O dia no trabalho foi mais leve. A parte de pré-produção dos projetos era sempre a mais estressante, mas agora que tudo começava a se encaminhar as coisas seriam mais simples. Por isso todos foram liberados no horário normal, às 17:30h.

Hermione encontrou o apartamento vazio. Mais do que provável Astoria ficaria fora até o final de semana, que é quando Draco viajaria. Checou a geladeira atrás de algo para comer, encontrando um pedaço de pizza de três dias antes. Comeu e adormeceu no sofá enquanto checava suas redes sociais.

Um pouco depois das 19h Hermione despertou, levando alguns minutos até entender que seu cochilo durou mais de 1 hora. Ela andou despreocupadamente até a cozinha para lavar a louça que tinha sujado quando sua mente fez um estalo, lembrando-a do aniversário de Rony.

Ela iria, tinha decidido isso no momento em que ele a convidara, só não queria admitir para seu coração. Embora já passasse das 19 não se sentiu culpada se chegaria um tanto atrasada. Tomou um banho rápido e pela primeira vez em muito tempo quis que Astoria estivesse ali para ajudá-la a escolher a roupa. Por fim decidiu ir de calça jeans escura, afinal jogariam boliche, uma camiseta branca com amarração na frente e o tênis, também branco, da noite anterior.

Sem nem perceber, caprichou em sua arrumação, ressaltou os olhos cor de mel e disfarçou o nariz que achava chamativo na maquiagem, sem esquecer dos brincos de argola e algumas borrifadas de seu perfume preferido. Com o cabelo solto se dirigiu para fora de casa.

O Three Broomsticks não ficava tão longe de sua casa, por isso decidiu ir andando, seriam apenas alguns minutos e as ruas ainda estavam bastante movimentadas. O lugar, no entanto, estava mais calmo. Na recepção pegou os sapatos para jogar e se informou que a reserva para Weasley e amigos era a da pista 12, para onde se dirigiu nervosamente.

Em sua cabeça só pensava no quanto queria estar escondida em casa, longe das luzes quase ofuscantes do local e música ambiente brega, das risadas e conversas quase inaudíveis em meio a toda aquela gente. Mas no momento em que avistou Rony algo dentro dela mudou. Não queria estar sozinha em casa, queria andar sob as luzes ofuscantes, escutar a música ambiente brega e nem perceberia o constante burburinho das conversas alheias, estaria ocupada demais se divertindo com velhos conhecidos.

De repente ele se virou, olhando a diretamente e esboçou o sorriso mais bonito que ela já vira, fazendo a sorrir também, e provocando um alvoroço em sua barriga. Não cansava de pensa-lo, mas ele estava ainda mais bonito do que se lembrava. Agora sim seu cabelo estava como ela se lembrava: como se nunca tivesse visto um pente na vida. Parecia até que eles tinham combinado a roupa, já que Rony também usava uma calça jeans escura, camiseta branca, tênis preto e uma jaqueta, também jeans, azul clara, que diferenciavam os looks.

Hermione acenou em sua direção um pouco indecisa sobre o que fazer a seguir. Rony retribuiu o cumprimento, atraindo a atenção dos amigos ao seu redor. Além do ruivo, haviam outras seis pessoas, das quase ela reconheceu três, apenas porque haviam estudado juntos: Neville Longbottom, um garoto bastante atrapalhado da turma deles; Dino Thomas, um dos mais inteligentes da turma, vivia disputando o posto de melhor aluno com Hermione e claro, sua antiga melhor amiga, Gina Weasley, agora Potter, que protagonizou o grito que chamou a atenção de todos presentes no estabelecimento.

— AI MEU DEUS!! – Ao grito se seguiu uma cena de filme, mas imagine-a em câmera lenta: de um lado Gina, do outro Hermione, ambas correndo de encontro uma a outra e um abraço apertado trocado. – Eu to sonhando? Porque parece um sonho. Harry eu to sonhando?

O rapaz de cabelo negros e óculos redondos balançou a cabeça negativamente, sem entender muito bem o que estava acontecendo.

— Gente, é a Hermione! – Ela disse arrastando a antiga amiga para perto de todos.

Neville e Dino se prontificaram a cumprimenta-la, comentando rapidamente sobre a última vez em que se viram. Gina tomou as rédeas da situação e fez as introduções que faltavam. Hermione conheceu Harry Potter, marido de Gina a quem ela perguntara minutos antes se estava sonhando; Hannah Abbott, amiga da faculdade e Simas Finnigan, de quem Hermione não lembrava, mas na verdade estudara em outra turma no mesmo ano que eles. E por fim, Rony...

— Feliz aniversário! – Ela sorriu mais uma vez, quando lhe ocorreu que não comprara nenhuma lembrancinha e o burburinho dentro dela só parecia aumentar. Será que ele se sentia assim também? – O presente fica pra depois.

— Não se preocupa com isso.

