O Despertar dos Sentidos LIVRO 1 escrita por Shirley Santos


Capítulo 8
7 - UM Reencontro Quase Fatal


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês? Espero que estejam gostando da história da Simone. O que será que vai acontecer quando ela reencontrar o Ricardo e o Cesar?

Boa leitura!



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A vestimenta de Simone para seu primeiro dia de trabalho é algo pensado para provocar, mas sem vulgaridades. Vestido vermelho colado ao corpo com comprimento na altura do joelho, gola em V e sem mangas, blazer branco com mangas sete-oitavos. Sandálias brancas com salto plataforma.

Os acessórios que usa são a bolsa branca que chegou de viagem, gargantilha dourada com pingente de flor que faz conjunto com brincos pequenos de flor, sem tirar jamais o outro par de brincos de pedra brilhante e seu piercing. Cabelo solto, bem arrumado e maquiagem suave.

Desta forma ela se apresenta dez minutos antes do horário marcado por Camila na recepção geral da Miranda Produções e cumprimenta Beatriz com um sorriso contagiante:

— Bom dia.

— Bom dia. Em que posso ajudá-la?

— Meu nome é Simone Andrade e eu vim...

— Ah sim! – interrompe Beatriz sorrindo — Me lembro de você! Foi a primeira a chegar.

— Sim. Isso mesmo.

— Pode subir. Dona Camila lhe aguarda.

— Muito Obrigada. – segue em direção ao elevador.

Simone aguarda alguns segundos até que o elevador chegue, entra nele junto com outras pessoas. "Provavelmente modelos.", ela pensa, depois de parar em dois andares chega ao andar da administração. Dirige-se a mesa de Diana que conversa com dona Lourdes, cumprimenta-as:

— Bom dia. Em que posso ajudá-la? – cumprimenta dona Lourdes.

— Bom dia. Meu nome é Simone Andrade, a senhora Camila me aguarda.

— Ah sim. Só um momento, por favor, que vou anunciá-la. – Diana sorri para Simone.

— Obrigada.

A assistente chama Camila pelo telefone:

— Dona Camila. Simone Andrade está aqui.

— Pede para ela entrar.

— Sim, senhora. – desliga o telefone — Pode entrar, dona Simone. A senhora lembra onde é a sala?

— Sim. Me lembro. Mas tira o dona e o senhora da frase, por favor. – Simone implora com as mãos unidas e sorri gentilmente.

— Ai! Sim. Perdão. É o costume. – Diana sorri encabulada.

Simone confirma gesticulando com a cabeça, então caminha lentamente em direção à sala de Camila, observando os quadros de atrizes, atores e outros artistas pendurados nas paredes do corredor. Ao chegar à frente da porta que está semiaberta, bate duas vezes com o punho fechado.

— Pode entrar. – responde Camila.

— Bom dia. – Simone sorri ao entrar na sala.

— Bom dia, Simone. Como está?

— Estou bem. – Simone caminha na direção de Camila, levanta a mão para cumprimentá-la — E a senhora?

— Estou bem. – Camila se levanta da poltrona fazendo o mesmo gesto de cortesia — Mas vamos combinar uma coisa?

— Sim?

— Não me chame de senhora, me chame de você ou apenas Camila. Ok? – diz sorrindo gentilmente para Simone.

— Ok. – a ruiva retribui o sorriso.

— Sente-se. – a empresária aponta para a cadeira a sua frente, sentando-se, então continua — Antes de tudo, quero que seja bem-vinda à nossa empresa.

— Obrigada.

— Nós temos pendentes contratos com dois clientes e por causa do que aconteceu com meu pai, infelizmente, não conseguimos nem ao menos começar com os trabalhos. Porém, nós conversamos com eles e nos deram um prazo maior para realizarmos esses trabalhos, por isso necessitamos que você comece o mais rápido possível. Sei que é necessário um período para idealização desses trabalhos.

— Entendo. E estou disposta a começar imediatamente, desde que a senhora... perdão... que você me autorize.

— Muito bom ouvir isso. Vou pedir para que os outros executivos se reúnam conosco para você conhecê-los, ficar a par de todos os detalhes, depois irá conhecer as instalações. Tudo bem?

