Os dias não estavam muito bons. Eles pareciam trazer sempre uma nuvem de sentimentos chatos e conflitantes, isso sem contar que o tempo parecia estar sempre fechado. Lunie não gostava daquilo.

Ela tinha discutido com Ling Chao, depois de ele falar aquelas coisas sobre Raquel. Não era como se fosse deixar passar só porque o amava, mas ela parecia ter um dedo bem certeiro para pessoas teimosas. Eles haviam conversado por horas a fio e ele continuava a parecer não entender o motivo de ela estar tão nervosa.

E as coisas não paravam por ali. Mesmo com o comunicado da empresa sobre ações legais contra os comentários maldosos contra a amiga, ela ainda percebia os efeitos que aquilo tinha na mais velha. Ela estava muito calada, mais observadora do que nunca e, pelo que era possível ouvir das conversas com os meninos, a distância que ela parecia ter colocado não era apenas com as amigas. Nem YueYue tinha conseguido uma conversa decente com Raquel naqueles dias.

Lunie estava brava, principalmente por não saber como agir. Sabia que se a colocasse contra a parede, veria a amiga se fechar ainda mais, mas não conseguia apenas esperar. Era tão complicado lidar com os sentimentos de outra pessoa.

— Eu já disse que eu vou ficar bem. Para de ser louca! – Raquel estava com uma caneca de café fumegante em mãos, enquanto lia um livro. – Eu tenho que repassar toda a coreografia que a professora JiHo passou ontem, porque eu não consegui fazer metade dela direito. – ela bebericou o café e teria voltado sua atenção para o que estava lendo, mas a expressão de preocupada no rosto de Lunie só a fez suspirar. – Olha, eu sei que você e o Ling Chao brigaram por minha causa, justo por causa da pessoa que mais quer vocês juntos, então me deixa ler em paz e vão se resolver, porque amanhã ele volta pro dormitório da faculdade e sabe lá quando vai ter folga de novo.

Lunie não queria ir. Queria convencer a amiga a acompanhá-la até uma gravação, mas aquela parecia uma batalha perdida. Seria uma daquelas gravações com as finalistas do programa do qual participaram, mas Raquel não era impedida de ver. Tinha a possibilidade do grupo que tinha debutado estar presente, então seria a oportunidade de ter o Sunrise junto de novo.

Ling Chao não era o tópico de suas preocupações naquele momento.

Ela abriu a boca para dizer aquilo, mas a cozinha da empresa foi invadida por Taoo e Lin, que ocuparam os lados de Raquel, animados demais para aquela hora da manhã.

— JieJie, você vai ensaiar a coreografia nova, né? A gente pode passar com você? Por favor! – eles tinham aula de canto naquela manhã, mas o mau tempo parecia ter impedido o professor de chegar no horário e eles sabiam que estavam tão em defasagem com a dança quanto Raquel, e não queriam levar bronca da professora.

— Claro. Mas só vou começar quando eu terminar de ler esse capítulo, então que tal todo mundo sumir e me deixar ler em paz? – gentil como um coice, fez os meninos rirem amarelo e saírem rápido, dizendo que iriam preparar a sala para ensaiarem. – Você também, Lunie. Você sabe que eu te amo, mas se continuar a agir como se eu fosse quebrar por causa de alguns comentários, eu vou ser obrigada a te mandar se...

— Tá bom, sua grossa! Eu tava preocupada com você, sabia? Não precisa ser assim também.

— Eu sei que tá preocupada, mas as coisas que eles falam não são nada que eu não tenha pensado sobre mim mesma sozinha. Na verdade eu sou bem mais criativa e cruel, então vai pro seu compromisso que eu juro que não vou me jogar da janela, ok? – Raquel parecia bem resoluta quando disse aquilo, então Lunie acreditou, mesmo que não achasse aquele tipo de sentimento de auto depreciação saudável. – E, sério... Vai fala com o Ling Chao. O menino não cometeu um crime por ter uma opinião diferente. Ele não me magoou, de verdade. Não precisa ficar chateada com ele. – visivelmente desistindo de continuar a ler, marcou a página e fechou o livro antes de deixar Lunie para trás.

Não estava bem com o que Ling Chao tinha dito e nem em como ele tinha se expressado. Menos ainda com o fato dele não achar “nada de mais”, e não era o fato da amiga não ter ficado chateada (e aquilo ela culpava a proteção de Raquel por Ling Chao) que ela devia passar pano.

