Hermione chegou em casa às 19:23 e não se surpreendeu ao encontrar Astoria Greengrass, sua melhor amiga e colega de apartamento, assistindo mais um episódio de 90 Dias para Casar do canal Discovery Home and Health.

Astoria Greengrass era uma das poucas amigas que Hermione mantivera. Elas se conheceram na primeira semana na universidade, fizeram dupla em uma disciplina optativa de Português e desde então eram inseparáveis.

Hermione tinha como objetivo aprender, pelo menos o básico, de todos os idiomas que pudesse. Astoria era filha de uma brasileira e um estadunidense, ela amava o sobrenome brasileiro da mãe, Cardoso, mas, infelizmente para ela, tinha que se contentar com o sobrenome do pai. Em casa a mãe tentava ensina-la tudo o que podia sobre português e o Brasil, mas era difícil competir com toda a influência do inglês para onde se olhasse.

A mulher dos cabelos em tranças box braids era alta, assim como Hermione. Esse mínimo detalhe fora essencial para fortalecer a amizade entre as duas, já que ambas se sentiam quase normais tendo uma amiga à altura, em um mundo onde a média de altura entre mulheres é de 1,60 m. Por muitos anos foi cotada por várias agências de modelo, chegando a fazer diversos trabalhos importantes, mas, colocando as coisas na balança, todo o glamour não justificava as restrições as quais era submetida.

Hermione estava cansada. Pendurou o casaco no cabideiro ao lado da porta e retirou os sapatos, colocando-os na sapateira embaixo do aparador. Espreguiçou-se enquanto caminhava ao encontro da amiga.

Não era à toa que Astoria sempre despertava a atenção de olheiros por onde quer que fosse, naquele dia em especial suas tranças estavam presas em um coque improvisado, a maquiagem por fazer, mas simples e o vestido vermelho a assemelhavam a uma Angel da Victoria’s Secret, pronta para a noite. Enquanto caminhava em direção ao sofá, Hermione considerou que a amiga sairia com o namorado, Draco Malfoy, mas, no momento em que sentou-se no móvel, de forma descontraída, lembrou-se do que prometera no início da semana passada.

Astoria só pareceu notar a presença da amiga quando ouviu o baque de uma bolsa sendo largada no chão e teve a imagem da televisão interrompida por poucos segundos. Encarou Hermione e disse:

— Está atrasada! – Hermione deu um longo suspirou, contava com a possibilidade da amiga ter se esquecido. – Temos que sair em vinte minutos. Melhor se apressar.

Hermione fez corpo mole se esticando no sofá.

— Hoje foi um dia longo. – Ela disse, se lembrando da reunião que tivera minutos atrás e de todas as horas que passara desenvolvendo seu projeto. – Estou cansada.

— Você prometeu que iria. Além disso, Draco me mata se você não for. – Astoria desligou a televisão e começou a andar em direção ao quarto, um claro sinal de que as desculpas de Hermione não valeriam de nada.

— São só alguns dias, não é como se Draco estivesse se mudando. – Em resposta ouviu o leve clique de uma porta se fechando. 

Derrotada, Hermione recolheu a bolsa do chão e foi ao próprio quarto. Jogou-se na cama por míseros dez segundos e começou a se arrumar. Não era mentira, estava realmente cansada. Fora ao café de Tris procurando paz e algo para se distrair, coisa que conseguira e, de bônus, ainda reencontrara um velho conhecido, trazendo um novo up ao dia, mas a última reunião fora maçante, fazendo com que os últimos acontecimentos parecessem distantes.

Não que ela não gostasse do emprego, muito pelo contrário. Nada nunca era cem por cento e dias como aquele, em que gostaria de dormir por 15 horas direto, eram comuns.

Ao sair do banho, encontrou Astoria mexendo em seu armário. A amiga parecia muito ocupada combinando peças na frente do corpo.

— Está escolhendo minha roupa, mamãe? – riu Hermione, sem achar graça. Astoria fazia esse tipo de coisa de vez em quando, quando queria que Hermione estivesse bem vestida. Não que ela não soubesse se vestir, Astoria apenas tinha uma boa mão para escolher as peças certas, mas esse tipo de comportamento sempre levantava suspeitas em Hermione.

— Na verdade, estou sim. – Ela respondeu sem hesitar e sem tirar os olhos do que fazia.

— O que você está aprontando? – Hermione se prostrou em frente à amiga.

— Eu? Nada, só estou te ajudando, vamos chegar atrasadas.

— Beleza, mas eu já decidi o que vou vestir. – Ela espantou Astoria para fora do quarto. – Estarei pronta em dez minutos.

Hermione detestava atrasos, por isso, dez minutos mais tarde saiu de seu quarto pronta. Ela também não gostava de exageros, assim, sua maquiagem leve fazia companhia ao cabelo solto e cacheado ao redor do rosto. Usava um vestido preto que modelava seu corpo deixando-a mais esbelta, que ia até um pouco abaixo do joelho. Nos pés, seu tênis branco favorito.

