O Despertar dos Sentidos LIVRO 1 escrita por Shirley Santos


Capítulo 18
16 - O LUAU (parte 2)




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A banda faz um pequeno intervalo para descansar, comer e beber. Agatha e Elton sentam-se ao lado de Júlio e Simone.

— Simone, você tem uma voz maravilhosa! – declara Agatha com um sorriso de orelha a orelha — Por que não canta profissionalmente?

Simone cobre o rosto com as mãos, balança a cabeça em negativa fazendo Júlio gargalhar:

— Na verdade, Agatha, ela é muito tímida! – o moreno responde depois de conter o riso.

— Tímida? Não foi isso que vi em seus olhos quando cantou a música do Led Zeppelin! – exclama Elton enquanto pega um cigarro no bolso da calça.

— O que você viu nos olhos dela? – Júlio olha para o amigo, intrigado.

— Não sei explicar! Parecia um... fogo... uma vontade de mostrar sua alegria!

Simone dá uma gargalhada descobrindo o rosto:

— O fogo com certeza é por causa do meu cabelo! – diz ao conter o riso.

— É sério, Júlio! Eu vi!

— Eu também já vi! – Júlio olha com ternura para Simone que arregala os olhos para o moreno — Quando ela fala da Ângela e de cinema!

— Ângela é sua filha, certo? – Agatha pergunta.

— Sim. Minha Anjinha! Que saudade!

— Acho melhor mudarmos de assunto! – Agatha sorri — Senão, ela vai ficar triste.

— Boa ideia! – exclama Júlio — Quando vocês voltarem para o palco, podem tocar a minha preferida?

— Claro! – responde Elton.

— Qual é a sua música preferida, Júlio? – a ruiva questiona franzindo o cenho.

— "A Modern Myth", do grupo Thirty Seconds To Mars. – responde Agatha antes mesmo de Júlio abrir a boca.

— Sério? – Simone arregala os olhos — Ela é bem bonita, mas é tão triste.

— Eu gosto de quase todas as músicas deles, mas essa, não sei o motivo, é a minha favorita – abraça Simone novamente.

— Entendo. – a ruiva murmura pensativa.

Os quatro conversam um pouco sobre a época da escola de Júlio, falam das confusões que ele e o Elton sempre se envolviam naquela época.

Como prometido, Agatha canta a música preferida de Júlio assim que volta para o palco. Depois, por mais duas horas o show é realizado com revezamento entre Agatha e Simone para cantar as músicas. São tocadas canções de bandas de rock brasileiro, assim como de internacional.

Um pedido de suplica de Júlio que insiste para que Simone cante "Faroeste Caboclo" do grupo Legião Urbana, faz ela cantar a última música da noite. A ruiva já está bastante alegre e descontraída, por isso não faz qualquer objeção. Sobe novamente no tablado troca algumas palavras com a Agatha e o Elton que começam a tocar logo em seguida, a ruiva começa a balançar a cabeça em sincronia com a melodia, tira o microfone do pedestal: 

"Não tinha medo o tal João de Santo Cristo

Era o que todos diziam quando ele se perdeu

Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda

Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido

Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu

Era o terror da cercania onde morava

E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro

Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar

Sentia mesmo que era mesmo diferente

Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar

E as coisas que ele via na televisão

Juntou dinheiro para poder viajar

Escolha própria escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade

De tanto brincar de médico aos doze era professor

Aos quinze foi mandado pro reformatório

Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror

Não entendia como a vida funcionava

Descriminação por causa da sua classe e sua cor

Ficou cansado de tentar achar resposta

E comprou uma passagem foi direto a Salvador"

Ela começa a andar pelo tablado, balança o corpo no ritmo da melodia, passa perto de cada um dos integrantes da banda, sorrindo para eles, imitando-os conforme tocam os instrumentos e estes retribuem o sorriso, além de sua empolgação.

"E lá chegando foi tomar um cafezinho

E encontrou um boiadeiro com quem foi falar

E o boiadeiro tinha uma passagem

Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar

Dizia ele — Estou indo pra Brasília

Nesse país lugar melhor não há

Tô precisando visitar a minha filha

Eu fico aqui e você vai no meu lugar

O João aceitou sua proposta

E em um ônibus entrou no Planalto central

Ele ficou bestificado com a cidade

Saindo da rodoviária viu as luzes de natal

Meu Deus, mas que cidade linda!

No Ano Novo eu começo a trabalhar

Cortar madeira aprendiz de carpinteiro

Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta feira ia pra zona da cidade

Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador

E conhecia muita gente interessante

Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia

E muitas coisas trazia de lá

Seu nome era Pablo e ele dizia

Que um negócio ele ia começar

E Santo Cristo até a morte trabalhava

Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar

E ouvia às sete horas o noticiário

Que sempre dizia que seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa

E decidiu que como Pablo ele iria se virar

Elaborou mais uma vez seu plano santo

E sem ser crucificado a plantação foi começar

Logo, logo os maluco da cidade

Souberam da novidade

Tem bagulho bom ai!

E o João de Santo Cristo ficou rico

E acabou com todos os traficantes dali

Fez amigos, frequentava a Asa Norte

Ia pra festa de Rock pra se libertar

Mas de repente

Sob uma má influência dos boyzinhos da cidade

Começou a roubar

Já no primeiro roubo ele dançou

E pro inferno ele foi pela primeira vez

Violência e estupro do seu corpo

Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!"

