Isolated escrita por Fanfictioner


Capítulo 9
O efeito narcótico de Lily


Notas iniciais do capítulo

Conforme prometido, aqui está o nosso bônus da semana! Uma nova atualização, um pouco mais curta do que o habitual, mas para deixar um gostinho do que vai acontecer...
Espero que gostem, vejo vocês nas notas finais!



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DIA 09 DE 15

— Pode se deitar, minha querida! Eu vou pedir aos elfos para fazerem um mingau para você, tudo bem? Pode esperar recostada.

James acordou com a voz da enfermeira dando instruções e perguntou-se se ela falava com ele. Não poderia ser tão tarde assim que ela já estava vindo vê-lo, podia? Tinha tomado seu remédio na noite passada? Provavelmente não, e Madame Pomfrey faria um chilique quando soubesse. Sua cabeça estava zonza, típico de quem era acordado em um sobressalto.

Abriu os olhos, sentindo a claridade arder sua vista. O cortinado de veludo estava aberto, como tinha sido deixado na última quarta-feira, depois de Lily ter delirado de febre. James precisou virar-se de lado na cama para enxergar o que estava acontecendo na direção da voz da enfermeira. Ali, sentada na cama ao lado da sua, estava Lily.

Ou ao menos era isso que a visão embaçada e sem óculos de James conseguia distinguir devido aos cabelos ruivos que enxergava. Puxou seus óculos da mesa de cabeceira e, coçando os olhos, sentou-se em um pulo, achando que definitivamente tinha enlouquecido e estava vendo alucinações.

Lily parecia muito mais pálida do que James jamais lembrava-se de tê-la visto, com a aparência de quem realmente tinha estado muito doente por um bom tempo. Os cabelos continuavam chamativos, mas claramente não tinham recebido as atenções costumeiras de Lily, de modo que pareciam menos bonitos.

Os olhos da menina estavam fundos e com olheiras, e James se perguntava se ela teria dormido esses últimos dias. “Ela esteve sedada, seu animal! Claro que dormiu!”, se repreendia em pensamento. O sorriso cordial estava ali, como uma prova da resistência de Lily à sedação e todos os tipos de poções, remédios e tratamentos aos quais tinha sido submetida naqueles últimos dias. Lily era forte.

— Ruiva! Bem vinda de volta! Como se sente? – James abriu um sorriso enorme, pensando se devia ir até ela para dar um abraço. Lily aumentou o sorriso, apertando os olhos, deixando claro que ria com o rosto todo sem, no entanto, dar uma só palavra. Balançou a mão em um sinal de meio-a-meio.

— Ela ainda não pode falar muito, por conta das pomadas e poções que passaram nos ferimentos na garganta. Após a janta talvez, Potter. Por hora, a senhorita Evans precisa descansar. – a quantidade de medicamentos e frascos de poções que pousaram magicamente sobre a bandeja do aparador era assustadora. – Eu venho mais tarde para ver como estão. Potter, tome seu remédio que já vi que não tomou ontem!

James deu um sorrisinho amarelo, tentando se eximir da responsabilidade e Lily concordou, meneando a cabeça e deitando-se na cama após tirar as botas. A enfermeira se foi e James sorriu para Lily colega, levantando-se para ir pegar seu medicamento. Não sabia dizer bem o que sentia, mas era uma mistura de bom e assustador.

Estava mais do que radiante de ver Lily ali, ainda que frágil e debilitada, no entanto, não conseguia colocar essa animação para fora e, na realidade, sentia-se meio intimidado e deslocado, como se todos os assuntos pendentes entre eles formassem uma barreira aos sentimentos bons. Não sabia bem como agir, e isso o incomodava, porque nunca fora assim. Nem com Lily, nem com ninguém. James não sabia como agir!

Parecendo adivinhar esses pensamentos, Lily indicou, num gesto com a cabeça, que James se sentasse em sua cama e, usando a varinha e os feitiços não verbais que vinha praticando, conjurou uma escova de cabelos, passando a penteá-los com cuidado. James não disse nada durante algum tempo, apenas encarando Lily a ponto de fazê-la corar.

— Eu posso falar? Ou você quer silêncio? – ela assentiu com a cabeça. – Estava bastante preocupado, ruiva. Que bom que voltou! Já estou quase bom, mas ainda precisarei ficar mais uma semana para não contaminar mais ninguém depois. Esses dias foram uma bosta, um tédio de matar... – James passava de um assunto para o outro, falhando muito em esconder seu nervosismo e sua ansiedade. – Aluado me mandou Delícias Gasosas, você gosta?

