Kalel - Dança de Sangue escrita por Natan Pastore


Capítulo 13
XI


Notas iniciais do capítulo

Espero que você tenha uma boa leitura :)



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XI

Lilithar, o Templo Profano.

Era noite outra vez no vale de Saylem. 

O céu estrelado nunca deixava de surpreender Ikram. Da varanda da biblioteca, ele parou a leitura de um livro sobre o processo de desertificação de Zalearas para admirar a lua cheia. O ciclo lunar do vale não funciona conjuntamente com o do resto do mundo, observou. A lua brilha diferente aqui.

Já era passada a hora da meia noite e ele estava sozinho no recinto. Uma brisa sutil soprava gentilmente e fazia as pastagens dançarem num movimento hipnótico, as flores e a relva uniam-se para formar um mar verdejante e agitado pela passagem de vento. 

Aproveitou a solidão para fazer uma vistoria nas bandagens que envolviam o abdômen. Despiu-se da camisa de algodão que vestia e estudou os curativos: estavam bem menos empapados de sangue do que anteriormente, sinal de que o corte já deveria estar praticamente cicatrizado. 

Com sorte, conseguirei manter essa cicatriz sem ser reaberta por um bom tempo, pensou. Nada acontece três vezes por coincidência.

Haviam outros ferimentos e hematomas que ele não lembrava com exatidão de como tinha ganhado. Um corte parecia acompanhar com precisão um dos elos da tatuagem do braço direito, outro latejava na panturrilha esquerda sempre que a forçava. Esse estava envenenado, definitivamente

Sentia ocasionalmente pontadas de dor atrás da cabeça, e só podia supor que eram resultado do desmaio que sofrera em combate nas Terras Desoladas. Muito tinha pensado sobre aqueles acontecimentos desde que chegaram ao Lilithar. Mudanças não eram incomuns na vida de Ikram, que sempre fora aberto à novidades, mas as experiências que testemunhara recentemente tinham conseguido deixá-lo intrigado… Até mesmo incomodado.

Primeiro: havia o vale de Saylem e o Templo que, se discutidos por mentes menos abertas do que a dele, não passariam de histórias. Mas ali estava ele, absorvendo o máximo de conteúdo que era capaz da biblioteca das bruxas. Segundo: havia Manto Negro, que tinha vindo do outro lado do mundo e chegado a Maerys numa velocidade assustadora. Além disso, Darius parecia estar escondendo mais coisas do que de costume. 

Terceiro: havia Kalel, cuja visão fora devolvida por magia. O Kalel que precisou acreditar que tinha perdido um irmão para corresponder aos seus sentimentos. Agora, ele andava distante e recluso, passava boa parte de seu tempo livre com Noken nos pastos verdes do vale. Era complicado.

Não há como entender nada sobre ele sem depois ficar ainda mais confuso

Torcia, sobretudo, para que não houvessem mais contratos em Maerys por algum tempo, para que pudesse regressar a Nakur. Só o ar puro de Hadbron já lhe deixaria muito mais sereno. A saudade de casa o afligia.

O som de passos sorrateiros atrás dele desviou-o de suas incertezas. Virou-se. Todrick.

Desde que despertara, Ikram tentava evitá-lo. Nem todo o tempo livre do mundo seria capaz de ajudá-lo a interpretar com clareza sua relação com Kalel… E Todrick era mais um empecilho em sua busca. 

Mas era um belo empecilho. Todrick vestia um tabardo púrpura que deixava os braços desenhados à mostra. O medalhão com a jóia verde pendia-lhe do pescoço, refletindo a luz da lua.

Os olhos verdes estudaram Ikram dos pés à cabeça. 

“Há uma ala onde cuidam dos feridos”, murmurou. Sarcasmo soava bem com o sotaque nortenho dele.

“Pensei que estava sozinho”, respondeu Ikram. Tomou cuidado para que seu tom não soasse agressivo. Todrick também era um Vastag… Eram uma irmandade.

O ruivo se aproximou:

“Como você está?”, sussurrou. 

“Melhor.”

Ikram virou-se de costas e apoiou-se no muro de magicita da sacada, esquivo. 

