A Primeira Ressaca... escrita por Carol McGarrett


Capítulo 3
Uma Ruiva Deprimida


Notas iniciais do capítulo

E depois da eternidade, vem a última parte da história, com vocês, o que aconteceu com Elizabeth!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788311/chapter/3

— Ziva, essa é a melhor parte do filme! Tali não vai reclamar de dormir mais uns minutos no sofá!

Minha esposa me olhou torto e se levantou com nossa filha nos braços.

— Se gosta tanto de dormir no sofá, Tony. Pode ficar por aí a noite inteira.

Isso não foi bom.

— Zee-vaah!

Ela iria brigar comigo mesmo com Tali nos braços, mas como Deus ama a família DiNozzo, meu celular tocou.

— Salvo pelo Congo, Tony.

— Gongo! – Afirmei e ela arremessou uma almofada na minha direção.

Não olhei quem era.

— DiNozzo.

— Quem é o Meu Agente Muito Especial?

Mas o que era isso?

— Lizzy?

— Acertou!

— Por que está me ligando a essa hora? – Tirei o telefone do ouvido e confirmei a hora, meia noite e meia.

— Preciso de você!

— O que aconteceu?

— Preciso de carona.

— Elizabeth, vá direto ao ponto!

— Você, DiNozzo, está passando muito tempo ao lado do meu pai.

— Então eu vou ligar para ele!

— NÃO! PERA!

— O que foi, de verdade, Liz?

— Preciso de uma carona. Eu vim para aquela rave...

— VOCÊ FOI AONDE?

— Tony, não grita... – A voz dela era a de quem iria começar a chorar.

— Me passe o endereço. Eu vou te pegar aí.

— Eu vou passar.

— Precisa de algo?

— Acho que não.

— Liz, só uma pergunta, você está bêbada?

— Eu não sei... eu tô passando mal!

E ela encerrou a chamada. Encarei o celular, como foi que a Liz cresceu tão rápido?

— Quem era, Tony? – A voz de Ziva me tirou da minha contemplação.

— Lizzy.

— Aconteceu algo com Gibbs ou Jenny?

— Antes fosse. Ela foi na tal da rave que o Tim falou que ia. Está mais bêbada que russo no inverno e me pediu para ir buscá-la.

— E o que você está esperando? Algo pode acontecer com ela lá. – Minha esposa me jogou um casaco e as chaves do carro.

— Eu tenho que avisar para o Chefe.

— Ele vai matá-la, Tony. Você sabe o quanto o Gibbs é superprotetor.

— Mas como eu vou simplesmente deixar a Liz lá na porta da casa dela? E se ela não entrar, e se ela passar mal? Eu iria gostar que alguém me avisasse quando for a Tali.

— A Tali não vai fazer isso.

— Pode apostar que vai, Ziva. Ela vai fazer. Você fez, eu fiz, mais da metade do mundo já fez isso!

— Então ligue para o Gibbs do carro. Lizzy está te esperando. – Ela me deu um beijo e eu desci as escadas correndo.

No que Lizzy tinha se metido?

—-----------------------

 - Jen eu não vou discutir um livro de mais de quatrocentos anos com você!

— Jethro, eu preciso conversar com alguém!

— Ligue para o Ducky. Ele é quem gosta desses livros.

— Você está falando isso porque você nunca leu esse livro, não é? – Ela me encarou estreitando os olhos.

Encarei de volta, ela tinha razão, mas ela não venceria isso.

— Admita, Jethro.

— Jen...

Meu celular tocou e nós dois olhamos para o visor.

— Meu celular. – Informei para ela que se debruçava sobre meu ombro para ver quem estava ligando.

— Só quero saber se é um caso...

Era DiNozzo.

— Gibbs.

— Oi, Chefe, boa noite. Espero não estar interrompendo nada...

— Não está, Tony. Aconteceu alguma coisa?

Ele ficou calado por quase trinta segundos e nisso Jen já tinha encostado o ouvido no aparelho para poder ouvir também.

— DINOZZO!

— Bem, Chefe, a Liz me ligou. Pediu que eu fosse buscá-la em uma festa rave que ela está. E...

Eu já estava vendo vermelho. Como pode ser tão encrenqueira!

— E o que?

— Eu só queria avisar que ela estava parecendo que está bêbada. Não sei se está. Mas eu vou pegá-la e deixá-la em casa.

— Pode deixar que eu faço isso.

— Bem... Chefe. Eu já tô no meio do caminho. Vou tomar conta dela... – Tony parecia nervoso ao desligar o telefone.

Respirei fundo, e encarei Jen que não tinha conseguido ouvir nada da conversa.

— Jethro, pelo amor de Deus, o que aconteceu?

— Elizabeth.

Ela arregalou os olhos e já ia se levantando do sofá. Segurei o seu braço e a sentei do meu lado.

— Tony vai buscá-la em uma festa rave. Ela está bêbada.

Se Jen estava com raiva de mim, agora ela estava furiosa com a filha. Sua fúria só perdia para a minha.

— Uma pergunta.

— Quem arrumou a carteira de identidade falsa? – Perguntei para ela.

— Isso. Onde ela conseguiu?

Eu conhecia uma pessoa.

— Abbs?

— A Abby não faria isso. – Jen garantiu. – Ou faria?

— Não sei, mas na verdade, estou mais preocupado com o que nós vamos fazer com Elizabeth.

Jen se escorou no sofá, a expressão concentrada. Até que ela abriu um enorme sorriso, daqueles que sempre me deram um frio na espinha quando nós trabalhávamos juntos. Ela tinha uma ideia que iria ser o fim de nossa filha.

— No que você está pensando?

— Jethro... nós dois sabemos melhor do que ninguém o quanto uma ressaca é ruim, não?

Concordei com a cabeça.

— Eu me lembro de nós dois na França. Passamos um mal homérico depois de beber umas duas garrafas de bourbon, e olha que nós dois estávamos acostumados a beber. Liz não está. É a primeira ressaca dela...