Elas estavam a caminho de uma espécie de despedida para Draco que passaria duas semanas fora da cidade. O rapaz iria participar de um curso de especialização na sua área de direito, por isso, Astoria insistiu na despedida, já que, depois do início do namoro, eles nunca ficaram tanto tempo separados.

Assim que eles chegaram, Astoria correu para os braços do namorado, como sempre fazia ao se verem. Hermione adorava aquele casal, após 3 anos juntos eles ainda agiam como adolescentes apaixonados, aquecendo seu coração com o carinho que tinham um pelo outro.

Astoria e o namorado se conheceram em um evento onde a moça trabalhou como modelo. Como gostavam de dizer: foi amor à primeira vista.

— Jurava que a Mione não ia aparecer. – Draco brincou, abraçando a amiga.

Draco Malfoy era filho de um dos mais importantes advogados do país, Lucius Malfoy e sua esposa, sempre reclusa, Narcisa Malfoy. Não foi nenhuma surpresa quando o rapaz seguiu os passos do pai. Sendo filho único a pressão sobre quem eventualmente assumiria o controle do escritório da família recaia toda sobre o loiro. No início foi muito difícil para Hermione aceitar Draco, ela não concordava com a maioria das atitudes de seu pai e consequentemente as associava ao filho. Ela crescera assistindo ao rosto do Malfoy mais velho na televisão nos processos mais relevantes e impactantes do país e desde então criou antipatia. Mas a verdade, felizmente, era que Draco não era nada como o pai e Astoria fazia questão de enfatizá-lo para quem quisesse ouvir.

Os amigos se encontraram no bar mais famoso da cidade, The Leaky Cauldron, onde podiam conversar, dançar, beber e ainda comer uma boa refeição. Assim que chegou Draco fez questão de pedir uma mesa, mas o local estava tão lotado, mesmo para uma quarta-feira, que os três precisaram esperar até que uma mesa ficasse disponível. Sentados no bar da área de espera jogaram conversa fiada.

Hermione bebia raramente, a não ser pelo seu fiel copo de vinho nas noites de sexta. Como exceção pediu ao barman um caipirinha, ou qualquer coisa que levasse limão, açúcar e álcool já que a bebida não era muito conhecida fora do Brasil. Além de aprender um pouco de português durante a faculdade, ela e Astoria passaram dois meses de férias no país, onde a mãe da amiga as fez prometer que tomaria a bebida por ela. Nenhuma das duas se arrependeu, é claro.

O bar estava especialmente barulhento, fazendo Hermione pensar no motivo de estar tão cheio no meio da semana. As pessoas apenas precisavam de uma distração em meio a semana estressante ou, quem sabe e mais provável, o lugar sempre era cheio, independente do dia da semana, ela não poderia saber porque não saia muito da rotina de trabalho-casa.

Há poucos segundos ela notara os olhares de um jovem muito bem vestido sobre o ambiente, ele parecia procurar algo ou alguém, um amigo ou uma namorada.

— O que foi? Você tá tão calada. – Astoria comentou, olhando na direção que a amiga olhava.

Hermione esperava qualquer coisa, menos que o casal sorrisse e começasse a acenar chamando a atenção do rapaz perdido até pouco tempo atrás.

— E aí gente! – os, aparentemente, amigos apertaram as mãos em um quase abraço, se cumprimentando. – Desculpe o atraso, acabei ficando no trabalho até mais tarde.

— O importante é que você conseguiu vir. – Draco deu algumas batidas nas costas do amigo. Em seguida, Astoria abraçou o rapaz, como se não visse um velho amigo há séculos.

— Finalmente Zabini deu a cara em nossas saídas.

Hermione observava a tudo calada, até que Astoria fez o favor apresenta-los.

— Mione, esse é Blaise Zabini, amigo de infância do Draco.

Blaise Zabini possuía um forte aperto de mão, que foi complementado com um singelo beijo galanteador no dorso da mão de Hermione. Astoria e Draco estavam aprontando, ela tinha certeza e precisou se segurar para não arrastar a amiga até o banheiro e exigir respostas. Mas não é o tipo de comportamento que Hermione costumava ter, ela não fazia esse tipo de coisas. Tinha certeza que eles estavam aprontando, seu pensamento foi endossado pela lembrança de Astoria, mais cedo, subitamente querendo escolher suas roupas. Mas, infelizmente, nenhuma prova que pudesse usar ainda.

Poucos minutos após Blaise se juntar a eles, o aparelho que foi dado a Draco na entrada do bar começou a vibrar e emitir um barulho baixo, indicando que a mesa deles estava pronta.

Os móveis do local tinham um estilo antigo onde as cadeiras são sofás e seus ocupantes se sentam de frente para o outro. Draco se sentou primeiro, ficando na parede, seguido de Astoria que ficou no lado do corredor. Blaise sinalizou para que Hermione se sentasse primeiro, ficando de frente a Draco e ele no corredor. Após se sentar, Hermione lançou um olhar mortífero para Astoria na esperança de que a amiga entendesse a raiva exalando por todos os seus poros, infelizmente o alvo de seus olhares se fez de desentendida, ignorando-a completamente.

