Ser infantil é diferente de ser uma criança escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 2
Vista sua melhor roupa para ir a um bairro rico




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Gintoki vestiu-se com suas próprias roupas agora limpas, que haviam diminuído de tamanho junto com ele. Definitivamente, era mil vezes melhor do que se vestir igual a Kagura, e ela, por conta das circunstâncias também passara a ser maior que ele. Aliás, qualquer um naquele lugar era maior que ele no momento. Estava tão acostumado a olhar para Shinpachi e Kagura de cima, que era estranho olhar para eles de baixo.

Seu físico de menino de aproximadamente dez anos de idade lhe parecia realmente desconfortável. Não parecia que já havia sido um garoto antes.

E não, esse incômodo não era apenas pelo seu tamanho agora diminuto e porte franzino.

E, já que tinha que sair para ir descobrir uma solução e voltar a ter seu corpo de vinte e poucos anos de idade, precisava de sua fiel bokutou. Encontrou-a encostada ao sofá, não a levara para a oficina de Gengai. Logo – obviamente – ela ainda estava do tamanho original.

Bom... Quando garoto, ele já empunhara katanas bem grandes para seu tamanho de criança. Não seria tão problemático manusear uma espada de madeira como a sua Toya-ko. Colocou a bokutou à cintura, mas ao caminhar para a porta principal, havia esquecido um detalhe.

A força do hábito fazia com que ele arrastasse a espada de madeira pelo assoalho. Obviamente, não havia como levá-la presa ao seu cinto, como estava acostumado. A bokutou era quase de seu tamanho agora.

O jeito era levar na mão mesmo.

Calçou as botas, também afetadas da mesma forma que as roupas. E, quando terminava de calçá-las, ouviu passos do lado de fora. Já sabia de quem eram aqueles passos àquela hora. Os passos de chinelos arrastando eram da velha Otose e os passos mais pesados eram da androide Tama.

“Ah, droga...!”, ecoava a voz do Gintoki adulto em seus pensamentos. “Péssima hora para virem cobrar o aluguel!”

Como sempre, estava sem dinheiro. E mesmo o Trio Yorozuya tendo trabalhado na véspera para Gengai, não haviam recebido dinheiro, mas o serviço de manutenção da scooter do albino pelo velho inventor durante determinado período sem cobrar nada. Sua carteira estava praticamente vazia. Se havia nela algum iene, era para garantir que não passariam fome.

Normalmente, sairia correndo carregando Shinpachi e Kagura nos braços, mas... O Yorozuya acabou se lembrando de que ele não tinha mais o tamanho de um adulto.

E agora? E agora?!

Por ser a proprietária, Otose tinha a chave reserva da porta corrediça principal e começava a abri-la. E tão logo Gintoki viu a porta terminar de se abrir, sentiu algo agarrando a gola da sua camisa preta e o carregando embora, ao mesmo tempo que viu uma confusão de enormes patas peludas, a velha se abaixando para não ser atingida e Tama disparando labaredas com sua vassoura.

Sadaharu corria de forma insana, segurando-o com os dentes pela gola da camisa preta como se carregasse um trapo velho qualquer, enquanto Kagura estava montada sobre o dorso do grande cão e Shinpachi lutava para segurar com firmeza os pelos da cauda felpuda. Essa corrida ensandecida durou uns dois minutos, mas com a velocidade com a qual correra, havia tomado uma boa distância e despistado facilmente Otose e Tama.

Quando o grande animal parou, largou Gintoki, que caiu de cara no chão e Shinpachi batia a poeira da roupa, arrastada implacavelmente enquanto agarrava a cauda dele para não cair e ficar para trás.

― Bom trabalho, Sadaharu! – Kagura afagava o grande cão, que deu um latido em resposta.

― Ótimo – Gintoki disse enquanto tomava a frente do grupo. – Vamos ver o velho e resolver isso logo, eu não quero viver sendo barrado em bares e no pachinko!

Shinpachi e Kagura, junto com Sadaharu, o acompanharam na caminhada rumo à oficina de Gengai. Adentraram a oficina e o encontraram fazendo a revisão da scooter prateada de Gintoki, que chamou:

― Ei, vovô!

― Hein? – ele olhou para trás, e encontrou Shinpachi e Kagura.

― Aqui embaixo!

Gengai desceu o olhar para o terceiro integrante do grupo e o examinou detidamente, para ter certeza de que reconhecia o garoto vestindo aquela peculiar indumentária:

― Ora, ora... Quer dizer que o Ginnoji tem um filho?

Gintoki deu um facepalm:

― Eu sou o Gintoki! Isto é o resultado daquele raio que tomei ontem!

