A Primeira Ressaca... escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Uma Muito Feliz, Falante e Bêbada Elena


Notas iniciais do capítulo

E vamos de Elena...
Boa Leitura



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Hank tinha acabado de dormir, Savannah estava descansando já que ela pegaria o turno da manhã, assim, eu já estava pronto para me deitar quando meu celular começou a tocar.

— Um caso agora? – Minha esposa me perguntou.

Olhei o visor, era Elena. Observei a hora, meia noite e meia. Achei estranho.

— Elena, está tudo bem?

— Tiiiiioooooo DDDDDDD! – Ela parecia estranha, fala enrolada e feliz demais.

— Elena, o que aconteceu?

— Eu... eu precisoo da suaaaaa ajuda! Você podeeee fazer issssooo?

— Elena Prentiss-Hotchner, você está bêbada?

Ela ficou em silêncio. Por muito tempo.

— Não sei... nunca bebi antes.... qual é a sensação?

Savannah que estava ao meu lado me olhava espantada.

— Little Princess, onde você está?

— Sabe aquela rave...

— Sei.

— Aqui. Só que isso é muito chatoooooooo. Aí... só fiquei para valer o ingresso. Como água não vende aqui, ou eu não achei, não sei. Tomei um drink.

— Com álcool?

— Me disseram.... me disseram que era sem... – Ela falava aos arrancos.

— Me espere aí que eu vou te pegar. Você está sozinha?

—  Na, na, ni. Na não. Liz também veio. Tô na porta, te esperandoooooo. – Ela falou.

Desliguei o telefone e fiquei olhando para ele.

— O que Elena falou?

— Ela está em uma rave, completamente bêbada. Liz está lá também.

— A primeira noite de bebedeira dela. Hotch e Emily vão dar um treco.

— Eu tenho que falar para o Hotch, Elena vai me odiar por isso, mas eu tenho que fazer.

Me troquei o mais rápido que consegui e assim que entrei no carro, liguei para Hotch.

— Hotchner.

— Hei, Hotch, boa noite.

— Derek? Aconteceu alguma coisa?

— Bem, sim. Elena acabou de me ligar, ela está em uma rave. Completamente bêbada.  Não sei os motivos ainda, mas estou indo pegá-la e vou deixá-la aí.

Escutei Hotch respirar fundo e Emily perguntar o que estava acontecendo.

— Pode deixar que eu vou.

— Não, ela ligou para mim. Eu vou buscar, já estou a caminho.

— Obrigado, Derek. Fico te devendo essa.

— Não precisa, ela é minha sobrinha, Hotch.

A ligação foi encerrada e eu sabia que Elena estava encrencada.

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— Quem era?

— Derek.

— Aconteceu algo? – Perguntei alarmada olhando para o relógio.

— Elena.

— O que ela aprontou agora?

— Está bêbada, em uma rave.

— Mas ela disse que ia para a casa de uma amiga...

— Elena mentiu.

Passei a mão nos cabelos, Elena só podia estar brincando com a nossa cara.

— Dessa vez ela vai ficar de castigo de verdade, Emily. Ela não vai sair de casa até o dia em que formos deixá-la em Yale. – Aaron estava furioso.

Foi então que algo passou pela minha cabeça.

— Eu tenho uma ideia.

— Que ideia, Emily, vai deixá-la sair ilesa de novo, igual ao baile de inverno?

— Não. Nós vamos fingir que não sabemos o que ela vai passar, e bem cedo vamos acordá-la e tirá-la de casa. Se ela não quer que saibamos onde estava, ela não vai falar nada, mas como ela está bêbada hoje, vai amanhecer com uma ressaca horrível, e como é a primeira...

Aaron me olhou.

— Ela não vai estar aguentando nada.

— Não, não vai. E nós vamos perturbá-la até que ela admita onde esteve. O que você acha de chamar todo mundo e fazer um churrasco?

— Por mim tudo bem.

— Ótimo. Eu vou levar a Elena no supermercado comigo, vou escolher o mais longe para que ela possa ficar bem enjoada... – comecei a planejar.

— Nunca mais ela vai fazer algo assim na vida. – Aaron falou, se sentando na mesa da cozinha. Íamos esperar por ela acordados, só para garantir que ela entrasse bem e segura.

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Por todo o caminho eu fiquei pensando no que levou Elena a fazer isso e, principalmente, como ela entrou em uma festa que só maiores de 18 anos eram permitidos.

Não demorei para chegar e assim que a avistei, sentada com uma cara muito estranha, parei o carro, logo à frente, reparei que tinha um outro carro, e que Elizabeth estava escorada na porta.

— Elena! – Desci e chamei.