— Sim.

— Só um minuto, por favor. – Camila liga para sua assistente — Diana, peça aos executivos e ao Júlio para irem à sala de reuniões, por favor.

— Estão todos reunidos na sala do senhor Cesar.

— Certo. Avise a eles, então.

— Sim, senhora.

— Obrigada. – Camila desliga o aparelho, volta sua atenção para Simone — Quanto ao seu contrato, acho que estará pronto amanhã, pela tarde. Você trouxe seus documentos?

— Sim. Está tudo aqui. – a ruiva responde apontando para a bolsa.

— Pois bem. Você irá entregá-los ao meu marido que é o vice-presidente administrativo. – Camila se levanta — Agora, vamos para a sala de reuniões.

— Certo.

Camila sai seguida de perto por Simone que pergunta:

— Estava reparando na decoração e achei encantadora, principalmente o rolo de filme. De quem foi a ideia?

— Do meu pai. – para no corredor ainda perto da porta de sua sala, admira o desenho na parede deixando transparecer a sua tristeza. — Ele realmente era apaixonado por cinema.

— Sinto muito.

— Não se preocupe. – ela sorri para Simone — Gosto de lembrar-me dele.

— Também sou completamente apaixonada pela sétima arte. – a ruiva sorri deixando sua alegria transparecer ao falar do assunto — Na verdade, desde que me conheço por gente, adoro tudo relacionado a cinema. Acho maravilhosa a habilidade que os cineastas têm de contar uma história, deixar seu público, na maioria das vezes, vidrado na telona.

— Seus olhos brilham tanto quanto os do meu pai quando começava a falar sobre sua paixão.

— Que nada. – Simone murmura corando e abaixa seu olhar para o chão.

— Não se envergonhe disso. – Camila pega a mão da ruiva, a segura com força e completa — É seu coração! Sua paixão é sua alma!

— Obrigada. Você é muito gentil. – sussurra voltando sua atenção para a empresária.

— Não tem de que. Vamos? – Camila sorri, aponta para o corredor do lado contrário ao que Simone conhece.

— Sim. – consente com um gesto de cabeça.

As duas continuam pelo corredor, passam por três portas de compensado pretas iguais a da sala de Camila, na frente de cada sala uma mesa com computador, outras quinquilharias de escritório e papéis, todas elas ocupadas por jovens senhoras muito atarefadas com seus afazeres. Camila e Simone cumprimenta a todas que retribuem os cumprimentos, em seguida finalmente chegam a uma grande porta de vidro fumê.

Camila entra, percebe que Júlio, Cesar, Rick e JP já estão presentes, sendo que os três últimos estão sentados um ao lado do outro, cumprimenta a todos.

— Bom dia para aqueles que não vi anteriormente, oi para os outros. – murmura com um leve sorriso — Apresento-lhes Simone Andrade. – todos se levantam aguardando que Simone apareça, pois até este momento não havia entrado na sala.

Ela entra sorrindo, mas paralisa, desfaz seu sorriso, fica lívida quando um frio percorre sua espinha. Não consegue acreditar no que seus olhos veem.

Cesar e Rick cruzam olhares, depois olham para JP que retribui os olhares de perplexidade com a figura que acaba de entrar na sala.

— B-bom... Bom dia. – Simone gagueja.

— Bom dia. – Júlio responde e sorri.

Depois de alguns segundos os outros também respondem meio engasgados com as palavras. Camila percebe o nervosismo dos três e questiona:

— Perdi alguma coisa? O que aconteceu com vocês?

Rick é o primeiro a responder:

— Não aconteceu nada. É que ficamos surpresos. Nós conhecemos a Simone.

— Como assim, já a conhecem? – Camila pergunta intrigada.

— Ela foi nossa colega na escola. – intervém Cesar dando um pisão de leve em Rick por baixo da mesa, atraindo o seu olhar atônito.

— Ok. Então... vocês se conhecem. Mas... faz muito tempo que não se veem? – Camila interroga olhando para Simone:

— Sim. Nos conhecemos, mas faz quase doze anos que não nos vemos. – a ruiva responde sem hesitar.