Uma ruga de expressão formou-se na testa de Todrick enquanto este tentava compreender as tatuagens nas costas do homem: haviam três círculos dentro de uma circunferência maior que era contornada por vários símbolos que pareciam uma forma de escrita rudimentar. Todos os traços culminavam em uma cascata que terminava em outra tatuagem na lombar de Ikram, mas que estava parcialmente oculta pelas bandagens.

Todrick se aproximou dele e sutilmente pousou a mão na circunferência do centro. Os pelos de Ikram eriçaram-se.

“As tatuagens… O que elas significam?”, perguntou.

Achava curioso o fato de não ter reparado nelas quando estavam os dois num quarto na Taberna da Encruzilhada. Lembrava-se bem das linhas unidas por elos no braço direito e da espiral que se curvava da coxa esquerda até o pé. Agradava-lhe pensar que Ikram era como uma tela onde se pintam as obras de arte. 

Ikram virou ligeiramente o rosto para o lado, seu olhar encontrava-se de raspão com o rosto esculpido de Todrick.

“Não sei o que significam”, respondeu. “Nem ao menos sei quando foram feitas.”

“Não foi você que mandou fazê-las?”

“Pode ter sido… Mas há coisas sobre mim que não consigo saber com certeza”, soava melancólico.

“Como o que você está sentindo agora?”, Todrick disparou. 

Ikram virou-se e encarou-o. Percebia agora que impulsividade era um traço consistente da personalidade de Todrick, e aquilo o deixava levemente incomodado. Mas era um incômodo tão pequeno… 

Os olhos de esmeralda olhavam de volta para os olhos cinzentos de Ikram, aguardavam uma resposta enquanto tentavam reprimir a latente sensação que sempre sentia quando ficavam próximos. 

As íris e as pupilas sempre foram aliadas de Ikram, não importava de quem fossem. Quanto mais alguém tentava esconder alguma coisa dele, mais seus olhos delatavam-na. E os olhos de Todrick revelavam o que ele relutava em dizer: ele não queria que aquele quarto de Taberna fosse um caso isolado, mas sabia das complicações que seguir em frente lhe traziam.

“Veja, Todrick…”, falou Ikram. “Desculpe-me por não ter falado com você antes… Tenho muito no que pensar.”

Todrick suspirou. Uma franja de cabelo ruivo caiu-lhe sobre a face.

“Eu entendo”, disse. “Estou ciente dos seus sentimentos por Kalel… E não serei eu que lhe impedirei de senti-los.”

“O que sinto por Kalel é mais do que desejo… Talvez até mais do que amor. Estivemos conectados por toda nossa vida… Mas nem sempre sabemos como expressar isso.”

Todrick ficou em silêncio.

O que estou fazendo?, pensou Ikram. Não é algo que deveria ter dito… Não soa certo. Não o via mais como apenas um taberneiro, ele era um Vastag e os Vastag se protegem. Sempre.

Ikram aproximou-se ainda mais de Todrick. A respiração leve e o perfume de madressilvas que exalava despertavam muitas sensações nele. 

Kalel foi meu passado, é meu presente e provavelmente será meu futuro, pensava. Mas talvez não da maneira que eu queira.

E Todrick estava ali. Com seus cabelos de fogo desarrumados e a barba rala que ele sabia que gentilmente pinicava ao toque. 

Havia algo nele, algo que notara desde a primeira vez que seus olhos avistaram-no atrás do balcão da taberna, mas que reprimia em meio a confusão que era Kalel. Era uma percepção tão única que ele achava que só poderia sentir vinda de Kalel, mas isso não era verdade. Memórias vieram à tona, os poucos momentos que tinham tido juntos foram agradáveis e reconfortantes como poucos outros já tinham sido. 

Lembrou-se do quarto na Taberna. Via a reflexão dessa recordação também nos olhos verdes que o fitavam. Não seja um tolo, disse para si mesmo. Não troque o que você pode ter agora por uma possibilidade num futuro incerto.

Sussurrando no ouvido de Todrick, Ikram disse:

“Dizem que homens nascem sem inclinação alguma para dividir”, falou. “Não acho que seja o nosso caso.”