— O que foi que a toalha fez pra você? – Letícia chamou sua atenção para o fato de estar torcendo a barra da toalha da mesa enquanto pensava. – A Raquel não vai mesmo com a gente?

— Não... Mas tenho certeza que ela vem na próxima vez. – Lunie parecia tentar convencer a si mesma enquanto dizia aquilo. – Vamos? Não podemos nos atrasar.

Letícia concordou, mostrando que trazia a bolsa de ambas apoiadas em seu ombro.

—---------------------------------------------------------------------------------------------------------

— Eu preciso que vocês terminem a maquiagem em cinco minutos, porque o camarim é muito pequeno pra você e o The9 juntas. – o staff nem tinha batido à porta antes de entrar, o que deixou as meninas bem desconfortáveis, já que poderiam estar se trocando.

— A gente se arrumava em lugares menores, as vinte juntas, e até mais. – NineOne não tinha mudado em nada sua língua afiada naqueles meses e Lunie sentiu vontade de rir da cara de insatisfação do staff. – E, da próxima vez, bate na porta antes de entrar. – Lunie e Letícia concordaram na hora e foram seguidas das outras. Apenas uma ou outra menina se sentiram sem graça em aderir aos vários comentários e acenos afirmativos. – Agora você pode ir.

O rapaz não pareceu muito contente e bateu a porta ao passar, o que fez NineOne encarar o espaço que ele ocupara com desdém.

Elas continuaram se arrumando sem muita pressa, já que a gravação começaria apenas uma hora depois e, se o The9 se trocaria e maquiaria naquele mesmo espaço, não precisariam correr para deixar o espaço livre para elas. E a falta de pressa até se mostrou bem útil quando a porta foi aberta após leves batidas, minutos depois, já que Lunie não teve outra reação ao ver Miwa se não começar a chorar. Felizmente ela não estava maquiada ainda, ou as lágrimas arruinariam tudo.

Ela cruzou o pouco espaço que as separava com tanta rapidez que não saberia como não caiu em meio às bolsas e roupas no chão. O abraço que deram mostrava a saudade que sentiam uma da outra naquele tempo de afastamento. Mesmo que se falassem quase diariamente pelo celular, não era a mesma coisa.

Nunca seria a mesma coisa.

Letícia se juntou a elas pouco depois, em um abraço triplo que atrapalhava a passagem da porta. Elas não ligavam, claro, mas as outras meninas logo se mostraram impacientes e elas precisaram se afastar para o canto e liberar o caminho.

— Eu tava com tanta saudade! – Lunie não conseguia parar de chorar. Seu coração parecia pesar vários quilos a menos por ter Miwa ali, em sua frente, sã. Não era como se não confiasse que ela soubesse se cuidar (tinha certeza que Miwa era mais safa que ela mesma), mas era seu jeito e sabia que não mudaria. – Você tá tão bonita! Ah, eu não vou conseguir apresentar sem olhar pra você e chorar.

Lunie deu um passo para trás e olhou a amiga de cima a baixo, enquanto enxugava os olhos. Miwa estava mais magra – o que, obviamente, seria um tópico de uma bronca quando estivesse mais calma – e tinha mudado o corte de cabelo, optando por mechas coloridas por todos os lados. O grupo todo tinha conceitos parecidos de penteados, o que fez Lunie ter certeza que era para o próximo MV ou álbum delas.

Estava tão orgulhosa e feliz.

Só esperava conseguir conter as lágrimas.

—---------------------------------------------------------------------------------------------------------

A música na sala de ensaio estava bem alta quando YueYue passou pela porta. Imaginou que Raquel estivesse ensaiando algo diferente, já que a música não era a que JiHo estava trabalhando com os trainees (ONER tinha se livrado daquela dor de cabeça daquela vez), mas apenas encontrou a mais velha sentada no chão, observando o espelho e murmurando partes da letra que não conhecia. Ela tinha o queixo apoiado no joelho de uma perna flexionada, enquanto a outra estava esticada no chão. Perto de seu pé estava a garrafa d’água, o que dava a entender que ela havia feito uma pausa para descansar que estava durando tempo demais.