— Certo. Mas esse não é o momento para relembrarem o passado. Temos muito o que fazer, por isso sentem-se. – diz a empresária olhando para todos com expressão insondável.

Ela senta na cabeceira da mesa próxima a televisão, Júlio senta à direita de sua irmã, Cesar, Rick e JP ficam onde já se encontravam anteriormente, ou seja, à esquerda de Camila e Simone senta ao lado de Júlio ficando exatamente de frente para Rick.

— Bom, Simone. – começa Camila — Como vocês já se conhecem não vai precisar de apresentações, porém devo dizer o que cada um faz nesta empresa.

— Claro. – a ruiva concorda.

— Cesar é meu marido e vice-presidente administrativo. Com ele você vai tratar de assuntos pertinentes a contratação de modelos, dançarinos, equipe técnica quando for necessário, também assistente e qualquer coisa que precisar na parte administrativa.

A ruiva consente com um aceno de cabeça entendendo tudo o que Camila explica, enquanto olha para Cesar que não consegue tirar os olhos de Simone, ainda surpreso com a mulher que está a sua frente. Seu espírito, sua alto-confiança, é uma pessoa muito diferente daquela menina tímida e triste que conhecera tempos atrás.

— JP é um dos sócios minoritários e vice-presidente comercial, ele trabalha diretamente com os clientes. Com ele poderá obter todas as informações sobre nossos clientes e os projetos de cada um.

Simone acena novamente com a cabeça, olha para JP que sorri nervosamente.

— Rick, que também é um dos sócios minoritários é o vice-presidente financeiro, com ele estão centralizadas todas as informações sobre os custos de cada produção, fazendo relatórios periódicos sobre tudo aquilo que você gasta com os projetos. Algumas vezes, ele vai te importunar dizendo, "Mas isso está muito caro.", ou "Pelo amor de Deus, você tem que reduzir custos.". Sem dúvida alguma, é o mais chato de todos porque quer que fiquemos com os pés no chão quando estamos criando, mas sabe como é, durante a criação nós voamos. – Camila fala, sorrindo pela primeira vez desde que Simone entrou na sala.

Simone olha para Rick e este sorri lascivamente para ela, porém muito rápido para que os outros não percebam.

— Por fim! Júlio, meu irmão está começando conosco agora também, por isso vai se incumbir de ajudar a todos de alguma forma, principalmente a mim para aprender o funcionamento geral da empresa.

— Muito bem. – Simone começa a articular — Agradeço novamente pela oportunidade. Desejo que nossa relação de trabalho seja muito produtiva e conto com a ajuda de todos para desempenhar bem o meu trabalho.

— Ah... sim! Você terá a ajuda de todos! – responde rapidamente Rick.

— Cesar, quero que você se encarregue de mostrar a ela nossas instalações, o regulamento da empresa, apresentar os funcionários, também pegar seus documentos para o contrato. – diz Camila dando um olhar de reprovação para Rick, por causa do comentário malicioso. — Depois disso, Simone, você pode se reunir com o JP e o Rick para informá-la sobre os detalhes dos projetos em aberto, também desejo que retorne a minha sala para conversarmos. Tudo bem?

— Sim, dona Camila. – responde Simone.

— E deixe essa "Dona" de lado, me chame de Camila, por favor. – a empresária pronuncia sorrindo sutilmente.

— Sim... Camila. Me desculpe. – murmura Simone correspondendo ao sorriso.

— Acho que agora já podemos começar os trabalhos, certo?

— Sim, claro. – todos respondem.

— Júlio! Tem uma caixa grande na minha sala com livros caixa. Acho que papai estava revisando-os antes de sua morte. Gostaria que você se encarregasse de fazer essa revisão, por favor.

Cesar e Rick olham para Camila com preocupação em seus semblantes.

— Pode deixar, Mila. Vou começar agora mesmo.

— Isso é tudo. Ao trabalho senhores e senhorita. – declara Camila se levantando, sai da sala seguida por Júlio.

— Então, vamos Simone, tenho muito o que lhe mostrar. – diz Cesar se levantando também, dá passagem para a ruiva sair, seguindo-a logo após.