— Tio D! – Ela se levantou rápido demais e quase caiu de cara no chão.

— O que aconteceu aqui?

— Muuuiiitaaa coisaaaa. Demaaaaisssss.

Dei uma olhada para o outro carro e só então percebi que era DiNozzo quem estava parado ao lado de uma Liz que estava passando muito mal.

— O que vocês duas beberam? – encarei Elena e ela me olhou de volta, seus olhos castanhos, geralmente brilhantes e claros estavam opacos e sem foco.

— Algo chamado Fada Verde. Era tão bom.

Eu sabia a ressaca que isso dava. Emily, Penelope e JJ ficaram dias com dor de cabeça por conta dessa bebida.

— O quanto você bebeu?

Elena parou para pensar.

— Liz, o quanto a gente bebeu? – Ela gritou para a amiga ruiva.

Elizabeth levou a mão à cabeça e gritou de volta.

— Pare de gritar. Minha cabeça tá explodindo. E eu não sei o quanto bebemos. Você disse que não tinha álcool.

Elena se voltou para mim.

— Ela também não sabe. – Sorrindo apontou para a amiga que vomitava.

— Eu ouvi, Elena.

DiNozzo me acenou dizendo que iria levar a ruiva embora.

— Vamos, Elena. Eu vou te levar para casa.

Ela coçou a cabeça.

— Tio D. Eu preciso passar na tia Pen primeiro, minhas coisas estão lá.

— A Penelope sabe disso?

— Sim, ela nos deu cobertura e a Abby fez a identidades falsas que usamos para entrar. Só não fala para ela que eu te falei.

Ao que parece o álcool faz a Elena ficar falante.

— Aconteceu algo que eu não saiba?

— Nada. Festa ruim, povo feio, cambada de homem feio dando em cima de mim, mesmo eu falando que tinha namorado. E eu estou com saudades do Chris. – Me respondeu em um fôlego só.

— Você está passando bem?

— Tô... tá ruim para andar, mas acho que o terreno lá era péssimo.

Tudo era asfaltado e sem buraco.

— Você percebe que está bêbada, Elena?

Ou ela não me ouviu ou me ignorou completamente.

— Olha, aquela nuvem parece o Meow!

— Quem?

— O Meow, do Pokémon!

— O que é isso?

— Tio D! Um anime. Tem até um app para poder jogar, você caça pokémons nas ruas e luta nos stadiums, até que vira um mestre Pokémon.

Ela colocou a cabeça para fora da camionete.

— Elena volta para dentro.

Ela não me ouviu e tirando o cinto, se sentou na janela.

— Jack, eu estou voando, Jack! – Ela gritou da janela.

— ELENA entre agora! – Puxei a perna dela.

— Credo tio D, também não é assim. Só estava imitando a Rose...

Era inacreditável que o álcool tenha deixado Elena ainda mais falante e corajosa.

Ela voltou para dentro do carro, afivelou o cinto e inclinou a cabeça para a janela, olhando o céu.

Achei que ela fosse apagar, mas do nada, ela começou a cantar:

“Preparem-se para a encrenca!
Encrenca em dobro!
Para proteger o mundo da devastação!
Para unir todas as pessoas de nossa nação!
Para denunciar os males da verdade e do amor!
Para estender o nosso poder às estrelas!
Jesse!
James!
Equipe Rocket decolando na velocidade da luz!
Renda-se agora ou preparem-se
Para lutar!

MEOW!!!”— Ela gritou no fim.

— O que foi isso?

— O lema da Equipe Rocket!

— De quem?

— Pokémon, tio! Pokémon. Aquela nuvem ainda se parece com o Meow!

Ela estava muito pior do que eu poderia imaginar.

Resolvi deixá-la recitando nomes de Pokémons e liguei para Garcia.

— Fala meu Trovão de Chocolate.

— Preciso que você arrume as coisas da Elena. Eu estou passando aí com ela para poder pegá-las.

— O que aconteceu?

— Ela está bêbada e duvido que vá lembrar dessa noite um dia.

— Como ela está?

Voltei a minha atenção à minha sobrinha, agora ela cantava outra música.

— Isso é o tema de Dragon Ball?

— Eu não sei, Penelope!

— Acho que é. Eleninha do nosso coração está mais alta que o Everest. – Ela ria.

Eu só conseguia pensar em como Emily e Hotch iriam resolver isso!

Quinze minutos depois eu parava na porta de Penelope.

— Tony e Lizzy acabaram de passar por aqui. Liz não tava nada bem.

— Essas duas passaram dos limites hoje.

— TIA PEN!!! – Elena gritou de dentro do carro! – Quantooooo tempooooo! Você vai me visitar quando eu for para Yale?

