesa da cozinha, ou tocando violino, ou apenas louco pelo apartamento procurando seus cigarros escondidos.  

  

Sair para comprar o leite ou para trabalhar, voltar e encontra-lo ainda falando com ela, como se nem tivesse saído pela manhã fria.  

  

Ou...que quando olhasse os intensos olhos azuis se sentisse balançada e instigada a avançar e tomar aqueles lábios finos e convidativos... 

  

  

Não foi fácil quando Kate finalmente descobriu que desejava seu colega de apartamento. 

  

Primeiro porque Sherlock não tinha relacionamentos, a não ser o casamento que matinha com o próprio trabalho e nem sequer cogitava uma amante.  

  

Pode até ser que a noite do aniversário de Greg, em que bebeu demais e acabou por transar com Kate, o tenha feito olhar mais vezes para as curvas sinuosas da colega de apartamento, mas ele sabia que seria só sexo, que não precisava se preocupar se por acaso a loira viesse lhe 'cobrar' de alguma coisa.  

  

Kate realmente não cobrou nada do moreno, tão pouco agiu estranho com ele no outro dia, ela apenas ficou feliz por ele tê-la escolhido, apenas que por uma noite, uma noite que virou mais uma noite, e mais outra, e mais outra... 

  

E ficaram nesse pega dali, pega de cá por anos, até que...  

  

Bom, até acontecer a queda em Reichenbach.  

  

Não é preciso mencionar que por 2 anos a loira mal viveu! Sem o detetive ao seu lado Kate não tinha vontade para nada. Saia para o trabalho no modo automático e sorria apenas para ser educada.  

  

Sra. Hudson que cuidou pra que ela não caísse dura no chão por não se alimentar direito, era a velha senhora que lhe acalentava quando as lágrimas vinham sem permissão alguma.  

  

Mas as coisas melhoraram quando Kate conheceu Tony, um enfermeiro, que trabalhava no mesmo consultório. 

Os dois entraram num relacionamento aberto, sem compromisso algum, eles só sentiam atração um pelo outro e se pegavam quando sentiam vontade, sem cobrança ou pressão alguma, simples.  

  

É claro que Kate nunca esqueceu Sherlock, e como poderia se tudo a fazia lembrar dele!  

  

A verdade era que bem lá no fundo Kate ainda mantinha a esperança de ter Sherlock vivo, talvez por isso não se permitia ter algo mais sério com Tony ou qualquer outro homem.  

  

(...) 

  

Era quase meia-noite quando a loira abriu a porta da sala, adentrando o local e logo se jogando no sofá, tirando os saltos. 

Teve que ficar até mais tarde no consultório e até teria ficado mais se Tony não tivesse gritado com ela por seu plantão ter acabado à três horas e ela ainda estar lá com olheiras fundas; resultado das noites mal dormidas em que sonhava com Sherlock caindo...morto.  

  

Balançou a cabeça para afastar as lembranças.  

  

Ouviu um barulho na cozinha e logo ficou alerta.  

  

Se pôs de pé e quase se bateu por ter guardado o revólver na gaveta de seu guarda-roupas do quarto naquela manhã.  

  

Se fosse algum ladrão estava em desvantagem, não tinha nenhuma arma para se defender!  

  

A luz da cozinha estava acessa e alguns barulhos vinham de lá.  

  

Um pequeno e irritado "droga" foi ouvido.  

  

E pelos céus, Kate queria que fosse mil vezes um ladrão do que o que achou que ouvira.  

  

Não podia ser!  

  

Ela queria chorar. 

  

Queria não estar ali.  

  

Queria que não fosse verdade.  

  

Queria mil vezes ter ficado na clínica, morta de cansaço pelo emprego sem graça que não lhe agradava, a ter que chegar em casa e ouvir aquele "droga" vindo da cozinha. 

  

 O mesmo "droga" que Sherlock sempre soltava quando tentava - raramente e desastrosamente - fazer algo na cozinha.  

  

Se escorou na parede e respirou fundo várias e várias vezes contendo a vontade de pôr as lágrimas pra fora.  

  

"Por que agora, seu bastardo maldito?”, pensou fechando os olhos com força.  

  

Os barulhos na cozinha cessaram e Kate não tinha coragem de adentrar a cozinha, não queria ver seu rosto.  

  

Passos mínimos foram escutados pelos ouvidos treinados da moça, ele estava se aproximando como um gato, lento e traiçoeiro.  

  

— Kate, sei que está aí...  

  

Era ele.  