— Nossa, você acredita nisso? – JP pergunta para Rick após a saída dos dois – A Simone, trabalhando conosco?!

— O melhor é que está deslumbrante. – declara Rick ao se dirigir à saída, seguido por JP.

— Sim. Está maravilhosa, acho até que seria capaz de esquecer que tem filho só para experimentar aquela delícia.

— O quê? Veja como fala! – Rick rosna segurando firme o ombro de JP – Ela sem dúvida é minha! Nós temos uma história juntos!

— Ok...Ok... não precisa ficar assim! – JP exclama tirando a mão de Rick de seu ombro – Mas tenho certeza que sua mulher não iria gostar de ouvir isso. E que história vocês têm? Namoraram por poucos meses e depois nunca mais se viram!

— Não importa. Ela é minha!

Cada um segue para sua sala.

 

(***)

 

Cesar começa o tour das instalações da empresa pela área administrativa, mostrando as salas de cada um dos executivos e a copa. Declara que todos os andares possuem uma pequena copa, com sua respectiva copeira para facilitar o dia-a-dia de todos. Em seguida, se dirigem ao elevador, descem para o quarto andar onde ficam os camarins, o closet onde são guardados todos os figurinos já utilizados. Depois, a leva ao terceiro andar onde se localiza o estoque de todos os equipamentos, materiais para produção, edição e pós-produção, eis que indaga sobre a vida de Simone:

— Então, agora você é cineasta?

— Mais ou menos. – responde sem dar muita atenção à pergunta, olhando atentamente os equipamentos – Não tive muitas oportunidades para praticar minha profissão.

— E... me conta... Por onde você andou todo esse tempo? Você sumiu e nunca mais deu notícias. Fiquei sabendo que seus pais te procuram até hoje.

Ela finalmente volta sua atenção para Cesar e murmura:

— Estava no Rio de Janeiro. Você tem contato com meus pais?

— Na verdade, não. A Ilhane é que tem contato com eles e, às vezes, me conta o que está acontecendo.

— Ah! Então, você tem contato com a Laine? Como ela está? O que está fazendo? Continua morando em Sumaré? – Simone pergunta eufórica com a lembrança da amiga.

— Ela está bem. Mora em Campinas. Formou-se em psiquiatria, tem um consultório de psicanálise e se casou ano passado.

— Hum... que bom.

O executivo leva a ruiva ao quinto andar onde estão localizados os estúdios e as salas de edição, deixando o maior estúdio para o final:

— Este é nosso estúdio principal, o deixei para o final porque ali será sua sala. – declara apontado para o lado esquerdo, bem ao fundo, ao lado de um corredor que leva a outro estúdio menor.

Eles seguem para a sala, Cesar abre a porta de compensado preto. É um lugar amplo com boa iluminação externa, vinda de uma janela larga, uma cortina tipo veneziana cobre uma parte da vista para a capital paulista.

Próxima à janela, fica a mesa retangular de madeira com um computador moderno e um telefone, uma poltrona confortável que dá as costas para a paisagem externa e mais duas poltronas que ficam de costas para a porta.

Dois vasos de plantas enfeitam o ambiente, cada um em um canto da sala próximos da janela. Na parede ao lado da porta um quadro com paisagem do mar, abaixo dele um sofá de três lugares preto aparentemente confortável, que também enfeita o ambiente.

— Se você quiser mudar alguma coisa na decoração ou nos móveis fique à vontade. – declara Cesar.

— Não será necessário, está perfeito. – responde ao abrir o que faltava da cortina, admirando o horizonte pela janela.

Cesar se aproxima por trás dela, segura seus braços, encosta seu corpo ao dela e sussurra em seu ouvido:

— Eu nunca esqueci aquela noite que ficamos juntos na minha casa.

Simone sente seu corpo estremecer com a voz sensual daquele que foi e ainda é muito importante em sua vida. Ela se vira, olhando fixamente nos olhos dele, engole em seco:

— Eu tão pouco me esqueci daquela noite. – sussurra.

Seus rostos se aproximam como se fossem se beijar, mas Simone em um ato de autopreservação se afasta limpando a garganta:

— Mas isso ficou no passado. – a ruiva declara – Você, agora, é um homem casado e muito bem casado pelo que pude perceber. Quanto a mim, tenho minha vida e minha filha para cuidar.