— Não dá papo, ela tá completamente desorientada com os assuntos.

Penelope acenou para Elena, tentado segurar a risada.

— Amanhã ela vai estar com uma ressaca dos infernos. Posso perguntar uma cosia?

— Você sempre pode, babygirl.

— O que ela tomou?

— Fada Verde.

— Meu Deus! Vai durar uma semana! Eu vou avisar a Emilly! Ela tem que ajudar nessa ressaca!

— Acho que as únicas coisas que Emily e Hotch vão ajudar é em fazer o dia da Elena ser um inferno. Olha a mensagem.

Churrasco amanhã aqui em casa. Começa às 09:30.

— Isso é maldade com a pequena. Todos nós já passamos por isso! – Pen protestou.

— Eles são os pais, Deusa. Deixe que eles cuidem disso.

— TIO D!!! Eu preciso fazer xixi!!!

— O álcool fez dela falante. – Informei para uma assustada Garcia.

— Igualzinha à mãe! Emily também fica assim!

— Então acho que Hotch já sabe lidar com isso.

— Espero que sim, Trovão de Chocolate. Te vejo amanhã no churrasco?

Dei uma olhada para Elena que nem sabia que o pior estava a caminho.

— Pode apostar nisso. Apesar de desconfiar que vou ficar pajeando ressaca de adolescente.

Garcia me deu um beijo e entrou.

— TCHAU TIA PEN!!!! – Elena gritou e acordou metade do prédio.

Mais dez minutos e eu estacionava na porta dos Hotchners.

— Tio D, você é demais. Livrou a sua sobrinha preferida de ser morta por um serial killer!

— Como assim, Elena.

— O motorista do Uber tinha a maiooooooorrrrr cara de psicopata. Por isso eu te liguei. Não queria morrer hoje. Eu tinha certeza de que ele ia nos trancar na parte de trás do carro e nos fatiar com uma serra elétrica! – Ela falou abrindo a porta. – Mesmo assim, obrigada. Sabe que eu te amo e que você é o meu tio preferido, né? – Ela terminou falando mais enrolado do que nunca.

— Sei sim, little princess.

Então Elena se inclinou e me deu um beijo na bochecha.

— Fico te devendo essa! – Ela buscou pela bolsa e a jogou pela porta. – Boa noite e dê um beijo no Hank por mim.

Fiquei observando ela olhar para fora.

— Merda.. tinha esquecido que essa pick-up é alta pra caramba! – Colocou um pé para fora e sem pensar, se jogou, vindo a cair de cara na bolsa que já tinha jogado.

Com um pulo ela ficou de pé e gritou que estava bem, que não tinha machucado.

— Pode ir, Tio D! – A garota mais bêbada e alegre ao mesmo tempo que já vi fechou a porta do meu carro e se virou para a casa.

Com passos incertos vi ela caminhar a curta distância entre a calçada e a porta da frente. De alguma forma parecia que ela ia cantando e dançando.

Balancei negativamente a cabeça, ela teria uma tremenda de uma ressaca no outro dia. Foi quando me lembrei de avisar aos pais da feliz e muito bêbada Elena que ela estava tentando entrar em casa.

Elena já está na porta, não sei quanto tempo ela vai demorar para abri-la, mas, tirando que esta tonta igual a um gambá, ela está bem.— enviei para Emily e torci para que nem ela, nem Hotch brigassem muito com a filha.

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Recebi a mensagem de Derek ao mesmo tempo em que escutava passos na entrada.

— Ela chegou. – Informei para Aaron que encarava a porta. – Derek disse que ela está muito bêbada, mas está bem.

— Vamos para a cozinha e ver o que ela vai aprontar.

Os passos de Elena ficaram mais altos e parecia que ela está dançando e cantando alguma coisa. Olhei para meu marido e ele me olhou desconfiado.

— Desde quando uma bêbada é para estar tão feliz? Será que a bebida ainda não fez efeito? – Ele me perguntou.

Dei uma olhada pela janela da sala, e vi Elena, quase já na porta, ela dançava, descoordenadamente e rodando a bolsa. Demorei, mas reconheci a música que ela cantava embolado.

— O que ela está cantando?

Shake it off da Taylor Swift. – Respondi assim que ela atingiu os degraus da entrada e tomou um tombo, caindo de joelhos.

— Sabe o maior problema, nem podemos dizer que isso é 100% efeito do álcool que ela bebeu, Elena é destrambelhada por natureza.

Aaron observou a filha se levantar e ainda cantando o refrão da música, achar a chave da porta.

— Essa é sempre a pior parte... – Ele comentou. – Não saber como encaixar a chave na fechadura.

— Então o senhor já ficou nesse estado?