Os meninos também não estavam mais ali. Quando chegara de um programa de rádio tinha encontrado Lin e Taoo almoçando, já com o horário bem avançado, e comentando sobre o ensaio produtivo que tiveram com Raquel até ali, mas que eles tiveram que deixá-la para poder fazer a aula de canto, remarcada para quando o professor conseguira chegar. YueYue separou uma maçã e foi até a sala de ensaio ver se conseguia convencê-la a comer alguma coisa.

Raquel era teimosa demais quando queria, e tinha certeza que ela colocara alguma meta idiota para seu ensaio, como “Só vou almoçar quando terminar a rotina X ou Y”. Por isso foi uma surpresa encontrá-la tão parada e quieta. Mesmo inclinado em deixá-la sozinha, acabou passando pela porta e encostando, sem muito barulho – não que o volume da música deixasse algum outro som resoar ali. Raquel, entretanto, só o percebeu quando ele sentou ao seu lado e tocou seu ombro, chamando sua atenção e tentando ao máximo não a assustar.

— Oi... – YueYue falou, tentativamente, quando só recebeu o olhar dela através do espelho. Ela parecia acordar de algum devaneio e balançou a cabeça antes de se virar para olhar em seus olhos. – Não vai almoçar?

— Já vou. – ela não sorriu ou fez qualquer comentário sobre estar cansada demais, ou com fome. – Pode pegar meu celular? – ela apontou o aparelho que estava mais próximo de YueYue do que de qualquer uma de suas mãos e viu quando ele o pegou e apertou o botão lateral para ver o nome da música que tocava. Para a surpresa de ambos, o aparelho desbloqueou completamente (ele tinha daquela às vezes) e o levou para o weibo aberto em uma página de comentários. Nem teve tempo de falar ou ver nada quando o celular foi tirado de sua mão sem a menor gentileza. – Valeu. – Raquel não tirou a música, apenas abaixou o volume e verificou algumas vezes se o bloqueio do aparelho estava funcionando corretamente.

YueYue parecia ter entendido perfeitamente que aquilo era um pedido mudo para que fosse embora, mas não se moveu. Raquel, que olhava para o chão, esperando que ele se levantasse e saísse, logo o olhou com exasperação, mesmo que não dissesse nada.

— A música é boa. De quem é? – era óbvio que ele só queria um assunto para não deixá-la sozinha, e recebeu um revirar de olhos e uma expressão nem um pouco contente. – É sério, não conheço.

— Kris, Damnshine e L4wudu, é uma versão da música Breaking Down do Kris. – era notável a falta de vontade para responder. – Damnshine devia ter ganhado a season 3... Olha essa voz. – o comentário aleatório veio tão naturalmente que YueYue não conseguiu segurar o riso. – O que?

— Você é estranha até pra escolher música pros seus momentos depressivos. Esperava qualquer coisa, menos rap. – Raquel o empurrou de leve e mostrou a língua em um ato puramente infantil. – Vai dizer que não? Tá aí, toda quieta, olhando pro espelho, lendo comentários sem noção na internet. Você não é assim. Você só não me batia quando eu te provocava e falava um monte de besteiras porque não queria ser presa, que eu sei, então por que se importa agora?

Raquel suspirou e voltou a olhar para o espelho, com a mesma expressão que ele encontrara quando entrou ali.

— Eu não quero prejudicar as meninas. – ela encolheu os ombros e passou a olhá-lo pelo espelho mesmo, como se daquela forma fosse mais fácil de colocar para fora seus pensamentos. – Eu não ligo que falem da minha aparência, do meu peso ou do fato de eu não ser boa o bastante ou velha demais para ser uma trainee, porque eu sei de tudo isso. Eu nunca tive uma visão iludida de mim mesma, mas... Mas quando isso afeta outras pessoas, principalmente minhas amigas, eu não consigo deixar pra lá. Eu não consigo só esperar que a empresa cale todo mundo, porque documento nenhum vai calar a minha própria cabeça, entende? – ela pressionou os lábios um no outro e olhou para cima, visivelmente segurando as lágrimas. – Eu quero que elas voem alto, mesmo que isso signifique que eu não esteja ao lado delas. Por isso eu vou falar com a Sra. Zouyi sobre a ideia de debutar solo.

