As últimas semanas de trabalho de Tomoyo Daidouji foram um desafio a sua capacidade profissional: se encarregara de planejar todo o casamento da querida prima, negando veementemente a ajuda da mesma. Queria dar esse presente a amiga-irmã tão querida, e tratava dos detalhes finais com a paranóia típica da síndrome de perfeccionismo herdada da mais nova dos Kinomoto.

A morena deu um suspiro cansado e repassou o que ainda faltava checar para a celebração do grande acontecimento enquanto o seu próprio noivo a abraçava pelas costas.

— Pronto, está tudo em ordem, você pode ir se arrumar. – Ele alisava os cabelos dela, indo a seguir para uma massagem . – Syaoran já entrou, Sakura está no spa com Yelan e Shiefa e tudo vai dar certo. – Ele a virou para si e caprichou no beijo calmo e profundo. – Melhor?

— Você é o melhor, meu amor. – Ela deu um beijo na bochecha dele. – Tudo encaminhado, vamos nos arrumar. – O levou pela mão, com uma piscadela insinuante.

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A água da banheira de madeira era fervente, mas já estava acostumada a isso; este era o propósito das fontes termais que freqüentava. As bolhas relaxavam o turbilhão de pensamentos da mente da jovem japonesa; era muita coisa acontecendo ao seu redor.

— Sakura? – A voz de Yelan na banheira ao lado era delicada, mas fez com que ela abrisse os olhos verde-esmeralda. – Seu semblante não está muito pacífico...Se quiser falar sobre algo que a aflige, alguma dúvida...Não hesite ,por favor. – O olhar de sua futura sogra era acolhedor e levemente curioso. – Bem, isso dito, vou pegar nosso drinks, e volto já. – Ela colocou seu robe grená e saiu do aposento com música relaxante.

— Sei muito bem que minha mãe ainda não é uma figura a quem você se abriria com facilidade, Sakura...Pelo menos não ainda; mas se quiser falar comigo... – Shiefa retirou as rodelas de pepino dos olhos, e se recostou em sua própria banheira, do outro lado da de Sakura, e se sentou para mira-la.

— Eu confesso que estou preocupada com a Tomoyo; ela ficou de organizar tudo, não me deixou ver nada; só perguntou o que eu queria e foi atrás de tudo. Não queria que ela se estressasse assim...

— Entendo; mas eu passei por lá, está tudo lindo,correndo muito bem e dando certo. Ela não está sozinha...Não há motivos pra se preocupar quanto a isso. – A chinesa observava a cunhada com simpatia. – Realmente era só isso, Sakura-chan? – O olhar dela tinha algo de astuto que fazia Sakura lembrar-se do irmão da moça.

— Ah,bem, é que...- Sakura não sabia direito como se expressar. – É que eu tenho medo da família de vocês, Shiefa. – A japonesa se abriu com sinceridade. – Todo o status, o poder , a tradição...Às vezes acho que posso não me encaixar nisso tudo, nesse mundo que não é meu.Não quero ser um peso pro Xiao, nem fazer ele passar vergonha por minha causa, não sei...- Sakura mostrava a aflição em sua expressão preocupada.

Shiefa riu com gosto.

— Ah, Sakura, você é muito fofa, sabia? – A cunhada apertou as bochechas da moça de leve, em ritmo de brincadeira, enquanto a mesma sorria amarelo. – Você acha que o Conselho de Anciões vai se opor ao cabeça do clã, ou algo assim? Que a tradição vai impedir vocês de se casarem?Essas coisas de filmes antigos, por acaso?

— Na verdade, é algo nesse sentido.. – Sakura corou, sem graça.

— Pois fique sossegada; matrimônios não são vetados pelo conselho há séculos.E mesmo que ainda houvesse alguma oposição, tenho certeza que meu irmão moveria céus e terras pra ficar com você.Nunca vi ele assim antes... – Ela sorriu abertamente para a corada cunhada, e continuou casualmente. - Agora, quanto a esse "admirável mundo novo", que você diz não se encaixar no seu perfil, não há nada pra se preocupar, ainda mais sendo consultora de etiqueta. Tenho certeza que você se sai muito bem de qualquer tipo de situação, não?

— Bem, por esse ângulo...- Sakura mirou o vazio, pensativa.

— Melhor agora? – Shiefa relaxou na borda de sua banheira.

— Sim, obrigada Shiefa. – Sakura deixou-se recair mais sobre o encosto da banheira, sorrindo para a cunhada.

— Por nada e trate de descansar. –A mulher também se colocou mais ao fundo da água borbulhante.

— Os drinks, meninas. – Yelan entregou um amarelo vivo para a filha e um azul-céu exuberante para a nora. – Nossa próxima parada é massagem, seguida de penteados e maquiagem...Agenda lotada . – A matriarca sorriu levemente. – Aproveitemos o bálsamo do momento...