Rony a puxou para um abraço e disse em seu ouvido, de modo que apenas ela escutasse:

— Sua presença já é o suficiente.

— Pera aí: por que vocês não estão agindo como se não se vissem há dez anos? – Gina perguntou olhando de um para o outro. – Aliás, por que a Hermione está aqui?

Então Rony explicou sobre o súbito encontro dos dois na tarde anterior, sanando todas as dúvidas.

— Eu cheguei um pouco atrasada né? – Ela checou as horas no celular.

— Não esquenta com isso, ainda não começamos a jogar. – Hannah falou. – Estávamos colocando o papo em dia, faz tempo que não nos vemos também.

Embora fosse o aniversário de Rony, todos o ignoraram, queriam é saber sobre Hermione, a carne “nova” no grupo. Ela contou praticamente tudo o que eles queriam saber sobre a experiência nos Estados Unidos, dos hábitos diferentes e de algumas vivências que tivera. Por volta das 21:00 resolveram começar a jogar.

— Eu estava contando com que você viesse pra jogarmos em dupla. – Rony lançou um sorriso que a fez ter vontade de lhe dar um soco. Por quê tão charmoso? E por que ela tinha que perceber, droga!

Mas...

— Pois pode tirar seu cavalinho da chuva que eu chamei primeiro. – Gina se intrometeu no papo. – Eu já falei com o Harry, ele vai ficar mais do que feliz em jogar contigo.

Hermione deu de ombros e riu. Imaginou que essa disputa poderia ocorrer, já que ela possuía uma boa fama em competições em geral, principalmente boliche. Além de ser bastante competitiva.

Eles se dividiram em quatro duplas, o jogo durou mais de 1 hora, as duas duplas com o placar mais baixo foram descartadas, que acabaram sendo Hannah/Neville e Dino/Simas, deixando o páreo entre Gina/Hermione e Harry/Rony. Os amigos que perderam uniram suas torcidas em favor das meninas, apenas para provocar Rony.

Nas últimas jogadas os strikes tanto de Hermione quanto os de Rony compensavam pelas más jogadas de Harry e Gina. A disputava estava praticamente empatada.

Harry jogou primeiro, não conseguiu derrubar todos os pinos de uma vez, perdendo o bônus da jogada. Depois, sem nenhuma surpresa, Rony marcou mais um strike. Então foi a vez das meninas, Gina derrubou nove pinos e não conseguiu derrubar o último sobrevivente, fazendo com que Hermione fosse obrigada a fazer um strike, caso contrário perderiam. Talvez pela pressão da última jogada, todos as outras sete pessoas presentes, e alguns curiosos que acompanhavam o jogo animado deles, Hermione não se concentrou o suficiente e jogou a bola totalmente errada em direção à lateral esquerda da pista, não acertando nenhum pino. Na segunda tentativa, ainda mais pressionada a acertar, derrubou apenas metade dos pinos, dando a vitória ao aniversariante e a Harry.

Incrédulos, tentando entender o que tinha acontecido, Rony e Harry olharam o placar onde ao lado do nome deles aparecia a palavra VENCEDOR. Eles se abraçaram, comemorando a vitória.

— Sorte de aniversariante! – Gina exclamou chateada, sendo envolvida no abraço dos vencedores.

— Parece que alguém perdeu o gingado. – Rony provocou Hermione, que por sua vez estava de braços cruzados e uma das sobrancelhas erguida em tom de desafio.

— Eu não contaria com isso. – Eles apertaram as mãos, embora Rony quisesse abraça-la por finalmente ganhar uma partida contra ela, mas não sabia se podia tomar esse tipo de liberdades. – Mal posso esperar pela revanche!

De repente, alguns funcionários do local apareceram com uma sobremesa surpresa cantando parabéns. Enquanto todos estavam absortos na competição, Hannah fizera o grande favor de avisar que tinham alguém completando anos ali, assim os funcionários providenciaram a comemoração cortesia do estabelecimento.

— ... nesta data querida, muitas felicidades... muitos anos de vida! – todo mundo presente ali fez questão de cantar, mesmo aqueles que não conheciam os jovens animados.

A sobremesa era uma grande travessa de sorvete com chantily e uma vela em cima, a qual Rony apagou com gosto após fazer seu pedido. Além do sorvete pediram algumas besteiras para acompanhar, não dava pra resistir à batata frita com cheddar e bacon do local, era simplesmente divina.

Batatas, mini hambúrgueres, salgadinhos e sorvetes, mais alguns comes, bebes e papo furado depois, Simas foi o primeiro a reparar na hora.

— Gente, tá tudo muito gostoso, a conversa tá ótima, mas amanha eu acordo muito cedo. – Sua fala fez todos checarem seus próprios celulares ou relógios.

Hermione deu um pulo porque ainda era quinta-feira, no dia seguinte precisava estar no trabalho às 9:30h e já eram quase 23:00h.