—---------------------------------------------------------------------------------------------------------

O programa era uma competição entre as finalistas e o grupo The9, divididas em quatro equipes de cinco meninas. Letícia, Miwa e Lunie não tinham se desgrudado desde que tinham se encontrado, então a produção não achou problema quando o grupo foi formado por elas e mais duas integrantes do The9, Yuxin e An Qi. A câmera, inclusive, parecia bem interessada em mantê-las no foco e, pelo que Lunie tinha ouvido, a edição seria bem focada na amizade que permaneciam mesmo com o fim do programa.

— Perguntas e resposta agora, hein, meninas. – o apresentador usava o tempo entre uma gravação e outra para bater papo e conhecer melhor quem estava ali para o programa. Lunie o conhecia bem e tinha certeza que Raquel morreria de raiva de não ter ido com elas quando soubesse que o MC era Wang Yibo. – Quero ver quem vai ser mais esperta.

— A gente, óbvio. – Lunie falou, confiante, mesmo que seu grupo tivesse perdido as duas primeiras brincadeiras. Não podia se deixar abalar só por causa de batalhas perdidas, certo?

Yibo riu, enquanto concordava com a cabeça. Ele parecia gostar do entusiasmo daquela equipe em especial.

As câmeras foram ligadas de novo e as perguntas eram as mais aleatórias possíveis, principalmente sobre as experiências das meninas durante o reality.

— Como eu ia saber que a Aria usa shampoo de cereja? Eu não sei nem que cheiro tem o meu shampoo. – Lunie estava indignada, mas se divertia ao mesmo tempo, já que Letícia tinha acertado aquela questão por puro chute. Com a memória bem parecida com a Dory, do filme Procurando Nemo, não podia contar muito com o que podia lembrar sobre o programa ou as outras participantes. – Pergunta alguma coisa do GOT7, que eu sei tudo.

— Se for assim, tem que perguntar do SHINee também! – Miwa estava muito animada e nem se preocupou de falar sobre o grupo coreano, mesmo sabendo que aquela parte poderia ser cortada na edição.

— Não! Se ela começar a falar do MinHo, eu fujo. – Lu Keran, que estava no time em frente ao da Lunie, balançou as mãos freneticamente e levantou, como se fosse realmente sair dali. – Sem SHINee ou NCT. Sério. Eu divido o quarto com ela, e ontem eu tava cantando Dream Girl, e eu nem sei cantar coreano!

A afirmação gerou risadas e mais risadas, principalmente por causa da expressão indignada de Miwa, que retrucou dizendo que não reclamava quando a colega de quarto decidia passar o dia escutando TFBoys e falando o quanto o Jackson Yee era fofo e lindo.

Lunie não sabia se ria da discussão ou se sentia ciúmes.

Na verdade ela estava se roendo de ciúmes, mesmo sendo uma idiotice. Era bom que Miwa tivesse um bom relacionamento com as colegas de grupo, mas precisava ser tanto? Lu Keran e Miwa até pareciam melhores amigas daquele jeito.

Mas Lunie não diria nada, obviamente. Soaria infantil ter ciúmes da amiga ter outras amizades. Mas isso não significava que ela não sentia.

Miwa pareceu ler seus pensamentos e abraçou um de seus braços, rindo da expressão que Lunie não conseguia disfarçar.

A atmosfera era de risos e diversão até as gravações serem encerradas. Naquele momento toda a euforia e alegria que Lunie parecia sentir começou a se esvair. Trocar de roupas e ver as meninas do The9 organizando suas coisas para irem para a van a deixou com o coração despedaçado.

— Sabe que não precisa chorar de novo, né? – Miwa também estava triste em se despedir, mas tentava olhar pelo lado positivo daquela situação. – Agora que eu tô em Pequim a gente pode marcar de sair mais vezes.

— Mas sua agenda é cheia. – Lunie reclamou, não querendo deixar a amiga ir.

— E a sua também, mas a gente vai dar um jeito. – Miwa ouviu o manager chamando e abraçou as amigas com força. – Me mandem mensagem quando chegarem na empresa, ok? E manda um abraço pra Raquel... Mesmo que ela não mereça. – ela fez uma careta de brincadeira e logo se afastava, acenando.

— Eu já tô com saudade... – Lunie reclamou com Letícia, assim que Miwa sumiu para dentro do veículo e as duas tiveram que andar até Bowen.

