Graveyard of Flowers — Roses escrita por crowhime


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Ando com bastante preguiça de postar aqui, afinal, não é como se alguém estivesse lendo, mas vou me esforçar para ir até o fim lol



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Novembro, 1976

 

 

 

Não é como se eu estivesse fugindo de Remus, só estava evitando sua companhia e definitivamente não queria ficar sozinho junto a ele. Mas fugir? Era exagero.

Eu tinha a impressão de que, às vezes, ele parecia procurar por mim naquela semana logo após o baile de Halloween, mas aceitei facilmente que era minha imaginação fantasiosa me pregando peças e não dei atenção. Só na sexta à noite, enquanto fazia minha ronda solitária pelos corredores, que percebi que ele deliberadamente vinha em minha direção, pois quando virei em um dos corredores, ele fez o mesmo atrás de mim ao invés de seguir seu caminho. Meu instinto me dizia para apressar meus passos, mas quando ele chamou meu nome e correu até parar ao meu lado, percebi que era tarde para dar ouvidos.

— Ei, Regulus! — Ele parou de correr, passando a caminhar ao meu lado. — Que difícil te achar. Você parece muito ocupado, tem se cuidado direito?

Aquela conversa era estranha e me fez arquear uma das sobrancelhas, fitando-o de esguelha.

— Estou, não se preocupe.

— Entendi. Que bom então. — Ele sorriu. — Depois daquele dia, fiquei preocupado. Tentei te ver na enfermaria, mas madame Pomfrey disse que você não esteve lá…

Àquela altura, já não sabia mais dizer se ele estava genuinamente preocupado ou só me sondando para querer saber o que havia acontecido - e até onde eu havia escutado. Acabei parando de antes, o que deixou Remus confuso quando este parou dois passos à frente e precisou se virar para me fitar.

— Desculpe ter ouvido naquele dia. Não tive intenção. Mas não vou comentar com ninguém…

— Ah, aquilo? — riu como se fosse algo besta. — Não se preocupe. Era um segredo, mas não importa mais. Sirius nunca gostou de mim de verdade, acho que eu era só um passatempo diferente… mas, como disse: não importa. Está acabado.

Primeiramente, o fitei como se fosse louco, logo depois sendo tomado pela confusão antes de perceber que estávamos falando de coisas diferentes. Será que ele tinha bebido naquela noite e não se lembrava de que havia conversado com Sirius sobre assassinato envolvendo Severus Snape? Eu já havia ligado os pontos e feito minha teoria, pois fazia sentido com a história que Snape contou pouco depois de meu irmão e Remus ficarem juntos, envolvendo um ataque de lobisomem, mas depois de uma conversa com o diretor ele nunca mais disse abertamente nada sobre o ocorrido… Minha teoria era maluca, Remus não parecia um lobisomem, não com o que eu conhecia deles, mas quando se percebia a época de seus sumiços que sempre coincidiam com a lua cheia, não parecia tão insana assim. No fundo, eu sabia que estava certo. Remus estaria só se fazendo de sonso? Tinha a impressão de que para esta dúvida eu nunca saberia a resposta, e acabei abaixando a cabeça, desconfortável pelo rumo que o assunto tomava.

— Sirius é um idiota. Sempre foi.

Eu definitivamente não queria ouvir sobre o romance de Sirius e Remus… mesmo com o término, eu não podia me permitir sentir qualquer fagulha de esperança de que ele viesse a gostar de mim.

Quando ele riu, soava triste, e eu ergui meu olhar para fitá-lo mesmo que me partisse o coração aquela expressão.

— Talvez eu seja mais por ter caído nessa.

Ele começou a caminhar mais uma vez e, instintivamente, o segui.

— Não é sua culpa. É dele por ser um babaca. — disse sem pensar. Eu não deveria estar tentando consolá-lo, mas a ansiedade que me causava vê-lo cabisbaixo fazia com que as palavras saíssem sem controle. — Se fosse comigo, eu nunca te trairia. 

Dessa vez, foi ele quem parou de súbito, se virando repentinamente para mim, e eu não consegui parar antes de chocar o corpo contra o dele. Uma das mãos dele segurou meu braço, evitando que eu me desequilibrasse. Quando abri os olhos, os quais fechei ao sentir o impacto, dei de cara com os olhos dele me encarando.

— Você quis mesmo dizer isso, Reg? — sussurrou, e eu quase podia sentir sua respiração em minha face.

Engoli a seco.

Que diabos estava acontecendo?

Senti meu estômago embrulhar.

— Claro que sim — murmurei, tentando soar indiferente, como se aquela proximidade não estivesse me desestabilizando. — Você não merece isso.

O olhar dele era misterioso e eu não conseguia sustentá-lo devidamente, então acabei por focar minha atenção em um ponto mais distante do corredor, prendendo a respiração quando os dedos dele se enroscaram nos meus cabelos.

— Queria ter me apaixonado por você primeiro.

Merda, merda, merda, merda. Que diabos era aquilo? Sentia o suor frio empapando minhas mãos e minhas pernas tremiam. Que espécie de confidência era aquela? Eu não queria escutar aquilo! Assustado, sem conseguir respirar, o empurrei para longe.

— Eu não vou ser seu instrumento de vingança contra ele! Ou um substituto só porque não pode ficar com o original.

Disparei, a voz baixa, mas ácida. Não tinha como ele começar a gostar de mim do nada. Era irreal. Por mais que eu quisesse que tudo se resolvesse como um conto de fadas, aquela era a realidade, e ela era bem mais dura e cruel. Não existia o felizes para sempre.