O inventor examinou o garoto de cerca de um metro e trinta e cinco centímetros de altura, que segurava a bokutou quase do seu tamanho apoiada no ombro e o encarava com os olhos avermelhados e seu típico olhar de peixe morto. Enquanto Gengai o encarava com um olhar perscrutador, o Yorozuya enfiava o dedo mindinho no nariz para limpar o salão.

― É... – ele coçou o queixo barbado. – Parece que você foi atingido mesmo por aquele raio rejuvenescedor que eu estava consertando ontem, Ginnoji.

Uma veia estufou no rosto de Gintoki, que o puxou para baixo pela gola do macacão e, quase encostando seu nariz no dele, berrou:

― PARECE? SÓ PARECE?! OLHA PRO MEU TAMANHO, VELHOTE! ONTEM FUI DORMIR ADULTO E ACORDEI UM FEDELHO MENOR DO QUE OS PIRRALHOS QUE ESTÃO COMIGO! EU NÃO TENHO TAMANHO NEM PRA PILOTAR MINHA SCOOTER!

― Gengai-san – Shinpachi indagou. – Pra que servia aquele rejuvenescedor que você estava consertando?

― Ah, sim, aquele rejuvenescedor é de uma modelo muito badalada. Diz que esse invento de tecnologia Amanto é o que ela precisa para se manter mais tempo na mídia, essas coisas de gente famosa.

― Olha, tudo bem que ela quer se manter na mídia até fossilizar – Gintoki atalhou. – mas antes de entregar aquele troço para a tal modelo, eu preciso voltar ao normal! Não tô nem aí pra esse papo de vaidade, só quero viver em paz como um adulto e fazer coisas de adultos!

― Bom, infelizmente vocês chegaram um pouco tarde, porque o empresário dela veio buscar o rejuvenescedor já faz pouco mais de uma hora.

 

*

 

Montados em Sadaharu, Gintoki, Shinpachi e Kagura seguiam caminho para o endereço fornecido por Gengai. Takada Taeko era o nome da tal modelo. Podia ser muito badalada e tal, mas só para quem era ligado em moda e coisas do gênero, o que não era o caso do trio. Segundo o inventor, o nome do empresário era apenas Mistu. Apesar da aparência humanoide, o tal homem, um Amanto, possuía uma pele levemente esverdeada, usava um chapéu preto e vestia um terno branco com finas listras negras, como se fosse “risca-de-giz” negativo.

O cão gigante trotava tranquilamente, até chegarem a uma área de Edo que era absurdamente diferente dos demais bairros e distritos. O Trio Yorozuya desceu e contemplou a avenida principal daquele lugar. Tinha a modernidade do hipercentro de Edo, nas proximidades do Terminal, ao mesmo tempo que tinha o luxo e a opulência da arquitetura clássica japonesa de antes da invasão alienígena vinte anos atrás.

Aquele era um bairro bastante luxuoso, com um dos metros quadrados mais caros de Edo. Um lugar onde só vivia gente badalada, cheia da grana, no auge da fama ou com altos cargos no Bakufu. Os três se sentiam um bando de pés-rapados só de olhar para aquele lugar. Parecia que eles saíram de um mundo e foram para outro, de tão gritante que era a diferença.

Adentraram o referido bairro, bem asfaltado, arborizado, com grandes e luxuosas mansões que enchiam os olhos. Era um misto de modernidade com tradição, que conviviam de forma aparentemente harmônica. Porém, apesar da beleza, as largas avenidas tinham pouquíssimo movimento.

Não tinham a efervescência que as ruas de chão batido do Distrito Kabuki possuíam. E isso era muito estranho para os três.

Prosseguiram a caminhada, com Gintoki liderando. Ele estava com o papel que continha o endereço anotado e conferia cada fachada de mansão. Cada mansão ocupava entre meio quarteirão e um quarteirão inteiro, o que fazia com que a caminhada fosse ainda mais cansativa sob o sol.

A caminhada terminou em frente a uma grande propriedade com altas grades douradas. Gintoki tentou alcançar o botão do interfone, mas não conseguiu.

― Quem foi o idiota que projetou um interfone tão alto? – resmungou emburrado.

Shinpachi tocou o interfone, que após o toque emitiu um som de alguém atendendo:

― Quem é?

― Shimura Shinpachi. Estou procurando Mistu-san, ele está?

― Não.

A conversa parou por aí, com o som do interfone sendo desligado. Logo em seguida, uma limusine preta se aproximou do portão, que se abriu automaticamente para liberar sua entrada. Pelo o que Gengai descrevera, aquele era o carro em que o tal Mistu fora a Kabuki.

Gintoki acabava de ter uma ideia para conseguir entrar na mansão, ter acesso ao tal rejuvenescedor e voltar ao seu tamanho normal. Os três se agacharam para conversar em um tom confidencial:

― Ei, Shinpachi, Kagura... Acabei de ter uma ideia!


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