— E onde você quer chegar, Jen? Ela mentiu para nós, ela foi a uma festa com documento falso, ela está importunando DiNozzo, e só Deus sabe como ela conseguiu subornar a Abby.

— Jethro, vamos fazer a vida dela um inferno, e não vamos parar até que ela confesse o que fez, confesse tudo. E até isso acontecer, temos que fazê-la sofrer muito, para se lembrar por um bom tempo a não esconder nada de nós.

Sorri para o plano de Jen.

— Eu tenho o local ideal.

— Sabia que você iria entender o recado. – Ela deu um tapa no meu joelho e se levantou.

— Não vai ficar aqui para ver o estado em que a sua filha vai entrar em casa?

— Ah eu vou, e para isso eu vou até fazer uma pipoca.

Liz não sabia o problema em que havia se metido.

—-------------------

 Depois de desligar na cara do Chefe, eu fiquei pensando se havia feito a coisa certa. Liz, depois daquele concurso de soletrar, não tinha aprontado nada, era até uma adolescente muito calma. O namorado não entra na conta, mais cedo ou mais tarde alguém iria aparecer mesmo, se não fosse o Marine do outro lado da rua, seria alguém por aí, era difícil não notar a garota. Portanto, contar para o Chefe que a filha estava curtindo o final da vida de estudante do ensino médio talvez não teria sido a melhor das ideias. Liz merecia um voto de confiança.

Acelerei ainda mais, e assim que cheguei ao local da festa, consegui distinguir os cabelos vermelhos de Liz de longe, como eu disse, ela não passava despercebida, e ela não estava com a melhor das feições.

Parei o carro e antes que ela pudesse dar um passo, eu já estava ao lado dela.

— Me fala que você bebeu porque quis. – Implorei.

Ela me olhou ofendida.

— Sim. Quando eu comecei não sabia que tinha álcool, eu juro. – Ela gemeu e levou a mão direita à cabeça.

— Você já vomitou uma parte disso?

— Não. Eu não tô enjoada, eu só tô com muita dor de cabeça. O Fada Verde misturado com as luzes e essa batida dos infernos não fez nada bem para a minha cabeça.

Quanto a isso eu não poderia fazer nada.

— Liz, sinto muito, mas isso só vai piorar. Quanto mais o seu sistema absorver, pior vai ser. Tem quanto tempo que vocês pararam de beber?

— Quantas horas?

— 00:45.

— Uma hora. – Ela me informou e colocou a cabeça entre os joelhos quando o farol de uma pick-up iluminou o local.

Dei uma olhada, era Derek Morgan quem chegava. Elena que estava dançando sozinha por perto correu até ele, o chamando de Tio D. Voltei a minha atenção para a ruiva do meu lado.

— Aconteceu mais alguma coisa que eu deva saber?

— Como assim? – Ela me olhou em dúvida.

— Você sabe, Elizabeth. Isso é uma festa para maiores, você nem deveria estar aqui, está bêbada e passando mal.

— Ah... nada não. Absolutamente. Isso aqui tava muito ruim, eu só fiquei sentada perto da barraca, bebendo. – Ela me informou.

Respirei aliviado, menos um problema.

Elena gritou perguntando o quanto elas haviam bebido. Mais uma vez, Liz apenas se encolheu e gritou de volta reclamando e dizendo que não sabia.

Aquilo era o fim.

— Vamos embora, Ruiva. Você tem um longo caminho para pensar como vai explicar isso para os seus pais.

— Papai vai me matar, mamãe vai tentar me dar uma lição de moral. – Ela disse infeliz.

Acho que Lizzy é daquelas bêbadas depressivas.

— Tony... – Ela começou assim que eu a guiei para o carro. Derek levava Elena embora também. Dentro daquele carro ia outra encrencada com os pais.

— Diga, Elizabeth.

— Primeiro, pare de me chamar de Elizabeth, papai já vai fazer isso. Eu preciso passar na casa da Garcia, ela era a responsável por nos dar cobertura e encobrir a mentira.

— Tudo bem.  – Assenti e acelerei o carro. Se eu conhecia o casal que muito provavelmente estava sentado em uma sala de estar em Alexandria, eles estavam contando os minutos para que a filha chegasse em casa.

Durante o trajeto, liguei o som do carro. Peguei a primeira estação que consegui, e só música de dor de cotovelo tocava. Liz estava estranhamente calada.

— A Adele está certa.  – Ela falou por fim.

— O que?

— Às vezes você deseja não ter conhecido a pessoa.

Eu era quem estava certo aqui. Liz é a deprimida de ressaca.

— Do que você está falando?

— Do Sean.

— Vocês estão brigados? – Achei estranho, eu vi o Marine mais corajoso e sem noção do planeta perto de Liz, e ele estava dando todos os sinais de quem já queria se casar.

— Não. Mas se tivéssemos não teria diferença nenhuma.

Desviei meu olhar por um segundo para estudar a garota do meu lado, eu estava mais perdido que cego em tiroteio nessa conversa.

— Tony... para um homem casado, pai e excelente investigador do NCIS você está meio lento. – Ela reclamou diante do meu olhar. – Não é óbvio?

— O que é óbvio, Liz?

— Sean está na Califórnia. Em uma base cheia de garotas mais velhas do que eu, que não tem horário para voltar para casa, que já saíram da escola. Garotas que são bonitas, bronzeadas e muito provavelmente sabem surfar ou fazer qualquer outra coisa legal. Qualquer um sabe o resultado disso!

Era isso.

— Não acho que ele irá pensar em te trocar por nenhuma garota californiana que saiba surfar, Lizzy. Acredite em mim.

— Não. Não acredito. Ele tá longe, é bonito, está subindo rápido na Corporação. Anda de uniforme para cima e para baixo, durante todo o dia. Não tem como ele não ser notado por qualquer uma das garotas da base. E elas estão lá. E eu? Eu estou aqui, passando mal. Indo para mais longe ainda dele no próximo outono.