Todrick sorriu e os lábios dos dois encontraram-se num beijo. Só tinham a lua no céu como testemunha. 

Alguns minutos depois, Todrick desvencilhou-se das carícias de Ikram e disse:

“Estou de partida do vale”, murmurou. “Tenho assuntos inacabados em Arachtor.”

O semblante de Ikram fechou-se, mas ele sabia de que não podia e nem deveria tentar impedi-lo de terminar o que quer que tivesse por fazer. 

Os dois colaram os rostos, testa com testa, como era a demonstração de afeto entre os Vastag.

“Só peço-lhe uma coisa”, Ikram falou. “Não me esqueça.” 

“Como eu poderia?”

“Como posso lhe ser útil, Melyria?”

As primeiras luzes do dia cintilavam sobre Cyrena e Melyria no topo da colina onde ficava o altar de Lilith. Um caminho de pedras que começava nas pastagens ao redor do templo e que serpenteava pela floresta dava acesso até a elevação do santuário. 

A colina, espremida entre as montanhas, era achatada e relativamente plana, garantindo um espaço considerável para que várias filhas de Lilith pudessem meditar ao mesmo tempo no local. Uma plataforma hexagonal com doze colunas de magicita - cada uma com um braseiro - servia de tapete para uma estátua de cerca de oito metros de Lilith. 

Rodeada por piscinas de águas claras e rasas repletas de ninfeias, a estátua imponente mostrava a deusa com seu véu de estrelas, a Coroa Lunar na cabeça e uma esfera que representava a lua na mão esquerda. Espantava Melyria ver que o monumento, mesmo com seus vários séculos de existência, não fora afligido de forma alguma pelo tempo, permanecia perene e intacto contra as intempéries naturais. 

Ainda mais deslumbrante que o santuário era a vista atrás da imagem da deusa: o Templo, cuja base fora feita no sopé do prolongamento de algumas montanhas que chegavam até o centro do vale, majestoso como sempre, o rio serpenteando entre as pastagens e campos de flores e a floresta ao sul. Suas árvores escondiam parcialmente o lago dos pesares e o mirante. 

Cyrena estava sentada em um dos últimos degraus da plataforma. Melyria a fitava do início da escadaria.

“Desde a Ascensão… Há um sonho que se repete todas as noites”, disse. “Esperava que você pudesse ajudar-me a interpretá-lo.”

A Alta Feiticeira não mostrou nenhuma reação, o semblante mascarado a inibia. 

“E o que é que você vê enquanto dorme?”, respondeu. 

Melyria subiu alguns degraus e sentou-se ao lado de Cyrena, mas há uma distância suficiente para que demonstrasse que sabia que não eram tão próximas e que deveriam manter as cortesias. Por hora.

“Sonho com a casa em que morei nas Planícies Aráveis”, falou. “Estamos todos comendo juntos quando, subitamente, o mundo escurece e se incendia… Estou então sozinha e a realidade torna-se… Estranha.”

“Estranha?”, indagou Cyrena. 

“Sim”, respondeu Melyria. “O céu transformou-se uma paleta de cores serpenteantes, e o mesmo lugar era claro e escuro ao mesmo tempo… Os campos de trigo pareciam evaporar e crescer, as casas e as carroças brilhavam e eram translúcidas… E criaturas feitas de sombra e pesadelo rasgavam os céus e pisoteavam as plantações.”

Instantes se passaram e Melyria não obteve resposta. 

“Algo me diz que você esperava por esse momento, certo?”, disse. 

“Tinha expectativas, sim… Mas o vislumbre que tive dessa conversa não estava completamente amarrado aos fios do destino”, Cyrena explicou. “Essas visões acontecem com algumas de nós… Aquelas cujo Toque é mais latente.”

Cyrena persiste em dizer que a bênção da Deusa é forte em mim, pensou. Mas dias se passaram e minha magia continua desprezível.

“Este lugar com que você sonha é chamado de Enor”, continuou. “É um espelho de nosso mundo… Ou talvez nosso mundo seja um espelho de Enor… Mas o que é sabido é que é de lá que toda a magia flui para cá. Há coisas dentro da dimensão mágica cuja nossa compreensão é muito simplória para compreender.”