— Quem nunca ficou?

— E quer arrancar o couro da Elena?

— Quero ver ela sofrer bastante com a ressaca para aprender duas lições: nunca mentir e nunca nos esconder o que ela está fazendo.

Elena cantava feliz na porta enquanto tentava encaixar a chave na fechadura, depois de uns cinco minutos, escutamos:

— Eita... se você for ficar dançando no ritmo da música que eu estou cantando, eu nunca vou entrar em casa! Coopera com a minha causa, fechadura!

Eu não sabia se abria a porta ou se eu ria da situação.

— Então Elena é a bêbada feliz! – Aaron disse rindo. – Que Deus tenha piedade da ressaca dela amanhã.

Levou mais dez minutos e Elena conseguiu abrir a porta, nós dois nos sentamos no sofá da sala e esperamos, para ver se ela iria nos notar.

Elena passou batido pela sala, jogou a bolsa na escada e foi para a cozinha.

— Eu tô com uma fome monstruosa! – Disse sozinha.

Vimos ela abrir a geladeira, comer o que quer que ela tenha encontrado. Pegar duas garrafas de água e cambaleando chegar ao pé da escada.

— Essa coisa é maior do que eu pensava. Credo! – Ela se sentou no primeiro degrau e esfregou a cabeça. – Nem Os Vingadores me salvarão dessa dor de cabeça enviada por Thanos!

Aaron olhou espantado para o comentário da filha e fez menção de se levantar para ajudá-la. Eu tinha a impressão de que ela iria dormir por ali mesmo, contudo ela se levantou de uma vez, deu dois passos para frente e se virando para a escada, depois de pegar a bolsa, apenas disse:

— Você não é páreo para mim! – Apontou para a escada e começou a subi-la.

— Ela vai cair... – Aaron me avisou.

Elena cambaleou e cada um dos degraus, xingando baixo quando quase caía, porém chegou sã e salva ao segundo andar.

— Pelo visto é verdade o ditado: Deus protege os idiotas e os bêbados. – Comentei.

Ouvimos nossa filha xingar qualquer coisa em russo, logo deduzi que era a cama.

— Alguém chutou o pé da cama... mas meu maior medo é ela apagar debaixo do chuveiro...

Ficamos uns dez minutos na porta, a luz ainda acessa e nada de Elena comentar nada.

— Você vai para nosso quarto, eu vou checá-la. – Avisei para Aaron e devagar abri a porta do quarto.

Elena estava no banho, as coisas que ela usou amontoadas em um canto, ela já não cantava mais, apenas reclamava da dor de cabeça que estava começando. Escutei-a desligar o chuveiro, torci internamento para que ela não escorregasse e quando a porta do banheiro foi aberta, eu fechei a do quarto.

Os passos incertos da minha muito bêbada filha ecoaram no quarto e em pouco tempo a escutei desmoronar na cama.

— Pelo menos ela conseguiu chegar até aqui sem vomitar. – Pensei comigo mesma ao abrir a porta para poder ajeitá-la na cama.

Elena estava atravessada, tive que virá-la e colocar a cabeça dela de lado e no travesseiro, por via de dúvidas, coloquei a lixeira da escrivaninha perto da cama, eu não sabia o quanto ela tinha bebido e nem se ela iria passar mal, mas não custava evitar e antes de sair, dei um beijo na testa dela e falei:

— Você não perde por esperar o que eu vou aprontar com você amanhã.

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Eu não faço ideia de que horas são. E nem sei como eu vim parar no meu quarto. A única certeza que eu tenho é que tem um DJ tocando uma batida dentro da minha cabeça!

— Céus! O que é isso? – Virei para o outro lado. E isso foi uma péssima ideia, minha cabeça rodou, meu estômago embrulhou e eu só tive tempo de jogar as cobertas para o lado e correr para o banheiro.

— Eu vou morrer. Isso deve ser castigo por ter ido a uma festa sem falar com ninguém.

Tentei me levantar, mas minha cabeça estava pesada, meu corpo dolorido, eu tinha arranhões nas mãos e nos joelhos.

Eu caí? Aonde?

Voltei arrastando para o quarto, procurei pela minha bolsa. Tudo meu estava ali e eu nem lembrava de ter visto a tia Pen.

O que eu bebi?

Estava sentada no meio do quarto olhando para nada em particular, apenas tentando fazer com que meu cérebro me desse as informações que eu precisava.

Não vinha nada. Estava tudo branco. Totalmente apagado.

— Meu Deus! Eu fui abduzida!!!

Ouvi passos no corredor. Não tinha como eu correr até a cama, mas fiz o meu melhor. Assim que consegui me jogar na cama, – e minha cabeça deu outra rodada. – mamãe entrou no meu quarto.