— O quê? — Ele pareceu surpreso e inconformado antes de se dar conta do que eu falava. — Não é isso, Reg…. Eu… desculpe. Não quis fazer parecer isso. — Se retraiu, encolhendo os ombros, e agora era Remus quem não me fitava. — Até porque você está namorando aquele seu amigo, não é? Eu não faria algo assim com outra pessoa… — suspirou e eu não sabia se ele estava tentando convencer a mim ou a si mesmo. — Só quis dizer que você nunca poderia substituir o Sirius. Você é… muito diferente dele. É muito mais gentil, embora tente não demonstrar.

Eu podia jurar que meu coração havia parado. De início, senti dor, porque era Remus, a pessoa que eu mais gostava, me dizendo que nunca seria um bom substituto para meu irmão - eu nunca seria suficiente. Mas ele continuava a falar e eu não sabia o que pensar. Juntei as mãos, as apertando em frente ao corpo, o nervosismo crescendo e deixando meus pelos arrepiados.

— Enfim! — Remus juntou as mãos, como se quisesse com aquele gesto afugentar o clima estranho que havia nos envolvido. — Desculpe pelo assunto estranho. Vamos continuar com a patrulha.

Como se nada tivesse acontecido, ele voltava a andar. Hesitei. Minhas unhas perfuravam a carne das minhas palmas e, de súbito, dei um passo à frente e o chamei.

— Remus…!

Ele se volveu em minha direção, o olhar surpreso me desarmando. Quando ele soltou uma risada suave, qualquer resquício de coragem se esvaiu e eu franzi as sobrancelhas.

— Do que está rindo?

— Desculpe. — pediu, tentando se conter. — Acho que você nunca me chamou pelo nome. Fiquei feliz. O que era?

Constrangido, bufei e passei à frente dele, respondendo mecanicamente que não era nada. Ele ainda insistiu, mas como eu não dava o braço a torcer, eventualmente desistiu. O silêncio que recaiu sobre nós era quase agradável enquanto andávamos os dois pelos corredores vazios de Hogwarts.

Foi estranho pois, quando me dei conta, a companhia dele começou a se embrenhar como parte de minha rotina naquelas rondas silenciosas e solitárias da noite.

— Reg. Você gosta de rosas?

Essa pergunta, aparentemente inocente, que ele me fez sem qualquer tipo de contextualização, fez com que meus sentidos ficassem em alerta. Sem demonstrar, respondi com indiferença.

— Não, realmente.

E eu tinha motivos mais do que suficientes para não gostar daquele tipo de flor, mas por algum motivo o olhar dele pareceu decepcionado.

— Ah, é?

Incomodado, devolvi o questionamento.

— Mas você gosta. Não gosta?

O olhar dele se suavizou. Eu não entendi o que significava aquele brilho em suas íris quando ele sorriu para mim.

— São minhas favoritas. Clichê, não acha?

De fato, era clichê. Um bem irônico e dolorido. Mas, de algum jeito, parecia combinar com ele. Remus não disse mais nada e acabei não dando tanta importância ao pequeno diálogo inicialmente. Devia ser coisa da minha cabeça... Só quando em minha cama, deitado com Barty me envolvendo por trás, que comecei a repassar a cena na cabeça e a ideia em mim crescia: ele sabia.

Soava paranoico, mas eu não conseguia descartar a possibilidade. Explicava até todo aquele comportamento amigável das últimas semanas. Ele estaria com pena? Remus devia saber que eu estava doente, de algum jeito que eu não sabia como. Ou, no mínimo, desconfiava de algo relacionado às rosas. Como? Quando? Eu tinha certeza de sempre sumir com os rastros, eu não cometeria o erro de deixar uma evidência… cometeria?

Repentinamente, me lembrei da noite do baile de Halloween. Havia ficado desnorteado e em pânico com a possibilidade dele descobrir o que estava acontecendo comigo, mas não conseguia me lembrar se Barty havia dado descarga no sanitário aquela noite ou usado um feitiço para fazer as flores e o sangue desaparecer. Ele tinha? O que eu havia feito, também? Quis me virar e perguntar, porém ele ressonava tão tranquilamente que não quis me mover e correr o risco de acordá-lo.

Sentia meu corpo tenso. Tentei respirar junto a Barty, mas meus pulmões pareciam incapazes de manter o ritmo. O silêncio no quarto era ensurdecedor e tornei-me estranhamente consciente do sangue bombeado em meus ouvidos. Era uma sensação estranha, como se meu coração quisesse acelerar, mas algo estivesse o segurando, impedindo que batesse mais forte. Isso resultava em um ritmo descompassado, lento, pesado, que fazia uma dor lancinante tomar conta do meu peito. Arfei, sem ar, e me arrastei para fora da cama com cuidado, sentando no chão em uma vã tentativa de fazer o oxigênio chegar mais facilmente em meus pulmões.

Eu estava sufocando.

Era fácil entender o que acontecia. Eu quase podia sentir os ramos se embrenhando por meus órgãos internos, e imaginar os galhos subindo por minha traqueia até que flores desabrochassem em meus lábios. Eu já não conseguia reconhecer o que eram pétalas e o que era sangue, meu corpo tremia e a visão parecia ter sumido, pois tudo a minha frente era um espaço vazio tingido de escarlate.

Muitas vezes eu já havia pensado ah, então esse é o fim, mas ele nunca de fato havia vindo. Agora, no entanto, eu chorava desesperado e tinha certeza de que não passaria daquela noite, pois doía mais do que nunca e eu estava sem ar e não conseguia pensar e o ácido subia por minha garganta e ardia ardia e ardia e eu sentia que estava prestes a enlouquecer e tudo que podia pensar era sinto muito sinto muito por tudo eu só quero que isso pare.

Até que parou.

Lembro de um último pensamento coerente em meio a meu cérebro desconexo: eu devia ter falado como me sinto, afinal.


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