— Ah... sim! Claro. E qual a idade da sua filha? – pergunta Cesar mudando de assunto, mas sem tirar os olhos da ruiva.

— Tem dez, mas já está quase completando onze anos. – responde abrindo um leve sorriso com a lembrança da filha.

— Então, já é uma mocinha.

— Pois é. Inclusive, vou trazer uma foto dela para colocar aqui, ao lado dessa paisagem. – Simone se aproxima do quadro.

— Vai ficar muito bom. Vai poder vê-la o tempo todo em que estiver aqui. Penso que vai ser melhor para você saber que ela está sendo bem cuidada em nosso espaço creche.

— Espaço creche? – indaga Simone curiosamente ao se virar para encarar o executivo.

— É um espaço que conta com recriadoras, pedagogas e brinquedoteca para os filhos dos funcionários, fica no primeiro andar, nós não passamos por lá.

— Posso conhecer esse local?

— Claro que sim. Siga-me, por favor.

Os dois saem da sala, Cesar a leva ao primeiro andar no espaço creche e ela fica fascinada com toda a infraestrutura. Depois, seguem ao segundo andar onde está localizado o restaurante, interrompem o tour para almoçar, em seguida ele conduz Simone para o espaço de descanso dos funcionários.

 

(***)

 

Júlio se surpreende com a quantidade de livros caixa que estão na sala de Camila, há livros desde dois mil e três.

— Não entendo, por que papai estava revisando esses livros?! – encara a irmã.

— Eu também não entendo. Porém, qualquer informação estranha que encontrar você vai falar comigo, somente.

— No que está pensando, Mila?

— Por enquanto, nada. Tenho apenas suspeitas, não quero fazer alarde antes de ter algo de concreto. – diz Camila pensativa.

— O que quer dizer? Do que você suspeita? – pergunta curiosamente.

— Acho que alguém matou o papai. – sussurra.

— Ah! Que isso, Mila? Papai morreu de infarto!

— Xiu! Fala baixo, Júlio. As paredes têm ouvido. E não acho que foi um simples infarto. Você sabe que quando coloco uma coisa na cabeça, ninguém e nada me tiram.

— É, sei disso. – responde sorrindo — Sem querer mudar de assunto, mas já mudando. Você viu como o Rick e a dupla dinâmica ficaram quando a Simone entrou na sala?

— Sim. A atitude deles foi bastante estranha. Acredito que eles não teriam reagido assim se realmente ela fosse apenas uma colega de escola.

— Eu faço questão de investigar esse caso diretamente com a Simone. – Júlio murmura com olhos perspicazes, abrindo um sorriso maquiavélico.

— Ah! Com a Simone! Por quê?

— Primeiro, eles não vão me falar a verdade. – dá de ombro, franzindo o cenho — Segundo... Hum... é um bom motivo para me aproximar dela e conhecê-la melhor. – declara com um sorriso um tanto libidinoso.

— Hum... Vejo que ficou muito interessado nela, não é?

— Tá. Admito. E isso não é pecado, nós dois somos solteiros, descomprometidos, livres para ficar com quem quisermos.

— Ah! Você nem sabe se ela tem namorado ou não. A única coisa que sabemos é que ela não é casada. E vou te dizer mais uma coisa, não atrapalhe o trabalho dela. Ok?

— Ok... Ok... prometo que vou me comportar. Vou, apenas, convidá-la para jantar, nada mais.

— Hum... sei. – diz Camila em tom de desconfiança, enquanto os dois continuam seus afazeres.

 

(***)

 

Ao terminar de conhecer toda a empresa, conhecer vários funcionários, Cesar e Simone se encontram, agora, na sala dele, de pé, um de frente para o outro e com a porta fechada:

— Agora, preciso que me entregue seus documentos para passar à minha secretária para a elaboração do seu contrato.

— Claro. Mas tem mais uma coisa que queria saber. – diz Simone pensativa e passando os dedos da mão na testa.

— Diga. – Cesar murmura levantando as sobrancelhas.