— Bom dia! Achei que você passaria a noite na casa da minha xará!

Eita... minha mentira quase tinha sido descoberta.

— Ela começou a passar mal com algo que comemos, resolvi vir para casa. – Inventei.

— E você está bem?

— Eu tô ótima. – Menti de novo e minha cabeça latejou. Estava aprendendo que karma realmente existe.

— Isso é muito bom. Seu pai resolveu fazer um churrasco para toda a equipe hoje, preciso ir ao supermercado e preciso de ajuda. Levante, se troque e vamos tomar café da manhã. – Ela disse feliz e à menção ao café da manhã tive outra ânsia de vômito.

Sem poder falar, para não chamar o Hugo bem na frente de mamãe, apenas balancei a cabeça em afirmativo e resolvi me levantar devagar.

Ela não tinha fechado a porta e eu voei para o banheiro. Ia ser um longo dia. E eu tinha acabado de descobrir que o tal do fada verde, por mais gostoso que tinha sido bebê-lo era uma porcaria de bebida alcoólica.

Me olhei no espelho, eu estava péssima. Como eu vou esconder isso da família inteira?

Arrumei tudo, escondi as evidências da festa – quando foi que meu converse virou um lixo? – e desci.

Papai tinha feito panquecas. Daquelas bem grossinhas e com gotas de chocolate.

Normalmente eu voaria no máximo que eu conseguiria comer. Hoje eu queria era ficar longe.

— Bom dia, filha! – Ele tinha um lindo sorriso no rosto. O poderoso Aaron Hotchner tinha levantado de muito bom humor.

— Bom dia, pai! – Cumprimentei-o com um beijo no rosto e peguei uma garrafa d’água. Minha boca estava seca igual a papel.

— Que arranhões são esses nas suas mãos? – Ele observou.

E agora!?

— Pai, o senhor sabe muito bem que eu vivo caindo... não me lembro de todos os tombos que tomo, né? – Falei e fiquei pensando que aquilo era realmente verdade, eu não sabia de onde era isso.

Ele deu uma risada.

— De quem você puxou isso? – Ele perguntou.

— Não foi de mim! – Mamãe chegou por trás dele e deu um beijo na nuca dele. – Panquecas especiais para comemorar a última semana de Elena como veterana no Ensino Médio! – Mamãe pegou um prato e colocou umas três panquecas para mim.

Encarei aquilo. Meu estômago nervoso, rodava tanto que eu achei que ele sairia de dentro de mim portando uma faca e correndo atrás da minha mãe por ousar por aquele prato na minha frente.

O problema é que eu tive que comer. As três panquecas, e eu não sabia como iria manter tudo aquilo dentro de mim.

Logo que mamãe achou que eu estava satisfeita, ela se levantou da mesa e foi até papai, perguntando algo sobre o que ela precisava comprar. Segui a deixa e corri para o banheiro do meu quarto com a desculpa de que iria escovar os dentes e pegar os meus óculos escuros.

Desci dez minutos depois, com a cabeça doendo ainda mais e certa de que eu não sobreviveria a esse dia.

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— Eu até te ofereceria para dirigir, Elena, mas você ainda tem que refazer o exame de rua. – Mamãe começou ao lado do carro. E pela primeira vez eu agradeci o fato de ter trocado os pedais do meu carro automático e ter entrado dentro de uma farmácia. Eu não tinha condições de abrir os olhos mesmo de óculos escuros, imagina de dirigir?

Achei que íamos no supermercado do nosso bairro, mas não, mamãe dirigiu por quase meia hora até um supermercado todo gourmet. Eu pouco me importava onde estava, eu precisava descer daquele carro com urgência ou iria sujar o carpete.

Acho que alguém lá em cima estava brincando comigo, pois minha mãe levou quase uma hora para poder fazer as compras. Eu mal me aguentava de pé e ainda tinha que empurrar o carrinho.

Quando ela estava satisfeita com a lista e com o que tinha comprado a mais – ela me deu uma barra de chocolate belga cara pra caramba – seguimos para o carro.

A parte dois do meu suplício começava agora.

— Filha, você tem certeza de que está bem? Tô te achando um tanto pálida. Você não comeu as mesmas coisas que a sua amiga não, né? – Mamãe me perguntou toda preocupada e eu só soube me afogar em culpa.

— Eu tô ótima mãe. Deve ser só o Sol. Esqueceu eu sou branquela e mal saio para me bronzear?

— Vamos resolver isso hoje no churrasco. Você pode ficar na piscina, pegando uma corzinha. Chris nem vai te reconhecer quando ele voltar para as férias de verão.