— Liz, você está exagerando. Não é assim.

— Tony, admita, está fadado ao fim. Eu vou parar perto de Boston. E ele está perto de Los Angeles. Lados completamente opostos. E isso se ele não for mandado para o Japão ou sei lá para qualquer outra base americana no mundo.

Cocei minha cabeça, nunca tinha pensado que Liz poderia ser tão depressiva.

Dei uma outra olhada para ela e a ruiva chorava.

— O maior problema, sabe qual é o maior problema? – Ela perguntou antes que parássemos na porta do prédio de Garcia.

— Não, Liz, eu não sei. – Respondi com um suspiro.

— Eu amo demais aquele Marine para aceitar que acabou. Demais. E isso dói.

Céus, o que eu faria com ela?

— Eu vou pegar as suas coisas com a Penelope, você vai ficar bem?

— Vou sim. - Ela disse enquanto limpava algumas lágrimas.

Achei melhor ligar para Penelope, ela com um toque atendeu.

— Precisa de algo, Tony? – Ela perguntou bem humorada.

— Olá Penelope. Sim, das coisas da Liz.

— Só um minutinho.

E depois de 10 minutos, ela pareceu com a bolsa de Liz.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não. Só a bebedeira de adolescente.

Garcia esticou o pescoço para ver Liz. Essa ainda chorava.

— Bêbada depressiva?

— Pode apostar. Tá chorando desde que entrou no carro. Eu não sei mais o que fazer com ela.

— Tadinha. O choro piora a ressaca. Posso saber o motivo?

— O namorado que está em Camp Pendleton.

— Ah... e ela está achando que ele vai trocá-la por alguma garota californiana?

— Exatamente.

— Estou com pena de você, Tony. Deve estar sendo péssimo ouvir toda a choradeira dela.

— Você não faz ideia, Garcia. E olha que ela sempre teve uma autoestima elevada.

— O álcool faz coisas! – Ela disse rindo.

 - Pode ter certeza que sim. Elena estava o oposto. Eufórica.

— Elas nunca pensaram da mesma forma mesmo. Deve ser por isso que são tão amigas. Peça para a Liz me atualizar depois. A ressaca dela vai ser das bravas.

— Eu vou falar, agora se ela vai lembrar...

— Obrigada!

— Eu quem agradeço, Penelope. Boa noite!

— Uma boa noite para você, Tony. E dê um beijo naquela fofura que é a sua filha por mim. – Ela falou e entrou no prédio.

Quando voltei para o carro, Liz tinha trocado a estação de rádio. Agora tinha passado para o rock.

— Adele, Coldplay, Oasis... não dá para ouvir quando se está bêbada. – Ela comentou.

— Notou que está falando besteira?

Liz me olhou solene.

— Não Tony. Ainda acredito nisso. Porém não posso ficar sofrendo. Minha cabeça já está doendo o suficiente sem eu ter que pensar muito nela. Não vou ficar pensando no fim. Um dia a mensagem chega.

Achei estranho o papo, contudo não intervi.

— Por que raios todas as músicas tinham que contar uma história de amor hoje?  - Ela reclamou quando a música trocou.

— Você reconhece?

— Sim. Within Temptation. Memories. Nada menos depressivo.

E antes que a falação dela recomeçasse, eu desliguei o som.

 - Obrigada. – Liz murmurou.

— Não há de que... Posso te falar uma coisa?

Ela só me olhou.

— Você é a bêbada mais depressiva que eu já conheci!

E a ruiva me encarou.

— O álcool é um depressivo natural... – ela começou. – mas acho que você já sabia disso.

— Não, eu não sabia, a maioria dos bêbados com quem lidei ou estavam alegres ou passando mal. Depressivos igual a você, não.

— Dizem que para tudo tem a primeira vez. Sou sua primeira bêbada depressiva. E essa é a minha primeira e última bebedeira. Céus eu estou me sentido horrível. Eu quero chorar, quero gritar, quero me prender dentro do quarto e nunca mais sair. Preciso de um abraço e de um remédio para dor de cabeça. Tudo ao mesmo tempo. Até a minha voz está me irritando!

— Acho que você precisa de um copo de chocolate quente, seu pijama e sua cama.

— E se eu não estivesse tão mal eu poderia adicionar um abraço dos meus pais, porém eu acho que eles vão querer me por de castigo permanente depois dessa. – Ela comentou.

Me senti péssimo. Eu tinha contado para o Chefe e agora a Liz estava aqui, crente de que poderia esconder dos pais o estado lastimável em que ela se encontra.

— Eu nunca mais bebo!! Sério. Não sei como meu pai aguenta essa depressão toda!

— Eu acho que o Bourbon nem faz mais efeito nele...

— Sabe que pode ser verdade, Tony. Ele já é imune àquilo! – Ela riu. E pelo menos eu consegui melhorar a aura sombria que a Liz tinha.

Não demorou e parei na porta da casa dela. Liz fez uma careta. Olhou para a porta da frente e depois para a casa em frente à dela.

— Se eu não estivesse muito convencida de que tem um par de chifres crescendo na minha cabeça, eu até pediria asilo ali. Porém, vou ser forte e entrar pela porta da cozinha, assim eu posso deixar o que um dia eu chamei de converse, na lavanderia, ou talvez seja melhor deixar na lixeira aqui fora mesmo. Como foi que ele chegou a esse estado?!

Olhei para o pé dela.

— Você deve ter tropeçado, muito, só não notou.

— Por que eu estou bêbada demais?

— Exatamente.

— Tony, eu tô muito ferrada! E obrigada por ter feito isso. Sei que você deixou a Ziva e a Tali em casa.

— Me liga amanhã cedo para saber se você está bem! – Abracei a ruivinha.

— Se eu sobreviver a essa noite, Tony. Eu juro que danço tango sozinha assim que a ressaca passar!

— Eu duvido que você vai se lembrar dessa promessa, mas eu vou cobrar!