Ok, Hermione, sua melhor amiga tentou te arranjar um encontro e agora está ignorando os seus pedidos de socorro, mas tudo bem, né? Ela pensou.

Não estava tão ruim assim. Eles fizeram seus pedidos e se concentraram em encher Draco de perguntas sobre suas expectativas para as próximas semanas.

Enquanto comiam e bebiam uma senhora passou vendendo rosas vermelhas e brancas, o loiro prontamente comprou três para a amada. Blaise se dispôs a comprar algumas para Hermione também, mas ela logo o cortou dizendo que não eram um casal, fazendo referência aos amigos. O rapaz, descontraído, rebateu dizendo que era apenas uma gentileza.

A partir desse momento Hermione começou a contar os minutos que faltavam para irem embora. Blaise não parou de falar nem por um minuto sobre si mesmo, partindo do seu atraso, se gabando sobre trabalhar na empresa do pai e o quão difícil era ser arquiteto porque o pai não confiava em sua liderança etc.

Enfim pediram as sobremesas e Hermione fez questão de chamar Astoria para acompanha-la ao banheiro, universalmente conhecido como hora das mulheres conversarem.

Assim que entraram a garota disparou:

— Se eu tiver que escutá-lo reclamando mais uma vez vou acabar enxotando-o para fora daqui! – Ela se certificou de que estavam sozinhas no recinto. - Eu não acredito que você fez isso comigo.

— Você tá exagerando, ele não é tão ruim assim.

— Beija ele você então. – Ela estava realmente irritada. – Não pedi para você me levar a um encontro às escuras. Foi pra isso que você me mandou bater a gilete na parede semana passada?

Astoria nem se incomodou com os comentários da amiga, mas tudo o que ela dizia era a mais pura verdade. Realmente convidara Blaise na intenção de apresenta-lo a amiga, um ato de desespero ao vê-la a mais de um ano sem se envolver com alguém.

— Eu sei que você não pediu encontro nenhum, eu só achei que seria uma boa oportunidade de conhecer pessoas novas já que você raramente sai com a gente. – Astoria envolveu a amiga em seus braços. – Você é jovem, linda e solteira: se dê uma chance as vezes. – Ela disse e foi em direção aos sanitários, deixando Hermione sozinha e indignada encarando sua imagem no espelho.

Astoria era uma ótima amiga, a melhor amiga que ela poderia querer, mas desde a época de faculdade insistia em arranjar encontros para Hermione, que nãos os queria. Até que ela fora apresentada a seu último namoro duradouro, estralando Cormaco McLaggen, por que Astoria tentava e tentaria se redimir pelo resto de sua vida de necessário. Mas não era culpa dela, como ela poderia prever o que aconteceu? 

Poucos minutos depois ambas retornaram à mesa, onde passaram mais 45 minutos escutando Blaise e ocasionalmente Astoria falar do mais novo projeto de seu trabalho. Assim que fecharam a conta, Astoria anunciou que iria com Draco, deixando Hermione em um beco sem saída com a oferta de Blaise para acompanha-la até seu prédio, mesmo após ela dizer que iria de metro, afinal: estava tarde e ela não deveria andar por aí sozinha. Nenhumas das uma milhão de maneiras de recusar lhe pareceram úteis, então ela aceitou, no final das contas ele estava certo.

O trajeto foi silencioso, Hermione não queria compartilhar nada com o rapaz ao seu lado e, finalmente, as crônicas dele pareciam ter acabado. O dia fora cheio e cansativo, refletindo nos pensamentos de Hermione que mal podia esperar por sua cama em seu quarto.

Apesar de tudo, ela não estava realmente chateada com Astoria por enganá-la parcialmente, a amiga tinha boas intenções, embora Hermione preferisse que ela tivesse intenções nenhuma.

Por pouco não perdera a estação de casa. O prédio ficava a cinco minutos da estação de metrô, nos quais Blaise permaneceu em silêncio até chegarem ao destino final:

— Obrigada por me acompanhar, mas como vê... – Hermione foi surpreendida pela aproximação do rapaz. Com sua experiência sabia qual era seu intuito, desviou o rosto a tempo dos lábios de Blaise atingirem apenas sua bochecha. – Boa noite, Zabini. – Categoricamente ela devolveu as rosas que ele havia comprado e deu às costas a ele, indo apressadamente para o apartamento.

Mais tarde, já deitada em sua cama, Hermione fez questão de mandar mensagem para a amiga:

Para Astoria

Eu te imploro, sem mais saídas de amigos disfarçados de encontro, por favor.

Pelo menos até o final do ano...

Ela sabia que a resposta não viria naquela noite, quando Astoria e Draco passavam algumas horas juntos o mundo inteiro poderia explodir que eles não perceberiam ou mesmo se importariam, mas Hermione tampouco se importou.

De Rony

Espero te ver amanhã

Three Broomsticks 19h

Rony

O reencontro com Rony parecia um acontecimento longínquo em sua mente, mas ela não pôde deixar de sorrir desejando que o dia seguinte chegasse logo. Pela primeira vez em muito tempo não teve vontade de cancelar um compromisso:

Para Rony

Não prometo nada...