Chris... como eu ia contar para o meu namorado que eu fui em uma rave, SEM ELE?

Tudo bem, nada aconteceu. Eu só tô muito de ressaca, mas mesmo assim.

Entrei no carro, a culpa fazendo a minha cabeça doer ainda mais. Mamãe dirigiu ainda mais devagar, fazendo cada curva devagarinho. E cada vez que o volante virava, eu só podia respirar fundo e me concentrar em não por meu estômago para fora.

Assim que entramos na nossa rua, vi que tinha vários carros parados na entrada. Inclusive a pick-up de tio D, e foi quando eu me lembrei. Foi ele quem me deu carona até em casa.

Eu caí daquela maldita caminhonete com a cara na minha duffle bag.

O que mais eu tinha feito?!

Toda a minha família estava lá. Henry e Michael já estavam na piscina. Jack estava com Lara perto da churrasqueira. Hank brincava com os filhos de Matt. Todo mundo feliz e animado, gritando, cantando e conversando.

Eu precisava correr para uma caverna afastada da civilização! Eu não ia aguentar ficar nessa claridade com esse barulho de jeito nenhum. A cada passo que eu dava uma escola de samba ecoava na minha cabeça. E como eu iria conseguir enganar todos esses perfiladores?

Carreguei as compras para dentro, cumprimentei um a um e pedi licença para ir pegar meu celular.

No meu quarto respirei fundo, eu tinha que dar um jeito, porque se não desse, todo o meu plano – ou seria o plano da Liz, já que a ideia foi dela! – seria descoberto.

A Carteira de Identidade falsa! Meu Deus! Eu tinha as provas! Eu tinha que me livrar daquilo! E com urgência.

Estava rodando atrás da minha bolsa, eu nem lembro onde tinha escondido aquilo, quando Tia JJ me chamou:

— Já trocou de roupa? Estamos te esperando para o mergulho do ano! – Ela falou através da porta.

E agora mais essa!

— Eu tô quase. Passando o protetor solar! Daqui a pouco desço! – Respondi.

Corri para o guarda-roupas. Meu corpo protestando a cada passada. Eu estava mais morta do que viva. Peguei o primeiro biquíni que vi e fui me vestir. Joguei um vestido por cima, poderia dizer que estava naqueles dias e entrar na água era fora de cogitação... e desci.

Respirando fundo pela milésima vez nesse domingo, eu saí para o sol, com chapéu e óculos escuros. Minha cabeça erguida e tentando não dar sinais de que iria vomitar a qualquer minuto.

— Olha a Little Princess, até parece uma estrela de Hollywood! – Tio D veio para o meu lado.

— Eu acho que estou te devendo um obrigado! – Comentei.

— Que nada! – Ele respondeu.

Eu não tinha onde ficar. Nenhum dos lugares onde me escorei ou me sentei eram confortáveis para o meu corpo, dolorido e de ressaca, descansar. E a cada segundo alguém da minha família vinha me trazer um hamburguer, um copo de suco ou refrigerante.

Eu agradecia e disfarçava. Ainda olhava para o primeiro hamburguer que tinham me entregado quando eu não consegui mais segurar.

Coloquei minha mão na minha boca e saí correndo.

— ELENA! – Ouvi minha mãe me chamar.

Mal tive tempo de chegar no banheiro e vomitei toda aquela tal de Fada Verde.

— Você quer me contar alguma coisa? – Ela falou no meu ouvido, tinha entrado no banheiro comigo para segurar o meu cabelo.

Eu não podia falar nada agora. Estava ocupada demais esvaziando meu estômago.

— Em, Lena está bem? – Era a voz de meu pai.

— Ainda não sei, Aaron.  Você está bem, Elena?

Tinha acabado de vomitar, estava péssima, tremendo, sem forças, minha boca estava amargando e minha cabeça latejando.

— Não. Eu não estou. – Falei por fim.

Papai tornou bater na porta.

— O que ela tem, Em?

Mamãe só olhou para mim, como que copiando a pergunta de papai.

— Enjoos assim tem três causas, Elena. – Ela falou por fim. – Ou você comeu algo que te fez mal; ou você está grávida ou você bebeu muito. Qual deles é o motivo?

MINHA MÃE ACHAVA QUE EU ESTAVA GRÁVIDA?! MEU DEUS!!

Eu comecei a chorar. A chorar muito e papai abriu a porta de supetão, entre as lágrimas consegui ver Jack, ele parecia estar sorrindo.

— Eu tô de ressaca. – Confessei. – Eu tô passando muito mal! Não era para isso ter acontecido. – Disse entre lágrimas.

— E onde uma menor conseguiu bebida alcóolica? – Papai estava estranhamente controlado, a julgar pelo fato dele ter quase tido um treco quando eu falei que estava namorando...