Os olhos de Lily se acenderam, parecendo uma luz de árvore de Natal. Ela assentiu com veemência, balançando a cabeça enfaticamente. James levantou-se, indo até sua mesa de cabeceira e pegando o pacote de plástico.

— Que sorte que eu guardei umas duas então! – entregou-a o pacotinho com cerca de três doces, e a metade quebrada de um, dando um sorriso. Lily comeu como se estivesse com muita fome, aproveitando o sabor do doce em cada mordida.

O clima parecia estranho, ao menos para James, e a cordialidade de Lily o deixava a cada momento mais inseguro e ansioso sobre tudo o que teriam para conversar. Não sabia se era o momento para falar sobre a relação deles, ou se era melhor esperar que Lily se recuperasse; se ele poderia tratá-la com o carinho e o afeto que desejava, ou se ela preferia agir como se nada tivesse acontecido e esquecer tudo. Sequer sabia se Lily lembrava-se de tudo o que acontecera naquela madrugada.

Toda essa confusão parecia estampada no rosto de James, que logo se afastou para ir fazer sua cama e arrumar algo com que se entreter. Desejava terrivelmente falar com Sirius ou Remo para pedir alguns conselhos, dado que o processador de sua cabeça parecia estar seriamente danificado sobre tudo que dizia respeito à interagir com Lily desde aquele beijo dentro da banheira. Era péssimo não conseguir controlar o que sentia!

O almoço foi servido ao meio dia, e Madame Pomfrey apareceu cerca de uma hora e meia depois, autorizando Lily tomar um banho e livrar-se do cheiro de hospital. Durante a tarde a menina também se dedicou a ler as cartas de seus pais, as quais estavam sobre sua mesa de cabeceira.

 James tentou ignorar toda sua ansiedade e dar a Lily o tempo que ela precisava, passando o resto da tarde lendo quieto em seu canto no sofá, tudo ficando muito parecido à como fora no primeiro dia ali, fazendo parecer que nunca tinham se aproximado e ficado amigos. Como Sirius costumava bem dizer, James era muito submissamente romântico (o famoso gado demais) quando o assunto era Lily Evans.

Escureceu rápido, já que estavam no auge do inverno, e logo depois o jantar chegou, e os dois comeram em silêncio. James logo chegou à conclusão de que grande parte de sua ansiedade se devia ao fato de Lily não estar podendo falar. Sentia falta até mesmo dela o chamando de Potter, pois esse silêncio criava uma tensão palpável, como se o ar a seu redor estivesse pressionando-o a conversar com Lily sobre tudo que queria.

Pensou que era um consolo de certa maneira, pois significava que Lily não podia falar, apenas, e não que não queria falar sobre o assunto pendente. James estava quase nomeando o tema, dada a frequência com que aparecia no seu cérebro. Por mais ansioso que eu esteja, ponderou, é injusto com Lily falar sobre isso agora, considerando o estado dela. Isso pode esperar até amanhã.

— Tão bom comer algo que tem gosto! – a voz de Lily estava baixa e rouca, de maneira que James, divagando em suas ideias, quase achou que não tinha ouvido. À menção da careta dele, ela explicou-se. – Eles anestesiaram minha garganta, para eu não sentir tanto a dor dos machucados. Já estão melhores, na verdade... O efeito deve passar até amanhã, quando os machucados vão poder ser tratados como ante...

— Tudo bem, tudo bem... entendi já, não fale muito para não ser pior! – exasperou, gesticulando um pouco preocupado, fazendo Lily rir e então se calar. – Finalmente vou poder te irritar o quanto quiser você vai poder nem mesmo me xingar!

Lily riu, fazendo-o sorrir instantaneamente. Não queria perder esse clima gostoso na companhia dela, e tinha medo de que a conversa que precisavam ter tirasse isso dele. Após a sobremesa, Lily sumiu por um tempo dentro do banheiro, tendo carregado consigo algumas várias pomadas e frascos de poções.

Ignorando toda sua vontade de resolver tudo que estava em hiato entre os dois, James resignou-se a sua leitura, sentando-se em frente à lareira com um cobertor felpudo sobre as pernas. Algum tempo depois ouviu a porta do banheiro abrir e precisou de grande autocontrole para não olhar na direção de Lily e ficar observando-a, como desejava. No entanto, algum tempo depois, quando James estava totalmente concentrado nos feitiços estuporantes, tema do capítulo 3 de seu livro, Lily veio em direção ao sofá e, superando todas as expectativas, sentou-se a seu lado.