— Pode cobrar. Só não amanhã cedo! – Ela me deu um beijo na bochecha e desceu tropeçando do carro. – Vai ser um longo caminho até a cozinha! – Ela reclamou.

Fiquei na frente da casa até que ela tirou os tênis e os jogou na lixeira e depois, cambaleando de um lado para o outro, foi para a porta de trás.

Assim que Liz sumiu do meu campo de visão, mandei uma mensagem para a mamãe ursa que eu tinha a certeza estava esperando a filha chegar.

Liz está entrando pela porta dos fundos, bêbada, cambaleando e depressiva!

Logo em seguida recebi a resposta.

Muito obrigada, Tony. Ficamos te devendo essa!

E eu esperava que Lizzy passasse por essa ressaca ilesa.

—-----------------------------

Escutamos um carro parar na porta. Jethro se levantou e foi ver quem era.

— DiNozzo.

— Como está a Liz? – Perguntei.

— Ainda não saiu.

Fiquei na janela junto com ele. Elizabeth demorou para sair, e quando o fez, quase caiu no chão. Ela definitivamente estava muito mal.

Tony ainda ficou observando o que ela iria fazer, e muito estranhamente, Liz se apoiou na lixeira e jogou os tênis fora.

— Ela seria uma péssima assassina, não sabe nem descartar as provas bem longe da cena do crime. – Jethro comentou.

E a ruiva fez seu caminho para a porta dos fundos, ao mesmo tempo em que ela foi para o lado da casa, Tony me mandou uma mensagem, me atualizando sobre o que eu deveria esperar assim que Liz entrasse. Agradeci o gesto e ele foi embora. Nos restava a muito depressiva e bêbada garota que caminhava para a porta dos fundos.

Por mais que Liz estivesse descalça era possível ouvir seus passos incertos, somados aos murmúrios.

— Ela está falando sozinha? – Jethro me perguntou.

Prestei mais atenção no que estava acontecendo do lado de fora.

— Não. Ela está cantando.

— Eu nunca ouvi essa música, geralmente ela não canta e sai dançando ao mesmo tempo.

— Jethro, sua filha está na fossa, sem estar. E a prova está na letra dessa música.

— E que música é?

Someone like you, da Adele. A coisa tá feia, Jethro.

Ele me olhou espantado e nós dois nos viramos para o barulho que vinha da porta da cozinha.

Liz tentava encaixar a chave na fechadura.

— Quer fazer uma aposta de quanto tempo ela vai levar para fazer isso? -Perguntei.

— Uns dez minutos, se a forma como ela estava cambaleando indica a quantidade de álcool que ela bebeu. – Jethro me respondeu, se sentando na cadeira de frente para a porta. – Sua vez, Jen.

Parei para pensar, ponderei a genética de Liz e o fato dela ser magrinha e ser a primeira ressaca.

— Quinze e com muito choro e ranger de dentes. – Estendi a minha mão para ele para selarmos a aposta.

— Feito.

E ficamos ali, cronometrando o tempo que Liz gastaria para entrar em casa.

Com cinco minutos ela deu um tapa na porta, e xingou qualquer coisa em hebraico.

— Isso foi a Ziva quem ensinou, com certeza. – Jethro comentou.

Com sete minutos, escutamos ela se jogar no chão e começar a reclamar:

— Isso não é justo! Eu só quero um chocolate quente e a minha cama!! – Liz clamou. – Odin, por que faz isso com a sua filha?

Juro que nessa hora meu coração se apertou e eu quis abrir a porta e fazer o chocolate quente para ela.

— Nós dois vamos ficar sentados, Jen. Se um levantar o outro levanta também e isso não é o que temos em mente.

Dez minutos e ela esmurrou a porta!

— Ou você abre ou eu te jogo no chão. – Liz perdeu a paciência e ameaçou a porta, a ameaça sendo fraca porque ela chorava copiosamente.

— Quero ver tentar. – Murmurei.

— Se ela tentar, vai quebrar o pé! – Jethro emendou.

Doze minutos. E ela xingava a porta com todos os palavrões que ela conhecia e em todos os idiomas que ela sabia. Nessa hora até o Ice, que já estava velho e surdo, veio para a cozinha e começou a rosnar por ter seu sono interrompido.

— Até o cachorro dessa casa é mal-humorado! – Liz gritou do outro lado e recomeçou a xingar e a chorar ao mesmo tempo.

Eu ri, vendo que alguém tinha perdido...

— Jethro, você perdeu a aposta. Doze minutos.

— Calma Jen.

Quinze minutos e nada. Nem um barulho.

— Jethro... o que aconteceu lá fora?

Ele me olhou alarmado. Também não fazia a menor ideia. Até que ouvimos um barulho.

— Não me diga que isso é... – Comecei assustada.

Corremos para a porta da cozinha a tempo de ver Liz chegar aos galhos mais altos da árvore que dava até o quarto dela.

— Pelo amor de Deus, Elizabeth, desce dessa árvore!

Ela olhou para baixo assustada.

— NÃO! A porta não queria abrir, então eu tenho que entrar em casa de algum jeito, pai!

— E quebrando o pescoço é um jeito de entrar em casa? – Gritei para ela.

— Se eu chutasse a porta, quebrava o pé, mãe! Eu tô descalça!

Além de tê-la deixado depressiva, o álcool tinha tirado todo o bom senso que ela tinha.

— Elizabeth, desce já daí! – Jethro ordenou.

Ela ignorou a ordem do pai e foi para perto da janela.

— Céus! Ela vai cair dali! – Falei e corri para dentro de casa, eu tinha que tentar puxá-la quando ela se desequilibrasse e desse de cara com a janela fechada.

Jethro continuou tentando por um pouco de senso na cabeça da filha enquanto eu rumava para o quarto dela. Assim que eu abri a janela, dei de cara com Elizabeth.

— Oi mamãe!! – Ela me cumprimentou e eu pude ver o estado em que ela se encontrava. Olhos vermelhos e leitosos, voz enrolada e o rosto inchado de tanto chorar.