“E por que eu sonho com este lugar?”

“Acreditamos que Enor opere tal qual um organismo vivo”, a Alta Feiticeira respondeu. “Conforme você mergulha cada vez mais fundo em nossas práticas, ele o chamará mais e mais… Mas os sonhos costumam cessar no momento em que você torna-se ciente da existência de Enor.”

Um reino temperamental, ironizou Melyria. 

“Você também teve esses sonhos?”, ela questionou.

Cyrena assentiu com a cabeça e disse:

“Quando eu era jovem como você e a magia era mais forte.”

“Por que a magia está enfraquecendo?”, indagou Melyria.

A Alta Feiticeira levantou-se e fez sinal para que Melyria a acompanhasse. As duas passaram pela estátua de Lilith e atravessaram o caminho entre as piscinas, parando para apreciar a extensão do vale. De montanha a montanha, uma brisa fresca esvoaçava os cabelos e vestes das bruxas.

“Não é a magia que enfraquece”, Cyrena começou. “A magia é uma energia incessante e contínua… Existiu antes de nós e ainda existirá quando a última memória de nossa existência for esquecida.”

“O poder vindo dela é ilimitado”, refletiu Melyria. 

Cyrena suspirou:

“De fato… Mas a própria natureza toma precauções para que este poder não desequilibre a harmonia do universo. Por isso, a magia só pode adentrar nosso mundo através dos seres que aqui habitam… Como nós.” 

Melyria franziu o cenho. Era um misto de curiosidade e dúvida.

“Então… Onde não há vida, não há magia?”

“É como parece ser o funcionamento das coisas”, concordou Cyrena. “A vida, da mesma forma que a magia, é uma energia… E essas duas andam eternamente atreladas.”

“Não seria a magia, então, refém da vida?”

Melyria captou de relance uma arqueação rápida das sobrancelhas da Alta Feiticeira. Tinha sido um dos primeiros sinais corporais que ela percebera no semblante de Cyrena desde a ascensão. 

“A vida é muito mais escassa do que a magia… É raríssima. Isto é um problema para Enor, cuja principal função é jorrar sua energia para este mundo. Por isso, Enor é capaz de dobrar as leis da natureza e criar ambientes propícios para que a vida surja… Como é este mundo.” 

Melyria olhou para o céu. Haveriam outros lugares como este entre as estrelas?

“É um vínculo”, disse. 

Cyrena assentiu:

“E a este vínculo damos o nome de Díade, é o princípio básico da natureza: Não existe vida sem magia, e nenhuma magia perdura sem vida.” 

Ela ainda não respondeu minha pergunta, observou. Ficou calada por mais alguns segundos, ouvindo o farfalhar das folhas, o sopro do vento e o cantar dos pássaros. 

“Deve-se entender a Díade como uma própria lei da natureza”, Cyrena seguiu. “E leis da naturezas não podem ser quebradas… Ou ao menos não deveriam ser. E é isto que está acontecendo agora: outra energia tenta se impor entre o vínculo da magia e da vida, o que as torna cada vez mais afastadas.”

Outra grandeza tão poderosa quanto a magia e a própria vida, Melyria ponderou. O que poderia ser tão imponente?

“E o que é que se intervém na Díade?”, perguntou.

A Alta Feiticeira refez os passos que já tinha caminhado e voltou para a frente da estátua da Deusa. 

“Essa é a grande dúvida”, falou. “Nossos esforços para achar uma resposta foram todos em vão… E quanto mais essa força desconhecida se interpor entre as energias da Díade, mais difícil será para nós extrair magia do Enor.”

“Há uma possibilidade, então, de que fiquemos totalmente sem magia?”, Melyria questionou.

“Não”, respondeu Cyrena. “É aí que a Deus torna-se ainda mais importante… Diga-me, por que você acha que Lilith é uma deidade para nós?”

Melyria levantou o rosto e encarou os olhos inexpressivos da estátua. Os aros da Coroa Lunar formavam um complexo desenho de curvas e círculos num padrão belíssimo. Mas nenhum deles traria-lhe a resposta para essa pergunta. Por que caberia a mim questionar a divindade de Lilith?