— Camila disse que eu poderia ter um assistente. É verdade? – pergunta abaixando a mão para ficar ao lado do corpo.

— Pode. Você tem alguém em mente? – ele cruza os braços.

— Sim. Um amigo. Seu nome é Eduardo Amorim Alves. – sorri com a lembrança do amigo.

— Um amigo? – repete Cesar em tom de desconfiança, contraindo os lábios.

— Sim! Um amigo! Meu melhor amigo na verdade, por quê? – questiona rispidamente.

— Por nada! Não precisa se irritar. – ele descruza os braços – Você pode pedir para ele vir amanhã e trazer os documentos para contratá-lo.

— Não estou irritada!

— Sim, você está! E fica mais linda quando está assim. – Cesar se aproxima dela, começa a acariciar o rosto e o cabelo de Simone.

— Por favor, Cesar. – ela murmura tentando disfarçar sua respiração um pouco alterada.

— O que, Simone? – sussurra aproximando seu rosto ao dela.

A ruiva sente o calor da respiração dele em sua pele, seu corpo todo estremece só de relembrar tudo que já sentiu ao tocar e ser tocada por esse homem que pensou que jamais o reencontraria.

— Por favor, Cesar. – sussurra com a voz falhando, tentando afastar-se — Nós não podemos...

Ele a segura pelos braços, interrompe suas palavras com um beijo avassalador, os dois se abraçam cheios de desejo, respiração ofegante e fazendo carícias um no outro. Porém, subitamente, Simone empurra Cesar com força que quase cai por cima da mesa e declara com firmeza de decisão:

— Não posso e não quero fazer isso. Nós vamos trabalhar sob o mesmo teto, quero que você me deixe em paz. Ok?

— Tá! Tá! É que... é tão difícil resistir a você. No momento em que te vi entrar por aquela porta, na sala de reuniões, todos os meus sentimentos por você vieram à tona. Como se todo meu passado tivesse sido desenterrado.

— Pode tratar de enterrá-los de novo! – rosna fechando a cara — Vou para a sala do JP para me inteirar dos projetos em aberto. Espero que você esfrie essa cabeça.

Simone sai da sala, desconcertada, enquanto Cesar suspira tocando seus lábios com os dedos, ao mesmo tempo em que pensa com um sorriso libidinoso "Essa mulher ainda me ama. Tenho certeza.".

 

(***)

 

Simone segue pelo corredor em direção à sala de JP, pensando no que acabou de acontecer "Meu Deus, por quê? Esse sentimento não pode existir. Tenho que acabar com isso, já!".

Ela chega à frente da sala de JP, passa a mão no vestido e no blazer se recompondo, respira fundo tentando fingir que nada aconteceu. Bate na porta, ouve a permissão para entrar vinda do interior.

— Oi, JP. – cumprimenta ao abrir a porta.

— Simone! Entre, por favor. Sente-se. Vou pedir para o Rick vir para começarmos os trabalhos.

— Sim. Claro.

Um minuto depois, Rick entra na sala, senta-se ao lado de Simone deixando-a um pouco desconfortável por causa de seu olhar penetrante e ardente.

— Antes de começarmos, Simone. – começa JP — Tenho uma pergunta.

— Sim.

— Como? Quando? Por quê?

— Antes de tudo, são três perguntas e não uma! – diz Simone rispidamente. — E... do que, exatamente, você está falando?

— Da sua transformação! Onde está aquela menina magricela, sem graça e triste da escola?

— Ela está bem aqui do meu lado. – Rick murmura pegando a mão dela — Mas você está errado, JP, a Simone sempre foi bonita. Só aprimorou sua beleza, mas essa bela mulher que está na sua frente sempre foi o seu verdadeiro ser.

— Vocês estão exagerando. – diz Simone soltando-se da mão de Rick — Agora, vamos trabalhar?

— Ok. Mas só mais uma coisa. – JP fala. — Cadê seus óculos?

— Lentes de contado! Já ouviu falar? – responde fechando a cara.

— Ok. Não precisa se irritar. Vamos trabalhar.

— Pois é. Vamos trabalhar. – declara Rick tentando disfarçar seus olhares.