— Elizabeth, o que você pensa que está fazendo?

— Entrando em casa, no melhor estilo ninja!

— Ninja?

— Sim, vou virar uma espiã, uma assassina treinada, assim não tenho que me preocupar com ninguém. Vou ser fria e não amar ninguém! – Ela disse enquanto ia tentando chegar perto da janela.

— Por que você está dizendo isso? – Eu estava perdida com o falatório sem sentido.

— A senhora não está vendo o par de chifres na minha testa não?

— Essa tristeza toda é por conta do Sean?

— Mãe, com certeza ele vai me deixar por qualquer mulher que desfilar de short e prancha de surf na frente dele. – Ela falou e colocou a mão no beiral da janela. Eu me movi para segurá-la, até que ela veio com o pé.

Eu nem sei como aconteceu, em uma hora ela estava segura ali, na outra estava dependurada, com as pernas balançando no ar, a cinco metros do chão.

— MAMÃE NÃO ME SOLTA! – Ela pediu.

— Eu não vou te soltar! – Garanti e tentei puxá-la, mas Liz estava tão bêbada que nem conseguia me ajudar a erguê-la. – Jethro! – Eu o chamei e antes que eu fechasse a boca ele já estava atrás de mim.

— Adolescentes! – Ele murmurou.

— PAPAI! – Nossa filha clamou. - Não me deixa cair!

Nós dois tivemos que pegar um em cada braço e puxar a ruiva para dentro e ela caiu como um peso morto em cima de nós.

— Meu Deus! Essa foi por pouco!

— Nem me fale. – Jethro disse se levantando e estendendo a mão para me ajudar.

— Espera, ela tem sair de cima de mim. – Informei e apontei para Liz que ainda não tinha se mexido.

— Liz! Saia de cima da sua mãe.

E nada.

— Elizabeth, por favor. Você está pesada e precisando de um banho. – Pedi e Liz não se mexeu.

Abaixei meu ouvido na altura do rosto dela, ela respirava e rescendia a álcool. Medi o pulso e tinha um pulso bem forte.

— Não me diga que ela apagou?

— Sim, Jethro. Ela apagou. Desmaiou de bêbada.

Tive que me arrastar para sair de baixo dela e depois eu e Jethro conseguimos levantá-la e apoiá-la na cama.

— Ela precisa de um banho. – Ele me falou.

— Eu não consigo dar banho nela. Vai ter que dormir assim e pela manhã ela que se vire para limpar tudo isso.

Deitei Liz e trouxe uma lixeira para perto da cama, eu poderia apostar que ela iria acordar passando muito mal.

— Vamos, não temos nada para fazer aqui. – Tirei Jethro do quarto e o levei para o nosso.

— Nosso plano ainda está de pé?

— Mas é claro. Jethro, depois dessa demonstração de falta de responsabilidade, ela não vai se lembrar de nada do que aconteceu. E nós vamos lembrar a ela que Elizabeth não é invencível e muito menos imortal. Ela passou de todos os limites ao escalar aquela árvore.

Jethro ao meu lado respirou fundo.

— Ninguém me falou que cuidar de uma adolescente era tão difícil.

— Acho que nossos pais pensaram a mesma coisa. – Dei um beijo nele. - boa noite, amanhã a gente desconta o susto na Liz.

—----------------------------

A pergunta “Onde Estou?” nunca fez tanto sentido na minha vida. Tinha acabado de acordar e estava mais perdida que cego em tiroteio. Minha cabeça latejava, minha boca estava seca como papel e meu estômago reclamava, não sei se por falta de comida ou se era por algo que havia comido.

Resolvi que tentar voltar a dormir poderia me ajudar, assim me virei contra a luz da janela e tampei meu rosto com a minha coberta.

— CÉUS! TEM UM GAMBÁ NESSA CAMA?!! – Joguei a coberta longe e dei um pulo para fora da cama.

Não tinha nenhum gambá, não tinha nada, a não ser...

— Esse cheiro é todo meu? – Perguntei para mim mesma.

Era, esse cheiro de lata de lixo, misturado com algo podre e amargo era meu.

Como eu tinha chegado a esse ponto?

Um tanto desorientada, dei uma olhada em volta e reconheci meu quarto. Menos mal. Eu estava em casa, apesar de não saber como eu tinha chegado até aqui.

Tirei toda a roupa de cama e os cobertores, como eu pude dormir sem tomar banho?!! Pareço até o Tony em semana de frio extremo!

Dei uma checada em mim, estava descalça, arranhada, meu cabelo parecia um ninho de passarinho, minha maquiagem que apesar de pouca, estava toda borrada, meus olhos vermelhos.

Eu tinha entrado em uma briga com um bando de gatos?

Eu fedia tanto que estava até difícil de respirar, resolvi abrir a janela para ver se entrava um pouco de ar, e assim que cheguei no beiral, vi que tinha um monte de galho quebrado na árvore. Estranho.

Nem o ar fresco estava melhorando o cheiro, eu teria que atravessar o corredor e tomar um banho urgente. Peguei minhas coisas e a trouxa de roupa de roupa suja e, o mais silenciosamente que consegui, entrei no banheiro. Foi quando eu vi o restante do estrago.

Além de arranhada, eu tinha vários hematomas.

O que aconteceu comigo?

Acontece que quanto mais eu pensava no assunto, mais a minha cabeça doía, e a cada pontada na minha cabeça, meu estômago dava uma volta. Não teve jeito, uma respirada fundo e lá estava eu, abraçada ao vaso, sem saber como eu tinha parado nessa situação.

Eu só desliguei o chuveiro quando eu tive certeza de que estava com cheiro de gente e não de uma animal morto. E agora eu tinha a segunda tarefa do dia, me livrar das roupas fedidas. Era hora de lavar roupa.

Olhei para o quarto dos meus pais, a porta ainda estava fechada e nenhum sinal de barulho. Cheguei no alto da escada e quando me preparei para descer, tive uma vertigem. Desde quando essa escada é tão alta, meu Pai?