Na hora de pagar todo mundo achou mais do que justo dividir a conta igualmente, afinal todos comeram de tudo, então também pagariam por tudo.

Os amigos se despediram, restando por último Gina, Harry, Rony e Hermione. A garota dos cabelos vermelhos não parecia nem um pouco inclinada a deixar Hermione ir embora, totalmente compreensível. Durante a adolescência elas eram inseparáveis, nem mesmo quando o namoro com Rony começou elas se desgrudavam. Como precisava ir, as amigas trocaram os números de telefone com a promessa de que se falariam até o final da semana. Então o casal foi embora, deixando para trás Hermione e Rony.

— Vamos, eu te dou carona. – O rapaz fez menção de ir em direção a seu carro.

— Não precisa. – Ela negou a oferta mais rápido do que gostaria. Não andava de carro há quase 3 anos e não era agora que mudaria isso. – Eu vou andando, é pertinho daqui.

— Claro que não. – Rony checou as horas, eram quase 23:30. – Já está tarde, é perigoso. Sem falar que de carro é mais rápido.

Sim, já estava tarde e sim, era perigoso. Ele tinha razão, não tinha como negar esses fatos, mas não, ela não entraria em um carro onde ele, ou qualquer outra pessoa, dirigisse. Ela não teria controle da situação e não conseguiria evitar algum tipo de acidente, não mesmo. Contudo, Rony também não cederia, de forma nenhuma deixaria ela ir andando, sozinha, tarde da noite, até onde quer que ela morasse.

— Se você quiser pode me acompanhar até meu prédio, mas eu não vou entrar no seu carro. – Hermione sorriu tentando esconder o nervosismo, normalmente não precisava recusar passeios de carro porque... bem, porque todo mundo já sabia que ela não andava de carro.

Ela virou-se na direção oposta e começou a andar. Poucos segundos depois escutou os passos apressados de Rony que tentava alcança-la. Ele não entendeu muito bem a relutância dela em aceitar a carona, mas queria passar mais alguns minutos em sua companhia, então andou ao seu lado.

— Eu volto pra pegar depois. – Ele resmungou arrancando um riso vitorioso de Hermione.

Realmente a caminhada até o prédio da moça foi rápida. Ambos permaneceram em silêncio durante a maior parte do trajeto, dando tempo a Hermione para pensar.

Tinha amado ver Gina novamente, principalmente ver que sua energia continuava a mesma: sempre cheia de confiança na mesma medida de atrevimento. Amaria saber os detalhes da relação entre Harry, já que somente uma alma paciente seria capaz de entende-la e aceita-la do jeitinho que era. Os colegas do ensino médio lhe trouxeram um tanto de nostalgia, ao contrário da maioria aquela fora uma época memorável, uma lembrança agradável que levava em um espaço especial em seu coração. E um dos motivos disso estava ao seu lado.

Hermione o olhou pelo canto do olho. As borboletas em sua barriga não a deixavam mentir sobre os sentimentos que ele causava. Por que, apesar de todos aqueles anos e dos relacionamentos pelos quais passara, de repente ela se sentia com 15 anos novamente: apaixonada pelo melhor amigo? A resposta, embora simples, implicava assumir que ela não superara seu primeiro amor, afinal de contas.

— Parece que somos vizinhos de rua. – Ele falou chamando sua atenção e continuou diante a expressão de confusão no rosto dela. – Você mora na rua... 27 – Disse verificando a placa. – Eu moro 6 ruas acima, na rua 33: somos vizinhos de rua.

— Aaaah. Acho que era só questão de tempo até nos encontrarmos, então.

— Realmente.

Eles chegaram ao hall de entrada do prédio, onde o porteiro, Argo Filch, estava ocupado demais mexendo em seu celular para perceber qualquer tipo de movimentação.

— Eu achei que você não viria – Rony começou, se referindo ao seu aniversário. - Já estava pensando na mensagem que ia te mandar pra te fazer sentir culpada.

— Eu pensei em não ir – Ela respondeu, rindo do comentário anterior dele. - Não vou negar. Mas eu queria muito ver a Gina e principalmente conhecer o Harry, ele parece um santo.

— Tem que ser, pra aguentar minha irmã.

Ambos riram, ao que se seguiram alguns segundos de silêncio desconfortável.

— Então... – Rony começou. – Acho que vou indo... Obrigada por ter vindo.

— Não foi nada, feliz aniversário! – E pela segunda vez naquela noite eles se abraçaram.

Por um breve momento, Hermione sentiu vontade de chorar sendo envolvida pelos braços da pessoa que fez parte de um pedaço tão importante de sua vida. O cheiro dele era tão bom, um perfume tão doce e ao mesmo tempo tão forte. E ela se encaixava tão bem nele, mesmo sendo uma mulher alta nada se comparava a altura dele. Não queria sair dali nunca, mas eventualmente ambos foram se separando e, de repente, a energia do bairro acabou, deixando-os no escuro.