— São dois comerciais de empresas muito importantes. – começa JP — Uma para um jornal de muito prestígio da cidade de São Paulo e o outro é de maquiagem para uma empresa de cosméticos brasileira muito famosa.

— Hum... pelo que está me dizendo são projetos importantes! – constata Simone.

— Sim, é necessário que você elabore o storyboard o mais rápido possível e que, também me passe os custos dessas produções. – continua Rick.

Simone começa a questionar todos os detalhes sobre os clientes, seus produtos, para poder colocar seu talento e sua criatividade em funcionamento, anotando tudo em um caderninho que sempre carrega consigo, na bolsa.

 

(***)

 

A reunião dura quase a tarde toda. Ao final, Simone declara observando suas anotações:

— Bom, depois de ter colhido todas essas informações, acredito que nossa reunião já está terminada. Por tanto, vou para minha sala deixar essas anotações, depois vou descansar, pois amanhã será um dia muito longo, de muito trabalho.

— Sim. Claro. Nós também já vamos embora! – exclama JP recolhendo alguns papéis e colocando-os dentro de uma gaveta.

Simone se levanta, sai da sala, porém não segue direto para sua sala. Antes, passa pela presidência, encontra a porta entreaberta, a empurra lentamente, quando vê Júlio trabalhando sozinho murmura:

— Oi, Júlio. Onde está a Camila?

— Simone! A Mila já foi embora com o Cesar. – responde surpreso pela visita, então um sorriso contagiante surge em seus lábios.

— É que ela pediu para eu passar aqui depois da reunião com o JP e o Rick.

— Eu sei. – responde se levantando e se aproxima de Simone — Ela pediu para desculpá-la, mas estava um pouco cansada e o Cesar insistiu para irem. Disse que amanhã te procura para conversar.

— Entendo. Então, eu também já vou embora. Com licença... – Simone se vira para seguir seu caminho.

— Espere Simone. – o moreno a interrompe, pegando em sua mão livre de papéis — Tem algum compromisso agora?

Simone encara a mão de Júlio que lhe segura, depois fita seus olhos levantando uma sobrancelha e comprime os lábios, o moreno solta sua mão depois de ver a expressão séria da ruiva, então dá um passo para trás.

— Não. Por quê? – finalmente ela responde, ao cruzar os braços

— Ah... gostaria de jantar comigo? – pergunta passando uma mão no cabelo, desviando seu olhar.

— Não sei. Acho melhor não. – responde abaixando os braços. — Quero ir descansar, amanhã terei muito o que fazer.

— Vamos! Por favor! Prometo que não mordo. – murmura voltando a fitá-la nos olhos e sorri — Eu também tenho muito trabalho amanhã. É que não quero ir para casa agora e não quero jantar sozinho.

Seu sorriso deslumbrante e suas palavras desarmam Simone fazendo-a sorrir também.

— Tudo bem. Mas aguarde só alguns minutos que preciso deixar esses papéis na minha sala e fazer algumas ligações.

— Certo. Te espero aqui.

Simone segue para o elevador, vai ao estúdio principal com a cabeça baixa, distraída com seus pensamentos por causa do dia impressionante que está tendo. Entra em sua sala e fecha a porta ainda alheia ao que está ao seu redor. Quando olha para a janela, se assusta e fica petrificada por alguns instantes por ver a figura que observa os últimos raios solares no horizonte pela janela:

— O que faz aqui, Rick?

— Você tem uma bela vista da cidade daqui. – ele murmura com uma voz mortalmente calma — Da minha sala não se pode ver muita coisa.

— Você não respondeu minha pergunta.

Rick se vira. Olhando fixamente nos olhos de Simone caminha em sua direção.

— Vim conversar um pouco. – pega a mão dela que está livre de papeis — Queria saber onde esteve todo esse tempo. Todos seus amigos e familiares procuraram você por todos esses anos. Todos ficaram preocupados, principalmente eu.

Rick começa a acariciar o rosto de Simone com sua outra mão, enquanto ela permanece imóvel, paralisada, sem saber o que fazer.

— Você foi e ainda é meu único amor. – ele continua com a voz mais baixa — Fiquei pensando em qual seria o motivo de você ter terminado nosso namoro daquela forma.