Desci degrau por degrau, muito parecida com um bebê aprendendo a andar e assim que meus pés tocaram o chão do primeiro andar, fui recebida por Ice.

— Bom dia, garoto, alguma novidade dessa casa que queira me contar?

Ele deu uma pirueta e se sentou virado na minha direção. Normalmente ele faz isso apontando para a novidade.

— Tudo bem, vou dar um desconto, você já está velho.

Caminhei até a lavanderia e estava colocando a roupa na máquina, toda concentrada para não encostar naquilo quando dei falta de uma coisa, meu celular não estava em lugar nenhum... e isso não era bom.

Acabei de programar a máquina para tirar o odor, lavar e secar aquela trouxa fedida como um gambá e me sentei na cadeira da cozinha pensando por onde andava aquele aparelho irritante e tentando me concentrar na noite passada – eu tinha ido parar naquela rave horrível... e aquele maldito Fada Verde, ah, mas eu ia matar a Elena por ter comprado aquela coisa!

 Fiquei tanto tempo pensando que não ouvi os passos de minha mãe – do meu pai não conta porque ele sempre anda no modo furtivo – atrás de mim.

— Nossa, chegou cedo, filha! Achei que a festa do pijama iria se estender até depois do almoço.

Eu dei um pulo tão grande que caí da cadeira.

— Ah... bom dia, mamãe, bom dia papai! – Falei ao me levantar do chão, papai me ajudou com a cadeira. – É, resolvi vim para casa, parece que a Emily comeu algo que fez mal, ou ela tá com virose, sei lá, por via de dúvidas eu vim embora. – Me lembrei da regra #7 e tentei me livrar de um interrogatório.

— Coitada, espero que ela fique bem. – Mamãe me deu um abraço. – Mas tem um lado bom você estar em casa cedo, eu e seu pai estamos planejando velejar um pouco, o que você acha?

Pai Misericordioso! E agora? Eu acho que estou, na verdade, eu estou de ressaca, nem me lembro de como vim para casa e agora mais essa! Meus pais me encararam, esperando a minha resposta.

— Mas é claro. Vamos aproveitar o dia! – Fingi estar animada com a ideia e até esse fingimento doeu a minha cabeça.

Papai deu um beijo na minha cabeça como que feliz por eu me juntar aos dois nos planos de domingo e eu fiquei com a consciência pesada.

A coisa boa da minha família é, ninguém come muito no café, e como os dois estavam mais do que com pressa para chegar à marina, nem notaram que eu nem toquei na comida, só fiquei na água.

— Vá lá para cima trocar a sua roupa, Liz, eu e seu pai vamos dar um jeito na cozinha.

— Tudo bem. Mas antes eu vou levar o lixo para fora. – Avisei. Estava esperando achar meu celular caído no meio da rua, ou no gramado.

Abri a porta da cozinha para dar de cara com a minha bolsa, a mesmíssima bolsa que eu havia levado até a casa de Penelope.

Isso não era bom.

Dei uma olhada para trás, meus pais estavam conversando entre si, e não estavam com toda a atenção voltada para mim, eu sabia que uma parte da atenção estava, mas achei que dava para disfarçar bem. Saí, fechei a porta e peguei a bolsa e o saco de lixo.

Corri para a frente da casa e para a lixeira, quando abri, eis que vejo o meu par de converse branco, completamente detonado, lá dentro.

— Mas que m....! Como eu posso ter deixado as evidências de um crime tão perto de casa? Cuidado com a Elizabeth! Ela esquece que tem cérebro quando bebe! – Me xinguei.

Voltei para casa e entrei pela porta da frente, carregava a minha bolsa com cuidado para não chamar a atenção. Já na segurança do meu quarto, abri a dita cuja e vi que tudo meu estava lá, desde a minha bolsinha pequena que eu tinha levado para a festa, até meu celular. As chaves da casa estavam no bolso da frente. Menos mal, eu não tinha sido assaltada.

— Liz, filha! Já tá pronta? – Meu pai gritou.

— Quase!! Pode ir para o carro que tranco tudo! – Respondi no mesmo tom e me arrependi, minha cabeça quase explodiu.

Troquei a minha roupa e peguei outra bolsa, sempre era bom levar outra muda de roupa, eu era danada para acabar o dia caindo do barco – ou sendo jogada dele por papai.

E lá ia eu descer as escadas de novo, passinho por passinho cheguei no térreo, corri no armário de remédios e catei uma aspirina, isso deve resolver a minha dor de cabeça, e depois peguei um antiácido para meu estômago revoltado.

Papai buzinou. Andei o mais rápido que consegui até a porta, abri e a claridade quase acabou com a minha vida.

— Por que demorou tanto? Não estamos indo para uma festa, Liz! – Papai ralhou e eu coloquei os óculos escuros no rosto.

O carro não tinha saído da nossa rua quando meu estômago começou a embrulhar de uma forma pior do que quando vomitei pela manhã. Tive que ir contando a minha respiração até que chegamos na marina.

E assim que eu vi o estado do mar, eu quis morrer. As águas perto do cais estavam agitadas e os barcos subiam e desciam sem parar. E a visão de todos aqueles barcos fazendo o mesmo movimento me enjoou de uma forma inimaginável.

— Tá tudo bem, filha? – Mamãe parou do meu lado e me abraçou pelos ombros.

Sem poder balançar a cabeça para não vomitar e sem coragem de abrir a boca, eu fiz o famoso sinal de joinha e a acompanhei até o píer onde o barco estava atracado.

Papai falava algo sobre a maré estar alta e que longe da rebentação as coisas melhorariam, mas eu duvidava piamente. Não tinha mar calmo que melhorasse a minha vida, não hoje.

Entrar no barco foi um suplício, normalmente é mamãe quem reclama, porque nem aqui ela abre mão dos saltos, porém, hoje, eu não estava confiando no meu equilíbrio de ressaca e demorei mais de cinco minutos para entrar, e isso chamou a atenção dos meus pais.