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—Ahhhhhhhhhh, Sakura! – Os olhos de Tomoyo brilhavam de alegria. – Como você conseguiu ficar mais linda do que já é? – Tomoyo rodopiava a prima com entusiasmo. – Esse spa deve ter sido magnífico!

— Tomoyo, vai devagar, vai desmanchar o penteado... – Sakura se sentou na beirada da cama de seu quarto de hóspedes na mansão Li. – Depois do trabalho que deu pra chegar até aqui desviando do Xiao, você não vai querer colocar todo o esforço a perder. – Sakura deu um suspiro cansado. – Falando em esforço, como você está? – De repente Sakura mostrou sua preocupação com a prima.

—Ah,  assim você até me ofende. – Tomoyo ajeitava os cachos da moça enquanto falava. – Foi só um pouco mais puxado do que o normal, mas contávamos com o apoio de última hora do seu irmão, e mesmo do Xiao até algumas horas atrás. – A morena sorriu sonhadora. – O importante é que deu tudo certo e os Li estão ansiosos pra ter a nova primeira-dama do clã – Tomoyo riu com gosto.

—Ai, Tomoyo, você quer me deixar mais nervosa, é?  - Sakura se olhou no espelho, limpando delicadamente o canto dos lábios. - A única coisa boa foi que ontem finalmente pude ver o meu noivo depois de tanto tempo... – O olhar de Sakura era risonho e saudoso.

—Ah, os costume chineses, eu sei.– Tomoyo conversava e abria a porta dos armários do quarto da prima ao mesmo tempo, parecendo procurar algo. – Família tradicional, sabe como é ...- Tomoyo juntou as mãos e olhou fixamente um ponto no horizonte, com os olhos faiscando, com o vestido rubro da noiva em mãos.

—É , mas tudo é muito minucioso. – Sakura limpou de leve a testa, enquanto acabava de colocar o vestido vermelho, no estilo chinês, com detalhes dourados nas bordas. – Casar é um stress, e agora tenho certeza disso. – Sakura sorriu levemente. – Por isso Tomoyo, eu agradeço muito. Por tudo. – Sakura abraçou a prima com todas as forças que tinha. – Se não fosse você e sua grande boca, nada disso teria acontecido. – Sakura encarou docemente o semblante da amiga de longa data.

— Não ouse me fazer borrar a maquiagem, Sakura! – Tomoyo tinha a voz embargada, lutando para não deixar as lágrimas caírem. – E vamos, porque vocês precisam estar no altar logo.

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Acabada a parte religiosa, partiram para o primeiro e mais comemorado costume: antes de atenderem à recepção do casamento, os noivos realizam uma sessão de fotos profissional. Depois de mais de meia hora,Sakura e Syaoran acabaram se recusando a estender a sessão, para o desgosto da empolgada Tomoyo, pois já estavam cansados de ter que posar em todos os locais existentes na propriedade, em todos os lugares dos jardins da mansão; precisavam se sentar.

— Sakura-chan! – Uma pequena pessoa com um farfalhante vestido cor-de-rosa e laços de fita na mesma cor em seus cabelos saltou sobre a mais nova membro do clã dos Li. – Sakura-chan, como você tá linda! É a tia mais bonita que eu já vi!

Três pares de olhos âmbar se voltaram em desgosto sem reservas para a pequena, que nada percebia em meio à sua euforia, ao contrário da mais nova tia que havia percebido o poder de fuzilamento daqueles olhares.

—X-Xiun, não exagera. – Sakura sorria amarelo enquanto acarinhava levemente as pequenas mãos da sobrinha.

— Ela não está exagerando nem um pouco. – Syaoran se colocou ao lado da esposa, enlaçando-a pela cintura. – Não podia ter escolhido uma tia melhor pra você, não é Xiun? – Ele olhou brevemente pra sobrinha, mas concentrou sua atenção nos olhos verdes da nova Li.

— Sakura-chaaan, venha comigo. – Meiling separou o casal abruptamente esbaforida pegando a noiva sem cerimônia pelo braço.A mais nova prima de Sakura usava um vestido alaranjado , os cabelos presos em cascata. – Hora da primeira troca de roupa - Ela sorriu alegremente enquanto a levava com pressa para dentro da mansão, sem ao menos dar tempo para sua reação surpresa.

— Esse negócio de trocar de roupa três vezes...- O chinês passou a mão pelos cabelos rebeldes e suspirou exausto, sentando-se numa cadeira próxima. – Pra que alguém foi querer incorporar esse costume inútil no casamento?

—Calma, tio, ela volta logo. – Xiun se colocou ao lado dele, dando leves tapinhas em seu joelho. – Não precisa ficar com essa cara feia não...Você vai poder ver ela por um bom tempo depois , não vai?

— Vou sim, Xiun. – Shoaran sorriu e colocou a sobrinha em seu colo. – Pra sempre...E quantos primos você gostaria de ter de presente meu e da tia Sakura? – O chinês perguntou gentilmente.