A simples presença dela fez o coração de James bater com tanta força que achou que ela poderia até mesmo ouvir. O livro de medibruxaria que lia desde a semana anterior estava ali junto, deixando claro que Lily pretendia, assim como ele, dar um pouco de atenção a suas provas de NIEMs. Chegou perto e puxou uma ponta da coberta para cima de sua perna, perguntando baixinho se ele se importava.

— Não, de modo algum. – e arrumou melhor o pano sobre eles, numa divisão mais igualitária das porções do tecido.

James releu três vezes o mesmo parágrafo até se dar conta de que estava muito difícil manter a concentração com Lily tão perto, e perguntou-se se ela sentia o mesmo, ou se fazia aquilo de propósito. Lily respirava baixo, parecendo um felino ressonando, e seus olhos verdes agitavam-se de um lado para o outro da folha de papel, lendo numa velocidade muito alta. Às vezes ela também fazia alguma anotação com um lápis na borda da folha, sublinhando algo que fosse relevante.

Claramente ela sentia o olhar de James queimando em seu rosto conforme o tempo passava e ele seguia observando-a, sem nem mesmo desviar o olhar, ou disfarçar. Levaram alguns minutos e vários exercícios de respiração para James se sentir mais consciente de si mesmo e capaz de estudar novamente, e assim foi pela meia hora seguinte, com ambos concentrados em seus livros e anotações.

Então, algum tempo depois, quando já estava quase tarde, Lily aproximou-se mais, aninhando-se no ombro de James e colocando suas penas sobre a dele. O coração de Potter desceu até o intestino, e depois subiu à garganta em uma velocidade que duvidava ser capaz de atingir até mesmo em sua Cleansweep 77. Sua espinha se eriçou imediatamente e as orelhas esquentaram, e James se sentiu muito idiota naquela situação. Parecia um menino de treze anos que nunca sequer beijara alguém! Era ridículo ficar tão vulnerável!

Agindo com o máximo de naturalidade que podia, e evitando derramar todas as perguntas e assuntos que queria, James passou um dos braços pelas costas de Lily, envolvendo-a, tentando ignorar, e falhando miseravelmente nisso, todas as sensações de calafrios e calores nos mais variados lugares de seu corpo. Lily Evans claramente tinha alguma espécie de efeito narcótico sobre ele.

Ficaram ali, naquela posição, estudando por mais algum tempo, sem falar nada. James se perguntava as mais diversas teorias sobre como aquela madrugada ficara registrada na memória de Lily, se ela estava tentando dizer que estava interessada nele, ou se estava puramente carente de um pouco de atenção após tantos dias tão doente e sozinha no hospital.

No entanto, ela não parecia nada disposta a discutir o que quer que fosse naquela noite, e James teve o bom senso de não insistir, tentando evitar que tudo ficasse absurdamente estranho entre eles. Não era propriamente uma felicidade genuína ter Lily ali colada nele, dado todo o assunto perdido, o beijo não discutido, e aqueles inúmeros sentimentos que estavam sendo ignorados. Não era o mesmo de... bem, de nunca!

Nunca tivera essa proximidade com Lily, e tudo estava acontecendo de uma maneira tão incomum e esquisita que James nem mesmo sabia o que esperar, como reagir, o que pensar... ele não pudera tomar nenhuma iniciativa até ali, porque não era como se eles viessem flertando nas últimas semanas.

Até uma semana atrás Lily o tratava como o amigo insuportável de suas amigas, ou o colega de monitoria, e, de repente, ela estava ali, deitada em seu colo, com as pernas enroscadas nas dele. E James nem mesmo sabia como tinham chegado àquela situação. Fora quando ela parara de o chamar pelo sobrenome? Ou quando ele parara com as cantadas? Teria sido o cuidado de um com o outro durante as febres noturnas? O banho na banheira, em que claramente tinham compartilhado mais intimidade do que jamais sonhara? Ou o beijo... muito confuso! Chegava a bagunçar as ideias pensar naquilo!

Mas ainda assim era bom. Era um pouco de alento para todas as dores emocionais dos últimos dias, e James sentia que precisava um pouco daquele placebo, de modo que evitava pensar na possibilidade de que esses momentos pudessem se transformar em memórias dolorosas após a saída da quarentena, quando Lily voltasse a ser indiferente.


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Notas finais do capítulo

Essa Lily gosta de explorar o coitado do James, eim? Quando será que esses dois vão se falar sobre o que realmeeeeente importa?
Espero por vocês nos comentários!