 -Vai ficar de frescura igual a sua mãe, Elizabeth?

Mamãe olhou feio para ele e tirou o salto, arremessando-o na direção de papai logo em seguida.

— Não, não estou de frescura, só achando o mar agitado demais hoje. – Falei. – E mamãe, não jogue o seu sapato, lembra da última vez, a senhora perdeu um par de saltos da Chanel.

Isso pareceu acalmar os dois e acabei por subir no barco, crente de duas coisas: Ou eu vomitava o meu estômago hoje, ou eu morria. Morrer parecia a melhor opção, assim eu não precisava me explicar para meus pais.

Não estávamos longe da costa quando uma onda mais forte atingiu o barco. Não deu para segurar e corri para a popa.

— ELIZABETH! – Papai gritou do timão.

— Eu tô bem. – Respondi assim que consegui parar de vomitar.

 Mais uma onda bateu no barco e mais uma vez lá fui eu.

Dessa vez mamãe veio para o meu lado. E eu pude ver em seus olhos duas expressões diferentes, uma era preocupação, a outra eu não soube identificar.

— Você não está nada bem... – Ela falou depois que eu consegui me sentar no chão e apoiar a cabeça nos meus joelhos. – Você está grávida, filha?

— EU TÔ O QUE? – Levantei a minha cabeça de uma única vez e tive que me debruçar no casco.

— É a única explicação que eu encontro para você estar passando mal desse jeito, Elizabeth. Agora me responda, você está grávida?

A essa altura, meu pai estava do meu lado. Eu podia jurar que meu rosto estava mais vermelho do que meu cabelo e eu tentava me encolher para evitar de vomitar de novo.

— Não... eu não estou grávida. – Afirmei e isso era a mais pura verdade.

— Então... – papai me instou a continuar.

Com a onda de culpa que me atingiu, minha cabeça doeu ainda mais, meu estômago se retorceu e eu desejei me jogar do barco.

— Eu... eu... eu tenho muito para contar, mas dentro desse barco não vai dar não! – Falei apressada e tornei a vomitar.

Eu pude jurar que pelo canto do olho eu vi minha mãe sorrindo em direção ao meu pai, mas eu estava tão mal que nem sei se poderia confiar nos meus olhos.

Papai fez a volta e nos dirigimos para o píer. Se eu demorei para subir no barco, eu fui a mais rápida para descer, porque mal havíamos atracado, e eu já estava fora, correndo atrás de um banheiro.

Assim que saí, dei de cara com meus pais parados, lado-a-lado, de braços cruzados e me encarando com cara de poucos amigos.

— Podemos ter a nossa explicação agora, Elizabeth? – Papai começou e isso nunca é um bom sinal.

— Claro. – Eu engoli em seco.

— Estamos esperando, não vamos ficar no sol o dia todo. – Essa foi minha mãe.

— Eu... bem... eu acho, não, eu tenho certeza, estou com uma tremenda de uma ressaca. Não era para estar, mas estou. Ontem eu e a Elena fomos para uma festa rave, aquilo tudo estava horrível, eu nem sei o motivo de ter gastado tanto neurônio pensando como iria entrar na festa, mas enfim, o resumo é...  – Parei para respirar fundo, e acalmar a nova ânsia.

— O resumo. – Papai ordenou.

— Eu pedi para Abby fazer uma identidade falsa para cada uma de nós, nunca tive a intenção de ir para a casa de Emily, e no final das contas, quando já estávamos lá, bem, a Elena apareceu com uma coisa verde em um copo, na falta de água, eu tomei a coisa, ela se chama Fada Verde, de início era gostoso, super docinho, mas se provou ser uma tremenda de uma cilada. Eu não sabia que tinha álcool na mistura, e eu bebi pra caramba, tipo, muito mesmo. Confesso que não sei como eu fui para casa e muito menos como eu acabei por dormir no meu quarto. Acordei hoje mais fedida que um gambá e mais suja que um cachorro depois de rolar na lama. Achei minha bolsa na porta dos fundos e não sei como foi parar lá. E meu tênis está destruído na lixeira. Algo aconteceu, mas eu não sei o que é e muito menos como aconteceu e isso me assusta! – Terminei meu rompante e acabei por me sentar no chão, estava tonta e cansada.

Meus pais se encararam e eu pressenti que eu nunca mais colocaria o nariz para fora do meu quarto.

— E você achou que poderia nos enganar por quanto tempo? – Mamãe tomou a frente do interrogatório.

— Eu não pensei nisso. – Admiti.

— E ainda envolveu a Abby e a Garcia.

— Subornei a Abby, ela não queria me ajudar, a Garcia foi ideia da Elena.

— Nós sabemos como você foi parar em casa. – Esse foi papai e eu me arrepiei em pensar que eu, completamente bêbada, possa ter ligado para ele.

— Sabem?

— Sim, sabemos, mas vamos te levar para casa, você está desidratada. – Mamãe avisou e foi para o carro com passos rápidos, e só me restou acompanhá-los.

Já em casa, eu estava tomando copo d’água atrás de copo d’água, além de um suco verde com gosto horrível, até que tive a coragem a voltar para a conversa.

— Então... eu estava muito bêbada quando liguei? – Me arrependi de perguntar assim que vi os olhos do meu pai faiscando de fúria.

— Você ligou para o DiNozzo.

— MEU DEUS!! – Enfiei minha cabeça em minhas mãos.

— Meu Deus foi o que eu disse quando você se achou a ninja. – Mamãe apareceu vindo do escritório dela.

— Ninja?

— Sim, Elizabeth, você perdeu completamente o controle. Além de ter chorado no ouvido do DiNozzo por quase uma hora, e depois ter ameaçado chutar a porta abaixo e xingado em todos os idiomas que você sabe falar, você escalou a árvore que dá para a janela do seu quarto.

— Ai que vergonha!

— Vergonha? Você quase nos matou de susto!

