A eterna guerra contra si mesmo. escrita por Ninguém


Capítulo 5
Por que ele é um maldito monstro frio imune a qualquer coisa


Notas iniciais do capítulo

As desculpas de sempre por possíveis erros de português.



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É impossível amar outra pessoa em sua plenitude, é inconcebível conhecer outro ser humano por completo não importa quanto tempo você fique com esta pessoa. São palavras duras e vai contra os grandes romancistas e músicos que exemplificam o amor como o ponto alto da vida, como o único objetivo verdadeiro a ser alcançado. Mas por que não é possível amar outra pessoa? Por que o que você ama não é o ser em si, mas o sentimento dentro de você que é provocado por este indivíduo.

Resumindo: você ama a emoção dentro de si mesmo. A pessoa ao seu lado é meramente um objeto para alcançar tal sentimento.

Cruel? Frio? Para aqueles que estão amando nesse momento, que acreditam ter encontrado o parceiro da sua vida, essas sentenças soam ofensivas, ultrajantes e consideradas palavras de uma mente amargurada pela falha ao conquistar o tão falado amor.

Mas é exatamente isso” pensou Natasha sentada na beirada da ponte sobre o córrego das luzes em plena tarde. Ela gostava de ficar ali balançando as pernas enquanto olhava para a água corrente, era uma espécie de meditação que permitia se livrar das novas emoções negativas que sua mente produzia.

Esse cenário parece familiar? Uma garota de quinze anos recebe uma declaração do menino mais bonito da escola, eles começam a sair. Ele é o primeiro quem ela beija, com o tempo também se torna o homem o qual ela lhe entrega sua virgindade. A relação progride da escola e vai para a faculdade, as famílias de ambos se conhecem, os laços se tornam fortes e oito anos depois ela descobre a infidelidade. Pior, descobre que vem sendo traída a muito tempo.

Até aí talvez um clichê dos tempos modernos sobre os relacionamentos. O que não é comum é a dor que se aflorou pela traição do homem quem Natasha mais confiou. Após confrontá-lo ele admitiu o ato amoral e uma discussão pesada seguiu-se cominando em agressão de ambos os lados. Na mente da moça a todo momento ela se perguntava como havia terminado daquela maneira, o que havia feito de errado?

Atormentada pelas dúvidas e pelo ódio, a emoção negativa em sua cabeça foi aumentando, aumentando fazendo-a parar de ir a faculdade, ficar mais tempo trancada no quarto sempre tentando entender como pôde ter jogado oito anos de sua vida fora, se sentindo a mulher mais desprezível da face da Terra. Então um fenômeno estranho nasceu: não havia mais prazer. Ela não conseguia encontrar felicidade nas pequenas coisas, havia desligado o celular e evitava encontrar as amigas. Seus pais estavam preocupados, mas ela desconversava preferindo dormir boa parte do dia. Finalmente sua mãe bateu o pé e a colocou em tratamento psiquiátrico.

Natasha não se lembra quando começou a se cortar, mas as marcas da gilete em suas pernas mostravam que havia sido cedo, a dor era a única coisa que a fazia se sentir viva. Ficar sentada na ponte balançando as pernas era algo que antigamente servia apenas para ela se esquecer da realidade até que um dia, tarde da noite, alguém veio por trás dela e simplesmente a empurrou.

As lembranças haviam ficado confusas depois daquilo. Ela se lembra da água, lembra estar se arrastando até a margem suja, lembra de um vulto preto a pegar pelos braços e puxar para debaixo do breu total da ponte... depois veio a dor. Um objeto pontiagudo havia sido enfiado em sua barriga provocando um silvo de dor que transpassou todo o seu corpo fazendo-a gritar. Ela despertou na manhã seguinte nublada e fria, toda molhada e suja de barro e sangue.

— Como se sente? – perguntou uma voz ao fundo.

***

Agora sobre a ponte ela ergue discretamente a blusa observando a pequena cicatriz no abdômen onde fora esfaqueada. A verdade que lhe foi ensinada era fantástica demais para ser real, mas o que havia mudado em Natasha era de verdade, ela não conseguia negar.

— Não há motivos para valorizar outra pessoa mais do que a si mesma – disse o mascarado para ela uma vez – os humanos cegos veem o sofrimento alheio como algo a questionar. Eles observam um suicida e dizem que ele deveria morrer de uma vez por que há tantas pessoas brigando para viver e alguém “saudável” simplesmente abdica disso. Esse tipo de gente são dominada pelo ego num sentido de superioridade iludidos por um senso errôneo de razão.  

As palavras do mascarado ecoavam por sua cabeça como uma lição da qual ela nunca se esqueceria até o dia de sua morte.

— A ilusão dessas pessoas cegas, Natasha, é acreditar que todos sofrem de igual maneira. O erro grotesco deles é revelado ao suporem que cada ser humano é igual. Que piada de mau gosto. No entanto, sabe com quem realmente deveria sentir asco? São com aqueles que “sensibilizam” com a condição de pessoas como você e outros que sofrem um inferno em suas cabeças. Já viu as pessoas na internet defenderem a dor e a agonia que um depressivo ou suicida sofre? Deixe-me perguntar: a sensibilidade delas ajuda as pessoas que estão sofrendo?