A Alta Feiticeira interpretou a incerteza na face de Melyria e prontamente explicou:

“Lilith poderia ter sido uma bruxa como você e eu”, disse. “Mas em algum momento de sua vida ela se tornou uma com a natureza… Uniu-se a Díade. Daquele momento em diante, Lilith tornou-se tão poderosa quanto Enor, também capaz de produzir sua própria energia mágica e jorrar para este mundo… Em menor quantidade.” 

É como diz o Cântico da Deusa da Lua, Melyria recordou-se da prece que as Lilithares recitavam mentalmente em momentos de indecisão ou de medo, era um mantra para elas. Mesmo que caminhe em floresta densa, não temerei o que espreita no escuro, porque a natureza é uma comigo e uma sou com a natureza, como é a Lua num céu sem estrelas

A conversa entre mestra e aprendiz acabara ali, mas Melyria continuava com várias perguntas a serem respondidas. 

Conforme ia se aprofundando na vida como Lilithar, dúvidas e arrependimentos de sua vida loriana tornavam-se borrões nas névoas do passado, mas havia algo que insistia em não abandoná-la.

Era a fagulha da transformação. Uma faísca que incendiara a reviravolta que o destino tinha traçado para sua vida, a transição de camponesa de Lor para bruxa de Lilith. 

Não se esqueça do que a trouxe até aqui e de quem a trouxe até aqui, relembrou. E eram justamente essas memórias em que se apegava que tanto lhe afligiam. 

Enor mostrava-lhe Makael, o pai e a mãe mas parecia ignorar o Alto Sacerdote e o Carrasco na Prisão Inferior. Mas tinham sido eles, especialmente Elir, que, não intencionalmente, arrancaram-na da vida das colheitas e a incitaram no Caminho da Lua. Ela sabia agora que o ódio e o desejo de vingança que sentia contra os fanáticos pelo deus loriano tinham sido os responsáveis por fazer o Toque da Deusa dentro dela ser notado pelas Lilithares.

“Suas emoções afetam sua magia como o fogo queima a palha”, dissera-lhe Antilaj. 

E foram elas que inflamaram o Toque, sinalizando-o para qualquer um que fosse capaz de interpretá-lo. E era aí que a dúvida persistia. Por que, dentre todas as mulheres lorianas, fui eu a acusada por bruxaria?

Esse questionamento estendia-se para um leque de outras perguntas. Teria Elir escolhido-a aleatoriamente? Ou talvez o Alto Sacerdote fosse capaz de perceber a natureza bruxa dela… Mas então… Quem realmente era esse sacerdote? Tudo poderia ter sido fruto de desavenças entre os Lestaire e a Fé de Iseus, mas isso não fazia sentido. Sempre fomos tão devotados a Iseus quanto qualquer loriano deveria ser

E como Melyria agora pensava que aquilo era patético. Interpretando a religião loriana com os olhos de um estrangeiro como viam as Lilithares, era capaz de perceber como os sacerdotes e a família real utilizavam da Fé de Iseus para manter sua população controlada e submissa. Transformaram Lor numa sociedade de alienados, escravos de sua divindade. 

Por outro lado, podia notar alguns aspectos em comum entre a Fé de Iseus e a adoração da Deusa, o que a tinha feito receosa por alguns dias após a ascensão. Não estaria ela metendo-se em outra crença de fanáticos? Tinha construído essa linha de pensamento conforme as bruxas lhe introduziram na chamada ciência dos povos, que estudava as organizações políticas e sociais do mundo. 

 Isso a incomodou e seus questionamentos chegaram a Antilaj, onde foram sanados. 

“Lembre-se, demos-lhe uma escolha… E você é livre para desfazê-la”, Antilaj tinha dito. “Mas posso lhe garantir: Lilith é muito mais verdadeira do que o deus falso jamais será.”

E ela estava certa. Aleril, a ascensão, o poder do lago dos pesares, os luminescentes, a magicita, o rio em Saylem, tudo aquilo era verdadeiro e originava-se em um ponto comum: Lilith.

Com o coração apaziguado, Melyria desceu a colina do altar e encaminhou-se ao Templo. À casa.


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Notas finais do capítulo

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