— Eu fui a uma rave ontem. Eu e Liz. Entramos com identidades falsas. Aquilo estava uma porcaria, mas ficamos até as onze da noite. Como não encontrei água para comprar, parei em um quiosque de bebida, me disseram que não tinha álcool, mas me enganaram.

— O que você bebeu?

Nessa hora toda a minha família estava parada perto do banheiro, escutando a minha confissão. Que humilhação, meu pai.

— Fada Verde.

Tia JJ deu um assobio. Tia Pen saiu rindo. Minha mãe fez uma careta.

— O quanto você bebeu? – Papai continuou com o interrogatório.

— Não sei. Começamos não era seis da tarde... foi muito. E eu acho que vou... – Não terminei porque abracei o vaso.

— De tanta coisa que ela poderia beber, foi logo Fada Verde! – Tia JJ comentou. – Tadinha, a ressaca disso é horrorosa.

— E como você sabe, JJ? – Papai perguntou.

— Lembra da sua corrida de triatlo? – Mamãe começou.

— A noite das garotas? – Tio D disse.

— Sim. – Tias JJ e PG responderam. – Isso vai demorar a passar.

Por mais que minhas tias estivessem se solidarizando com o meu estado, papai não estava nada feliz.

— Está melhor para poder ir para a sala?

— Acho que não. – Fui sincera.

— Você vai me dizer quem te passou a identidade falsa.

— A Abby fez. Liz subornou ela de alguma forma.

— Quem comprou os ingressos?

— Eu.

— Por quê?

— Eu queria me divertir, minhas aulas basicamente acabaram, estou sozinha, Chris não está aqui para me fazer companhia... Liz teve a ideia da festa e bem... fomos.

— Você mentiu para mim.

— Sim. – Não tinha como fugir da verdade. – E estou arrependida de verdade.

— Arrependimento não vai trazer a minha confiança em você de volta, Elena.

— Eu sei, papai. Eu realmente não sei onde estava com a cabeça, eu só fui.

Papai me encarou. O mesmo olhar de chateado que ele me lançara quando eu fiz aquela besteira no Concurso de Soletrar da Escola.

Ia falar alguma coisa, mas a ânsia foi maior, a essa altura, só estavam papai e mamãe ao meu lado.

Depois que consegui parar de tremer e de lavar a minha boca, perguntei.

— Vocês já sabiam, não sabiam?

— Derek nos informou, Elena. Você tem ideia do que poderia ter acontecido com vocês duas? - Mamãe começou.

— Chamei o Tio D porque fiquei com medo de entrar no Uber. – Expliquei. Isso pareceu agradar um pouco papai.

— O que eu faço com você Elena? – Ele me perguntou.

Eu não tinha respostas, então só o encarei.

— Castigo? Você já está grande demais. Tomar o seu carro? Você não tem carro! Proibir você de sair?

— Pai... – comecei.

— Não me interrompa. – Ele disse ríspido.

Fiquei quieta, minha cabeça em minhas mãos.

— Eu deveria cortar a sua mesada, te deixar presa em casa, mas você vai embora para Yale no outono, nada disso iria funcionar. O que eu quero de você, Elena é que me prometa que vai ter responsabilidade. Que eu posso ficar tranquilo enquanto você está longe. Que você não vai se meter em encrenca. Aqui Derek foi te salvar e você ainda estava com a Liz. Mas lá... eu não estou lá, Elena. Você estará por conta própria. Eu vou poder ficar tranquilo, sabendo que você está sabendo se cuidar? – Ele me olhou sério. O olhar de mamãe correspondia com dele.

Eu estava muito mal para fazer qualquer discurso longo, para dizer com palavras bonitas que eu sentia muito.

— Pode, papai. Pode sim. Até porque, depois disso aqui, eu nunca mais vou beber, não importa o que falem ou o que me ameacem, eu não coloco uma gota de álcool na minha boca nunca mais. Eu tô mal demais para pensar que beber é legal. E não é só no quesito físico. Eu tô me sentindo mal por ter engado o senhor, a mamãe, por ter enfiado o tio D e a tia PG nisso também, além da Abby. Eu nem sei porque eu fui. Além do mais, eu não falei nada para o Chris também. Eu traí a confiança de todos vocês e isso não vai se repetir, eu prometo pai. – Tive que terminar abruptamente, de novo eu tive que abraçar o vaso.

Papai segurou o meu cabelo, ouvi os passos de mamãe para fora do banheiro, quando terminei, ela tinha um copo de água e um remédio na mão.

— Não vai fazer sua ressaca passar, mas vai diminui-la.