  

Aquele cretino!  

  

Como queria esmurra-lo, mas suas pernas estavam bambas e tinha certeza que se desse um passo cairia.  

  

Mais uma vez, Kate respirou fundo várias e várias vezes.  

  

Sentia-se nauseada. 

  

— Fique bem longe de mim! - com muito esforço conseguiu dizer.  

  

Ouviu a voz cansada dele mais próxima. 

  

— Me desculpe Kate...  

  

Kate riu sarcástica.  

  

— Pelo quê exatamente? Por ter forjado sua morte, ficar desaparecido por dois anos sem me dar notícias, ter me abandonado ou aparecer aqui agora como se tivesse apenas ido ao parque de manhã?  

  

— Por tudo, eu acho...  

  

Ela riu outra vez. 

  

— Viu? Você nem sabe o porquê de ter que se desculpar, aliás, eu acho que você nem deveria ter voltado! Quando você mentiu pra mim naquela forma, forjando sua própria morte, você não se importou, não é? No que eu sentiria vendo você se jogar de um prédio e depois não sentir a droga dos seus batimentos! Você ao menos pensou em como eu iria me sentir aqui sozinha nesse maldito apartamento, sem você?  

  

— Kate, eu entendo que...  

  

Ela socou a parede tamanha raiva. 

  

— Não Sherlock! Você não entende, droga! Você não sente, então como pode entender?  

  

Então as lágrimas caíram.  

  

Ele suspirou sentindo uma pequena pontada em seu peito. 

 Sim, ele sentia, mas Mycroft tinha razão afinal, ele realmente a magoara.  

  

— Eu voltei agora...eu estou aqui – ele disse, com a voz baixa, mas ela pôde escutar.  

  

— Por que? - perguntou ela.  

  

Ele ruborizou, mesmo sabendo que ela não podia ver.  

  

— Porque só agora eu pude ver...  

  

— Ver o que? - ela derramou mais lágrimas.  

  

— Ver o que antes meus olhos se faziam cegos pra enxergar, ver o que estava óbvio o tempo todo, acredito eu...  

  

— Não diz mais nada, eu não quero mais ouvir... - ela praticamente implorou.  

  

Ele estava confuso.  

  

— Mas Kate, eu...  

  

— NÃO! - gritou.  

  

Kate foi para perto do sofá calçando seus saltos novamente, enquanto Sherlock adentrava a sala.  

  

Pelos deuses, como ele estava ainda mais lindo e impecável que em suas lembranças. Aqueles cachos negros em contraste com a pele branca sempre a deixavam intrigada em como ele poderia ser tão lindo, mas então ela viu os olhos azuis e puros -mesmo assombrados- que lhe fazia perder a razão e o juízo.  

Ela lembrava de como era típico dela dizer que ninguém nunca teria olhos tão únicos como ele, mas Sherlock lhe retrucava dizendo que era bobagem e que Katherine Watson já ocupava esse posto. Ela apenas ria e balançava a cabeça sentindo suas bochechas corarem.  

  

Sherlock olhava aquela mulher em sua frente e se sentia feliz e triste ao mesmo tempo. Ela estava ali afinal, na sua frente e agora ele podia mesmo avançar alguns passos a pega-la em um abraço, como em seus anos longe desejou fazer, ela estava ali, em sua frente. Ele queria avançar, mas aquela era uma outra Kate, a Kate sem aquele brilho gostoso no olhar, a Kate que agora carregava olheiras debaixo dos olhos como quando se conheceram e ela ainda era assombrada pela guerra, a Kate morta, sem vida, que apenas existia.  

  

— Não me olhe assim... - ela pediu olhando o chão com raiva, o evitando ao máximo.  

  

— O que fez com você Kate?  

  

Ela riu, pela terceira vez na noite daquele jeito sarcástico.  

  

— Foi você quem fez isso comigo! Isso é tudo culpa sua e da sua maldita mania de pensar só em si próprio! Você me deixou aqui, sozinha! Se tivesse me contado o que planejava eu poderia ter ajudado, mas não, você preferiu me deixar de fora. Foi a sua escolha! E agora, quando eu sair por aquela porta vai ser a minha vez de tomar a decisão de ficar longe de você!  

  

Sherlock ao menos pôde impedi-la de sair batendo a porta.  

  

Ele apenas ficou lá, parado, com uma dor tão grande no peito que achou que morreria. 

  

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

gostaram? beijos e até amanhã ❤❤❤❤❤



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Você Vê, Mas Não Observa!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.