— Eu posso mesmo escolher quantos primos quero ter, tio Xiao? – A menina arregalou os olhos.

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E assim foi durante as outras duas trocas de roupa, e por boa parte da recepção do casal mais poderoso da China: os noivos mal conseguiam trocar algumas palavras devido a ter que dar atenção constante aos numerosos convidados e dar esporádicas instruções a alguém. Só tiveram alguma folga quando se sentaram para comer, após a última troca de Sakura, que agora permanecia com um vestido azul-marinho de detalhes prateados nas bordas, além de leves bordados com motivos florais em sua extensão.

— Você está tão cansada quanto eu? – O cabeça do clã bebia devagar sua taça de água. – Não sabia que seria tanta dor de cabeça, sinceramente. – Syaoran recebeu um olhar ligeiramente enviesado da esposa. – Não que não compense todo o esforço, claro. – Ele afagou as costas da mulher com delicadeza.

— Nem me fale sobre trabalho; quem teve que trocar de roupa três vezes, com suas irmãs praticamente gritando nas minhas orelhas para eu escolher qual vestido usaria, fui eu. – Sakura bebeu um generoso gole de seu vinho. – Se não fosse sua mãe, a Tomoyo e Meiling e a Shiefa, eu ainda estaria escolhendo o segundo.

 Syaoran afagou o queixo da esposa, risonho.

— Eu pensava que o casamento servia pros noivos desfrutarem, mas já percebi que os menos sossegados nesse processo todo somos nós dois; até cãibra no maxilar estou sentindo de tanto posar pra fotos e sorrir pra convidados. – O rapaz comia com vontade.

— Nem me fale. – Sakura massageou as bochechas doloridas. – É exatamente igual para mim ... Ah, e o que foi que você tanto prometeu dar de presente pra Xiun? – Sakura repousava sua taça de água na mesa, interessada na resposta do marido.

O chinês olhou surpreso para a esposa.

— O que ela falou pra você? – Ele repousou os talheres.

— Disse que ela queria logo os presentes que você havia prometido a ela; aliás, ela insistiu que esses presentes seriam nossos, e não só não entendi muito bem, então... – O olhar da mais nova Li era curioso.

— Nada demais, minha cara esposa, se trata apenas de cinco primos para a Xiun. – Syaoran repousou os cotovelos na mesa para observar o espetáculo.

— Ah, ta... – Sakura só havia acabado de processar a informação. – Queeee? – Não conteve a agudez de sua voz e os olhos sobressaltados. – Como você pode prometer uma coisa dessas a uma criança, Li Xiao Lang? – Sakura tomava grandes goles de água, a face era de um rosa-choque espantoso.

— Ei, devagar com a água, lembra da ultima vez que você exagerou, no que deu... – O moço de olhos âmbar retirou a taça de suas mãos.

— Você sabe muito bem que eu quero ter filhos, mas você precisava ter prometido cinco?Cinco, Xiao Lang? – O olhar furioso de Sakura fez o chinês pensar duas vezes em sua resposta.

— Ela não vai levar a sério, fica tranqüila. – Shoaran beijou a face de sua mulher carinhosamente. – Podemos pechinchar.

Sakura ficou com uma expressão indecifrável; seria algo entre o riso e sua ligeira braveza.

— Você é irritantemente irresistível, meu marido. – Sakura cochichou de leve, beijando a face do mancebo.

— Posso dizer a mesma coisa de você, minha esposa. – Ele retribuiu o gesto na mesma moeda.

— Ahm tia Sakura..- Xiun veio desabalada em direção ao colo da japonesa. – Vai demorar muito pra você me dar os priminhos que pedi?

Shoaran olhou interrogativamente para ela, que retribuiu com algo estranho no olhar, antes de responder.

— Não, Xiun, não vai demorar, pode ficar tranqüila. – Sakura afagou a bochecha da menina, sorrindo.

—Eeebaaa! Ooo mãe! – A menina começou a falar alto,disparando para o lugar onde sua mãe estava.

Sakura enrubesceu de imediato, mas logo relaxou com o toque das mãos de Shoran afirmativamente agarradas nas suas.

— Não sabia que você tinha pressa. – Os olhos dele se voltaram para ela.

—E-eu não tenho pressa de nada; mas se acontecer logo, eu não vou me preocupar, só isso. – Ela tentava se recompor da timidez que a tomava novamente.

— Eu também posso esperar, mas estou ansioso pra ver a sua beleza multiplicada no clã; já está na hora de mudar essas características ancestrais que faz todos serem parecidos por aqui. – Ele olhou ao redor e pontuou o elogio com um beijo na mão dela.

— Eu não ligaria nem um pouco de ter filhos parecidos com você. – Sakura sorriu lindamente, com aquele brilho no olhar, afagando um dos lados do rosto dele.

— Bem, sendo assim, sempre podemos providenciar...- Ele deu seu sorriso torto número um e beijou sem cerimônia a nova representante do clã mais poderoso de toda a China.