 - Como eu não lembro de nada disso?

Papai e mamãe se olharam e um calafrio percorreu a minha espinha.

— Excesso de álcool causa amnésia temporária e você provou ser bem fraquinha para bebidas. – Mamãe falou se sentando ao lado do meu pai.

Olhei para os dois, ainda estava tentando absorver o que tinha ouvido.

— O que foi agora, vai passar mal de novo? – Papai me perguntou levantando a sobrancelha.

— Não, só estava pensando... por que eu banquei a ninja?

Mamãe começou a rir. Acho que meu pai não sabia do que se tratava.

— Você disse qualquer coisa sobre ser uma espiã sem coração que não ama ninguém e que não se importa. E que tinha um par de chifre na testa. – Minha mãe tentou explicar.

— Falei?!

— Sim.

— Pai de todos!! O que aconteceu comigo?

— E você pergunta para nós dois? – Papai reclamou indo para a cozinha.

— Como o Sean entrou nessa história?

— Você está com medo do seu namorado te trocar por alguma californiana de short e surfista. – Mamãe me explicou.

— Faz sentido... mas eu tava muito louca!

— Demais.

— Mais alguma coisa, como acabou tudo isso? – Perguntei.

— Com você desmaiada no chão do seu quarto, em cima da sua mãe depois que conseguimos te colocar para dentro pela janela. – Papai me respondeu nada feliz.

Me escondi atrás da almofada.

— Eu nunca mais bebo!

— Acho bom, não tenho idade para aturar adolescente bêbada e deprimida pelo namorado. – Papai voltou para a sala e me encarou. – Eu te avisei para não começar a namorar, não é?

— Avisou sim, senhor. Mas não se preocupe.

— Você terminou o namoro? – Ele perguntou todo feliz.

— Jethro!!

— Papai!

— O que? Achei que vinha boa notícia...

— Não pai. Eu só ia dizer que nunca mais coloco uma gota de álcool no meu organismo.

— É uma boa notícia, mas não a que eu esperava. – Ele murmurou se voltando para a televisão.

— Papai, enquanto nenhuma garota surfista levar o Sean de mim, o senhor vai ter que aturá-lo.

— Acho bom torcer para as surfistas então! – Ele falou todo feliz.

Olhei para ele indignada. Como ele podia pensar nisso?

Mamãe arremessou a almofada nele – e olha que ela queria mandar mesmo era o livro que estava no colo dela.

— E antes que você se revolte, está de castigo. Devolva o cartão de crédito que a sua mãe te passou, me entregue a sua carteira de motorista e a carteira falsa que a Abby fez. Você só vai sair de casa quando for para a escola e depois para a faculdade. Quero tudo na minha mão agora! – Ele ordenou e eu fui o mais rápido que pude até meu quarto, não estava em posição de reclamar.

Quando desci, tanto papai quanto mamãe, encaravam meu celular.

— Posso saber o que aconteceu?

— Mensagem do Sean. – Mamãe falou sem vergonha nenhuma de estar me espionando.

— Ah, é?

— Sim, ele fala que vem na semana que vem. E como você está de castigo, acho que ele vai ficar aqui em casa por um tempo. – Ela, sorrindo na direção de meu pai, continuou.

Papai fechou a cara, para logo em seguida olhar para nós duas e com um sorriso vitorioso falar:

— Ainda bem que será a Elizabeth que terá que explicar para o namorado que ela está de castigo porque foi para uma rave e ficou bêbada por lá. E se eu pude conhecer um pouco do Sean é o seguinte: ele é um pouco ciumento... espero, sinceramente, que você saiba se explicar sem... – ele deixou a frase solta e desceu para o porão.

Mamãe olhou para ele com incredulidade.

— Eita... eu não tinha pensado nisso. – Murmurei.

— Mas deveria, Elizabeth. Desse jeito você será uma péssima investigadora, não sabe esconder as evidências da sua mentira e nem pensa nas consequências. E nem percebe quando as pessoas estão aprontando com você.

— Peraí... aprontando?

E ele parou na porta da cozinha. Mamãe o encarou com os olhos faiscando.

— O passeio de barco foi encenação?!

— O que você acha? – Papai parecia feliz.

Parei para pensar em tudo o que tinha acontecido, no que tinham me falado e no que ainda estava por vir.

— Quer saber... bem que ressaca podia matar.

— Ressaca só mata de vergonha, filha. Agora aguente as consequências.

— Ainda é muito tarde para voltar a ser criança, mamãe?

Ela gargalhou.

— Muito tarde.

— Eu tô ferrada.

— Ah, isso você está. Eu jamais vou te deixar esquecer do seu rompante de ninja-espiã. – Ela ficou muito orgulhosa de começar a recontar a minha trapalhada.

Eu me encolhi debaixo da coberta e me escondi atrás da almofada. Um dia isso teria que passar, não teria?

Por favor, Odin, não faz isso com a sua filha! Olhe por mim aí de cima!!

A única resposta que tive para as minhas súplicas foi meu celular vibrando, uma nova mensagem de Sean onde eu lia:

Tem algo que queira me contar, Liz?

— PAPAI, POR QUE FEZ ISSO? – Gritei para o porão.

A gargalhada dele foi a minha resposta.

Eu tava ferrada. Muito ferrada. Mas esse não foi o fim, não mesmo. Logo depois da mensagem de Sean, fui inundada por mensagens de Abby, Tony, Ziva, Tim, Delilah, Torres, Jimmy, Breena, Ellie e até mesmo Ducky.

A de Tony era a mais estranha:

E aí quando você vai dançar tango sozinha?

Todo munda sabia do meu infortúnio, não tinha castigo pior.

A lição que aprendi disso tudo?

Primeiro, álcool não presta e segundo, meus pais são vingativos para caramba e terceiro, minha família não vai me deixar esquecer disso jamais!!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Com pais assim, definitivamente, Elizabeth não precisa de inimigos!
Obrigada a você que leu!
Fiquem em casa!!
xoxo