O mascarado de sobretudo negro puxa um punhal de cabo dourado com pedras azuis.

— Aqueles que se “solidarizam” com as condições de alguém que é acometido por esse sofrimento apenas alimentam a dependência do vitimismo dessas pessoas. ELAS NÃO FAZEM NADA, apenas proliferam palavras gentis que nutri um valor positivo no estado doentio em que se encontram. No fim, Natasha, os únicos que ajudam... são aqueles que fazem alguma coisa a respeito. São aqueles que tentam fazer a pessoa seguir com as próprias pernas, encarar a vida como ela realmente é. Uma jornada onde você está sozinha, nasceu sozinha e vai morrer sozinha, aqueles à sua volta são passageiros, não estarão lá para sempre. Se tivesse aceitado essa realidade não teria passado por tudo o que passou, entenderia que terminar seu namoro de longa data não era importante, por que seu ex namorado não tem um valor maior que você mesma.  

— Então... então... o que você fez comigo?

— Abri seus olhos. Agora viverá de verdade pela primeira vez. Eu não quero nada em troca, mas se estiver disposta a ser uma daquelas que “fazem algo a respeito” junte-se a mim. Há algo que preciso realizar e preciso de pessoas como você.

Olhando a água do córrego Natasha pensava que já fazia um ano desde aquilo. No começo ela recusou, simplesmente esqueceu do mascarado e voltou a sua vida normal. E como tinha voltado! As sensações dos pequenos prazeres havia retornado no entanto, o mais especial era quando ela não tinha nada para fazer ou pensar.

Sua mente estava em paz. Não conseguia se lembrar do sofrimento, lembrava da traição, dos remédios, dos cortes... só não entendia mais a razão de fazê-los. O que o homem de máscara tinha feito?

Natasha se levantou do asfalto ajeitou a bolsa e seguiu sua caminhada até parar em frente a uma grande casa de um andar, branca de muros cinzas, pegou a chave e abriu o portão, passou pelos caminhos de pedras entre o gramado verde até entrar em uma varanda ampla com uma porta de madeira vernizada dando direto na sala de estar onde avistou Diego sentado no sofá olhando o celular.

— Ele veio?

— Está conversando com Alector no quarto. – respondeu o adolescente sem tirar os olhos da tela.

Natasha deixou a bolsa em cima de uma mesinha no centro e foi até a cozinha, abriu a geladeira pegando uma garrafa de suco de laranja. Tomou um generoso gole não conseguindo parar de pensar no porquê ter aceitado o convite de Egoinis para fazer parte de seu “projeto”.

— Sempre com um olhar vago, não é? Como é se permitir observar os próprios pensamento sem se deixar levar por eles?

Natasha virou-se de supetão ao ouvir a voz dele. Egoinis estava parado na entrada do cômodo, agora usava uma simples calça jeans com botas marrons e camisa de manga comprida bege e luvas, o que não combinava em nada com a mesma máscara de sempre. Ele nunca revelava o rosto, ou nenhuma parte da pele pois sempre usava roupas que cobriam tudo. Kaio havia dito que ele usa um aparelho pequeno no canto da boca para distorcer a voz e deixar ela grossa daquela forma.

Não dava para dizer se era um homem ou uma mulher, embora a postura do corpo indicava ser homem.

— Alector acordou?

— Sim, te chamei aqui para cuidar dele por um tempo, ainda está se adaptando ao novo jeito de viver, a paz de espirito é algo que ele não se lembra mais como é. Já notifiquei Andressa, ela vai revezar com você.

Natasha apertou os dedos contra o vidro do copo.

— Pensou no que eu e Diego te dissemos?

Egoinis olhou por cima do ombro e o rapaz já estava atrás dele com os braços cruzados também esperando uma resposta ao pedido dos dois.

O mascarado olhou para ela.

— Sinceramente depois da entrada de Alector creio que já temos todo o pessoal necessário, mas vocês dois parecem bem interessados nesse novo garoto. Por quê?

Por que ele é um maldito monstro frio imune a qualquer coisa.” Natasha queria dizer, mas não era o motivo real.

— Por que quero ajudá-lo.

— Nós queremos ajudá-lo. – completou Diego.

Egoinis não parecia convencido.

— Além do mais ele será uma importante adesão a nossas forças – continuou Natasha – creio que seu potencial seja maior que o nosso.

Aquilo chamou a atenção do mascarado.

— Maior que o de Alector? Tive de fincar a arma três vezes para quebrar sua escuridão.

— Aquele cara é pior – disse Diego – muito pior porque ele consegue afogar os próprios demônios em sua agonia interna.

O mascarado balançou a cabeça.

— Certo. Vamos dar uma olhada nele, qual é mesmo o nome?

— Eren.


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Notas finais do capítulo

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