— Obrigada. – Tomei o remédio. – E sabem o que é ainda pior?

— Tem como ser pior do que você nos enganar e se colocar em perigo, Elena? – Papai me olhou torto.

— Não, pai, não tem, mas tem algo que é tão ruim quanto.

— E o que é? – Mamãe me perguntou.

— A festa não era nem metade do que eu achei que seria. Música ruim, bando de gente feia e eu nem aproveitei nada, nem dancei, eu e Liz ficamos jogando conversa fora, sentadas do lado da barraca que vendia o tal do Fada Verde o tempo inteiro.

— Vocês não aproveitaram a festa? – Papai estava... aliviado?

— Não. Tudo aquilo lá estava péssimo. Mas se eu me lembro bem... o McGee estava gostando bem!

Meus pais me olharam descrentes.

— Você está passando esse mal todo por uma festa que você sequer aproveitou, Elena?

— Sim, mamãe. E sabe como eu chamo isso?

— Punição? – Papai completou.

— Eu tenho um nome melhor, mas esse se encaixa. Eu chamo isso de karma mesmo. Um karma muito ruim. E te juro, eu aprendi a lição.

— Isso é bom, porque você está sem mesada até o final das férias. – Papai disse.

— Acho justo, mas posso pedir só uma coisa?

— O que?

— Como eu falo para o Chris sobre isso?

Meus pais se olharam.

— Elena, eu tenho certeza de que ele foi em festas parecidas na faculdade, mas acho que vocês deveriam conversar com calma...

— Com calma?

— Sim... – papai me disse.

Nessa hora meu celular vibrou. Era justamente o assunto da conversa.

— É ele, não é?

— Sim, mamãe. É ele.

— Vamos te deixar aqui na sala, resolva isso. Não podemos fazer nada por você nesse ponto, Elena. – Mamãe beijou a minha testa e foi para o jardim.

Atendi o telefone e antes que abrisse a boca escutei meu namorado:

— Elena, eu tenho que te contar uma coisa... sabe aquela festa rave que teve no país inteiro nessa noite, não brigue comigo... mas eu fui.

Respirei aliviada, ia ser fácil de se resolver isso, se ele não tivesse curtido muito!

Depois de quase meia hora de conversa, onde nós dois confessamos que fomos na festa e odiamos cada momento e que estamos arrependidos por não termos contato um para outro, Chris desligou, a ressaca dele pior que a minha e ele ainda tinha provas para fazer nessa semana. Olhei para o telefone, acho que tinha checar como a Liz estava indo, mas deixei para mais tarde, eu nem me lembro da cara dela quando ela foi embora.

Me levantando muito devagar, peguei meus óculos escuros e fui para o jardim dos fundos. E foi só quando eu parei na porta e vi toda a minha família me encarando que eu percebi.

Tudo isso tinha sido armado. Meus pais sabiam o tempo inteiro do meu estado e eles fizeram tudo isso, toda essa encenação só para que eu falasse a verdade.

— Vocês são bons. Muito bons. – Eu disse da porta. – Me deram uma lição e tanto.

Minha mãe abriu um sorriso e olhou para meu pai.

— Quer maneira melhor de aprender, Elena, do que essa?

— Não. Acho que não. E agora que eu já sei o que vocês fizeram, e que todos vocês já têm a minha confissão, eu posso tomar um remédio bem forte e ficar no escuro pelo resto do dia? Porque eu acho que ressaca pode matar!

Minha família se olhou e quem veio me ajudar foi meu irmão mais velho.

— Irmãzinha, você ainda tem muito o que aprender sobre ressacas... – Ele falou baixo quando teve a certeza de que ninguém da nossa família estava escutando.

— Jack?!

Ele sorriu de lado e me entregou três remédios.

— Tome esses três, eu vou arrumar a sua cama.

Fiquei parada vendo meu irmão mais velho sumir escada acima.

— Mas como se eu nunca te vi de ressaca? – Perguntei tentando correr e falhando miseravelmente atrás dele.

— Bem garota de Yale. Eu vou te contar, talvez alguns dias antes de você ir para faculdade, por enquanto, fique sabendo, se precisar, ligue para mim da próxima vez.

Eu ri do absurdo da situação. Quem diria, Jack!

— Agora vá dormir, eu me encarrego de manter a conversa baixa para você, irmãzinha.

— Obrigada, irmãozão. – Agradeci e nem vi ele fechando a porta. eu não sei o que eu tomei, mas era grata ao meu irmão por ter salvado a minha vida.


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Notas finais do capítulo

É Pokémon, Dragon Ball, Taylor Swfit... Elena e suas referências mil!
Não acabou... ainda tem a parte da Liz...
Obrigada a quem está lendo!