— Foram tantas coisas que aconteceram naquele ano e nos anos seguintes. – responde se livrando das mãos dele ao se afastar um pouco, então coloca os papéis que leva consigo sobre a mesa. — Você lembra que terminei com você porque não suportava mais os tormentos da minha mãe?

— Sim, me lembro dessa sua desculpa, mas onde esteve? O que fez? – indaga Rick.

— Não foi uma desculpa e estava morando no Rio de Janeiro, onde me formei.

— O Rio fez muito bem a você. Sempre te achei linda, mas agora está maravilhosa. – ele se aproxima dela novamente, faz carinho em seu cabelo e em seu rosto, então sussurra docemente, com um sorriso nos lábios — Tenho ótimas lembranças de nós dois. Lembranças de tê-la em meus braços, principalmente da última noite em que estivemos juntos, quando realmente conheci sua alma ao fazermos amor pela primeira e única vez até hoje.

Ele encosta seu corpo ao dela, aproximando seu rosto o suficiente para a ruiva sentir sua respiração quente.

— Por favor, Rick. – sussurra com a voz falhando, tentando controlar sua respiração, Simone sente seu coração acelerado — Isso já é passado.

— Tem certeza que é passado? Porque seu corpo, sua respiração, me dizem o contrário. – sussurra com voz macia e sedutora ao aproximar seus lábios aos dela tentando beijá-la.

Simone tenta recusar o beijo, porém Rick segura seu rosto com as duas mãos e a beija compulsivamente. Eles se abraçam, o executivo começa a passar suas mãos por todo o corpo da ruiva que sente um desejo quase incontrolável de fazer amor com ele ali, em sua sala. Contudo, em uma reação de recusa, ela o empurra, se afasta para sentar-se em sua poltrona:

— Não quero, Ricardo! Nosso relacionamento será estritamente profissional. Quero que deixe o passado enterrado. Agora, desejo que saia e me deixe trabalhar em paz.

— Dificilmente vou conseguir deixar o passado enterrado, principalmente porque vou vê-la todos os dias. – murmura balançando a cabeça com um sorriso malicioso nos lábios.

— Não quero saber como vai fazer isso! Só quero que saia agora e deixe-me em paz!

— Tudo bem. Não precisa ficar nervosa. – responde abrindo a porta — Olha, já estou indo. Mas eu volto. – diz ainda sorrindo e dá uma piscadinha para ela.

Ricardo sai fechando a porta atrás de si enquanto reflete "Essa mulher é minha. Tenho certeza que ainda sente alguma coisa por mim, senão, porque ficou tão nervosa com um simples beijo. Nossa! Que simples nada! Isso foi um beijão.", em seguida caminha em direção ao elevador pensando no beijo e acariciando seus lábios com os dedos.

 

(***)

 

Simone, totalmente desconcertada e irritada, liga para Eduardo:

— Alô.

— Tenho notícias para você, Eduardo!

— Simone! Tudo bem? Parece... sei lá... alterada.

Ela suspira profundamente, então continua:

— Sim! Estou! Mas depois falamos sobre isso. Preciso que você se apresente amanhã, na primeira hora aqui na Miranda Produções.

— Como assim?

— Quero que você seja meu assistente.

— Sério?

— Preciso de você, meu amigo. – choraminga.

— Mas é claro que serei seu assistente!

— Traga seus documentos e amanhã nos falamos. Tudo bem?

— Certo. Amanhã cedinho estarei aí.

— Tchau, Amigo.

— Tchau, Amiga.

Desligando o telefone, Simone pensa "Meu Deus, o que acontece comigo?" ela se vira ainda sentada em sua poltrona, observa acidade já um pouco iluminada pelas luzes da noite, "Como o Senhor pode pregar uma peça dessa em mim? Os dois homens mais importantes da minha vida trabalham juntos e são amigos, o pior, vou ter que trabalhar com os dois. Eles vão me deixar maluca!".    

 


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam desse reencontro? Quase fatal não é? kkkkkkkk Ah... Tem mais confusão chegando! Aguardem! kkkkkkkk



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