Letícia podia brincar ou rir, mas apenas abraçou a líder e concordou. Sabia que não era apenas da companhia de Miwa que ela tinha saudade. E a mais nova se sentia da mesma forma.

Queria o Sunrise todo naquela bagunça de novo logo.

—---------------------------------------------------------------------------------------------------------

— Você tá doida? – YueYue arregalou os olhos e viu Raquel negar com a cabeça, ainda o olhando apenas pelo espelho. – Sabe que se fosse a Lunie aqui, você ia apanhar, né?

— Sim, e por isso eu vou te pedir pra manter isso em segredo, porque não quero que ela fique chateada ou se achando uma amiga ruim ou qualquer coisa do tipo. – ela sorriu e desviou o olhar para qualquer ponto que não fosse o reflexo de YueYue ou o próprio. – Pensar que a gente nem era amigas antes de vocês, antes do Ling Chao... Agora ela fica toda preocupada.

— Ela deveria mesmo, ainda mais quando você tem essas ideias. – ele estava realmente irritado e transpareceu aquilo em sua voz. Raquel encolheu os ombros mais uma vez, voltando a se virar para encarar YueYue diretamente.

— E você quer que eu faça o que? Que debute com o Sunrise e leve elas pro buraco porque uma das três e, futuramente, das quatro é vista como peso morto pelo fandom? Eu tô no kpop tempo suficiente para saber que nenhum grupo sobrevive assim. – ela disse aquilo de uma forma tão dura que YueYue até poderia pensar que era para ele, mas percebeu que era uma forma dela mesma se convencer, então acabou se deixando levar pela vontade de fazê-la pensar racionalmente e segurou o rosto alheio com as mãos.

Raquel se assustou com o movimento repentino e arregalou os olhou, levando o corpo para trás de leve. Daquela distância era possível enxergar todos os nuances castanhos dos olhos de YueYue, que não deixou que ela se movesse muito mais do que por conta da surpresa.

— Olha bem pra mim e me diz que não quer debutar com o Sunrise. – ele falou firme, sério de um jeito que Raquel não via com frequência.

— Você sabe que isso não tem a ver, eu...

— Não quero saber o que tem a ver, eu quero que me diga que não quer debutar com o Sunrise, porque se for isso, eu guardo seu segredo. Mas se não for, eu não posso prometer nada. – ele observou Raquel morder o lábio inferior e desviar o olhar. – Olha pra mim e me diz se não acha que todos os fãs do ONER não preferiam três integrantes como o Ling Chao ao invés de um como eu. Você mesma diz que eu não sou o mais bonito do grupo, mas que eu sempre fui o seu favorito. Eu não danço bem também...

— Sua voz é incrível.

— A sua também é. Então cala a boca desse povo com o que você tem e não abaixa a cabeça. – eles tinham começado aquilo com as vozes altas o suficiente para serem ouvidas através da música, mas naquele momento estavam sussurrando. – Você não tem que provar nada pra ninguém, e eu tenho certeza que as meninas gostam de você exatamente como você é.

— Você não entende. – a voz, antes tão firme, saiu um pouco embargada. Raquel voltou a olhá-lo e viu tanto sentimento ali que toda a certeza que tinha construído por todas aquelas horas se esvaíram.

— Eu entendo. Entendo que essas pessoas são horríveis e que você vai mostrar que elas estão erradas, como mostrou pra mim. – YueYue queria se fazer de forte, mas logo estava com os olhos marejados, o que gerou um riso bobo em ambos. – Certo?

Ela apenas concordou com a cabeça e eles sorriram em uma cumplicidade que Lunie e Letícia achariam fofa e Raquel – se não estivesse envolvida – acharia melosa demais. Eles não se afastaram, entretanto. Os olhos de ambos continuaram conectados e o espaço entre eles era cada segundo menor.

— Raquel, vem conhecer nossa manager! – Letícia entrou de supetão na sala, assustando os dois, que se afastaram imediatamente e fingiram que nada estava acontecendo. – Meu Deus, desculpa! – a menina ficou vermelha na hora e foi saindo, quando Raquel levantou rápido e a alcançou.

— Não tem porque se desculpar, a gente tava só conversando. – ela interrompeu a música e seguiu a mais nova para fora, deixando a porta aberta para que YueYue pudesse segui-las. - Manager? Que legal!

Continua...