Simone desce do palco sem para de cantar, começa a andar entre os participantes, se aproxima de Júlio e o beija no rosto, depois vai para perto de Eduardo que, abraçando-o, ele lhe dá um beijo na bochecha. Segue até Camila,a faz girar e dançar com ela. Em seguida, se aproxima de Cesar, que fica paralisado, os olhos arregalados, enquanto ela pega a mão dele e a beija exatamente como o Júlio faz. Então, caminha entre os outros participantes,agitando a galera. 

"Agora Santo Cristo era bandido

Destemido e temido no Distrito Federal

Não tinha nenhum medo de polícia

Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina

E de todos os seus pecados ele se arrependeu

Maria Lúcia era uma menina linda

E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar

E carpinteiro ele voltou a ser

Maria Lúcia pra sempre vou te amar

E um filho com você eu quero ter

O tempo passa

E um dia vem na porta um senhor de alta classe com

Dinheiro na mão

E ele faz uma proposta indecorosa

E diz que espera uma resposta, uma resposta de João

Não boto bomba em banca de jornal

Nem em colégio de criança

Isso eu não faço não

E não protejo general de dez estrelas

Que fica atrás da mesa com o cú na mão

E é melhor o senhor sair da minha casa

E nunca brinque com um peixes de ascendente escorpião

Mas antes de sair com ódio no olhar

O velho disse

Você perdeu a sua vida, meu irmão!

Você perdeu a sua vida, meu irmão!

Você perdeu a sua vida, meu irmão!

Essas palavras vão entrar no coração

Eu vou sofrer as consequências como um cão

Não é que o Santo Cristo estava certo

Seu futuro era incerto

E ele não foi trabalhar

Se embebedou e no meio da bebedeira

Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro

Que também tinha dinheiro e queria se armar

Pablo trazia o contrabando da Bolívia

E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias

Traficante de renome apareceu por lá

Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo

E decidiu que com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester 22

E Santo Cristo já sabia atirar

E decidiu usar a arma só depois

Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias maconheiro sem vergonha

Organizou a Roconha e fez todo mundo dançar

Desvirginava mocinhas inocentes

E dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa

E a saudade começou a apertar

Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia

Já está em tempo de a gente se casar

Chegando em casa então ele chorou

E pro inferno ele foi pela segunda vez

Com Maria Lúcia Jeremias se casou

E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro

E então o Jeremias pra um duelo ele chamou

Amanhã, às duas horas na Ceilândia

Em frente ao lote catorze é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas

Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor

E mato também Maria Lúcia

Aquela menina falsa pra que jurei o meu amor

E Santo Cristo não sabia o que fazer

Quando viu o repórter da televisão

Que deu notícia do duelo na TV

Dizendo a hora o local e a razão

No sábado, então as duas horas

Todo o povo sem demora

Foi lá só pra assistir

Um homem que atirava pelas costas

E acertou o Santo Cristo

E começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta

João olhou pras bandeirinhas

E o povo a aplaudir

E olhou pro sorveteiro

E pras câmeras e a gente da TV filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança

E de tudo o que vivera até ali

E decidiu entrar de vez naquela dança

Se a via-crucis virou circo, estou aqui

E nisso o sol cegou seus olhos

E então Maria Lúcia ele reconheceu

Ela trazia a Winchester 22

A arma que seu primo Pablo lhe deu."

    A ruiva volta para perto da banda, recoloca o microfone no pedestal e prossegue: 

"Jeremias, eu sou homem. Coisa que você não é

E não atiro pelas costas, não

Olha pra cá filho da puta sem vergonha

Dá uma olhada no meu sangue

E vem sentir o teu perdão

E Santo Cristo com a Winchester 22

Deu cinco tiros no bandido traidor

Maria Lúcia se arrependeu depois

E morreu junto com João, seu protetor

O povo declarava que João de Santo Cristo

Era santo porque sabia morrer

E a alta burguesia da cidade não acreditou na história

Que eles viram da TV

E João não conseguiu o que queria

Quando veio pra Brasília com o diabo ter

Ele queria era falar com o presidente

Pra ajudar toda essa gente que só faz sofrer!"

Quando a música termina, todos os participantes, além de vários estranhos que estavam próximos, aplaudem e assoviam, ela agradece fazendo reverência, chama os integrantes da banda para também agradecerem.

Cesar passou o período todo da festa totalmente calado, admirando a voz de Simone, além de observando a atitude de Júlio para com ela, o que lhe causou inquietude. Enquanto Camila só o observava, pensando o tempo todo "A Simone mexe com você, Cesar. Mesmo você negando, tenho certeza de que algo está acontecendo.".

Ao final da festa, é realizado um mutirão para guardar os equipamentos musicais, todos os outros objetos utilizados e também a limpeza do lugar. Depois, os casais são divididos entre a casa de Júlio e Camila, as outras duas residências dos amigos que não fica distante de onde estão, para descansarem.

Simone e Eduardo ficam alojados em um dos dois quartos simples da casa de Júlio, Camila e Cesar se acomodam na suíte, Agatha e Elton se ajeitam no outro quarto, Júlio ocupa o sofá cama da sala. Depois de se despedirem todos seguem para seus locais de descanso.


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Notas finais do capítulo

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